Num país só não
irresoluto para continuar na mama?
A lição de Pedro Passos Coelho
No mundo da esquerda, Passos é Hitler, os impostos são baixos, e o
país não precisa de fronteiras. Como pode a direita viabilizar o governo de
quem pensa assim?
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 01 mar. 2024, 00:222
O artigo da semana passada levou José
Ribeiro e Castro a dar-se ao trabalho de me explicar gentilmente a diferença
entre “apoiar” e “viabilizar” um governo. Reconheço a diferença, mas continuo
sem ver a sua importância. Não estamos na década de 1990, nos anos do “fim da
história”. CDS e PSD viabilizaram
então orçamentos de um PS sem maioria. Notou-se depois, porém, este
contraste: nunca o PS retribuiu o
favor. Desde aí, sempre que a
direita quis governar, precisou de uma maioria absoluta. Viu-se em 2015. Neste
século, o “fim da história” também chegou ao fim. A guerra
do Iraque, a crise bancária de 2008, a avalanche migratória de 2015, e o
wokismo americano repuseram, por todo o Ocidente, dicotomias que alguns tinham
julgado obsoletas. Em Portugal, também não estamos em 1995. 30 anos de poder
socialista custaram ao país o mais longo período de divergência da Europa desde
a II Guerra Mundial, a maior emigração desde a década de 1960, uma crise dos
serviços públicos sem precedente, e o assalto wokista à história e identidade
nacionais. Neste
momento, AD, IL e Chega pedem votos para mudar tudo isso. Se depois de 10 de
Março, a AD viabilizasse, mesmo que por abstenção, um governo do PS, estaria a
reconhecer que, ao contrário do que tem dito, as coisas correm tão bem que não
fará mal que o país continue sujeito ao poder socialista. Teria,
para a AD, o mesmo efeito de apoiar a governação socialista. Ora, ao
contrário da década de 1990, há alternativas à direita: IL e Chega, à espera de
herdar os eleitores desiludidos da AD. Caro Ribeiro e Castro, com todo o respeito e estima: mesmo que tenha
havido diferença entre viabilizar e apoiar, deixou de haver. Os tempos mudaram.
E
se ainda houvesse dúvidas sobre se é assim ou não, bastaria reparar no que
aconteceu após o discurso de Pedro Passos Coelho. Todos os partidos de direita
– PSD, IL, Chega – aplaudiram, pelo menos o que ele representa (Rui Rocha
lembrou até que votou nele duas vezes). E todos os partidos de esquerda –
PS, BE, PCP, Livre, PAN – reagiram com a raiva pavloviana que também não
conseguem conter quando fala Cavaco Silva. No mundo da esquerda,
Passos é Hitler, os impostos são baixos, e o país não precisa de fronteiras.
Como pode a direita viabilizar o governo de quem pensa assim, ou governar
efectivamente dependendo de quem pensa assim?
E por isso, faz sentido o que de mais importante Pedro Passos Coelho
disse: o papel dos partidos da direita, neste momento, é desafiar
os eleitores a darem-lhes um mandato forte para corrigir o rumo da governação. 30 anos de socialismo ameaçam deixar o país
como o mais pobre da UE – e isso significa menos rendimento, menos casas, menos
saúde. Se os partidos à direita do PS servem para alguma coisa, só pode ser
para dar aos portugueses, em eleições, a escolha de uma efectiva mudança de
poder. Qualquer novo governo que pretendesse depender do PS, mesmo que apenas
em termos de “viabilização”, falsearia essa escolha. Por isso,
como sugeriu Passos Coelho, faz sentido que o PSD peça aos eleitores uma
maioria absoluta. Tal como faz
sentido – e agora digo eu — que, não a obtendo, esteja disposto a organizar os
partidos de direita, se em maioria, de modo a sustentarem um governo forte. E
como o que importa é um governo forte, capaz de reformas, não bastará
encurralar o Chega, caso os seus votos sejam necessários, sem qualquer
entendimento. Esse seria um governo fraco, e o país, se é verdade o que o PSD
anda a dizer, não pode permitir-se o luxo de um governo fraco, sempre inseguro
acerca da próxima votação parlamentar. É importante aplaudir Pedro Passos
Coelho. Mas é ainda mais importante ouvi-lo.
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COMENTÁRIOS
Alexandra
Ferraz: Haja quem diga que o rei vai
nú! E saiba fazer contas simples de somar e nunca de dividir. Obrigada Rui
Ramos. Só tenho pena que a clarividência de Passos não contagie Montenegro. É
lamentável que ao fim de 50 anos a democracia não tenha ensinado nada à
direita. Enfim!... Resta-nos ter fé 🙏
António Rocha Pinto: O dr Ribeiro e Castro tem, lamentavelmente, pouca
argúcia política, viu-se no seu desempenho enquanto líder, nas teorias de um
CDS tão puro que não admitia liberais e no apoio ao jovem Santos
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