Um mundo pitoresco e picaresco por onde
nos passeamos hoje, pelo menos os que ainda não estamos na guerra. Que os que
estão, outras coisas dizem, nem sabem o que vai por cá, por este ocidente de
outra forma invadido. Ainda bem que os emigrantes fizeram das suas, por amor
pátrio, talvez, votando Chega em quantidade – não sabemos se em qualidade. Porque
amor pátrio sempre foi mais usado pela direita. Como retornada que fui, sempre
votei direita, porque sempre amei este pais pequeno, de muita gente de valor,
como esse maior de todos que bem o demonstrou na sua obra que o provou. Sim,
somos pequenos, mas talvez por isso, amamos este pequeno rectângulo do nosso
fado e do nosso espanto, e não desejamos tais novas configurações que a nova
História nos traz. Por isso, talvez não fosse má ideia Luís Montenegro repensar
nos seus valores. Sem tanta obscuridade a tender para um tal buraco negro que
nada pressagia de positivo.
O "seu" Portugal
O discurso de indignação com as escolhas políticas dos emigrantes
torna-se ainda mais saliente quando comparado com o silêncio ou com as frases
devidamente seleccionadas com pinças sobre a imigração.
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 24
mar. 2024, 07:178
Este ano no 10 de Junho elogiam-se os
emigrantes ou estes ficam de quarentena até que se esqueça o resultado dos
votos da emigração destas legislativas? O desagrado duma parte da pátria com os emigrantes não começou agora
que os seus votos deram dois deputados ao Chega, um à AD e outro ao PS. Logo em
meados do século passado não lhes perdoaram terem-se metido ao caminho das democracias
burguesas com o projecto firme de enriquecer em vez de ficarem aqui a
protagonizar as páginas antecipadamente gloriosas da luta de classes.
Esta espécie de traição ao papel que enquanto camponeses pobres lhes
estava reservado pelos donos da História talvez explique o desdém sobranceiro
com que foram olhados durante décadas: expressões
como casa de emigrante, música de emigrante, festa de emigrante… tornaram-se
sinónimos de mau gosto. Eles
sonhavam com as férias no “seu Portugal” mas o seu Portugal nunca teve a
certeza se queria ser deles. Quando chegou a democracia não era claro que o seu
direito a votar fosse reconhecido, aliás não precisasse tanto Portugal das suas
poupanças – chamavam-se divisas – e provavelmente esse direito teria sido
protelado porque os emigrantes ao pecado original de terem preferido ser
emigrantes e não camponeses em luta mostravam, como asseverava a
intelectualidade nacional, uma evidente tendência para votar mal, de forma
inculta, sem consciência, invariavelmente sob influência de figuras obscuras.
Por outras palavras, os emigrantes votavam maioritariamente à direita
sobretudo no círculo fora da Europa, onde foi preciso esperar por 1999 para que
o PS conseguisse eleger um deputado que perde nas eleições de 2002 e só
recupera em 2019.
Fica portanto claro que nas
eleições de 2024 nada de inédito aconteceu no predomínio da direita sobre a
esquerda nos votos da emigração. O que é inédito é que dentro da direita ganhe
um partido que não seja o PSD ou uma coligação por ele liderada como aconteceu
com as vitórias do Chega na Suiça, Luxemburgo e Brasil e em que a AD ficou em
segundo. Menos falados mas igualmente significativos são os resultados da
Bélgica e França em que o PS ganhou, o Chega ficou em segundo e a AD em
terceiro. Talvez tenha sido este o futuro cenarizado por
Santos Silva: o PS em primeiro, o Chega em segundo e o PSD que como lembrava António
Costa já não é um grande partido, em terceiro.
Não sei se Montenegro vai ou não fazer aprovar um orçamento
rectificativo, anunciar o novo aeroporto ou devolver aos portugueses o estado
social que a incompetência dos governos de Costa lhes roubou, mas sei que não
se pode esquecer dos resultados da Bélgica e da França.
A propósito dos cenários belga e
francês, leia-se esta declaração sobre o Chega: “o próprio Chega, ao contrário do que acontece com outros partidos de
extrema-direita em outros países da Europa, nunca fez uma campanha contra a UE,
a explorar qualquer atitude de eurocepticismo“. E mais esta “mesmo relativamente àquilo que
tem sido a deriva pró-russa, de muitos dos partidos de extrema-direita, não tem
sido o caso [do Chega], visto que tem apoiado todo o ‘apoio’ que a Europa tem
dado”. O autor destas frases é António Costa que
entendeu desta forma tranquilizar os nossos parceiros europeus acerca do
terceiro partido português. O que têm estas declarações de Costa a ver com os
cenários belga e francês, aqueles em que PS ganha, o Chega fica em segundo e a
AD em terceiro? Mais ou menos tudo. Um dia o PS pode derrubar o muro à
direita tal como derrubou à sua esquerda.
O discurso de indignação com as escolhas
políticas dos emigrantes torna-se ainda mais saliente quando comparado com o
silêncio ou as frases devidamente seleccionadas com pinças sobre a imigração.
Quase 800 mil estrangeiros vivem em Portugal. Há dez anos eram cerca de 400
mil. São jovens: seis em cada dez têm entre 15 e 44 anos. Portugal é e
é também o país da Europa com mais
emigração. Em 20 anos, 15% da população emigrou. Desde a chegada dos retornados a Portugal
que não se assistia a uma alteração da população desta dimensão. Estima-se que
entre Julho de 1974 e 1976 mais de meio milhão de portugueses tenha chegado a
Portugal proveniente dos territórios africanos. A sua integração na
sociedade portuguesa é apresentada como um sucesso. Vão os actuais imigrantes
repetir o modelo de sucesso da integração dos retornados nos anos 70?
Antes que alguém responda a esta
pergunta recordo duas coisas que creio determinantes para o sucesso dessa
integração: os retornados espalharam-se por todo o território não constituindo
comunidades; falavam português e embora muitos deles nunca tivessem vindo a
Portugal tinham quando aqui chegavam uma matriz escolar, religiosa e cultural
comuns.
LEGISLATIVAS 2024 ELEIÇÕES LEGISLATIVAS POLÍTICA EMIGRAÇÃO MUNDO
COMENTÁRIOS (de 20):
Lily Lx: Zero expectativas para a boa integração dos imigrantes.
Precisamos dos emigrantes de volta e precisamos de bebés portugueses! Rui Lima: Sempre fique impressionado com nossos emigrantes
espalhados pelo mundo pelo seu grande amor a Portugal, eu divido o meu tempo cá e lá fora e ouço muito os
portugueses estão em estado de choque eles sabem as consequência de trazer
povos de outras culturas, têm a experiência gente que nunca se irá integrar (
França o estado já desistiu de recuperar Marselha). Os que cá não vêm ouvem os outros , alguns que tinham
planeado o regresso, na reforma, a Portugal, hesitam, pois as cidades portugueses
serão idênticas ao que vêem nos países onde estão (muitos já tiveram de fugir
dos bairros onde estavam instalados, onde havia portugueses nos anos 80 poucos
restam). Ver 1.ª página do DN hoje em Portugal e na Europa um simples pedido
como este é considerado racismo: “… lider
da bancada do PSD na Assembleia Municipal do Porto, Miguel Corte-Real, defende
que a câmara municipal presidida por Rui Moreira deverá assegurar a “integração
social e cultural” dos motoristas de TVDE provenientes de países muçulmanos, o
que envolveria, entre outras medidas, “ministrar cursos sobre o papel e
direitos da mulher no Ocidente”….” Américo Silva: Ao contrário dos que deram o salto para França, os
imigrantes não têm afinidade populacional, religiosa ou cultural com os
indígenas. Asiáticos e africanos já não sentem admiração pelos europeus,
odeiam-nos, relembram que chegaram ao resto do mundo sem serem convidados, e
não têm afinal solução para os seus próprios problemas: Carlos Quartel: Por muito que nos goste de bater nos políticos e
comentadores do "establishment" há que dizer que a desconfiança com
emigrantes é velha e generalizada. Vistos
como boçais, vaidosos, novos ricos (o gozo que sempre nos deram as casas de
emigrantes), foram um pouco recuperados por Salazar, com o seu espírito de tesoureiro
que se deliciava contando as remessas, mas foram sempre vistos como gente de
segunda. Os intelectuais , artistas e estudantes que os encontravam no
estrangeiro mantinham uma prudente distância, hábito que se mantém, Os
restaurantes de bacalhau e cabrito continuam maioritariamente frequentados por
emigrantes de "baixo nível", e os "finos" até têm vergonha
deles. Mais uma razão para a alta votação do Chega, viram Ventura como o
vingador que bate nos ricaços e filhos-família que os segregam, os universitários
e cientistas que os evitam. A análise desta eleição dá para uma tese de
doutoramento ......
bento guerra: Parece que o
"discurso" político dos emigrantes faz todo o sentido "aparece
uma organização que quer mudar aquilo e até "limpar" a corrupção, que
nunca castiga os poderosos. Foi por causa desse Portugal que saímos, por isso
queremos experimentar a alternativa" klaus
muller: Eu
devo estar a ver mal o problema. Quando correram com os portugueses de África e
o Império acabou, não era para benefício de ambas as partes? Portugal deixava
de ter aquele despesão e as colónias iam finalmente desenvolver-se como nunca.
Afinal, desenvolvem-se bastante menos do que quando lá
estávamos. E Portugal, pelos vistos, não se viu livre do
"despesão", pois continua a "emprestar-lhes" milhões e
milhões que nunca, a eles, lhes passa pela cabeça virem a pagar. Maria Cordes: Ser emigrante em Portugal foi sempre mal visto. Estive
na Venezuela, no country club pavoneavam - se senhorecas importantes. Um dia
declarei que era emigrante, uma bomba, uma ofensa. Declarei que se ganhávamos o
Pão Nosso de cada lá fora, éramos emigrantes. Esse epíteto não era aceite. A
integração dos islâmicos não se fará. Há um ressabiamento de séculos, ancorado
em factos recentes, o Iraque, a Líbia, etc. Acredito que muita gente não
percebe isso. As declarações de amor feitas por certos senhores, são todas
falsas. Na primeira ocasião, espetam-nos a faca nas costas. A não monitorização
de imans em mesquitas é criminosa. Tim do A: Estamos a exportar os jovens portugueses mais
qualificados e a importar o lixo do mundo. Assim Portugal vai acabar e ficar um
antro pobre e descaracterizado cheio de tensões e de violência. bento guerra: Parece que o "discurso" político dos
emigrantes faz todo o sentido "aparece uma organização que quer mudar
aquilo e até "limpar" a
corrupção, que nunca castiga os poderosos. Foi por causa desse Portugal que
saímos, por isso queremos experimentar a alternativa" Américo Silva Américo Silva: Em Moscovo atentou-se contra o ocidente e a sua
civilização, o caos vem surgindo pelos que sujam o ar, a terra, e os mares,
pelos que levam a guerra ao Sudão, arrasam a Líbia, criaram o estado islâmico,
com a suas intervenções, e parece difícil de controlar: na fronteira mexicana,
no mediterrâneo ou na Suécia.
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