Não se limpam armas, diz-se. Conquanto possamos
respeitar os pontos de vista e as susceptibilidades de cada um. Mas parece um
tema irrelevante, por estes tempos de convulsões terríficas.
Os Papas e os ‘papistas’
Pior do que a enganosa aparência de dois Papas é que haja a facção dos pró-Bento, que são contra Francisco, e o partido dos pró-Francisco, que são contra Bento!
GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA Colunista
OBSERVADOR, 11
fev. 2023, 00:1634
Foi precisamente no dia 11 de
Fevereiro de 2013, dia mundial do doente e aniversário da primeira aparição
mariana em Lourdes, que o então Papa Bento XVI surpreendeu a Igreja católica e
o mundo com o anúncio da sua renúncia ao pontificado romano, por razões de
saúde. Era a primeira vez que, na modernidade, tal acontecia. São
Paulo VI tinha admitido essa possibilidade que, contudo, não chegou a
concretizar. Também nos anos finais do longo pontificado de São João Paulo
II se pôs essa hipótese, embora o Papa polaco nunca a tenha admitido, por
entender que era sua missão cumprir, até ao fim da sua vida terrena, a função
para a qual tinha sido chamado.
Quando um sucessor de Pedro renuncia
ao cargo, a sua demissão não carece de aprovação por nenhum órgão eclesial, mas
deve ser consciente e livre, como foi a de Bento XVI. A partir da data em que se torna efectiva
essa decisão soberana do pontífice romano, declara-se a sede vacante e a Igreja
inicia os procedimentos previstos para a eleição de um sucessor. Foi, com efeito, o que aconteceu há dez
anos: Joseph Ratzinger, já na inédita qualidade de Papa emérito, deixou o
Vaticano e instalou-se provisoriamente em Castel Gandolfo, a residência de
verão dos bispos de Roma.
A votação dos cardeais presentes no
conclave decide a eleição do Santo Padre, que deve ser aceite pelo próprio. A
primeira decisão do eleito é a escolha do seu novo nome. Por
deferência com São Pedro, nenhum seu sucessor adoptou este nome. Era tradição
que o romano pontífice se chamasse com apenas um vocábulo, seguido do número
que lhe correspondesse na ordem dos seus antecessores homónimos. Contudo, o sucessor de Paulo VI, querendo honrar em
simultâneo a memória deste seu predecessor e a de João XXIII, optou por um nome composto: João
Paulo. Como o seu pontificado foi brevíssimo – apenas um
mês! – o seguinte Papa, Karol Wojtyla, optou por dar-lhe continuidade,
assumindo o mesmo nome, de que foi o segundo na sequência dos Papas.
Depois de aceite a eleição, os votos são
queimados com uma substância que branqueia o respectivo fumo: a ‘fumata
bianca’ é o sinal tradicional da eleição de um novo vigário de Cristo! Como
por vezes os sinais de fumo – anacronismo que parece evocar os longínquos
peles-vermelhas! – não são muito explícitos, está agora previsto que, ao mesmo
tempo que a chaminé da Capela Sistina expele o fumo branco, repiquem os sinos
da vizinha Basílica de São Pedro. A partir desse momento, a urbe
(Roma) e o orbe (o mundo) ficam a saber que “habemus Papam”, isto é,
temos Papa! É sempre um momento de grande alegria para todos os católicos,
mesmo desconhecendo a sua identidade!
É costume dizer-se que o eleito pelos
cardeais é, sobretudo, escolhido por Deus para a missão que lhe é confiada,
porque os eleitores, que entram processionalmente na Capela Sistina, cantando
um lindíssimo hino ao Espírito Santo agem sob a sua influência. Como
explicou Joseph Ratzinger, a
inspiração sobrenatural não impede a liberdade dos eleitores e, por isso, não
se pode afirmar que o eleito é necessariamente o escolhido pelo Espírito Santo.
Assim se explica que, em dois mil anos de história do papado, não
faltaram, mais por via de excepção do que por regra, indignos sucessores de
Pedro. Na sua grande maioria, os pontífices romanos foram santos e alguns
até morreram mártires, mas também os houve de vida escandalosa, sobretudo no
Renascimento. Como é óbvio, seria quase blasfemo supor que esses indignos
chefes supremos da Igreja católica eram os candidatos do Espírito Santo, embora
tenham sido verdadeiros Papas. Quem quer que o seja, deve ser sempre
respeitado e obedecido pelos fiéis – não foi Pedro escolhido directamente por
Jesus (cf. Mt 16, 18-19),
apesar de o ter negado três vezes (cf. Lc 22, 55-62), e o Mestre o ter chamado
Satanás (cf. Mt 16, 23)?! – até porque é infalível, quando ensina matérias
de fé e de moral de forma definitiva, ou seja, ex cathedra.
Depois da eleição de Jorge Mário
Bergoglio, que escolheu o nome de Francisco, a Igreja católica começou a viver
uma década única na sua história moderna: por primeira vez, em muitos anos,
havia ‘dois Papas’! Esta singular circunstância, que só terminou com a
morte de Bento XVI, foi até aproveitada para produções cinematográficas, mas,
em rigor, nunca existiram simultaneamente dois sumos pontífices. Com efeito,
embora Bento XVI mantivesse, como emérito, a denominação de Papa, na realidade
já o não era, porque o único que se podia como tal intitular era e é Francisco.
Há condições que imprimem carácter,
ou seja, são permanentes: o fiel
baptizado, crismado, ordenado diácono, presbítero ou bispo, nunca perde essa
condição, mesmo que seja excomungado. Mas as funções eclesiais cessam, quando
se deixa de exercer o ofício para que se foi nomeado. O ex-pároco, por exemplo,
já não é pároco, como o ex-sumo pontífice também já não é Papa.
Por isso, em tese, seria desejável
que o ex-vigário de Cristo na terra não fosse designado Papa, nem Papa emérito,
porque se sugere a existência de ‘dois Papas’, ou de um papado bicéfalo. Talvez tivesse sido mais conveniente que
Bento XVI, depois de ter renunciado, tivesse deixado de ser referido deste modo
e retomasse o seu nome civil, que aliás usou, sendo Papa, para assinar textos
teológicos pessoais que não fazem parte do seu magistério pontifício. Também teria sido preferível que não se
vestisse como Papa, que já não era – à mulher de César não lhe basta ser séria,
deve também parecê-lo! – mas como cardeal, que continuava a ser.
Escandalizaram-se não poucos pusilânimes e bastantes fariseus com o que
aqui escrevi, há já algumas semanas, a propósito do funeral de Bento XVI, por
entenderem que estava a elogiar o Papa emérito, enquanto veladamente criticava
o Papa Francisco! A hipocrisia desses comentários é óbvia porque, se se
tratasse do funeral do Papa Francisco, a minha opinião não teria sido outra: a
questão não era a personalidade de um, ou do outro, mas o respeito devido a
quem, seja ele quem for, ocupou a sede de Pedro.
Como aqui agora expressei e não é a
primeira vez que o faço, sou da opinião de que Joseph Ratzinger,
depois de ter renunciado ao pontificado romano, não deveria ser tratado por
Papa emérito, deveria ter retomado o seu nome civil, bem como as vestes
cardinalícias. Nesta questão, que certamente não é essencial, estou plenamente de acordo com o Papa
Francisco que, quando disse que, se um dia deixar de ser Papa, irá viver para
uma residência de sacerdotes jubilados, deu a entender que nunca será Papa
emérito.
Se foi infeliz a confusão gerada pela
aparência enganosa de dois Papas, pior ainda é, como disse Francisco
no seu regresso da viagem apostólica ao Congo e ao Sudão do Sul, que haja
partidos na Igreja! Com efeito, a facção dos pró-Bento é
teimosamente contra Francisco e, por sua vez, o partido dos pró-Francisco é
furiosamente anti-Bento! Eu não sou de partidos, mas de Igreja, que é una,
santa, católica e apostólica. Não sou de Ratzinger, contra Bergoglio;
nem de Bergoglio, contra Ratzinger: estou muito grato a Bento XVI porque,
propondo aos fiéis a comunhão na boca e de joelhos, fomentou a minha devoção
eucarística; e estou igualmente muito agradecido ao Papa Francisco por ter
introduzido a referência a São José em todas as orações eucarísticas,
favorecendo a minha veneração por este tão grande santo!
Graças a Deus, por convicção, formação e
opção pessoal, sempre fui, sou e serei pró-Papa, no sentido em que, seja quem
for, estou unido à sua pessoa e intenções e obedeço ao seu magistério em
matéria de fé e de moral. Mas não sou ‘papista’ porque, em tudo o resto –
também nas questões teológicas e canónicas discutíveis – reservo-me o direito
de ter uma opinião pessoal. Não obstante os pusilânimes e os fariseus do
costume, não abdico da liberdade para a qual Cristo nos libertou (Gl 5, 1).
PAPA BENTO XVI IGREJA CATÓLICA RELIGIÃO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (34)
António Patricio: Este assunto
já vem muito fora de tempo!... Depois de consumados os conceitos e
procedimentos adoptados por Roma, o que interessa vir agora dizer que deveria
ser isto e não aquilo? Quem decidiu, o que agora diz não deveria ter sido,
tinha autoridade eclesiástica para o fazer. Porque não escreveu este artigo,
quando surgiu toda a efervescência batinal à volta da resignação de um papa,
que se demonstrou vencido pelos problemas de uma Igreja sem rumo? Ricardo Lacerda: Interessante a tentativa de clarificação, após os
artigos infelizes e ambíguos do passado. Fazendo eu parte daqueles que não se
conformam com que representantes da Igreja aproveitem esse estatuto para
disputar em público clivagens internas, ou seja os aqui designados “fariseus”
pelo Pe. Gonçalo, fico um pouquinho mais esperançado de que isso deixe de ser a
norma nestas crónicas.
Ricardo Lacerda > Ricardo Lacerda: Se isto não é ambíguo… “– Pois olhe, eu estava de
viagem quando a ouvi, em directo, no rádio do carro, e fiquei espantado quando
me dei conta que já tinha acabado: foi mais breve do que algumas homilias
paroquiais, em dias de semana!” Anastácio Rocha: Sinceramente este artigo não era necessário .., fico
com s impressão que o padre não se sentiu seguro com algo que escreveu
ultimamente e quis esclarecer … mas não era necessário acho eu ( pior se esta “
justificação “ era para responder a cogitações dentro da igreja Carlos Vito: Chamar hipócritas e fariseus aos que criticaram a
crónica anterior em que subliminarmente criticava o actual papa, defendendo-se
agora num artigo longo, onde essa polémica surge diluída, é que é verdadeira
hipocrisia. Justifica o articulista a sua opinião acerca da falta de relevo
concedido ao funeral de Bento XVI, afirmando que a reacção seria idêntica no
caso de se tratar do actual papa! É uma afirmação não demonstrada e a que me
apetece também chamar hipócrita. Ocorre-me a situação em que alguém,
publicamente, coloca à venda um imóvel. Um dos que sabia do facto, depois da
venda, encontra o vendedor e muito admirado diz-lhe: Então vendeste o andar? Se
soubesse também tinha comprado! Pois! Desabafo Assim: Problema das caixinhas, também os tenho, o nosso
armário tem limitações, catalogar para encontrar depois, pessoalmente agradeço
o texto pois, pelos comentários, até pensei que na caixinha só coubesse um papa. Ilídio Neves: Ter dois papas ao mesmo tempo não foi uma enganosa
aparência, mas uma triste e confrangedora realidade, só possível porque faltou
a quem devia ao mesmo tempo humildade e bom senso. Todo o ministério é um
serviço («o filho do homem veio para servir e não para ser servido») e não uma
honra, uma dignidade, um poder e muito menos um poder absoluto, A Igreja
denomina-se católica, esquecendo-se de que primordialmente é cristã. A Igreja vive obcecada com a sua doutrina, muito
especulativa, esquecendo-se da mensagem do Cristo histórico (mudança efectiva
do homem), cuja humanidade é crescentemente subalternizada, se não mesmo
esquecida. Lembremo-nos de S. Paulo: a sabedoria de Deus vale mais do que a
sabedoria dos homens.
Coronavirus corona > Ilídio Neves: Onde é que leu essa frase de São Paulo? Anastácio Rocha > Ilídio Neves: Nas
cartas de Paulo
Pedro de Freitas Leal: Que
embrulhada! Pior a emenda que o soneto. Defenda, Reverendo Padre, as suas
posições, claramente, sejam elas quais forem, são as suas e não é necessário
pedir perdão. Todos os Papas têm muito que se lhes diga, no fundo são homens
como os outros todos. Critique os que quiser, os de esquerda ou os de direita. Estamos aqui para o
ouvir. E para o respeitar. Bem haja! Coronavirus corona
> Pedro de Freitas Leal: E defende as suas posições. Esta semana está a explicar
subtilmente que estar ao lado do Papa não significa concordar com tudo o que
ele diga e faça. Concordar com o líder em tudo o que ele diga e faça não é
lealdade. É sabujice Pedro Martins: O articulista não pode com o actual papa. Lúcio Monteiro > Pedro Martins: Não pode pela simples razão de que o actual Pontífice, muito
recentemente retirou poder ao Opus Dei, de que o padre Portocarrero é membro
proeminente.
voto em branco > Pedro Martins: @amon: retirou poder ao opus? como? onde? Joana Freudenthal
> Lúcio Monteiro: Não é de agora Coronavirus corona
> Pedro Martins: Pode com o actual Papa. E também pode discordar de
certas posições. Por exemplo, na rigidez litúrgica sem precedentes que este
Papa quer impor. Os sacerdotes não têm que concordar com essa posição. Não se
trata de um dogma. Trata-se de uma linha rígida que este Papa quer impor. voto em branco > Coronavirus corona: @corona: lindo, esta do "linha rígida que este
Papa quer impor"...
Joana Freudenthal > voto em branco: Só rir Coronavirus corona > voto em branco: Não é lindo. É a verdade para
quem tem conhecimento do que escreve e não se limita à reprodução de clichés Coronavirus
corona > Joana Freudenthal:
Joana, estude que
o riso passa a vergonha. Pelo que pensava que sabia e pelo que escrevia com
base nisso. José
Miranda: Muito explícito.
Não deixa dúvidas senão “ aos pusilânimes e fariseus “ voto em branco:
o último
parágrafo tem uma mentira, nomeadamente no "sempre fui, sou e serei
pró-Papa". Ora vejamos: - Em Agosto de 2022 publicaste aqui uma "Carta
Aberta sobre o ‘Relatório de Portugal ao Sínodo 2021/2023’" na qual
criticaste abertamente o relatório de um sínodo que foi solicitado neste mesmos
moldes exactamente pelo... Papa. E realço que não foi um artigo de opinião, mas
uma carta aberta encabeçada por ti e com vários outros signatários. Isso era
para quê? para criar na praça pública um movimento de oposição directa ao
sínodo? - Realço também as palavras do Papa sobre a pedofilia na igreja, que
ele comentou como "um só caso é monstruoso", mensagem essa que está
um pouco em contraste com a tua visão nos artigos que publicaste aqui como o de
"Pedofilia na Igreja: discriminação e hipocrisia" e "E os outros
97% de casos de pedofilia?! " ambos de Out 2022. Aqui os teus actos de
contrição foram do género do "sim foi mau, mas os outros fazem igual e
ninguém liga!" o que a mim me parece nojento e desfasado das declarações
públicas do Papa. Portanto faz lá um retirozinho e questiona-te se com este
mediatismo tu não estás a descatequizar mais do que aquilo que catequizas. Joana Freudenthal > voto em branco: E três crónicas atrás, “o
cónego Jeremias e o funeral do Papa Bento” é outro exemplo. São uns atrás dos
outros, a dar ferroadas no Santo Padre, fingindo que não as dá. voto em branco > Joana Freudenthal:
Por acaso Joana,
li agora esse artigo e choquei-me. O Gonçalo Portocarrero parece um destes
políticos que faz declarações de amor incondicional ao seu líder partidário, e
depois por outro lado anda sempre com a faca afiada. Os aplausos dos seus
acólicos que aqui comentam (José Miranda et al) andam-lhe a subir à cabeça. Coronavirus corona
> voto em branco: Vamos por partes: 1) Estar ao lado do Papa não
significa concordar com tudo o que o Papa diga e faça. Santa Catarina de Siena
criticou o Papa e não é por isso que passou a ser herege. 2) O Papa não fala sempre ex
cathedra. O Papa tem opiniões que os católicos podem não acolher. O Papa
certamente torceu pela selecção da Argentina mas isso não significa que todos
os católicos tivessem de torcer pela selecção da Argentina. Mesmo em assuntos
de teologia há diferentes pontos de vista nalgumas matérias. Não pode haver é
em matérias que são dogmáticas. 3) Esse exemplo da pedofilia então ... é de bradar aos
céus. É que nem sequer há divergência. Sim, cada caso de pedofilia é uma
monstruosidade. Mas o cronista não estava a menorizar o abuso sexual. Estava a
mostrar que não há mais casos dentro da Igreja que fora dela. Consegue perceber
a diferença?
Coronavirus corona > Joana Freudenthal: Não é dar ferroadas. Estar ao
lado do Papa não é concordar com tudo o que ele diga e faça. Santa Catarina de
Siena discordou do Papa e manifestou-o publicamente. Estar sempre de acordo com o líder
não é lealdade. É sabujice. voto
em branco > voto em branco: ó corona, não venhas justificar o injustificável, o que
é q achas q o portocarrero queria obter com a carta aberta que referi e com a
crónica do cónego? (@joana: obrigado pela referência. li e fiquei pasmado).
vindo de um padre é mais do que um simples expressar de opinião. esta da carta
do cónego é mesmo crassa porque fala zero de teologia e foca-se no fogo de
artifício q se deveria usar num enterro, sugerindo a partir daí uma teoria da
conspiração... mas pronto, ele que escreva o lixo que queira, mas que o assuma
de frente e não venha com estas falinhas mansas do "sempre fui, sou e
serei pró-Papa". a exposição dessa mentira era o objectivo do meu
comentário
Coronavirus corona > voto em branco: É uma crítica, sim. Mas estar ao lado do Papa não é
concordar com ele em tudo. Isso não é lealdade. É sabujice, como escrevi em
cima. Eu adoro os meus filhos e estou sempre do seu lado. Isso não implica que
concordemos em tudo e que não haja críticas e diferenças de opinião de parte a
parte.
bento guerra: Os
Papas deviam manifestar-se e pedir idade da reforma mais cedo. Escusariam de
andar a arrastar-se e a babar-se, enquanto o Deus parece um atleta sacrificado Lúcio Monteiro: “Joseph
Ratzinger, já na inédita qualidade de Papa emérito, deixou o Vaticano e
instalou-se provisoriamente em Castel Gandolfo, a residência de verão dos
bispos de Roma” (padre Portocarrero). Simplesmente, Joseph Aloisius
Ratzinger nunca assumiu a sua bizarra condição de Papa Emérito continuando a
exercer uma espécie de papado paralelo e concitando a facção mais reaccionária
e fundamentalista da Igreja Católica, com especial ênfase para o Opus Dei, do
qual o padre Portocarrero é membro proeminente. Com isso, tornou muito mais
difícil a vida e o papado de Jorge Mario Bergoglio. Com a desencarnação de Bento XVI, essa facção mais enquistada da
Igreja ficou órfã, à espera de um futuro papa ultraconservador, que a venha
“redimir”, já que com o Papa Francisco, estão convictos de que não vão a lado
nenhum. Decididamente. Coronavirus
corona > Lúcio Monteiro: Agora ter opiniões mais permissivas, que apontem para
maior liberdade de ritos é sinal de conservadorismo. Ter opiniões mais rígidas,
que apontem para uma homogeneidade litúrgica é sinal de vanguardismo. Enfim, o
cliché sobrepõe-se ao cérebro. Fernando Cascais: Hoje, a crónica mais parece um acto de contrição de
peito feito. Não obstante, gostei muito das explicações. Faltou uma referência
aos anti-papas de Avinhão, ou de Roma, não sei bem quais os considerados
legítimos dessa altura em que existiram dois… três em determinado momento. Coronavirus corona > Fernando Cascais: Não é acto de contrição. É explicar que estar ao lado
do Papa não significa concordar com tudo o que ele diga e faça. Se o Papa
disser que a selecção da Argentina é a que tem mais qualidade isso não passa a
ser um dogma. Mas o cronista escreve-o de forma subtil. Porque dentro do
sacerdócio sempre se cultivou essa mesma subtileza. Manuel Cardozo: Gosto particularmente da última frase do texto e é aí
que está o busílis da questão. É que a liberdade para que Cristo nos criou só
foi uma, como Paulo tão bem sabe, a do amor e mais nenhuma. Quem não ama não é livre simplesmente porque não
pode ser. Seja leigo, sacerdote ou Papa.
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