Hoje. Não carecem de estudos. Nem de bom
senso. Mas anseiam trazer para a luz da fama, por efémera que seja, os seus
zelos matreiros, apoiados quer nos seus medos submissos - aos tais, da cor -
quer nas suas ambições de saliência, nessa demonstração de uma pseudo simpatia
universal que envolve plantas e bichos e os tais humanos desprezados, os da
sigla e os da cor, numa chateza de pensamento confrangedora. João Pedro Marques não pode
sentir-se humilhado com as ditas referências, contudo fez bem em apontá-las
como mais um caso da tal perversão, ditada sabe-se lá por que outros motivos
pessoais. Mas, de facto, não ofende quem quer, só quem pode.
Não conseguem cancelar? Difamem
O mural de Pedro Schacht diz muito
sobre a área das Ciências Sociais e Humanas nos tempos que correm e ajuda-nos a
compreender a reprodução do wokismo (e seus métodos) persecutórios nas
universidades.
JOÃO PEDRO MARQUES Historiador e romancista
OBSERVADOR,08 fev.
2023, 00:1547
Avisaram-me
pela enésima vez que um professor de Estudos Portugueses, Ibéricos e Lusófonos
na Universidade de Ohio chamado Pedro
Schacht Pereira continuava a
difamar-me no Facebook. Desde que, há cerca de seis anos, comecei a participar
no debate sobre escravatura tenho sido alvo de ataques pessoais por parte de
várias pessoas de extrema-esquerda e geralmente não ligo. Desta vez, porém, fui
ver com atenção e acho que vale a pena trazer o caso de Pedro Schacht à luz do
dia não tanto pelas mentiras que difunde a meu respeito, mas pelo que elas
revelam do modus operandi do wokismo.
Vejamos:
Schacht diz, entre outras coisas, que já não sou historiador, mas sim
romancista. Em primeira análise poder-se-ia pensar que haveria aqui uma simples
falha de entendimento. Talvez Schacht não percebesse que para um historiador
ser, também, romancista — eu escrevi, de facto, oito romances — é uma
mais-valia e não um demérito. Talvez se tivesse esquecido de Alexandre
Herculano, por exemplo, e não soubesse que o
valor e a competência de Herculano como historiador não diminuíram pelo facto
de ter escrito O Bobo e outros
romances históricos. E talvez também não entendesse a natureza do saber
histórico e, assim sendo, supusesse que os historiadores têm prazo de validade,
como os iogurtes, ou que podem ser cancelados ou despromovidos quando
envelhecem. Se calhar, em suma, não terá percebido que um historiador vale
pela sua obra, pelo saber acumulado, pela pertinência do seu olhar e, também,
pela coragem e firmeza com que defende as suas ideias, independentemente da
idade que tenha ou da sua situação institucional, e que, para isso, não precisa
do aval ou do beneplácito de ninguém.
Mas
se concluíssemos que essa primeira apreciação de Pedro Schacht a meu respeito não resulta de malícia e de uma
tentativa de desclassificação, mas apenas de ignorância crassa, seríamos
demasiado ingénuos e benevolentes, e estaríamos a cometer um erro. De facto, as
outras acusações que me faz retiram-lhe todo o chão para o benefício da dúvida
e são claríssimas quanto à sua intencionalidade e objectivos.
Pedro
Schacht Pereira sabe perfeitamente que eu leccionei como convidado numa
universidade — na qual, aliás, me doutorei —, e que fui durante 24 anos
investigador do Instituto de Investigação Científica Tropical, devidamente
integrado na carreira de investigação.
É provável que também saiba, uma vez que gosta de fazer alarde de actualização
bibliográfica, que eu continuo a ser citado e referenciado em obras recentes,
como, por exemplo, em The Cambridge World History of Slavery, 2017 — que é
neste momento, a obra colectiva máxima nesta área do saber histórico. Apesar
disso, descreve-me depreciativamente aos seus leitores como — e cito-o — “um
autodidacta que se dedica ao estudo nas horas vagas”.
Acusa-me,
também, de ser alguém cujo trabalho não é escrutinado por nenhum “historiador
sério”. Aliás, para Schacht Pereira os “historiadores sérios” não se
envolveriam comigo por não me considerarem “um interlocutor válido”. Claro que
essa primeira acusação é completamente ridícula pois eu já não tenho idade,
interesse ou razões para andar a engordar o currículo, publicando a metro como,
nesta infeliz era do publish or perish, os actuais académicos têm de fazer —
ingloriamente, diga-se, pois pouca gente os lê.
Mas para além de ridícula a acusação é falsa. Ainda há meia-dúzia de semanas a Análise Social, a revista do ICS, publicou um texto meu que foi escrutinado e aprovado
por pares. Schacht tem conhecimento dessa publicação, tal como também tem
conhecimento, e já há vários anos, da obra Who Abolished Slavery. Slave
Revolts and Abolitionism: A Debate With João Pedro Marques, um livro publicado em Nova Iorque e Oxford, em 2010. Ora, esse livro não só passou pelo
escrutinio de vários “historiadores sérios” como foi publicado em forma de
debate com alguns dos melhores e mais “sérios” historiadores da escravatura.
Que David Brion Davis (Universidade de Yale), John Thornton (Universidade de
Boston), Seymour Drescher (Universidade de Pittsburgh) e mais oito prestigiados
colegas tenham querido acompanhar-me na publicação daquele livro, alguns para
concordarem comigo, outros para discordarem de mim, é, devo dizê-lo sem falsas
modéstias, um motivo de orgulho. Orgulho que se prolongou pelos anos seguintes
quando outros “historiadores sérios” — Ira Berlin (Universidade de Maryland),
por exemplo — vieram prolongar e enriquecer o debate que eu desencadeara. Quem
tiver curiosidade de ver como, em 2016, Berlin resumia as minhas posições e referia
como a maioria dos participantes naquele livro/debate as apoiavam, poderá ver
este vídeo (dos 8’25” em diante).
Algo
de equivalente se passa em Portugal. Um exemplo, apenas: em 2019 fui convidado
pelo historiador Manuel Bandeira Jerónimo (Universidade de Coimbra) para
colaborar com um artigo no catálogo da exposição comemorativa da abolição da
escravatura no império português, o que com muito gosto aceitei. Pedro Schacht
não o ignora porque esteve presente — tal como eu estive — na inauguração da
dita exposição e da apresentação do catálogo, na Assembleia da República.
É,
portanto, verdadeiramente obsceno que, sabendo tudo isso, difunda a calúnia de
que os colegas não me considerariam “um interlocutor válido”. Tal como é de uma
torpeza sem limite que, conhecendo a minha publicação de 2010 e o intenso
escrutínio a que esteve sujeita, se permita afirmar que a minha tese de
doutoramento, elaborada na já longínqua década de 1990, terá sido, nas suas
palavras, “o último projecto cientificamente escrutinado” que eu teria
produzido.
Em
suma, e como escreveu acertadamente uma das três ou quatro pessoas lúcidas que
não se deixaram arrastar nas patranhas de Pedro Schacht e o confrontaram no seu
mural (ou página) do Facebook, o que ele escreve a meu respeito é “má-fé,
desvergonha e mentira”. De uma forma continuada ao longo de seis
anos e no que a mim se refere, Schacht tem escondido, truncado, subvertido,
deturpado, difamado. Porquê? Haverá certamente várias explicações para isso,
mas aqui interessa-me apenas uma delas: Pedro Schacht é, nas redes sociais, um
figurão ou farol woke e para quem o é, em certas circunstâncias, a mentira é a
única arma que resta. Ainda
que exijam debates sobre o tema da escravatura, os woke não querem debater
coisa nenhuma, como a experiência destes últimos anos revelou à exaustão. O que querem é cortar a palavra aos que deles
discordam. E quando isso não é viável, tentam demolir o importuno que os
enfrenta e incomoda. A receita é simples: se não podem cancelar esse importuno,
difamem-no. Sem capacidade para refutar, num jornal, aquilo que eu escrevo a
respeito da história da escravatura, por manifesta falta de coragem e de
conhecimentos sobre a matéria, e não podendo, para grande pena sua, cortar-me a
palavra e cancelar-me, Pedro Schacht tenta atacar-me como pessoa e
descredibilizar-me como historiador.
E como esse é o modus operandi
do wokismo, há outros partidários dessa ideologia que acolhem as suas insinuações
e calúnias, e que as ampliam. Há, por
exemplo, a professora brasileira radicada nos Estados Unidos que me considera
“patético” e que suspeita fortemente de que eu receba “uns trocos” de alguma
entidade ou de alguém para dizer “baboseiras”; há a doutoranda portuguesa que,
corroborando essa suspeita pecuniária, sugere que eu estaria a fazer o jogo
“dos partidos nacionalistas, saudosistas do fascismo, e racistas-xenófobos”;
há, também, um conhecido académico que proclama que não debaterá comigo porque
não se rebaixa a debater com uma “mediocridade”.
Fico-me
por estes três exemplos, acrescentando que há outras pessoas que se pronunciam
de forma equivalente — ou seja, no grau zero da boa educação, da civilidade e
da ética — e uma parte dessas pessoas lecciona em universidades
norte-americanas, brasileiras, portuguesas, britânicas. Há, até, um ou dois
catedráticos nesse pitoresco mas melancólico conjunto. E melancólico porque é
verdadeiramente deprimente ver os termos em que essas pessoas se pronunciam no
âmbito de um debate que deveria ter um mínimo de elevação. E fazem-no, importa
sublinhá-lo, não no espaço privado e resguardado de um círculo de amigos, mas
num suporte que, à data em que escrevo, é público, isto é, pode ser visto por
qualquer utilizador do Facebook.
Não quero generalizar e não pretendo sugerir que já não haja gente adulta e bem
formada nas universidades — sei que a há, felizmente —, mas não posso ignorar o
que vi na minha “visita de estudo” ao mural do professor Pedro
Schacht Pereira. Esse mural diz muito sobre a área das
Ciências Sociais e Humanas nos tempos que correm, e ajuda-nos a compreender um
pouco melhor a reprodução do wokismo e dos seus métodos persecutórios entre as
camadas universitárias.
HISTÓRIA CULTURA POLITICAMENTE CORRETO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 47):
TIM DO Ó:: O fanático religioso Pedro
Shasht Pereira equivale aos membros do clero da inquisição quando queriam
condenar Galileu Galilei. A argumentação é a mesma. O cérebro dele é igual aos
da inquisição religiosa e não dá para mais. A História repete-se no século XXI.
Parabéns, João Pedro Marques, não ceda nunca à inquisição Woke, de espírito
nazi. hermes
trimegisto: Já me cruzei numa polémica com
esse energúmeno, ufano de fazer umas horas numa universidade de quinta
categoria, uma espécie de Politécnico da Maia onde o famoso Macaco conseguiu um
mestrado. O modus operandi é sempre o mesmo: o insulto, o apelo ao
cancelamento e uns chavões neo-marxistas. Um caso para umas bengaladas ou
um par de estalos para ficar mais desperto-woke Luis
Cunha: Parabéns!! Rui
Lima: Como
romancista sei que é bom pela leitura que fiz do seu livro: “Uma fazenda em
África” que recomendo. Como
historiador gosto das suas crónicas no Observador por repor a verdade: a seita
Woke persegue quem os impede de espalhar as suas mentiras livremente. Mas o mundo está difícil e essa gente é perigosa:
eu tenho medo alterei a minha forma de estar. Maria
Clotilde Osório: É o papel das moscas: enchem tudo de caganitas e picam, picam. Apesar de
enxotadas, voltam sempre. E proliferam muito nos meios adequados. Zeca Ganeira: Só queria comentar para dizer
que é tempo de parar de chamar àquilo "ciências sociais". Tem tanto
de ciência como um cavalo-marinho tem de equestre. Maria
Augusta Martins: Caro João: Não ligue a "piquenos e misquinhos" como o tal Pedro
que julga que por ter comprado um ou vários dou(to)ramentos a bom preço e com
barrete, anel e labita incluídos, julgou, na sua estultícia, que isso o
transformou em "savant". Mais
valia que fosse limpar latrinas para ter um banho de humildade. Ai a tropa faz
tanta falta! Mande-o catar pedículos a calvos. Sofia Fernandes:
Mais um artigo lúcido, factual
e bem escrito pelo Prof. JP Marques. Wokismo é censura.
Miguel Sanches: Ora muito bem, mais uma vez, meu querido Amigo João
Pedro. A propósito, tenho que citar um tio
meu: em que é que a existência do tal Scacht pode contribuir para a minha, e,
já agora, tua, felicidade? Nada, zero. Ignore-se pois, que é o que mais os apavora. Quando se punha em causa a Honra, dantes havia
métodos eficazes de a repor... Francisco
Lobo de Vasconcellos: Realmente, a seu "convite", fui espreitar o mural. Deprimente e
vergonhoso, mas acima de tudo, preocupante, porque lecciona, difunde,
propagandeia, desenvolve esta "religião", que acaba por minar toda
uma sociedade e cultura. O futuro afigura-se-me negro (oops...será que poderei
utilizar esta palavra?) Henrique
Monteiro: Muito bem!!!! Carlos Pamplona: Excelente artigo ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️ E, vozes de burro não chegam
ao céu… Maria Nunes:
O fundamentalismo, seja em que área
for, serve-se sempre dos mesmos argumentos, isto é, denigre e persegue quem não
tem a mesma opinião. Ainda nos admiramos com a perseguição e a crueldade da
Inquisição. Na actualidade, os wokistas têm exactamente a mesma atitude.
Pessoas pequeninas, que não respeitam o outro. Se pudessem também queimavam
pessoas. Hoje tentam queimar nas redes sociais. António Martins: Espero que João Pedro Marques
continue a escrever, e bem, como historiador e continue a escrever, bem também,
como romancista. Os cães ladram e a caravana passa Carlos Chaves: Caríssimo João Pedro Marques, e
proliferam tantos “Pedros Schachts” por esse mundo fora, e também por aqui no
nosso rectângulo, que praticam esses métodos difamatórios e assassínio de
reputação e carácter, para promoverem esse conceito abjecto que é o “wokismo”.
Grandes democratas estes! Paulo
Morisson: O contraste só
realça a sua superioridade científica, académica e ética. O socialismo wokista
e o comunismo são o novo fascismo, concorrendo igualmente para o totalitarismo, a repressão e a regressão económica e
civilizacional. Alfredo
Vieira: Uma coisa é certa: o colunista não se
inibe com a mediocridade e a baixeza desta actualidade que aqui descreve tão
bem, acerca da pandilha da moda, ansiosa pela perenidade do que nunca passará
de segura caducidade. E faz muito
bem! Antonio Sennfelt:
Esse tal "académico" de nome Schacht (palavra
que em alemão significa poço) ostenta um nome perfeitamente adequado para a
latrina de sectarismo e ignomínia que é a denominada "cultura"
woke! Pobre Portugal:
O ser humano é capaz do melhor e do pior. Estes
"wokes" são o nível mais baixo a que se pode chegar. Se puderem, actuam
tal como os nazis o fizeram.
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