terça-feira, 19 de março de 2024

A própria criatividade


Sendo bem original, será valorizada sobretudo posteriormente, que o diga Fernando Pessoa, génio só de alguns, amado, no seu tempo de discreto empregado comercial, mas figura generosamente original da nossa perenidade nacional. Mas eu gosto de ver as gentes que dão nas vistas e admiro a sua originalidade, mesmo a, por vezes, impertinente, desde que seja espectacular.

O Dr. Salles tem outras intenções com o seu texto – provavelmente uma crítica subentendida aos nossos políticos presentes e futuros de trazer por casa, que tantas divergências e tantas semelhanças entre si demonstram, nesse capítulo das vaidades e susceptibilidades da sua normalidade original, esquecidos do bom-senso na necessidade de virar a página da actuação política destruidora. Mas eu aproveito o seu tema para ir buscar à Internet, fonte da minha orientação cognitiva preferencial, as definições que o texto do Dr Salles trouxe à minha modesta ânsia de valorização pessoal, de pouco proveito, é certo, e por isso perfeitamente normal, sem pretensão exibicionista, ao servir-me do stock alheio.

DO ORIGINAL E DO NORMAL

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 18.03.24

 Sejamos normais, não queiramos dar nas vistas pela originalidade.

Abordar temas normais por vias originais, só pela originalidade, com muita probabilidade, produzirá resultados anómalos, possivelmente incontroláveis e incómodos.

 E mais vale também abordar temas originais por vias normais, verificarmos a plausibilidade do   resultado e deixarmos o «pó» assentar até que novas abordagens se revelem tempestivas e não tempestuosas. Entretanto, depois de amadurecido, o tema deixa de ser original e passa, então e só então, a merecer, sob muitas cautelas, abordagens originais.

Vem ao caso lembrar Karl Popper e a sua esquematização do método científico: observação > experiência > observação >experiência … até se encontrar a verdade que é um ponto no infinito.

Não será pelo desprezo da normalidade que se alcançará a verdade, apenas se incorrerá no caos.

Sejamos, pois, normais e deixemo-nos de originalidades potencialmente caóticas. A História que o diga relativamente ao determinismo histórico marxista.

 Março de 2024

Henrique Salles da Fonseca

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NOTAS DA INTERNET:

(Para justificação do que por aí vai – e  foi)

O materialismo surgiu justamente como uma contraposição ao idealismo. Pois, enquanto o primeiro afirma que a matéria forma a realidade em que vivemos, o segundo crê que a realidade é modelada pelas ideias

O materialismo histórico segue a mesma premissa materialista: o sujeito social está condicionado a sua condição material. Ou seja, não são as ideias ou a sua consciência que determinam o seu ser, mas sua situação material que define sua consciência. Da mesma forma, o modo de produção económico determina o desenvolvimento sociocultural e histórico de uma sociedade

Essa concepção social e filosófica foi desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels, dois filósofos alemães. O conceito foi desenvolvido quando a Revolução Industrial já se havia espalhado por toda a Europa, durante os séculos XVII e XVIII. Foi nesse cenário, caracterizado pela ascensão da burguesia que eles buscaram entender como se davam as novas relações sociais

O que Marx e Engels notaram foi que essa classe social se tornou mais forte e dominante, controlando todo o poder político e económico e os meios de produção. Os filósofos também identificaram que do outro lado da moeda estava a classe proletária, que vendia sua força de trabalho para garantir a sobrevivência. 

Desse modo, o materialismo histórico propõe-se buscar a origem e questionar essa relação desigual e impulsionar a tomada de consciência de classe trabalhadora.

O materialismo histórico de Marx e Engels

Karl Marx e Friedrich Engels são os principais teóricos que discutem o materialismo histórico. Ambos tiveram a oportunidade de presenciar o crescimento de fábricas e indústrias, e o processo de urbanização, que veio acompanhado pelo crescimento da desigualdade social, juntamente com inchamento dos espaços urbanos. 

Estava claro que essa nova configuração social se relacionava com a desigualdade económica das diferentes camadas sociais. Para o materialismo histórico esses fenómenos sociais tinham respostas nos meios materiais. Sendo assim, numa sociedade capitalista os sujeitos são moldados de acordo com a sua situação material ou económica e por isso eles estarão submetidos a realidades materiais diferentes.

Para compreender o materialismo histórico, Marx apropria-se de outro conceito, o da dialéctica, que numa definição bem genérica, se refere ao conflito causado pela contradição entre teorias. Ela é constituída por quatro elementos fundamentais:

O materialismo contrapõe-se ao idealismo de Hegel;

O ser humano determina a consciência;

A matéria não é imóvel, mas sofre transformações e está-se sempre modificando e influenciando a vida das pessoas;

O questionamento das contradições dos factos e da matéria. 

dialéctica marxista afirma que o indivíduo modifica a  sua história através da práxis, ou da acção, são as práticas do dia a dia que fazem a mudança e não as ideias. Quando o homem modifica a matéria, aí ele constrói um outro pensamento e pode formar a sua realidade. Daí que se origina a luta de classes e faz da dialética a base filosófica para o materialismo histórico. 

Num contexto no qual a classe burguesa detém os meios de produção e a classe proletária recebe um salário para oferecer sua força de trabalho, a mudança só vai ocorrer através de uma acção ou uma revolta. A menos que a classe trabalhadora faça esse exercício, a classe dominante vai continuar no poder explorando os seus empregados. 

Karl Marx e Friedrich Engels foram dois dos principais teóricos a influenciar as ideologias político-partidárias de esquerda. (Imagem:Wikimedia)

Principais características do materialismo histórico

É possível definir alguns elementos da concepção materialista histórica:

O materialismo histórico buscou entender as relações entre o trabalho e a produção de bens materiais ao longo da história;

O homem vai viver as suas relações sociais segundo as relações económicas, ele não tem autonomia. Essa afirmação é validada ao observarmos os períodos históricos. Por exemplo, na Idade Contemporânea, a sua relação económica define se você é patrão ou proletário, na Idade Média, definia se você era servo ou senhor; 

As ideias não influenciam a vida social. O Idealismo não consegue realizar nada que de facto modifique a sociedade, só a práxis;

A evolução histórica acompanha a sucessão dos modos de produção;

O trabalho media as relações sociais durante toda a história da humanidade.

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