terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Demasiado deprimente

 

A crónica de Helena Matos. Só ponho um dos 91 Comentários, o texto sendo perfeitamente arguto e sério. Não apetece rir, neste descampado sem luz, tanta a iniquidade da vanidade.

Contagem decrescente

O actual PR revelou um poder presidencial até agora desconhecido: o de abandalhar o regime. Mas Marcelo, o grande abandalhador, quer mostrar que é Presidente. Medina pode ser o pretexto.

HELENA MATOS, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 26 fev. 2023, 07:1491

“Se [o relatório] foi pedido pelo senhor ministro das Finanças, o senhor ministro das Finanças terá de ponderar exactamente as consequências do relatório. Vamos esperar para ver” — Marcelo Rebelo de Sousa (quem mais poderia ser?!) antes de entrar na cerimónia que assinalava os 140 anos de “A Voz do Operário” lançava a frase-caso do dia que rapidamente se tornou em título de notícias que invariavelmente levam ao mesmo, entendendo-se por mesmo a imposição por parte de Marcelo do afastamento do actual ministro das Finanças: TAP: Marcelo avisa ‘preventivamente’ Medina que o parecer sobre indemnização de Alexandra Reis é para ter consequências (Expresso); Marcelo abre porta à demissão de Medina após “irregularidade” na indemnização da TAP: “o senhor ministro das Finanças poderá ponderar as consequências do relatório” (CNN);Marcelo ‘empurra’ Fernando Medina após auditoria à indemnização de Alexandra Reis (CM)…

Esta fixação das atenções em Fernando Medina prova várias coisas. O primeiro e mais pitoresco facto que estas palavras provam é que para o nosso Presidente o ministro das Finanças não é um melão. Ou mais propriamente não está na categoria dos melões vulgo medidas. Por cobardia, ignorância e leviandade, Marcelo é incapaz de se pronunciar de forma substantiva sobre as medidas do Governo mesmo quando elas suscitam as maiores dúvidas, daí que tenhamos acabado na avaliação segundo os parâmetros aplicados aos melões: “Só se sabe se o melão é bom depois de o abrir. Olhando para o pacote de medidas, que é muito grande, não é possível ter um ideia clara do que está lá dentro. Ontem foi apresentado o melão, agora é preciso abrir o melão e olhar para cada lei e ver o que cada uma delas diz” – declarou Marcelo a propósito desse remake da Reforma Agrária de 1975 que é o arrazoado de intenções sobre a habitação agora anunciado pelo Governo. (Valha a verdade que a bitola melão é um avanço sensorial em relação ao critério do “benefício da dúvida”. O “benefício da dúvida” foi o critério de avaliação invocado por Marcelo para aprovar, em 2016, a semana de 35 horas para os trabalhadores em funções públicas. À época Marcelo “avisou que vai estar atento e, se houver um aumento das despesas por causa da medida, pedirá a intervenção do Tribunal Constitucional”. Sete anos depois continuamos à espera que Marcelo faça as contas do resultado do “benefício da dúvida”, donde o parâmetro melão parecer à partida mais eficaz.)

Seja como for e no que para o caso interessa Fernando Medina não é um melão porque ao contrário do que acontece com os melões (leia-se medidas) Marcelo não espera para o abrir e já disse de sua justiça: “Se[o relatório] foi pedido pelo senhor ministro das Finanças, o senhor ministro das Finanças terá de ponderar exactamente as consequências do relatório. Vamos esperar para ver.”

Porquê eu?deve interrogar-se Fernando Medina cuja demissão da pasta das Finanças se tornou uma espécie de notícia em banho-maria: numa semana anuncia-se a sua demissão porque vai ser constituído arguido por causa das investigações na CML na outra por causa das conclusões do inquérito às nomeações na TAP. Mas porque não gozará o ministro das Finanças do estatuto de semi-inimputabilidade de que goza o ministro Gomes Cravinho que não contente com as contradições em que caiu no parlamento a propósito das nomeações que fez enquanto ministro da Defesa, foi para o Brasil anunciar a presença de Lula da Silva na sessão solene do 25 de Abril no parlamento português, antes sequer do parlamento ter votado esse convite?! Afinal, nessa espécie de reality show diante dos microfones que é a presidência de Marcelo, à entrada da cerimónia que assinalava os 140 anos de “A Voz do Operário”, o presidente da República para além de falar sobre Fernando Medina também se pronunciou sobre o incidente diplomático criado pelo ministro Cravinho, incidente que pode marcar a visita de Lula a Portugal em Abril: “é bom que corra bem e não haja um problema por causa dessa coincidência e que a coincidência de datas em vez de ser uma coincidência que significa uma boa coincidência, não, passar a ser uma má coincidência”Percebido? Não! Mas também não interessa. O ministro que está na berlinda é Medina porque é em torno de Medina que Marcelo e Costa ensaiam o que gostam de fazer: jogos de bastidores.

De todas as vezes que se disser que o PR em Portugal não tem poder, lembremo-nos de Marcelo Rebelo de Sousa, o actual PR revelou um poder presidencial até agora desconhecido: o de abandalhar o regime. Aquilo que está a acontecer é que Marcelo depois de se consolidar como o grande abandalhador do regime quer mostrar que é Presidente. E é aí que entra Fernando Medina. Impor a saída de Fernando Medina iria marcar o seu mandato e, acredita Marcelo, calar críticas dos seus. O problema é que Marcelo, como todos aqueles que sobrestimam a sua inteligência política, subestima a inteligência dos outros e António Costa farto como está da contestação nas ruas, das dificuldades da governação (nunca se viu um governo com tal dificuldade de concretização!) e da omnipresença televisiva do próprio Marcelo a dizer uma coisa, o seu contrário pode aproveitar para provocar a queda do Governo e desse modo antecipar-se na gestão do calendário eleitoral. Neste sentido o anúncio de Lula na sessão solene do parlamento a 25 de Abril, ofuscando até, pela polémica, Marcelo Rebelo de Sousa, não foi necessariamente um delírio de Gomes Cravinho mas mais provavelmente uma inconfidência inoportuna.

Por fim, caia o governo quando cair, ao PS que se vai apresentar a eleições não basta ganhar essas eleições, o PS quer conquistar os votos do PCP e sobretudo do BE. O PS centrista morreu senão de todo pelo menos para António Costa. Quando o PS apresenta um pacote para a habitação que ataca os pequenos proprietários está a ir também contra o seu eleitorado. Quando o PS estabelece uma relação entusiástica com Lula da Silva está a dizer-nos a todos que nunca reflectiu sobre o caso José Sócrates e que pretende captar o voto da extrema-esquerda.

Logo a demissão ou não demissão de Fernando Medina é muito mais que a demissão de Fernando Medina. A grande questão é se já começou a contagem decrescente para o fim do XXXIII Governo Constitucional. Medina pode ser o pretexto. Um bom pretexto.

MARCELO REBELO DE SOUSA   PRESIDENTE DA REPÚBLICA   POLÍTICA   FERNANDO MEDINA

COMENTÁRIOS:

José Barros: Que Marcelo abandalha o regime é um facto. Mas não um facto novo Helena Matos. Mais claro dia após dia porque o homem agora já nem pode calar-se ainda que, por milagre, quisesse. Não penso que Medina seja a meta final. Para Costa o País não passa de um quintal do partido. Continuará até esgotar todos os tachos. Vai uma aposta?

 

Prepotência desmesurada


E desejo de marcar presença em grande, no Mundo, e na História do Mundo. Só gostaria que o nome de Zelensky e do seu povo extraordinário ainda soassem mais alto nessa História, do que o do sinistro agressor.

O que é um ponto sem retorno da história: a invasão da Ucrânia

O mundo depois da invasão russa mudou completamente, em particular a sensação de risco de guerra que induz tanto o medo como a vontade de resistir.

JOSÉ PACHECO PEREIRA

PÚBLICO, 25 de Fevereiro de 2023, 6:17

A um ano da invasão russa da Ucrânia não há maneira de fugir do tema, porque qualquer outra matéria é infinitamente menos importante. A invasão é um daqueles pontos sem retorno que na história do mundo marcam um antes e um depois, e a partir do qual nada é semelhante. Precisamos de pensar diferente, e agir de modo novo, até porque uma das características destes pontos sem retorno é serem sempre uma surpresa.

Os eventos mais importantes da história têm essa característica de não serem previsíveis, por muito que a posteriori se reconstruam sequências de causas que parecem apontar para aí. Na verdade, tanto podiam apontar no sentido do evento-surpresa como de muito outros eventos que não aconteceram. A razão desta surpresa é que há uma dimensão não-humana na história que vem da complexidade do mundo e do nome que têm estes artigos de “ruído do mundo”. Ninguém controla tudo, existe o acaso muito mais poderoso do que a necessidade e a “seta do tempo” na história não é diferente da da física: a desordem aumenta.

A invasão russa da Ucrânia vista a posteriori parece ter algumas “razões”. Os propagandistas pró-Putin repetem sempre essas razões com mais ou menos dolo. Uma é de que a guerra começou em 2014, com o “golpe” da Praça Maidan. Mesmo que se admita toda a descrição dos eventos que aparecem associados a esse “golpe”, só um, normalmente escamoteado por esses propagandistas, pode ser considerado o início da guerra, a anexação do território ucraniano da Crimeia, a que o tenebroso “Ocidente” fez vista grossa. Tudo o resto, incluindo o conteúdo anti-russo do “golpe”, está longe de justificar a invasão. A entrada da Ucrânia na NATO e na UE foi sempre recusada pelo “Ocidente”, mesmo que agora se perceba que a “razão” por que foi a Ucrânia invadida aplicava-se aos países bálticos, onde o sentimento anti-russo é virulento, e onde existe um enclave russo, mas que têm sido defendidos até agora por pertencerem à NATO.

A teorização mais ampla da invasão é uma variante da tese geopolítica de Alesandr Dugin sobre a necessidade de combater a unipolaridade resultante do fim da URSS, que implica a hegemonia de valores que são intrinsecamente anti-russos, os do capitalismo, do liberalismo político e traduzem o poder global americano. A Eurásia levantar-se-ia contra essa hegemonia com a ascensão de uma nova versão da URSS, e da China, criando um mundo multipolar em contrapartida da unipolaridade. As suas teses geopolíticas influenciam quer a extrema-direita, quer os restos do movimento comunista.

Em Portugal, Dugin foi editado muito antes da invasão, por uma pequena editora nacional-socialista – e aqui o nome não é um anátema, é mesmo o que é –, e influencia muitos artigos do Avante! e algumas publicações recentes, como o livro de Albano Nunes, um dos raros dirigentes do PCP com enormes responsabilidades na área internacional que ainda diz claramente que o derrube do capitalismo tem que ser feito “pela força”. Os comunistas, de um modo geral, não citam Dugin directamente, mas é evidente a sua influência geopolítica.

O “Ocidente” não tem as mãos limpas em muitos conflitos, particularmente no conflito israelo-árabe e no apoio político à Arábia Saudita, motivado pela necessidade de controlar as fontes de energia, fizeram asneiras trágicas no Kosovo, na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, quase sempre com resultados inversos aos pretendidos (uma das características da frase weberiana do “ruído do mundo”), e na guerra mundial contra o terrorismo do ISIS, mas convém lembrar que o 11 de Setembro foi em Nova Iorque e não em Moscovo. Mas à data da invasão da Ucrânia o “Ocidente” estava em recuo, com a política errática de Trump e o seu isolacionismo anti-NATO, e com a renitência dos aliados europeus em cumprir as suas obrigações em despesas militares. Mais ainda: a opinião pública principalmente na Europa desligara-se do apoio à NATO e estava pouco disposta em gastar mais dinheiro na defesa.

Com a invasão, tudo mudou e esse foi talvez o maior erro de Putin. A maioria dos europeus e não só, as nações mais industrializadas do mundo, com excepção da China, conheceram um significativo crescendo da legitimação da NATO e o seu efeito imediato foi o apoio militar crescente à Ucrânia. A tudo isto acresce o apoio político: em nenhuma circunstância Putin pode ganhar a guerra que iniciou. E é isso que impede a “paz” russa e é a primeira grande consequência do ponto sem retorno da invasão.

O mundo depois da invasão russa mudou completamente, em particular a sensação de risco de guerra que induz tanto o medo como a vontade de resistir. Em Portugal, como em muitos outros países, a condenação da invasão é quase unânime e não é fruto da propaganda “ocidental” nem da desinformação. É isso, por exemplo, que num clima da contestação social impede o PCP de recuperar o que perdeu, porque o apoio, enviesado que seja, à invasão é um forte anátema junto da opinião pública, mesmo para muitos militantes do PCP. Acresce que não há nenhuma fidelidade a “princípios” que justifique a atitude ambígua face à invasão, e isto é um eufemismo, a Rússia de Putin é uma versão autocrática e imperial, eslavófila, e a ideia da Eurásia versus “Ocidente” é muito parecida com a de “espaço vital” hitleriano. Ambas têm em comum uma afirmação de valores entre o paganismo e a ortodoxia, contra a decadência do “Ocidente”, dito de outras maneiras, contra as democracias. A correlação entre a democracia e a decadência tem uma longa e sinistra história.

A ideia da Eurásia versus “Ocidente” é muito parecida com a de “espaço vital” hitleriano

A partir do momento em que isso tem uma expressão militar agressiva, acabou a complacência. Não é uma guerra semelhante à Guerra Fria, é mesmo uma guerra a sério que tem que ser ganha no plano convencional. Se passar daí, é o Armagedão, mas isso também “eles” sabem.

O autor é colunista do PÚBLICO

Historiador

TÓPICOS: OPINIÃO    RÚSSIA   UCRÂNIA   GUERRA NA UCRÂNIA   VLADIMIR PUTIN   NATO   ALBANO NUNES

COMENTÁRIOS:

Paulo Leitao Experiente: A Crimeia não pertence à Ucrânia porque “o Krushev a deu numa noite de bebedeira” como os trolls russos por aí dizem. A Crimeia pertence à Ucrânia porque os seus habitantes assim o decidiram em votação livre com resultados reconhecidos e aceites pela ONU, pela Rússia e pela União Soviética.

DNG.  Moderador: O artigo é conclusivamente pirómano e até inadvertido, não só a montante quanto às causas como, também, a jusante quanto ao perigo das consequências. Ainda bem que o autor se representa a si próprio por oposição a outros que, ao lado dos ucranianos, da sua coragem, da sua resistência e heroísmo procuram incessantemente uma solução equilibrada para este conflito.                  Paulo Leitao Experiente: DNG, o problema é que a “solução equilibrada para este conflito” é o respeito do direito internacional o que implica a retirada russa de todo o território, incluindo a Crimeia e a compensação pelos estragos acusados. Sem isso, o Mundo será uma selva.  DNG.  Moderador: O problema tem antecedentes... Paulo Leitao Experiente: Pois tem DNG, tem o antecedente de a Rússia ser há séculos um império que esmaga todas as nações à sua volta… Daguestão, Chechenia, Geórgia, Moldávia, etc.. todas sugadas até à exaustão para as elites russas de Moscovo e S. Petersburgo viverem à grande. Fun.eduardoferreira.883473  Influente: Tem sem dúvida antecedentes tal como o Imperialismo do III Reich Alemão teve antecedentes no Tratado de Versailles. No entanto e no momento em que a Rússia invade a Ucrânia tal como a Alemanha Nazi invadiu a Polónia e depois ocupou a França levando pela frente a Bélgica, não há outra solução senão parar essa invasão e infelizmente não parece haver alternativas à derrota militar da Rússia como fora em tempos a derrota militar da Alemanha Nazi. A razão do “Espaço Vital” foi válido para a Alemanha Nazi tal como é hoje para a Alemanha. Mais: esta invasão só conseguiu criar uma consciência nacional ucraniana que não era tão sólida antes da invasão. Hoje em dia os próprios Ucranianos Russófonos odeiam a Rússia. Falo com conhecimento profundo de ambos os países. Há linhas vermelhas…………………..

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Diálogos em finais de mês


Sentarem-se a uma mesa, para discutirem de uma guerra infame, parece ironia, com um ser que de humano apenas apresenta cinismo, dolo, velhacaria, mentira sem disfarce. Putin só merece desprezo e asco, apesar das suas mesas poderosas. Grandes são os Ucranianos, que lhe sofrem o efeito desses poderosos traços - não de selva, infelizmente, mas bem humanos, que os animais da selva são menos bestiais nos seus instintos. Putin não merece essas mesas majestosas de conversação com ninguém, salvo com os da sua igualha, falso que é. A nossa Guerra da Restauração, desenvolvida pelas batalhas de Linhas de Elvas, Ameixial, Castelo Rodrigo e Montes Claros, como também as nossas Invasões Francesas – de 1807, comandada por Junot, 1809 por Soult e 1810 por Massena (segundo memórias vindas da 4ª classe primária) – não tiveram mesas de conversação visíveis, apesar dos traidores de sempre – e só tiveram o apoio da Inglaterra aliada. Tratava-se, é certo, de um minúsculo país, e de minúsculos artefactos mortíferos, nada a ver com os tempos de hoje, mas a ânsia de independência era igual à desses Ucranianos heróicos que defendem o seu país das garras miseráveis de quem se sente estupidamente o maior. Hoje, é certo, não sei se sentiríamos idêntico fervor pátrio, nós, barões outrora assinalados (é certo que só em jeito épico exaltador), ou se preferiríamos o recurso à mesa das conversações, sobretudo se bem recheada de pratos e vinhos cúmplices, em caso de idênticas pretensões a este minúsculo espaço envelhecido. Mas quem acredita ainda na palavra de Putin?

TEXTO de LUIS SOARES DE OLIVEIRA e seus comentadores

2 d·

EQUILIBRIO DE NASH

Um académico americano (várias Universidades e Prémio Nobel economia em 1994) chamado Nash, adepto da teoria dos jogos, observou - já lá vão mais de quarenta anos - que, numa disputa, quando cada adversário chega à conclusão que ele não tem como melhorar sua estratégia dadas as estratégias escolhidas pelos outros adversários e as estratégias dos adversários não podem ser alteradas, então as estratégias escolhidas pelos participantes deste jogo definem um equilíbrio a que chamaram o "equilíbrio de Nash". Numa Guerra, atingido este equilíbrio, os beligerantes começam a considerar a paz desejável. Talvez que a atenção que agora ambos os beligerantes na Ucrânia prestam a Xi Jiping seja indício de que o equilíbrio já foi alcançado ou, pelo menos, já se avista.

5 COMENTÁRIOS:

Alex Spot: Interessante!

Vitor M. S. Pinto: O "problema" é que quando se "vende" o princípio moral como justificação da acção para a opinião pública, depois fica difícil desmontar essa narrativa em prol de considerações mais pragmáticas. A culpa é da mediocridade de uma classe política que não tem coragem de dizer a verdade. Há mais de 6 meses que digo que esta guerra não pode ser ganha nem perdida, mais vale sentarem-se já à mesa de negociações será o menos doloroso para toda a gente

Luis Soares de Oliveira: Vitor M. S. Pinto: Todas as guerras são feitas em nome da moral. A ética galvaniza mais as massas do que os interesses calculistas.

Elizabeth Seixo: Amém! Mas não acredito. Não no Putin, que consegue arrebentar com tudo o que pode ter algum equilíbrio!

Isabel Themudo Gallego: Quem sabe? Mas Putin é frio e obcecado, vai ser difícil.

 

Um poiso firme


Que devíamos respeitar, pois tem a sua história que define cada espaço com gente a ele ligada desde que nele se firmou e amando-o por isso. Pena é que nem todos assim pensem, calcando esses espaços pátrios com falsas ideologias desrespeitadoras, ou ambições pessoais aniquiladoras. Mais uma ampla página de esclarecimento orientador e chamamento à razão, por Jaime Nogueira Pinto, um pilar desta pátria, assim o quisessem reconhecer, na amplitude de um raciocínio apoiado em saber e amor pátrio, e conhecimento dos interesses universais que movem os vários mundos, nos seus confrontos e aptidões.

Democracia e Nação

Apesar da demonização do nacionalismo, nação e democracia parecem continuar a ser indissociáveis como pilares da modernidade política.

JAIME NOGUEIRA PINTO,

OBSERVADOR, 25 fev. 2023, 00:1831

Na sua viagem à Europa, o presidente Biden definiu o conflito que opõe a Rússia à Ucrânia e ao Ocidente como o centro quente da nova clivagem ideológica que divide o mundo em democracias e autocracias, numa espécie de reedição de The West and The Rest.

Talvez porque o nacionalismo seja hoje um conceito particularmente demonizado, também os contendores invocam razões ideológicas para um conflito que é, fundamentalmente, um conflito entre nacionalismos: o nacionalismo ofensivo russo pós-soviético, que vê na afirmação de Moscovo como um poder na Eurásia a defesa dos interesses nacionais do país, e o nacionalismo defensivo ucraniano que, paradoxalmente, a invasão russa de há um ano tem vindo a consolidar.

Assim, Putin quer concluir a obra da grande guerra popular de 1945 e exterminar os “neo-nazis” que ainda pululam na Ucrânia e, ao mesmo tempo, salvar o Ocidente da decadência; e Zelensky quer defender a democracia contra o “nazismo” de Putin e conta para isso com “o Ocidente”, também ele ameaçado pela autocracia russa. Este Ocidente das democracias é capitaneado pelos Estados Unidos, que patrocinam o nacionalismo defensivo ucraniano por razões de princípio e de legalidade internacional, por razões ideológicas, de luta contra as autocracias, mas também, ou sobretudo, por razões claramente enunciadas de interesse nacional e estratégico – com a ajuda militar norte-americana à Ucrânia a funcionar, declaradamente, como um “investimento” para “enfraquecer a Rússia” e neutralizar preventivamente “the Russian army and navy for next decade.”

Acresce que, se a distinção entre autocracia e democracia é, em princípio, clara e inequívoca, estas categorias têm vindo a revelar-se particularmente fluídas e manipuláveis. Tanto que, no Verão passado, o presidente dos Estados Unidos não hesitava em identificar uma ameaça interna à democracia norte-americana, uma ameaça autocrática, ou “semi-fascista”, protagonizada por mais de 80 milhões de eleitores, dispostos a votar no Partido Republicano de Donald Trump, numa eleição democrática.

Lembro, a propósito, que foi sem grandes estados de alma que a Guerra Fria foi ganha pelas democracias anglo-saxónicas em aliança decisiva com algumas autocracias, entre elas a chinesa e a saudita (que, ao aumentar a produção do petróleo, arruinou, nos anos oitenta, a economia soviética). Lembro ainda que, apesar da demonização do nacionalismo, nação não é sinónimo de autocracia. Pelo contrário, nação e democracia são indissociáveis como pilares da modernidade política, como sublinhou Liah Greenfeld no seu clássico Nationalism: Five Roads to Modernity.

Globalização democrática

Em 2017, Dani Rodrik, professor de Economia Internacional em Harvard, escrevendo sobre a contradição entre a progressiva globalização económico-financeira e a continuidade da existência de Estados nacionais soberanos e democráticos, afirmava que os poderes discretos e não escrutináveis que regem um mundo sem fronteiras, tornam mais difícil o exercício da vontade popular e da soberania nacional. De resto, já antes, num livro de 2011, The Globalization Paradox: Democracy and the Future of World Economy, Rodrik desenvolvera mais demoradamente o tema.

Ao contrário de muitas profecias que, sobretudo a partir do fim da Guerra Fria, auguravam vida curta para o Estado e para as fronteiras, os Estados independentes continuaram e são eles que determinam ainda hoje a paz e a guerra, como é particularmente notório na invasão russa da Ucrânia.

Dentro da articulação geopolítica de um mundo de Estados soberanos – com mais ou menos soberania real – houve também uma prescrição ideológica, nascida dos conflitos do século XX e do seu resultado, de que a Democracia devia ser a definitiva forma legítima e legal de governo. Urbi et orbi, sem limites, sem restrições, na Ásia como na Europa, na África como na Oceânia.

O tema da globalização democrática tem uma longa história, que começa com a intervenção norte-americana na Grande Guerra; intervenção que determinou a vitória dos Aliados e fez dos Estados Unidos, para todos os efeitos, os principais, senão os únicos, vencedores. Ou, pelo menos, foram os norte-americanos os árbitros da Paz.

Foi o presidente Woodrow Wilson o grande campeão dessa democratização do mundo pós-guerra. Wilson era um ideólogo e defendia a ideia do Presidente Monroe de que a América, o Novo Mundo, era moral e politicamente superior ao velho mundo europeu. Wilson repetia que “the World must be made safe for democracy”, fazendo disso a sua missão e a missão da América. Wilson foi o primeiro presidente americano a viajar para a Europa, onde esteve entre Janeiro e Junho de 1919, para a conferência da Paz de Paris. Antes de voltar à América, declarou que era “missão dos Estados Unidos trazer a liberdade, a justiça e a humanidade aos povos menos civilizados do mundo”, povos esses que deviam “adoptar princípios americanos”.

Entretanto, na conferência de Versalhes, Wilson vetara uma proposta do Japão no sentido do reconhecimento da igualdade racial. Era da Virgínia, educado na Geórgia e na Carolina do Sul, e fora o primeiro sulista, desde a Guerra Civil, a ocupar a Casa Branca. Na presidência, opusera-se à integração racial: saneara altos funcionários negros, criticara a “Reconstrução” e manifestara-se contra o direito de voto dos negros. No entanto, insistia em democratizar, civilizar e humanizar a Europa e o mundo.

Parece-me interessante e importante este prelúdio como introdução ao problema das reais contradições entre valores; contradições que normalmente são esquecidas. Na democracia há, desde logo, um conflito entre dois conceitos – o conceito da tradição liberal anglo-saxónica, que vê a democracia sobretudo como a protecção constitucional e até pré-constitucional dos direitos e garantias individuais, da liberdade de expressão ao direito de propriedade; e o conceito rousseauniano continental da “vontade absoluta da maioria”, em que a maioria pode pôr e dispor do poder.

Teoricamente, nada impede que estes dois conceitos se coordenem e convirjam, mas, na realidade, há todo um historial de diferenças. Enquanto os modelos inspirados na ideia rousseauniana da divinização da maioria e respectiva vontade geral tendem a interpretar extensivamente os poderes dessa maioria e a suprimir progressiva e expeditamente as oposições (veja-se o caso hitleriano e dos regimes comunistas na Europa Oriental), a tradição anglo-saxónia acautela essas liberdades. Ou acautelava, porque hoje, com o wokismo e as proibições e cancelamentos daí decorrentes, talvez também estas liberdades está em risco.

O que aqui quero sublinhar é que a democracia precisa da nação. Sem nação e sem identidade nacional como valores comuns identificadores de uma comunidade, torna-se muito difícil que o eleitorado não se fragmente por linhas de rotura.

Teoria e realidade

Temos como exemplo as dificuldades da consolidação da democracia em África. Num estudo de Guy Rossatanga-Regnault, na revista Afrique Contemporaine, de 2012, intitulado “Identité et démocracie en Afrique. Entre hypocrisie et faits têtus”, o autor concluía da análise das lutas políticas em África que, com raras excepções, os conflitos vinham da questão identitária, isto é, da concorrência permanente entre a identidade nacional e outas identidades – étnicas, regionais ou religiosas.

Quase todos os Estados do mundo começaram pela identidade tribal, clânica, social, religiosa. E nem sequer o argumento das fronteiras artificiais da colonização e da partilha de África é excepcional: os romanos não tiveram grandes preocupações identitárias quando dividiram administrativamente o Império; nem nenhum dos dirigentes imperiais ou imperialistas que lhes sucederam se preocuparam muito com o rigor histórico-etnológico dessas divisões, a não ser quando lhes facilitavam o domínio.

Também o modo geral de fazer países na Europa e nas Américas foi a guerra de independência contra o dominador e, a seguir, a guerra civil. O vencedor, assegurada a vitória, pacificou. Só depois, ao longo da História, as afinidades do lugar, da língua, das glórias e dos sacrifícios comuns foram fazendo, pela História e pela memória, a tal unidade nacional. Por isso também agora, na Ucrânia, é pelo sacrifício comum que a unidade e a identidade nacional têm vindo a consolidar-se.

A democracia, quer como protecção dos direitos e garantias individuais, quer como rousseauniana vontade absoluta da maioria, chegou plenamente no século passado. Durante séculos, o regime foi a monarquia, primeiro absoluta, depois liberal. E até muito tarde, quase até à primeira guerra mundial, o sufrágio era censitário e exclusivamente masculino.

Foi durante esses tempos que se foram formando, na Europa e nas Américas, as nações, as identidades, as lealdades, as comunidades. Sempre que outras identidades – por exemplo regionais – sobrevivem em democracia, há problemas de unidade nacional, como sucede com os separatismos catalão em Espanha, valão na Bélgica, ou do Quebec, no Canadá.

A maioria dos Estados africanos teve a sua independência no século XX, na vaga de descolonização iniciada pelos poderes coloniais europeus, na sequência do fim do mundo eurocêntrico, com a Guerra de 1939-45 e com a sua substituição, como grandes poderes, pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Ingleses e franceses tentaram, uns por via económica, outros por via político-militar, manter uma influência e uma hegemonia neo-colonial. E, durante a Guerra Fria, o destino dos Estados africanos esteve também, em parte, condicionado pelos respectivos alinhamentos com as grandes potências (embora, a partir de Bandung, se procurasse criar uma terceira via, não alinhada).

A Guerra Fria permitiu, em África e no resto do mundo, a continuidade de Estados não democráticos, mas, com o seu fim, os poderes vencedores – os Estados liberais anglo-saxões e, entre todos, os Estados Unidos – quiseram, como o Presidente Wilson depois da Grande Guerra, voltar a impor o seu modelo político, a democracia multipartidária.

Com maior ou menor esforço, muitos Estados africanos fizeram pragmaticamente a adaptação, pelo menos na letra da lei, das suas leis fundamentais. Mas se a democracia foi, na Europa e nas Américas, um processo de longa formação, um processo de dois séculos, até que ponto era possível ultrapassar esses condicionalismos e atingir aceleradamente as condições nacionais e culturais necessárias à democracia?

Entender a questão é um passo fundamental para tentar lidar com o que é um problema vital em África e no mundo: encontrar uma forma estável, justa e pacífica de institucionalizar a soberania nacional e popular. Soberania que, também na Europa e nas Américas, parece agora ser, cada vez mais, a melhor forma defender os valores do Ocidente contra as manipulações das vanguardas esclarecidas.

A SEXTA COLUNA   DEMOCRACIA   SOCIEDADE   GLOBALIZAÇÃO   MUNDO

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Maria Paula Silva: Uma boa aula! Obrigada!              Antonio Oliveira: Pérolas de um novo avatar do "nacionalismo" agora em versão "bonzinho": o problema "valão na Bélgica". Não dá para enumerar os pontapés dados nos factos, mas o pontapé assinalado acima fez-me rir.             Carminda Damiao: Excelente artigo.           Maria Nunes Excelente artigo. Uma grande lição de História.            João Ramos: Obrigado Jaime, mais uma bela e esclarecedora lição de História política do último século e meio, era preciso que os “nossos” políticos (todos) lessem os teus textos, seria bom para eles e para nós também, pois é sobretudo pela via da ignorância e do irrealismo que tanta asneira se tem praticado por cá e no mundo…               Jorge Carvalho: Mais uma vez obrigado JNP. Ler estes excelentes artigos de informação histórica de verdade, lucidez e coragem é um privilégio na desinformação e imundice excrementicia que graça no nosso Portugal.               Carlos Real: O nacionalismo é a base fundamental do pensamento humano, mais que as ideologias. Não é por acaso que a União Soviética é impossível de ser reconstruida. O mesmo se passou com os Balcãs. A União Europeia é um gigante de pés de barro, porque um europeu não existe. Somos portugueses, nem ibéricos somos. Estamos em termos de afinidade mais próximos de um catalão do que um castelhano. Porque será? Porque a história conta. Sejam democracias ou ditaduras, o povo une-se na língua, nos costumes, na religião, e menos na economia e na ideologia.                João Floriano: Excelente texto. As crónicas de Jaime Nogueira Pinto são as que mais associo em História com o efeito borboleta. Uma pequena modificação em certa parte do mundo, pode provocar um tufão nos antípodas. Assim acontece na História. OS factos históricos não são acontecimentos desligados e aleatórios. A História é uma cadeia complexa muito diferente do simplismo a que os wokes a pretendem reduzir, a seu belo prazer e à conveniência dos seus interesses. Nunca me tinha apercebido da diferente interpretação de democracia por parte dos anglo-saxónicos e de Rousseau. No entanto aí está a explicação para muitas coisas, sobretudo a crítica aos Estados Unidos de imposição dos seus valores democráticos a quem não os aceita: ou por cultura, tradição ou imaturidade.            Rui Lima: Agradeço por ter alertado que a democracia precisa da nação , num mundo sem fronteiras não há democracia . A par­tir do século XV a Ascen­são da Europa leva à sua domi­na­ção sobre o mundo em nome do pro­gresso. Em Mos­covo, Istam­bul, Tee­rão, Tóquio, Pequim e nos outros impé­rios tra­di­ci­o­nais, sobre­vi­ver sig­ni­fica, por­tanto, moder­ni­zar-se , por outras pala­vras, oci­den­ta­li­zar-se o trans­plante é um fra­casso. O melhor que se conseguiu foi , Pah­lavi no irão, Kemal na Tur­quia, Hirohito no Japão, por um lado, Lênin na Rús­sia, Mao na China,.. chego à conclusão que a democracia é o normal para povos ocidentais de matriz cristã não o sendo para outras culturas.               João Floriano > Rui Lima: Compreendi perfeitamente o que o Rui Lima escreveu. Reza Palavi e a sua Soraia já lá vão e agora o Irão, antiga Pérsia está a ferro e fogo com os aiatolas. Kemal Atatürk na Turquia, o pai de um estado laico, também só em estátua. Retiro o Japão do grupo. Apesar da adoração à família imperial o Japão é democrático ainda que condicionado por uma forte tradição familiar. O Rui reforça a minha afirmação que o propósito americano de levar a democracia por todo o mundo, semelhante à fúria de evangelização da Europa católica nos séculos XVI e XVII, falha frequentemente. Total acordo.            João Alves > Rui Lima: De matriz cristã católica/protestante. Os povos russos são de matriz cristã ortodoxa. O que não deixa deter influência no conflito entre ambos.            Rui Martins: Uma autêntica aula. Bem haja                  Rui Guilhoto Loureiro: Magnífico texto - como sempre! Ler JNP é sempre um momento de aprendizagem e inspiração. Obrigado.

 

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Imparável já

 

Por muito que se esforcem em advertir, Alberto Gonçalves e outros mais, António Barreto entre outros, sobre o destroço em que nos estamos a tornar. Não somos muito bons em leitura nem interpretação, os cursos tirados hoje só nos preparam para espectáculos grevistas, que, esses sim, nos levam até pontes-dormitórios, a conselho de uma tal jovem assessora de ministra… Não, não somos bons em leitura, e as pontes já só servem para dormir, não mais passagens para outras margens. Somos, de resto, o país mais velho da Europa e de gente mais velha em quantidade, estamos por um triz.


Este PS dá razão a Kissinger

Não é certo que perante uma catástrofe evidentemente suscitada pelo PS os nossos concidadãos desatem a concluir que a catástrofe se deve ao PS. O bom povo não é bom a interpretar evidências.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 25 fev. 2023, 00:3070

As sondagens continuam a mostrar o PS ao lado do PSD. Independentemente dos méritos (?) do actual PSD. Em sociedades normais, sete anos de desnorte, incompetência, arrogância, prepotência, nepotismo, trafulhices e miséria costumam ter consequências aborrecidas para as agremiações responsáveis. Em Portugal, nem tanto.

Em Portugal, há imensa gente a desejar a continuação do governo socialista. Os que são marxistas por convicção e que, apesar das três mil setecentas e doze medonhas experiências anteriores, acreditam mesmo que essa é a única via para a felicidade dos homens (e das senhoras). Os que fazem carreira no PS. Os que aspiram a fazer carreira no PS. Os que lucram com a presença do PS no poder. Os que aspiram a lucrar com a presença do PS no poder. Os que empobrecem com a presença do PS no poder mas engolem a propaganda oficial e julgam estar benzinho. Os que, devido à presença do PS no poder, vivem na penúria absoluta mas padecem de perturbações cognitivas que os impedem de reparar nos aspectos subtis da realidade, como o preço do arroz e dos combustíveis, as negociatas omnipresentes e o riso escarninho do dr. Costa.

Há outro conjunto de pessoas interessadas na continuação do governo socialista. Não são pessoas que votam PS. Também não são pessoas que gostam do PS. Na verdade, são pessoas que acham trágica a governação do PS e que, apesar disso ou graças a isso, querem que a tragédia prossiga até às últimas instâncias. O argumento é o de que é necessário que o PS, conforme lhe compete, rebente com isto tudo de modo a que se perceba claramente que foi o PS a rebentar com isto tudo. Ou seja, permite-se que o PS complete a tarefa de desgraçar os portugueses e, na ausência de bodes expiatórios plausíveis ou implausíveis, os portugueses irão finalmente culpar o PS pela desgraça e agir em conformidade, privando a quadrilha de frequentar a sociedade civilizada e as disputas eleitorais.

É uma tese curiosa. De repente, lembra a “vacina” de Henry Kissinger, que em 1975 nos achava perdidos para o comunismo e pretendia exibir-nos a título dissuasor ao resto da Europa. No caso em apreço, os destinatários da dissuasão somos nós próprios. É um plano matreiro. Infelizmente, conta com um ou dois obstáculos.

O primeiro é a estratégia implicar um salto de fé, para usar expressão cara a um filósofo dinamarquês. Salvo no curto prazo, o PS nunca pagou politicamente – ou judicialmente, já agora – pelas três bancarrotas que provocou durante o regime. Nada garante que pague pela quarta, por devastadora que esta venha a ser. Dito de maneira diferente: não é certo, longe disso, que perante uma catástrofe evidentemente suscitada pelo PS os nossos concidadãos desatem a concluir sem hesitações que a catástrofe se deve ao PS. O bom povo não é bom a interpretar evidências. Nem a estabelecer nexos de causalidade. Nem a admitir o erro de eleger sucessivamente o PS.

O segundo obstáculo é o tempo, que na situação vigente é um luxo a que não nos podemos dar. Além de uma crueldade escusada, prolongar a agonia das pessoas apenas para tentar demonstrar que o PS, espanto dos espantos, governa contra elas é, no mínimo, um acto leviano e susceptível de danos irreversíveis. Os danos já causados são suficientes e suficientemente complicados de reverter. Quando um sujeito recebe recorrentes mocadas na cabeça, não é preciso esperar que o crânio se estilhace em pedacinhos a fim de provar que o exercício faz mal. É melhor parar enquanto há crânio. É melhor parar enquanto há país. Não importa o método (há vários), e não importa se há alternativa impecável (não há): importa compreender que, assim, isto não aguentará muito mais.

Para cúmulo, a demolição e o saque levados a cabo pelo PS têm vindo a intensificar-se desde que se livrou dos partidos assumidamente leninistas e adquiriu maioria absoluta. Em parte por fervor ideológico, em parte para monopolizar a esquerda, o leninismo vive confortavelmente na corte do dr. Costa, a qual, só a título de exemplo, nos últimos dias anunciou o ataque à propriedade privada e a veneração de Lula em “Abril”. Depois das casas e do célebre condenado brasileiro, nada impede que em breve se passe a confiscar carros ou camisas e a homenagear Putin ou Maduro. Nada impede – a menos que alguma coisa, quiçá um milagre, impeça o PS de prosseguir e aprimorar a loucura em curso.

É uma loucura que a História não ensina: há quase meio século, o PS de então fez por assegurar que Portugal não cairia no abismo comunista e desmentiu Kissinger. Hoje o PS faz por dar-lhe razão. Convinha não lhe fazer a vontade.

PS    POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 70)

Liberales Semper Erexitque: É melhor parar enquanto há país.

É isso que está em causa, mas sejamos realistas, mais realistas do que Alberto Gonçalves: os tugas nunca deram um chavo pelo país, e são essas mesmas pessoas que eles apreciam (e elegem!), além de jogadores e aficcionados de football, claro. Se a minha modesta pessoa ainda existir quando se der o colapso, gostaria de que fosse a Europa a tomar conta "disto". Não é certo...                 Maria Paula Silva: Muito bom, como sempre. A primeira condição ou obstáculo nunca se daria ou seria ultrapassado, pois que o "salto da fé" implica auto-análise, muita reflexão e muita Coragem. Tudo isso falta.              Paulo Alves: Infelizmente, os esclarecidos estão em minoria. A grande maioria do nosso "bom povo" é pobre ou remediada. E pouco sensível a questões políticas, desde que funcionem (bem ou mal) as instituições do Estado. É este "bom povo" que fica feliz quando lhe é dado um punhado de amendoins... quando se emociona ao estar ao lado de um presidente para tirar uma selfie, ou quando gasta horas a discutir sentado a metafísica do futebol. Não me espanta, portanto, que também ache enternecedor o "riso" do nosso PM e os seus dotes de espertalhão. Costa é o Herói que o "bom povo" gostaria de ser, um dia. E quanto ao resto? O resto não interessa pra nada! Entre uma bifana e um escrito do Alberto Gonçalves, aposto que sei qual é a escolha do nosso "bom povo". Ha!                   Alexandre Barreira > Paulo Alves: Pois. Caro Paulo, Se não fosse o nosso "bom povo". Os Albertos Gonçalves. Não comiam "bifanas"....!   João Bastos: Excelente artigo, repleto de evidentes verdades, infelizmente                           Geraldo Sem Pavor: O artigo seria hilariante não fosse a tragédia socialista em Portugal.              Francisco Almeida: Mais um artigo excelente não fôra o ante-final. O 25 de Novembro não foi contra os comunistas do PCP. Foi sim contra a esquerda miitar e extrema-esquerda política. Já o lembrei neste espaço umas três vezes. Os comícios de Otelo no Alentejo já tinham mais gente do que os do PCP. O PCP negociou com Melo Antunes que o protegeu de desquites populares na televisão um ou dois dias depois. Mais tarde o Conselho da Revolução anulou na prática o "Relatório das Sevícias" que identificava crimes por pessoas e estruturas regionais do PCP. E o "patrão" do contra-relatório, que recomendava que não se desse seguimento aos crimes identificados para "não pòr em perigo a jovem democracia portuguesa" foi o dr Jorge Soares. Sem qualquer oposição visível do PS. Se quiserem louvar o PS e o Grupo dos Nove por terem evitado uma guerra civil, tudo bem. Acho que foi verdade. Mas dizerem-nos contra o PCP é mentira  E esse branqueamento do PCP e dos seus crimes no PREC, desiludiu muitos. Até o herói do 25/11, o coronel Jaime Neves, em vez de colher os louros da sua acção vitoriosa, pediu a passagem à reserva e retirou-se para Trás-os-Montes. Somos cada vez menos, os ainda vivos mas, pelo menos, não nos falseiem a memória               Maria Emília Ranhada Santos: O problema é a falsidade da comunicação social sempre pronta a apoiar a mentira e os mentirosos, para levar à total confusäo! Enquanto estes jornalistas assalariados não saírem da televisão teremos sempre enganação, manipulação e frustração!                   Joaquim Lopes > Maria Emília Ranhada Santos: Qual comunicação social que jornalistas? Os que eram locutores e apresentadores passaram a ser jornalistas, na sua esmagadora maioria, os jornalistas verdadeiros, esse não existem, a vida é dura e o patrão Costa é que manda. Não espere nada dessa gente, eu já deixei de ver e ler essa podridão. Toda ela a que chama comunicação social, recebe subsídios do dinheiro dos impostos dos portugueses que os pagam e não vivem de subsídios, se não fossem subsidiadas as televisões: TVI, RTP, CM, SIC e os jornais tipo JN, DN, estariam falidas e não exibiam os luxos que os portugueses na sua maioria gostam de ver nos outros, sem olhar para os andrajos chineses que usam, esta é a comunicação social ou seja a censura, falta falar no Público e no seu dono a SONAE, como é estranho um jornal de extrema esquerda ser detida por um grupo capitalista, ora tudo isto tem um nome criado por Costa que aprendeu com Sócrates: Censura!                    Maria Paula Silva > Joaquim Lopes :Exactamente. Ia responder exactamente isso à Maria Emilia. A maioria da CS está comprada (o Público inclusive, e o Expresso) e a maioria dos que se intitulam "jornalistas" não honram sequer os Princípios básicos da profissão. Penso que dos poucos jornais que recusaram os tais "subsídios" foi o Observador.                Seknevasse: Mas que stress com o País... Calma, já estão a chegar os 10 euros mensais para os professores e demais funcionários públicos e para o conjunto dos reformados (9 para os de regime não contributivo!) e assim vamos ter o PS a mandar por mais 10 anos. É evidente.              Paulo Orlando: São poucos os que sacrificam a ideologia petrificada por anos de propaganda e o conforto egoísta de se estarem a marimbar sobre o que os outros pensam ou padecem. Anos de vivência em sociedade tornaram-me num cínico convicto que não merece a pena tentar destituir os outros de dogmas ideológicos nem motivá-los para causas altruístas. Contemporizo perante o poder da estupidez e da subserviência cobarde quase imutável de quem só ouve o que lhe interessa ou distorce e omite a realidade daquilo que não quer entender. Resta-nos abandonar esta comunidade urbana, desligar-nos disto tudo e viver a nossa vida à nossa maneira, longe desta gente. Nem tudo é mau, só temos de estar junto de quem nos respeita e distantes do que abominamos. Essa é a luta.                   Amigo do Camolas: Realmente é um enigma um partido como o PS - responsável por todas as bancarrotas, por ter a carga fiscal maior de sempre e um estado num estado miserável nunca visto, responsável pelo governo (Sócrates) mais corrupto da história e actualmente num estado em que é mais fácil encontrar um governante ou um socialista envolvido em escândalos de corrupção no estado do que uma mulher grávida na rua - ainda não ter desaparecido Mas Costa, talvez seja o portador do enigma mais transcendental da política portuguesa. Como pode um indivíduo de passado tão duvidoso e de presente tão manhoso e aldrabão ser considerado um político inteligente? Mais ainda: por que um homem claramente de esquerda é odiado mortalmente pela ala esquerdista da sociedade e por todos os dependente do estado e consegue ainda estar na frente das sondagens? Surreal. Surreal e caricato: Os esquerdistas, sempre que confrontados com as consequências das suas politicas: Venezuela o quê? Nunca ouvi falar... Ou seja: um dos pré-requisitos para se ser comunista é o total desprezo pela lógica. Sendo assim, tal postura, advinda dessa gente, é compreensível. Patética, mas compreensível. Agora, a grande novidade é até os socialistas não quererem assumir a paternidade da bancarrota do "ingenheiro", nem das suas promessas não cumpridas, nem de suas opções políticas desastrosas dos últimos sete anos seguidos de governação. Isso é algo que, devo confessar, nunca vi. Deve ser mais um daqueles cofres gigantes da mãe do Sócrates. E já não é a primeira vez que ouço esta dos socialistas: "a direita representa a austeridade da troika". Ou seja, venha quem vier para a direita vai ter sempre o passado, o PS só tem o futuro. E é assim com esta emoção de quem vê uma crença se concretizar fica órfã. Deixando-nos só um conselho futuro: pedir resgates pode ser evitado, não os pagar é bem mais complicado. Levar o País à bancarrota pode ser evitado, não ser o próprio povo a sofrer as consequências é mais um milagre.      João Angolano: Só que meu caro amigo você esquece-se da última cartada dos socialistas, técnica muito antiga, muito simples e eficaz que outros utilizavam seja nas feiras no porta a porta ou onde calhar: toma lá uma torradeira toma lá um frigorífico toma lá uma reforma toma lá isto é aquilo                 Tristão: Um partido que teve um primeiro-ministro corrupto que levou o país a uma intervenção estrangeira, onde ninguém viu nada, desconfiou ou se interrogou, e que passado 4 anos está outra vez no poder levando consigo parte da quadrilha e mais tarde ainda lhe vai dar uma maioria absoluta,  então esse povo tem emenda quando? NUNCA!. …………………………………………………………………..