Tal assunto do vestir. A menos que seja
num contexto ideológico, a respeito do simbolismo do vestuário… ou da falta
dele, neste último caso, do tipo “Diz o roto ao nu”, em que nos condenamos uns
aos outros, sem vermos o nosso próprio argueiro. Não, não entendemos o
significado do texto, a roupa, desde sempre, servindo naturalmente para cobrir,
tapar, proteger ou mesmo enfeitar, as ocasiões especiais merecendo trajes
especiais, determinados empregos exigindo o vestuário próprio, talvez não tanto
para valorizar, mas para distinguir, por vezes atemorizando. Mas o vestuário
que nos é imposto ou que escolhemos, com maior ou menor aplicação, e dentro das
nossas possibilidades económicas, serve, naturalmente, para distinguir
ocasiões, de festividade ou outras, e não me parece que seja motivo de chufa ou
ironia, a menos que os rasgões que hoje merecem as calças – não sei se já
passaram para os blusões os tais rasgões – não só da juventude mas de adultos
compinchas, ou desejosos de permanecer em adolescência exibicionista de
desrespeito ou, pelo contrário, de pedante e falsamente amistoso paralelismo
económico-social com os desvalidos da penúria real – a menos que esses rasgões,
repito, merecessem comentário sobre a roupa e o seu papel social. Mas o texto
foi sobre o Cristo bíblico, servindo para revelar que o povo que o cobriu usou
a sua pobre roupa para servir de tapete ao burro que transportou Jesus. E eis o
comentário da simpatia humana pelos pobrezinhos – neste caso, com censura
implícita ao Salvador do Mundo que protagonizou o episódio: a roupa do povo a
servir de tapete.
Não, não percebemos o objectivo do texto
sobre a roupagem usada segundo as ocasiões – em momento próprio ou alheio. É claro
que a roupa, com ou sem simbolismo, é necessária ao Homem sempre, que tem a
pele demasiado fina, para se poder resguardar apenas com essa – o que lhe dá
vantagens, inteligente como é, para criar roupas e se vestir com mais ou menos
arte, e de acordo com as suas posses materiais.
Não, não percebemos a finalidade do
texto. E muito menos a referência ao episódio bíblico revelador do amor do povo
por aquele Menino, inocente ainda, e pobrezinho também.
O povo que se veste e que se despe
Hoje não estamos muito habituados à
ideia de que a roupa que vestimos pode servir para dar valor a outra pessoa que
não nós, que a vestimos.
TIAGO DE OLIVEIRA CAVACO Pastor
Baptista, colunista do Observador
OBSERVADOR, 24 mar. 2024, 00:185
Fascina na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém o papel da roupa.
Ainda hoje, quando se prevê um grande ajuntamento, não são poucos os que se
preparam para ele através do que vestem. Calhou-me passar pela miudagem que no
ano passado ia para o concerto do Harry Stiles em Algés e espantei-me com o
modo como se vestia. Grandes
eventos puxam pelo que vestimos.
Há um paralelo precioso com o que acontece com a roupa daqueles que
em Jerusalém acolheram Jesus. O texto bíblico diz-nos que duas coisas se fazem
com roupa naquele episódio: em
primeiro lugar, pôs-se roupa no jumentinho para que Jesus montasse nele e, em
segundo, as pessoas estendiam a roupa pelo caminho para que agora o jumentinho,
transportando Jesus, a pisasse. Imaginem uma coisa assim: a roupa
do povo a servir de tapete.
Hoje não estamos muito habituados à
ideia de que a roupa que vestimos pode servir para dar valor a outra pessoa que
não nós, que a vestimos. Claro que há uma ou outra ocasião em podemos ter de
nos vestir mais formalmente, não tanto porque gostamos mas porque a ocasião
exige. Mas as ocasiões que exigem da
nossa roupa estão, julgo, a tornar-se cada vez menos.
A verdade é que nos vestimos
sempre em conformidade com o que valorizamos. Vestimo-nos e despimo-nos, vale a pena
acrescentar. O que usamos na pele é, de um modo ou de outro, o que nos enche o
coração. Visto-me para o artista que
vou ver em concerto, visto-me para o artista que muitas vezes serei eu próprio,
e por aí em diante. Mas vestir nunca é apenas vestir.
Reconheço que tenho esse hábito óbvio de
escolher a roupa pensando em mim, nos triunfos que eu próprio gostava de
alcançar. Nessa medida, todos vivemos a tentar coreografar as nossas próprias
entradas triunfais. Mas também reconheço que, num dia em que se recorda
Jerusalém invadida por Jesus, não me traz grande descanso essa tentativa constante
de reinar sobre as circunstâncias. Vestir-me
para acolher quem é muito melhor do que eu é uma moda muito, mas muito
preferível. E que dá paz.
COMPORTAMENTO SOCIEDADE ROUPA MODA LIFESTYLE JESUS CRISTO CATOLICISMO CRISTIANISMO RELIGIÃO
COMENTÁRIOS
ily Lx: Santo Domingo de Ramos! João Floriano: Os estudantes costumam estender as capas para figuras
ilustres passarem por cima e aposto que jumentos muito maiores do que o
jumentinho do Dia de Ramos já pisaram as capas negras. Alexandre Barreira: Pois. Mesmo a
propósito. Há dias....nas finanças de Setúbal. Reparei num
tipo....de fato e gravata. E chinelos de "meter-o-dedo". Fiquei a
pensar: Ora bem....vestir em conformidade com a ocasião..Tem o
seu "peso" simbólico e "tributário"....!!!
Maria Augusta Martins: Estou a ver o comentador e o povo de quem fala a botar
uma albarda no lombo.
E burro bem
albardado vale sempre mais umas "cr'oas", E pastor, com safões e
pelicos, então nem se fala! bento guerra: Povo "stripteaser"
Nenhum comentário:
Postar um comentário