quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Disco rachado


E sem esperança no provérbio da água mole em pedra dura. Somos Sanchos Panças useiros e vezeiros nos provérbios da longa experiência matreira mas protectora – aparente, na parte que nos toca - do amo, que dos moinhos faz gigantes, embora, ao contrário do tal Quixote estatelado, saia reforçado, esse amo, no proteccionismo, que por cá é recíproco, como prova Helena Garrido. Só que o Sancho era realmente amigo e protector do seu cavaleiro da triste figura. Nós por cá fazemos figuras tristes. Todos nós.

Estão os portugueses viciados em Estado?

A forma como se conquistou e preservou o poder alargou a mais pessoas o vício da mão estendida para o Estado. Como não há dinheiro para todos, tira-se a uns para dar a outros.

HELENA GARRIDO, Colunista

OBSERVADOR, 07 fev. 2023, 00:2144

A forma como debatemos o efeito da subida dos juros na prestação da casa, o aumento das rendas ou o preço da energia dá a ideia de que estamos com incumprimentos generalizados nos bancos, senhorios sem receberem as rendas e as eléctricas com facturas por cobrar. Uma pessoa que estivesse ainda em confinamento e usasse os queixumes como indicador da actividade económica, quando saísse de casa ficaria espantada com os engarrafamentos, a dificuldade em marcar um fim-de-semana fora de casa ou ir a um restaurante jantar.

O presidente do Santander, Pedro Castro Almeida, foi mais ilustrativo ou gráfico no que disse, mas realmente o conteúdo das suas afirmações não foi muito diferente do que já tinha dito o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, no início de Dezembro. Já lá vamos à parte do jantar, comecemos pelas confusões em matéria de quem está a ficar sobrecarregado com a prestação da casa.

Disse Mário Centeno, usando um estudo do Banco de Portugal: “é, de certo modo, um mito” que existam muitas famílias com baixos rendimentos e com crédito à habitação, limitam-se a 8,8%. E Pedro Castro Almeida foi no mesmo sentido: reconheceu que há problemas na classe baixa e média-baixa mas “isso não é um problema do crédito à habitação”.

E se formos ver o estudo (pg. 30) do Boletim Económico de Dezembro, que avalia o efeito da subida dos juros e da inflação, podemos ler que “a generalidade das famílias consegue manter um volume de consumo de bens essenciais igual ao de 2021 e satisfazer o serviço da dívida a partir do rendimento corrente, sem pôr em causa outro tipo de despesas”. Concluindo-se ainda que são os mais ricos (rendimentos mais elevados) aqueles que vão enfrentar uma “capacidade de ajustamento mais exigente”, leia-se em linguagem mais simples, terão eventualmente de apertar um bocadinho o cinto para pagar a prestação da casa. O que pode ser, perfeitamente, jantar menos fora ao fim de semana.

Por via deste retrato vemos que Pedro Castro Almeida apenas teve consigo a força das imagens que usou no que nos disse. Claro que todos percebem melhor quando se diz “não vemos onde está o problema de pagar a casa se continuamos a jantar fora ao fim de semana” do que quando se fala em “capacidade de ajustamento mais exigente”.

Levando em conta os dados, quer do Banco de Portugal como dos bancos, aquilo que podemos concluir é que os queixumes retratam um grupo reduzido de pessoas que anda a tentar que o Estado lhe pague a prestação de crédito à habitação para não ter de reduzir outros consumos, ou, usando as imagens de Pedro Castro Almeida, não deixarem de ir jantar fora. Reajustar consumos não é estar em crise e, de facto, não estamos, pelo menos por enquanto, numa crise. Há emprego e trabalho.

O que esta onda parece revelar é a existência de uma classe média que até se pode considerar alta, urbana, que se viciou em considerar que o Estado nos deve pagar tudo, a água, a luz, o telefone, a casa… Se repararmos, a indignação é maior com o preço da prestação da casa do que com a subida da alimentação que, essa sim, está a ser um flagelo para as famílias de rendimentos mais baixos.

É essa mesma classe média alta urbana, com salários acima da média dos portugueses, que também se queixa da subida das rendas de casa e, desta vez, com ganhos. Pagam os senhorios para o Governo fazer boa figura junto dos arrendatários. (Não, não se está aqui a dizer que as casas são acessíveis para alugar ou para comprar, está a dizer-se que políticas como estas só agravam o problema do arredamento como outras, como os benefícios fiscais a estrangeiros, explicam em parte o preço a que chegaram as casas).

Aquilo a que temos assistido mostra bem como estes últimos anos nos têm criado a ilusão de que o Estado nos pode dar tudo. Das reversões das medidas da troika à pandemia, passando pela mitigação dos efeitos da inflação, tudo se conjugou para criar esta ideia de que há almoços grátis, que “eles” bem podiam ajudar a pagar a prestação da casa. Um vício de mão estendida que serve para conquistar e preservar o poder, e que os governos liderados pelo PS têm levado até aos limites. E depois de se pedir que o Estado pague o que não deve, não é de estranhar que falte dinheiro para as funções essenciais do Estado, da segurança à justiça, da saúde à educação.

ECONOMIA   INFLAÇÃO   CRÉDITO À HABITAÇÃO   BANCA   CONSUMO   APOIO SOCIAL   SOCIEDADE

COMENTÁRIOS (de 44):

Maria Augusta Martins: D. Helena: Isto chama-se a ineptocracia (socialista e democrática) é o que é este tipo de democracia. A frase é do vidente brasileiro Leo Santos. "É um sistema de governo onde os menos capazes de liderar são eleitos pelos menos capazes de produzir e onde os membros da sociedade com menos capacidade de se sustentar ou serem bem sucedidos, são recompensados com bens e serviços pagos pela riqueza confiscada de um número cada vez menor de produtores contribuintes". Isto é socialismo mais que democrático!               F. Mendes: Este artigo resume-se em poucas palavras: 1. A manta é curta; 2. Quem não chora, não mama; 3: quem mais mama, mais quer mamar. LOL. Mas, como diz o poucochinho, continuamos a virar páginas: da austeridade, da pandemia, da geringonça, da instabilidade política, da falta de confiança, etc. Com tanto virar de página, qualquer dia, não há dedos que resistam. Enquanto conseguirmos rir, já não é mau.                   Carlos Chaves: Caríssima Helena Garrido, este artigo com as devidas adaptações deveria ter sido escrito há pelo menos sete anos! Agora não vale de muito! Só não viu os resultados a que este socialismo nos levava quem não quis, e comentadores como a senhora tinham mais que obrigação de alertar para estes resultados do socialismo como a destruição do SNS, a destruição da educação, a destruição do mercado da habitação, o aumento da dependência do Estado, a degradação geral dos serviços públicos apesar do aumento vergonhoso do número dos seus funcionários, a destruição do SEF (com as consequências conhecidas), a destruição da TAP (com os custos conhecidos), o aumento nominal da dívida pública… termino com os casos de corrupção, nepotismo, e roubo descarado de dinheiros públicos nos inúmeros concursos, ajustes directos e atrasos de adjudicação! Se os Portugueses estão viciados num Estado destes, então temos mesmo uma doença gravíssima na nossa sociedade, que exige uma cura muito rápida e profunda.                                            Filipe Paes de Vasconcellos: Também concordo que muitos portugueses se puderem ter um dinheirinho à conta, porque não? Mas também acho que o maior problema dos portugueses está num Estado medíocre que esse sim está viciado nos fundos europeus. Este círculo vicioso leva a que os portugueses não se sintam mobilizados, insisto mobilizados!, para romper com este marasmo em que o PS colocou Portugal.                         Vseven: E com isso tudo, a despesa do estado cresceu de 85.000 milhões em 2015 para 105.000 milhões em 2022, que tem que ser paga com impostos.                         TIM DO Ó > António Lamas: Caríssimo, antes do 25 de Abril Portugal tinha menos de um terço dos funcionários públicos que tem agora (eram apenas 175 mil). E administrava um território do tamanho de metade da Europa.       António Lamas: A dependência do Estado, sempre foi o grande travão ao desenvolvimento português, desde Salazar. Antes di 25A ser funcionário público era o sonho de muitos, pela garantia de emprego e de regalias. O socialismo, tem o sonho de transformar todo o cidadão num funcionário. Como não tem dinheiro para isso, pede emprestado e pior, vai buscar aos próprios "funcionários" o pouco que estes ganham. E temos o paradoxo. Os cidadãos querem o Estado em tudo. O Estado quer os cidadãos funcionários, porque assim, quem está no poder solidifica o poder. A solução tem que passar por menos Estado. Os cidadãos têm que fazer pela vida sem ele

 

 

Nenhum comentário: