domingo, 24 de março de 2024

Aldeia global

 

Um mundo pitoresco e picaresco por onde nos passeamos hoje, pelo menos os que ainda não estamos na guerra. Que os que estão, outras coisas dizem, nem sabem o que vai por cá, por este ocidente de outra forma invadido. Ainda bem que os emigrantes fizeram das suas, por amor pátrio, talvez, votando Chega em quantidade – não sabemos se em qualidade. Porque amor pátrio sempre foi mais usado pela direita. Como retornada que fui, sempre votei direita, porque sempre amei este pais pequeno, de muita gente de valor, como esse maior de todos que bem o demonstrou na sua obra que o provou. Sim, somos pequenos, mas talvez por isso, amamos este pequeno rectângulo do nosso fado e do nosso espanto, e não desejamos tais novas configurações que a nova História nos traz. Por isso, talvez não fosse má ideia Luís Montenegro repensar nos seus valores. Sem tanta obscuridade a tender para um tal buraco negro que nada pressagia de positivo.

O "seu" Portugal

O discurso de indignação com as escolhas políticas dos emigrantes torna-se ainda mais saliente quando comparado com o silêncio ou com as frases devidamente seleccionadas com pinças sobre a imigração.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 24 mar. 2024, 07:178

Este ano no 10 de Junho elogiam-se os emigrantes ou estes ficam de quarentena até que se esqueça o resultado dos votos da emigração destas legislativas? O desagrado duma parte da pátria com os emigrantes não começou agora que os seus votos deram dois deputados ao Chega, um à AD e outro ao PS. Logo em meados do século passado não lhes perdoaram terem-se metido ao caminho das democracias burguesas com o projecto firme de enriquecer em vez de ficarem aqui a protagonizar as páginas antecipadamente gloriosas da luta de classes.

Esta espécie de traição ao papel que enquanto camponeses pobres lhes estava reservado pelos donos da História talvez explique o desdém sobranceiro com que foram olhados durante décadas: expressões como casa de emigrante, música de emigrante, festa de emigrante… tornaram-se sinónimos de mau gosto. Eles sonhavam com as férias no “seu Portugal” mas o seu Portugal nunca teve a certeza se queria ser deles. Quando chegou a democracia não era claro que o seu direito a votar fosse reconhecido, aliás não precisasse tanto Portugal das suas poupanças – chamavam-se divisas – e provavelmente esse direito teria sido protelado porque os emigrantes ao pecado original de terem preferido ser emigrantes e não camponeses em luta mostravam, como asseverava a intelectualidade nacional, uma evidente tendência para votar mal, de forma inculta, sem consciência, invariavelmente sob influência de figuras obscuras. Por outras palavras, os emigrantes votavam maioritariamente à direita sobretudo no círculo fora da Europa, onde foi preciso esperar por 1999 para que o PS conseguisse eleger um deputado que perde nas eleições de 2002 e só recupera em 2019.

Fica portanto claro que nas eleições de 2024 nada de inédito aconteceu no predomínio da direita sobre a esquerda nos votos da emigração. O que é inédito é que dentro da direita ganhe um partido que não seja o PSD ou uma coligação por ele liderada como aconteceu com as vitórias do Chega na Suiça, Luxemburgo e Brasil e em que a AD ficou em segundo. Menos falados mas igualmente significativos são os resultados da Bélgica e França em que o PS ganhou, o Chega ficou em segundo e a AD em terceiro. Talvez tenha sido este o futuro cenarizado por Santos Silva: o PS em primeiro, o Chega em segundo e o PSD que como lembrava António Costa já não é um grande partido, em terceiro.

Não sei se Montenegro vai ou não fazer aprovar um orçamento rectificativo, anunciar o novo aeroporto ou devolver aos portugueses o estado social que a incompetência dos governos de Costa lhes roubou, mas sei que não se pode esquecer dos resultados da Bélgica e da França.

A propósito dos cenários belga e francês, leia-se esta declaração sobre o Chega: “o próprio Chega, ao contrário do que acontece com outros partidos de extrema-direita em outros países da Europa, nunca fez uma campanha contra a UE, a explorar qualquer atitude de eurocepticismo“. E mais esta “mesmo relativamente àquilo que tem sido a deriva pró-russa, de muitos dos partidos de extrema-direita, não tem sido o caso [do Chega], visto que tem apoiado todo o ‘apoio’ que a Europa tem dado”. O autor destas frases é António Costa que entendeu desta forma tranquilizar os nossos parceiros europeus acerca do terceiro partido português. O que têm estas declarações de Costa a ver com os cenários belga e francês, aqueles em que PS ganha, o Chega fica em segundo e a AD em terceiro? Mais ou menos tudo. Um dia o PS pode derrubar o muro à direita tal como derrubou à sua esquerda.

O discurso de indignação com as escolhas políticas dos emigrantes torna-se ainda mais saliente quando comparado com o silêncio ou as frases devidamente seleccionadas com pinças sobre a imigração. Quase 800 mil estrangeiros vivem em Portugal. Há dez anos eram cerca de 400 mil. São jovens: seis em cada dez têm entre 15 e 44 anos. Portugal é e é também o país da Europa com mais emigração. Em 20 anos, 15% da população emigrou. Desde a chegada dos retornados a Portugal que não se assistia a uma alteração da população desta dimensão. Estima-se que entre Julho de 1974 e 1976 mais de meio milhão de portugueses tenha chegado a Portugal proveniente dos territórios africanos. A sua integração na sociedade portuguesa é apresentada como um sucesso. Vão os actuais imigrantes repetir o modelo de sucesso da integração dos retornados nos anos 70?

Antes que alguém responda a esta pergunta recordo duas coisas que creio determinantes para o sucesso dessa integração: os retornados espalharam-se por todo o território não constituindo comunidades; falavam português e embora muitos deles nunca tivessem vindo a Portugal tinham quando aqui chegavam uma matriz escolar, religiosa e cultural comuns.

LEGISLATIVAS 2024   ELEIÇÕES LEGISLATIVAS   POLÍTICA   EMIGRAÇÃO   MUNDO

COMENTÁRIOS (de 20):

Lily Lx: Zero expectativas para a boa integração dos imigrantes. Precisamos dos emigrantes de volta e precisamos de bebés portugueses!                 Rui Lima: Sempre fique impressionado com nossos emigrantes espalhados pelo mundo pelo seu grande amor a Portugal, eu divido  o meu tempo cá e lá fora e ouço muito os portugueses estão em estado de choque eles sabem as consequência de trazer povos de outras culturas, têm a experiência gente que nunca se irá integrar ( França o estado já desistiu de recuperar Marselha). Os que cá não vêm ouvem os outros , alguns que tinham planeado o regresso, na reforma, a Portugal, hesitam, pois as cidades portugueses serão idênticas ao que vêem nos países onde estão (muitos já tiveram de fugir dos bairros onde estavam instalados, onde havia portugueses nos anos 80 poucos restam). Ver 1.ª página do DN hoje em Portugal e na Europa um simples pedido como este é considerado racismo: “… lider da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto, Miguel Corte-Real, defende que a câmara municipal presidida por Rui Moreira deverá assegurar a “integração social e cultural” dos motoristas de TVDE provenientes de países muçulmanos, o que envolveria, entre outras medidas, “ministrar cursos sobre o papel e direitos da mulher no Ocidente”….”            Américo Silva: Ao contrário dos que deram o salto para França, os imigrantes não têm afinidade populacional, religiosa ou cultural com os indígenas. Asiáticos e africanos já não sentem admiração pelos europeus, odeiam-nos, relembram que chegaram ao resto do mundo sem serem convidados, e não têm afinal solução para os seus próprios problemas:                  Carlos Quartel: Por muito que nos goste de bater nos políticos e comentadores do "establishment" há que dizer que a desconfiança com emigrantes é velha e generalizada. Vistos como boçais, vaidosos, novos ricos (o gozo que sempre nos deram as casas de emigrantes), foram um pouco recuperados por Salazar, com o seu espírito de tesoureiro que se deliciava contando as remessas, mas foram sempre vistos como gente de segunda. Os intelectuais , artistas e estudantes que os encontravam no estrangeiro mantinham uma prudente distância, hábito que se mantém, Os restaurantes de bacalhau e cabrito continuam maioritariamente frequentados por emigrantes de "baixo nível", e os "finos" até têm vergonha deles. Mais uma razão para a alta votação do Chega, viram Ventura como o vingador que bate nos ricaços e filhos-família que os segregam, os universitários e cientistas que os evitam. A análise desta eleição dá para uma tese de doutoramento ......                bento guerra: Parece que o "discurso" político dos emigrantes faz todo o sentido "aparece uma organização que quer mudar aquilo e até "limpar" a corrupção, que nunca castiga os poderosos. Foi por causa desse Portugal que saímos, por isso queremos experimentar a alternativa"             klaus muller: Eu devo estar a ver mal o problema. Quando correram com os portugueses de África e o Império acabou, não era para benefício de ambas as partes? Portugal deixava de ter aquele despesão e as colónias iam finalmente desenvolver-se como nunca. Afinal, desenvolvem-se bastante menos do que quando lá estávamos. E Portugal, pelos vistos, não se viu livre do "despesão", pois continua a "emprestar-lhes" milhões e milhões que nunca, a eles, lhes passa pela cabeça virem a pagar.                Maria Cordes: Ser emigrante em Portugal foi sempre mal visto. Estive na Venezuela, no country club pavoneavam - se senhorecas importantes. Um dia declarei que era emigrante, uma bomba, uma ofensa. Declarei que se ganhávamos o Pão Nosso de cada lá fora, éramos emigrantes. Esse epíteto não era aceite. A integração dos islâmicos não se fará. Há um ressabiamento de séculos, ancorado em factos recentes, o Iraque, a Líbia, etc. Acredito que muita gente não percebe isso. As declarações de amor feitas por certos senhores, são todas falsas. Na primeira ocasião, espetam-nos a faca nas costas. A não monitorização de imans em mesquitas é criminosa.                 Tim do A: Estamos a exportar os jovens portugueses mais qualificados e a importar o lixo do mundo. Assim Portugal vai acabar e ficar um antro pobre e descaracterizado cheio de tensões e de violência.             bento guerra: Parece que o "discurso" político dos emigrantes faz todo o sentido "aparece uma organização que quer mudar aquilo  e até "limpar" a corrupção, que nunca castiga os poderosos. Foi por causa desse Portugal que saímos, por isso queremos experimentar a alternativa"                   Américo Silva Américo Silva: Em Moscovo atentou-se contra o ocidente e a sua civilização, o caos vem surgindo pelos que sujam o ar, a terra, e os mares, pelos que levam a guerra ao Sudão, arrasam a Líbia, criaram o estado islâmico, com a suas intervenções, e parece difícil de controlar: na fronteira mexicana, no mediterrâneo ou na Suécia.

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