segunda-feira, 25 de março de 2024

Dois textos


 Dois textos

De Henrique Salles da Fonseca do “A BEM DA NAÇÃO”

 

1º TEXTO:

Mas se o tempo fosse apenas metafísico, não teria eu que cobrir de tinta as minhas cãs da evolução física…

RELATIVISMO

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 23.03.24

«O tempo é mais importante do que o espaço» pois este é físico e o tempo, guardião da memória, é metafisico. (por inspiração na frase assinalada do Papa Francisco)

Março de 2024

Henrique Salles da Fonseca

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COMENTÁRIOS (2)

Alice Gouveia 24.03.2024 20:39: É verdade Henrique. O tempo, tal qual um rio só passa uma vez numa direcção. O espaço fica; pode mudar de dimensão. Obrigada, um bom Domingo. Alice

Adriano Miranda Lima 24.03.2024  21:18: Frase curta mas rica de conteúdo. O tempo é um dos mistérios da nossa existência. Se não existíssemos, ele não teria também existência?

 

2º TEXTO:

Há muita gente que ainda crê que o mundo ganhou com isso de que trata o Dr. Salles, e que ganhar ou perder, tudo é desporto. Vivamos na desportiva. Trata-se de evolução, apenas. Não do tempo metafísico, mas do tempo físico, com as respectivas consequências – metafísicas, físicas, químicas e outras que tais, mesmo as paradoxais…

IN ILLO TEMPORE

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 25/3/24

Corria Março de 1974 quando vim a Lisboa em representação do Governo Geral de Moçambique para lançar a ideia à LISNAVE da construção dos grandes estaleiros navais de Lourenço Marques.

Concluída a missão, ficou a ideia a amadurecer por cá e eu regressei a Moçambique. Rodas da TAP no ar um pouco antes da meia-noite do dia 15 de Março e chegada a Luanda pelas 8 da manhã. Voo impecável como é timbre dos nossos, mas achei curioso que ao fundo das escadas estivesse na placa o General Luz Cunha, então Comandante Chefe das Forças Armadas em Angola. Mas logo percebi que tanta honra não era a mim dirigida por aquele ilustre meu consócio na Sociedade Hípica Portuguesa, mas sim ao meu companheiro de viagem, o então Arcebispo de Luanda, D. Alexandre do Nascimento. Como imaginei, não era aquele o local nem a circunstância apropriada para o General pedir ao Arcebispo que o ouvisse em confissão e, logo de seguida, fui também eu contemplado com a informação de que, durante o nosso voo houvera uma tentativa de golpe militar a partir das Caldas da Rainha. Que eu, chegando a Lourenço Marques, me dirigisse com urgência ao Governo Geral para comunicar a ocorrência. Por acaso, estava no aeroporto um conhecido meu que era pessoa da maior confiança do Governador Geral. Transmiti-lhe a informação e senti-me desobrigado da urgência. Já civil, mantinha relações de amizade com altas patentes militares pelo que também as informei da ocorrência. A partir daqui, «liguei à terra» e  voltei aos meus dossiers profanos, não classificados.

Os assuntos que cabiam nos meus dossiers eram mesmo profanos e foi a eles que me dediquei durante mais uns dias até que tudo foi perdido no Largo do Carmo, em Lisboa, no dia 25 de Abril desse mesmo ano. Perdeu-se «só» o que segue:

Televisão (já a cores) para servir sobretudo de telescola – ficou no papel apesar de os concursos públicos para o equipamento estarem prontos para lançamento;

Relançamento do porto fluvial de Quelimane com fixação da barra do Rio dos Bons Sinais – ficou no papel apesar do projecto de engenharia já estar em curso;

Transformação em empresa dos estaleiros navais da Beira – ficou no papel;

Identificação de mais 40 locais a desmatar para servirem de pistas aos médicos voadores – ficou no papel.

E em meados de Julho meti-me no «Infante D. Henrique» e fiz um cruzeiro até Lisboa, a minha terra.

Foi assim no illo tempore de há cinquenta anos.

Março de 2024

Henrique Salles da Fonseca

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COMENTÁRIOS

Anónimo 25.03.2024 14:49: Nem tudo se perdeu Naquele Tempo, Henrique…precisando melhor, algumas das coisas foram recuperadas posteriormente Àquele Tempo, e ainda em tempo. Refiro-me, como há anos aqui recordei, aos Estaleiros Navais da Beira. Quando estive na SETENAVE- Estaleiros Navais de Setúbal, no período 1981/5, esta empresa assegurou (pelo menos nesse tempo) a manutenção dos Estaleiros da Beira, com muito agrado dos moçambicanos, não se podendo dizer o mesmo em relação às entidades, de fala russa, que procediam a supostos trabalhos análogos em relação aos Estaleiros Navais do Maputo. A SETENAVE era, então, considerada a melhor empresa de cooperação. Abraço amigo. Carlos Traguelho

Adriano Miranda Lima  26.03.2024  00:26: Ou seja, perdeu Moçambique aqueles projectos, assim como outros que certamente se seguiriam, mas ganhou a independência, a guerra civil e o retrocesso do seu desenvolvimento. Eu estava lá nessa altura e regressaria logo a seguir ao golpe de 25 de Abril. Caberá aos moçambicanos fazer o balanço de ganhos e perdas e deitar contas à vida. Tal como sei que aconteceu com o Dr. Salles da Fonseca, apaixonei-me por Moçambique e só desejo o melhor para o seu bom povo, que bem merece uma boa sorte. A verdade é que, colonialismo à parte, Moçambique, assim como os outros territórios sob administração portuguesa, teria hoje um nível de desenvolvimento e progresso incomparavelmente superior. Oxalá o consiga, apesar dos constrangimentos que teimam em trancar a caminhada dos povos africanos. Esta evocação enche de saudade quem viveu esses tempos, ainda mais quando é escrita com arte e é temperada com emoção.


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