Artilhado para destruir.
Uma crónica de José Ribeiro e Castro
bem reveladora de belos sentimentos e de coragem assertiva, mas que os seus comentadores,
talvez mais realistas, destroem na sua utopia, contrariada pela realidade de
uma política doutrinária feita de maquiavelismo, animosidade e bestialidade –
de resto, apoiada por grande parte do mundo ocidental, cada vez mais bestial
nos seus afectos de pacotilha.
Paz para 100 anos, em Israel e Palestina
É inaceitável que o 11 de Março europeu falhe a memória justa da
tragédia do 7 de Outubro. É fundamental que o 21 de Agosto mundial não falhe. A
memória das vítimas exige-o.
JOSÉ RIBEIRO E CASTRO Advogado
e cidadão
OBSERVADOR, 11
mar. 2024, 00:1512
Há 20 anos exactos, no plenário do Parlamento Europeu, em
Estrasburgo, foi aprovada a minha proposta para instituir o Dia Europeu em
Memória das Vítimas do Terrorismo, que hoje se assinala uma vez mais. A
proposta previa ainda o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Terrorismo,
que seguiu longo processo, vindo a ser criado pelas Nações Unidas em 2017, para
cada 21 de Agosto. A ideia é a
de que só o foco continuamente posto nas vítimas e sua memória,
independentemente de quaisquer lados, conduzirá à ilegitimação real do
terrorismo e sua consequente erradicação. Enquanto o olhar sobre o terrorismo
continuar enleado nas malhas da armadilha política, não conseguiremos.
E estas datas convidam também a pensar e são oportunidade para reflexão e
decisões inspiradas.
Manhã
cedo daquela quinta-feira, 11 de Março de 2004, estávamos a entrar no Edifício
Louise Weiss, quando chegavam notícias horríveis de Madrid, dando conta dos
atentados terroristas que tinham acabado de acontecer, com 193 mortos e mais de
2.000 feridos. Em memória desta tragédia, emendei a data da proposta para 11 de
Março e assim ficou estabelecido. De então para cá, este é o dia em
que, na União Europeia, evocamos anualmente todas as vítimas deste terrível
flagelo, que ainda subsiste: o terrorismo. Choque paradoxal com o mui declarado humanismo do nosso tempo.
Em 2024, as atenções deste 11 de
Março deveriam estar concentradas principalmente nas vítimas dos ataques do
Hamas em 7 de Outubro, nos arredores de Gaza, sul de Israel. A selvajaria do ataque e a sua dimensão mais do que
justificam as atenções gerais. Diz o Global Terrorism Index
2024: «O
maior ataque terrorista ocorrido em 2023 foi, de longe, o ataque de 7 de
Outubro perpetrado por militantes do Hamas em Israel. Este ataque matou 1.200
pessoas e foi o maior ataque terrorista desde o 11 de Setembro e um dos maiores
ataques terroristas da história.» O
massacre pelo Hamas, de brutalidade atroz, foi ímpar na sua crueldade sádica e
sanguinária: foram quase
800 civis, mortos em assassinatos individuais, um a um,
incluindo muitas mulheres (algumas, vítimas de violência sexual) e 35 crianças. E fez 250 reféns, em desafio frontal aos
princípios fundamentais da ordem internacional, de que ainda mantém 130 cativos, passados cinco meses, com chocante
complacência da opinião mundial e passividade efectiva da generalidade dos
governos. Dizendo
de outro modo: pelos reféns, o Hamas prolonga, ainda hoje, o
hediondo ataque terrorista de 7 de Outubro, troçando do direito internacional
perante o mundo inteiro.
Os que se manifestam contra Israel
sem pedirem à cabeça a libertação dos reféns, deviam corar de vergonha, pela
cumplicidade com o terrorismo. Os que
colocam moções contra Israel sem exigirem a devolução imediata de todos os
reféns às suas famílias (ou pedindo-a apenas, sem nada fazerem para que
aconteça), deviam abandonar a hipocrisia e confessar estarem alinhados com os
extremistas do Hamas.
Se, no dia de hoje, as atenções do Dia
Europeu em Memória das Vítimas do Terrorismo não estão focadas, por toda a
Europa, no massacre de 7 de Outubro, não é porque as vítimas o não mereçam e a
sua enorme dimensão não o justifique. Poucos acontecimentos como este
desencadeariam a emoção espontânea: “Nunca mais!” Até porque, na verdade,
o 7 de Outubro ainda está a acontecer, hoje, em cada um dos reféns do
Hamas.
O silenciamento ou a subvalorização
acontecerão porque o veneno político apoderou-se do tema e desculpa ou
justifica o terrorismo do Hamas, em antissemitismo explícito ou implícito. A
atitude de boa parte da opinião europeia e mundial é ruidosa do lado
palestiniano, movendo-se para ignorar e apagar as vítimas israelitas como de
valor zero – as pressões em redor do festival da Eurovisão são tragicamente
reveladoras. O cinismo é
tão grande que parece que o 7 de Outubro nunca existiu. Esta atitude,
enviesada, não hesitando em tomar partido pelo lado que usa o terrorismo, é
ilustrativa do problema que temos: o mundo ainda não o ilegitimou, apesar dos
milhares de vítimas todos os anos – em 2023, 8.352 mortos em 47 países.
Um dos aspectos mais reprováveis na
política do Hamas é como usa o povo de Gaza como escudo e muralha. Já o escrevi e mantenho: todos os mortos
que acontecem em Gaza são da responsabilidade principal do Hamas. Primeiro, pelo ataque terrorista feito ao sul de
Israel, quebrando uma situação sem-guerra e provocando Israel à guerra. Segundo,
por, ao longo de anos (perante a indiferença internacional, senão
cumplicidade), ter construído um vasto campo militar subterrâneo em toda a
faixa de Gaza, em especial, nas zonas urbanas, transformando quase todas as
construções em alvos legítimos: só por elas se atingia o Hamas. Terceiro, ter feito da população carne para canhão,
para retardar e condicionar as operações do exército israelita e agravar o
quadro para condenação de Israel. Quarto, manter reféns em seu poder, para
prolongar a acção militar de Israel e provocar-lhe maiores danos reputacionais. O Hamas é
uma organização desapiedada, incapaz de sentimentos comuns a respeito dos
palestinianos que sofrem: usa o seu sofrimento como arma de guerra. Haverá os
fanáticos, que acham que são mártires – e, por isso, os fazem para sua maior
“glória”. Mas os cínicos querem-nos a sofrer, para assim engrossarem as hostes
e demolirem (assim pensam) o crédito de Israel.
Aqui, o governo Netanyahu também tem
responsabilidade. Em momento algum, pode parecer ver como arma de guerra o
sofrimento israelita ou, mais amplamente, judeu. E
sobretudo não pode demitir-se da sua responsabilidade na região. Israel
tem todo o direito a defender-se, mas tem, como todos, o dever de construir a
paz. O
discurso do governo de Israel sobre o futuro é, normalmente, um desastre. E
ajuda a difamar a nação judaica um pouco por todo o mundo. Não há direito. É
inaceitável que o 11 de Março europeu falhe a memória justa da tragédia do 7 de
Outubro. É fundamental que o 21 de Agosto mundial não falhe. A memória das
vítimas exige-o.
Não se entende que Israel não tome iniciativas capazes de embaraçar
a acção político-militar do Hamas e apressar o fim do conflito. Em qualquer
caso, Israel já devia ter dito e repetir que, a seguir à guerra, quererá: (1) construir um quadro de paz para 100 anos;
(2) cooperar na construção da solução de dois
Estados, viável e estável; (3) concluir
o quadro dos Acordos de Abraão, consolidando o ambiente de paz e segurança na
região; (4) ser
parte do mecanismo internacional de segurança do Estado palestiniano, país
neutro e sem armas; (5) contribuir
para a reconstrução da faixa de Gaza; (6) desenhar uma zona de comércio entre Israel, Palestina e todos os
signatários dos Acordos de Abraão, que favoreça o dinamismo económico da região
e promova o seu rápido desenvolvimento e bem-estar.
Só haverá paz nestas condições. E só
assim se banirá o terrorismo e a sua ameaça. Todos têm de alinhar por esta
pauta. Podemos, infelizmente, ter ainda guerra, hoje. Mas temos de estar a ver a paz, amanhã – e a
acreditar que será para durar. Os que quiserem insistir no erro, crendo
que poderão voltar à guerra uma e outra vez, tirem daí o sentido: o mundo está
farto da guerra no Médio Oriente. O mundo quer confiar na boa-fé e recta
intenção dos que dirigem.
Quase 80 anos depois de 1947, o mundo só acreditará nos que empunhem
a agenda da Paz e mostrem que querem mesmo construí-la.
Lourenço de Almeida: Infelizmente, parece-me que o seu plano morre logo nos primeiros pontos. O
Islão em geral é quem instiga os palestinianos em particular, a única coisa que
quer é "atirar os judeus ao mar". Os muçulmanos e especificamente os árabes, recusaram a existência de um
estado palestiniano desde o primeiro dia. Aliás, o estado palestiniano que
efectivamente aceitaram chama-se Jordânia, inclui a maior parte do mandato da
Palestina e assim que os ingleses saíram da região, procuraram anexar a
Cisjordânia cujo verdadeiro nome é "Judeia e Samaria". Acresce
que a maior parte da Palestina foi entregue aos Xerifes de Mecca para que Mecca
e toda a Arábia pudessem ser entregues aos Salafitas e à família Ben Saud, com
total indiferença sobre quem lá vivia antes. Os únicos que temos que satisfazer são os idiotas ocidentais que permitem
ou apoiam quem nunca quis mais nada senão conquistar o controle do califado e
depois disso, o mundo! A lamechice do trauma de haver populações que ficam deslocadas pode
colocar-se noutros sítios. As deslocações ali são da ordem dos 20km a 50km. Muita gente que trabalha em
Lisboa desloca-se mais do que isso diariamente! Não haverá solução enquanto o
Islão "militar" não for arrumado. E sem "Islão militar" não há Islão nenhum porque aquilo começou e
continua a ser essencialmente um projecto de expansão territorial e de poder
político, suportado por uma religião de estado criada para o efeito há umas
dezenas de anos após o início das operações militares. Nunca haverá acordo final e os
acordos de paz que forem sendo feitos só durarão até que Israel baixe os
braços. Enquanto houver islão e um
monte de muçulmanos a quererem lutar pela posição de Califa - e é assim desde o
dia em que o Maomé fechou os olhos - não haverá paz porque a forma de obter
aprovação entre os muçulmanos é fazer aquilo que Maomé fez...ou seja,
conquistar e submeter (que é aliás segundo julgo saber, a tradução da palavra
"Islão")
Fernando Raposo de Magalhães: Artigo
muito corajoso, essencialmente contra o que se vê acontecer por todo o lado. Só
não concordo consigo no pedido de dois estados. Os próprios israelitas sempre
foram a favor disso, algo sempre rejeitado pelos palestinianos que nunca
concordaram com um estado judeu. Mesmo a maioria do povo israelita era a favor
(65% mais ou menos). Presentemente essa percentagem inverteu-se e há também uma
ampla maioria contra. Também uma ampla maioria dos ditos palestinianos é a favor da destruição de
Israel e apoiou e apoia o que se passou em Outubro. Como é que Israel poderia
aprovar um estado vizinho cujo objectivo seria a sua destruição. Um estado que nem os outros países árabes vêem como
necessário para estabelecer paz com Israel. A invenção romana chamada
Palestina, já nesse tempo criada para não permitir a existência de um reino
judeu, não tem pernas para andar e quanto mais depressa o Mundo Ocidental
deixar cair essa ideia, tal como os árabes já o fizeram, mais depressa poderá
haver paz nessa região.
Paulo Silva > Fernando
Raposo de Magalhães: Falta coragem aos líderes mundiais reconhecerem que a existência de um
estado palestino não faz qualquer sentido. Além de que, como bem refere, ao
longo destes 80 anos essa realidade foi negada sistematicamente pelos estados
árabes vizinhos, nomeadamente Egipto, Síria e Jordânia. Interesses geopolíticos
que nunca quiseram saber do interesse dos ditos palestinianos. Nunca quiseram
reconhecer o estado de Israel nem nunca o farão…o ódio aos judeus sempre foi
maior do que a vontade de viver em paz e em prosperidade….um dos principais
objectivos de Ben Gurion que presidiu à criação de Israel foi precisamente
estabelecer relações de paz e convivência com os árabes, mas estes nunca o
quiseram….
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