E sem esperança no provérbio da água
mole em pedra dura. Somos Sanchos Panças useiros e vezeiros nos provérbios da longa
experiência matreira mas protectora – aparente, na parte que nos toca - do amo, que dos moinhos faz gigantes, embora, ao contrário do tal Quixote estatelado,
saia reforçado, esse amo, no proteccionismo, que por cá é recíproco, como prova
Helena Garrido. Só que o
Sancho era realmente amigo e protector do seu cavaleiro da triste figura. Nós por
cá fazemos figuras tristes. Todos nós.
Estão os portugueses viciados em Estado?
A forma como se conquistou e preservou
o poder alargou a mais pessoas o vício da mão estendida para o Estado. Como não
há dinheiro para todos, tira-se a uns para dar a outros.
HELENA GARRIDO, Colunista
OBSERVADOR, 07
fev. 2023, 00:2144
A
forma como debatemos o efeito da subida dos juros na prestação da casa, o
aumento das rendas ou o preço da energia dá a ideia de que estamos com
incumprimentos generalizados nos bancos, senhorios sem receberem as rendas e as
eléctricas com facturas por cobrar. Uma pessoa que estivesse ainda em
confinamento e usasse os queixumes como indicador da actividade económica,
quando saísse de casa ficaria espantada com os engarrafamentos, a dificuldade
em marcar um fim-de-semana fora de casa ou ir a um restaurante jantar.
O presidente do Santander, Pedro Castro Almeida,
foi mais ilustrativo ou gráfico no que disse, mas realmente o conteúdo das suas
afirmações não foi muito diferente do que já tinha dito o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, no início de Dezembro. Já lá vamos
à parte do jantar, comecemos pelas confusões em matéria de quem está a ficar
sobrecarregado com a prestação da casa.
Disse
Mário Centeno, usando um estudo do Banco de Portugal: “é, de certo modo, um mito” que existam muitas
famílias com baixos rendimentos e com crédito à habitação, limitam-se a 8,8%. E Pedro Castro Almeida foi no mesmo sentido: reconheceu
que há problemas na classe baixa e média-baixa mas “isso não é um problema do
crédito à habitação”.
E
se formos ver o estudo (pg. 30) do Boletim
Económico de Dezembro, que avalia o efeito da subida
dos juros e da inflação, podemos ler que “a generalidade das famílias
consegue manter um volume de consumo de bens essenciais igual ao de 2021 e
satisfazer o serviço da dívida a partir do rendimento corrente, sem pôr em
causa outro tipo de despesas”. Concluindo-se ainda que são os mais ricos
(rendimentos mais elevados) aqueles que vão enfrentar uma “capacidade de
ajustamento mais exigente”, leia-se em linguagem mais simples, terão
eventualmente de apertar um bocadinho o cinto para pagar a prestação da casa. O
que pode ser, perfeitamente, jantar menos fora ao fim de semana.
Por
via deste retrato vemos que Pedro Castro Almeida apenas teve consigo a força
das imagens que usou no que nos disse. Claro que todos percebem melhor quando
se diz “não vemos onde está o problema de pagar a casa se continuamos a
jantar fora ao fim de semana” do que quando se fala em “capacidade de ajustamento
mais exigente”.
Levando
em conta os dados, quer do Banco de Portugal como dos bancos, aquilo que
podemos concluir é que os queixumes retratam um grupo reduzido de pessoas
que anda a tentar que o Estado lhe pague a prestação de crédito à habitação
para não ter de reduzir outros consumos, ou, usando as imagens de Pedro Castro
Almeida, não deixarem de ir jantar fora. Reajustar consumos não é estar
em crise e, de facto, não estamos, pelo menos por enquanto, numa crise. Há
emprego e trabalho.
O que esta onda parece revelar
é a existência de uma classe média que até se pode considerar alta, urbana, que
se viciou em considerar que o Estado nos deve pagar tudo, a água, a luz, o
telefone, a casa… Se repararmos, a indignação é maior com o preço da prestação
da casa do que com a subida da alimentação que, essa sim, está a ser um flagelo
para as famílias de rendimentos mais baixos.
É
essa mesma classe média alta urbana, com salários acima da média dos
portugueses, que também se queixa da subida das rendas de casa e, desta vez,
com ganhos. Pagam os senhorios para o Governo fazer boa figura junto dos
arrendatários. (Não, não
se está aqui a dizer que as casas são acessíveis para alugar ou para comprar,
está a dizer-se que políticas como estas só agravam o problema do arredamento
como outras, como os benefícios fiscais a estrangeiros, explicam em parte o
preço a que chegaram as casas).
Aquilo a que temos assistido mostra bem como estes últimos anos nos
têm criado a ilusão de que o Estado nos pode dar tudo. Das reversões das
medidas da troika à pandemia, passando pela mitigação dos efeitos da inflação,
tudo se conjugou para criar esta ideia de que há almoços grátis, que “eles” bem
podiam ajudar a pagar a prestação da casa. Um vício de mão estendida que serve
para conquistar e preservar o poder, e que os governos liderados pelo PS têm
levado até aos limites. E depois de se pedir que o Estado pague o que não deve,
não é de estranhar que falte dinheiro para as funções essenciais do Estado, da
segurança à justiça, da saúde à educação.
ECONOMIA INFLAÇÃO CRÉDITO À
HABITAÇÃO BANCA CONSUMO APOIO SOCIAL SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 44):
Maria Augusta Martins: D. Helena: Isto chama-se a ineptocracia (socialista e democrática) é o que
é este tipo de democracia. A frase é do vidente brasileiro Leo Santos. "É
um sistema de governo onde os menos capazes de liderar são eleitos pelos menos
capazes de produzir e onde os membros da sociedade com menos capacidade de se
sustentar ou serem bem sucedidos, são recompensados com bens e serviços pagos pela
riqueza confiscada de um número cada vez menor de produtores contribuintes".
Isto é socialismo mais que democrático! F. Mendes: Este artigo resume-se em poucas
palavras: 1. A manta é curta; 2. Quem não chora, não mama; 3: quem mais mama, mais
quer mamar. LOL. Mas, como diz o poucochinho, continuamos a virar páginas: da
austeridade, da pandemia, da geringonça, da instabilidade política, da falta de
confiança, etc. Com tanto virar de página, qualquer dia, não há dedos que
resistam. Enquanto conseguirmos rir, já não é mau. Carlos Chaves: Caríssima Helena Garrido, este
artigo com as devidas adaptações deveria ter sido escrito há pelo menos sete
anos! Agora não vale de muito! Só não viu os resultados a que este socialismo
nos levava quem não quis, e comentadores como a senhora tinham mais que
obrigação de alertar para estes resultados do socialismo como a destruição
do SNS, a destruição da educação, a destruição do mercado da habitação, o
aumento da dependência do Estado, a degradação geral dos serviços públicos
apesar do aumento vergonhoso do número dos seus funcionários, a destruição do
SEF (com as consequências conhecidas), a destruição da TAP (com os custos
conhecidos), o aumento nominal da dívida pública… termino com os casos de
corrupção, nepotismo, e roubo descarado de dinheiros públicos nos inúmeros
concursos, ajustes directos e atrasos de adjudicação! Se os Portugueses estão
viciados num Estado destes, então temos mesmo uma doença gravíssima na nossa
sociedade, que exige uma cura muito rápida e profunda.
Filipe
Paes de Vasconcellos: Também concordo que muitos portugueses se puderem ter
um dinheirinho à conta, porque não? Mas também acho que o maior
problema dos portugueses está num Estado medíocre que esse sim está viciado
nos fundos europeus. Este círculo vicioso leva a que os portugueses não se
sintam mobilizados, insisto mobilizados!, para romper com este marasmo em que o
PS colocou Portugal.
Vseven: E com isso tudo, a despesa do estado cresceu de 85.000 milhões em 2015 para
105.000 milhões em 2022, que tem que ser paga com impostos. TIM DO Ó
> António Lamas: Caríssimo, antes do 25 de Abril
Portugal tinha menos de um terço dos funcionários públicos que tem agora (eram
apenas 175 mil). E administrava um território do tamanho de metade da Europa. António Lamas: A dependência do Estado, sempre
foi o grande travão ao desenvolvimento português, desde Salazar. Antes di 25A ser funcionário
público era o sonho de muitos, pela garantia de emprego e de regalias. O socialismo, tem o sonho de
transformar todo o cidadão num funcionário. Como não tem dinheiro para
isso, pede emprestado e pior, vai buscar aos próprios "funcionários"
o pouco que estes ganham. E temos o paradoxo. Os cidadãos querem o Estado em
tudo. O Estado quer os cidadãos funcionários, porque assim, quem está no poder
solidifica o poder. A solução tem que passar por menos Estado. Os cidadãos têm
que fazer pela vida sem ele.
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