Dos
sentimentos de simpatia, associada à empatia (pressupondo respeito e admiração
também), para com a martirizada Ucrânia, de alergia e funda aversão por certos
generais de cá que se desunham no entusiasmo da sua defesa putinesca e ataque
aos que defendem a sua Ucrânia, coisa que eles jamais fariam pelo seu país, certamente
que de rabo entre as pernas, caso esse fosse atacado…
Afinal,
interpretei mal o recado do meu email, enviado pelo Observador, segundo
decifração do meu filho Luís, e renasci para a alegria de poder continuar a divulgar
os nossos bons cronistas, tal o PAULO TUNHAS deste rigoroso texto, de filosofia
e condenação dos que não têm pejo de divulgar a sua falta de decência.
Ucrânia: da empatia à simpatia
Podemos nós
estabelecer uma relação empática com monstros? A resposta é certamente: sim. E
a prova disso é, banalmente, que há quem a estabeleça.
PAULO TUNHAS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 02 fev. 2023, 00:1920
É qualquer coisa de anterior à
política e até à moral. Quando
vemos na televisão os rostos dos ucranianos, homens e mulheres, que viram as
suas casas destruídas por bombardeamentos russos e os seus familiares, amigos e
vizinhos feridos ou mortos, há algo que acontece. As neurociências falam-nos da
existência de neurónios-espelho.
Quando, por exemplo, alguém sofre face aos nossos olhos – mesmo que seja na
televisão – há certos neurónios que são nessa pessoa activados e exactamente
os mesmos neurónios são activados em nós mesmos, espectadores da dor. Pelo
menos é o que nos dizem certas hipóteses dos neurocientistas. Há uma espécie de
substrato neuronal daquilo que vulgarmente chamamos empatia. Não, é claro, que nos
sintamos idênticos àquela pessoa, com ela fundidos, mas estamos com ela.
Experimentamos directamente, à nossa maneira, a sua dor. Podemos exprimir, ou
espelhar, essa dor. Como dizia David Hume, ecoando Leibniz, “as mentes dos
homens são espelhos umas das outras”.
Não
se trata simplesmente de nos pormos no lugar do outro. Podemo-nos pôr no
lugar do outro sem sentir empatia alguma. O
pensamento liberal, por exemplo, aconselha a pormo-nos no lugar do outro para
reconhecermos a sua autonomia e liberdade. E o pensamento liberal enuncia, sob
esse aspecto, uma clara obrigação da nossa vida em sociedade. Ou podemo-nos pôr no lugar do outro simplesmente
para melhor calcular as suas acções. É o que fazem, entre outros, o jogador
de xadrez e o general no campo de batalha. Põem-se
no lugar do adversário ou do inimigo para melhor imaginarem as jogadas e acções
mais eficazes que eles podem levar a cabo para os derrotar, para lhes fazerem o
pior que podem. Em várias circunstâncias da nossa vida – e maximamente na vida
política – é isso mesmo que nós próprios fazemos. Nem sempre os vizinhos
são, como queria Cristo, propriamente “o próximo”.
Na empatia que sentimos face à dor
alheia pomo-nos sem dúvida no lugar do outro, mas sem ser por obrigação de
pensamento ou para melhor calcularmos as suas acções. É algo, de facto, muito
mais directo e sem fins práticos, políticos ou sequer morais. Descobrimos o
outro, a outra pessoa, sem necessidade de nenhuma inferência, como algo de
presente a nós mesmos. Compreendemos
a dor que sente a vítima do bombardeamento ou a do refugiado que foge do
cenário de guerra. Não é um
simples contágio emotivo, como aquele que se dá, por imitação, em certas
circunstâncias da vida colectiva. É algo mais profundo, na medida em que funda
a possibilidade daquilo que em filosofia se chama a intersubjectividade: o sentimento de pertencermos a um mundo comum
constituído por uma pluralidade de pessoas que têm acesso mental umas às outras
e que através desse acesso se modificam a si mesmas.
É
importante notar que a empatia se dirige sempre ao individual, ao singular, a
uma pessoa em concreto. Não sentimos empatia com a Ucrânia, sentimos empatia
com os indivíduos ucranianos um de cada vez, quando testemunhamos, ao modo
directo destas coisas, a sua derrelição individual. À sua maneira, Aristóteles percebeu bem este
processo quando analisou a atitude dos espectadores da tragédia. O espectador experimenta piedade, ou compaixão, e
temor face à personagem trágica. É algo de passionalmente sentido, nada
tem de um cálculo intelectual. A compaixão tem por objecto o homem que é infeliz sem o
merecer; o temor tem por
objecto o homem semelhante a nós mesmos.
Dito de outra maneira: vemos alguém sofrer e descobrimos que podíamos ser esse
alguém. Colocamo-nos no lugar do outro de um modo directo. Sentimos
espontaneamente o que ele sente.
É a partir dessa experiência
pré-moral e pré-política, a empatia, que se podem instituir os juízos morais e
políticos e a própria simpatia, tal como habitualmente hoje em dia entendemos a
palavra. A
empatia é “com”, a simpatia é ”por”. Temos empatia com os indivíduos
ucranianos, tempos simpatia pela Ucrânia. A simpatia, ao contrário da empatia, supõe uma escolha
de valores morais e políticos. Passamos do plano do singular ao plano do geral
ou do universal. A condenação da bárbara invasão russa encontra-se neste último
plano. Tal como a oposição entre democracia e autocracia ou entre liberdade e
servidão. A
simpatia – moral e política – não pode, no entanto, existir sem a experiência
da empatia, fundadora da tal intersubjectividade. A empatia não basta para a
constituição da moral e da política, não é uma causa suficiente destas, mas é
um seu requisito prévio indispensável, uma sua causa necessária. Uma causa
necessária da simpatia.
E,
já agora, da antipatia. A
antipatia que sentimos por aqueles que, de forma descarada ou velada,
manifestam simpatia pela invasão russa tem a ver, num primeiro plano, com a
falta de empatia, ou a empatia negativa, que neles supomos em relação aos
indivíduos ucranianos. E ainda, é claro, com a empatia que neles
sentimos com Putin. Este último aspecto coloca, de resto, uma questão muito
interessante: podemos nós estabelecer uma relação empática com monstros? A
resposta é certamente: sim. E a prova disso é, banalmente, que há
quem a estabeleça. Mas como
compreender essa estranha relação empática? Um filósofo aconselha-nos, para
o percebermos, a imaginariamente ultrapassarmos os limites impostos pelo
sentimento da decência humana,
começando por conceber actos veniais que se encontram ainda dentro dos limites
da nossa imaginação e, insensivelmente, progredirmos até atingirmos actos
atrozes. Pessoalmente, tenho seguido o conselho do filósofo quando vejo, na
televisão, um ou outro militar que não disfarça a sua admiração por
Putin ao comentar a guerra e tenho feito progressos. Vou percebendo melhor como
se abandona os patamares da mais básica decência humana.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO SENTIMENTOS COMPORTAMENTO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS de 20
Joao R > bento guerra:
Quem tem toda a responsabilidade na prova
da fragilidade (e incompetência) do exército (qual exército, bando de
criminosos é uma descrição mais apropriada) é só mesmo o Putin… só os tótós
pró-urssos interessados em conversa de treta de apoio aos urssos é que gostam
de misturar alhos com bugalhos para argumentarem o caso com um relativismo
moral que não convence ninguém excepto pessoas com frustrações derivadas da sua
impotência sexual. Quanto aos generais que comentam em Portugal que admiram os
Urssos, teria que ver o que dizem. Comentar a situação no terreno não implica
também que sejam imparciais… Fernando CE: Alguns generais têm umas opiniões sobre a invasão da
Ucrânia pela famigerada Rússia de Putin que não se entende. Davam como tudo
perdido para os ucranianos nos primeiros dias,e até cheguei a ouvir na TV que
era óbvio para eles até pelo cenário em que o herói Zelensky falava ao seu povo
e ao mundo que este último não estava já em Kiev e/ou até na Ucrânia. Resultado:
assim que aparecem a debitar opiniões, mudo logo de canal. O único que gosto de
ouvir é o Major General Isidro Pereira. Fora isso existem muitos experts não
militares e entre eles o historiador prof catedrático António José Telo, da
Academia Militar, de quem gosto particularmente. O tempo tem-lhes dado razão e
corroborado as suas análises. Espero
que a criminosa e genocida Rússia de Putin não vença esta guerra. Augusto vaz serra sousa: Um
notável artigo de reflexão e análise, de PT . Como sempre de antologia! A
questão de alguns dos "generais" analistas", (por
pudor não os nomeio ...) , é
perturbadora! Saber que esta gente com uma mente que facilmente pactua e
justifica (!) o atropelo das elementares regras democráticas e chegaram a
cargos de decisão não nos deixa nada tranquilos sobre o que vai pelos meios
militares e a sua mediocridade de pensamento . Estávamos tramados!.
Tínhamos a justificação do segundo Hitler .... Joao R > bento guerra: Quem
tem toda a responsabilidade na prova da fragilidade (e incompetência) do
exército (qual exército, bando de criminosos é uma descrição mais apropriada) é
só mesmo o Putin… só os tótós pró-urssos interessados em conversa de treta de
apoio aos urssos é que gostam de misturar alhos com bugalhos para argumentarem
o caso com um relativismo moral que não convence ninguém excepto pessoas com
frustrações derivadas da sua impotência sexual. quanto aos generais que
comentam em Portugal que admiram os Urssos, teria que ver o que dizem. Comentar
a situação no terreno não implica também que sejam imparciais… Pobre
Portugal: Pois é. Este massacre veio tirar a
máscara à humanidade. E o que se vê é um rosto que pouco tem de humano. José Manuel Pereira:
Caríssimo Paulo Tunhas, há já algum tempo que tenho a
certeza que quem defende a Rússia neste conflito, ou diz ser neutro ou mais
recentemente diz ser pela paz, há muito que perdeu a noção do que é decência
humana e merece a indignação de todas as pessoas de bem. Começa a ser
insuportável tolerá-los sequer entre nós. Joao
Goncalves : Alguma dessa empatia provém também da
quantidade de grana recebida...
Joao R: “Vou percebendo melhor como se abandona os
patamares da mais básica decência humana.” eu continuo sem perceber, nem sei se
quero perceber… mas concordo que no fundo os apoiantes do putinismo tem uma
grande falta de empatia, mas não só, têm também uma grande falta de
sensibilidade moral e obviamente falta de capacidade de raciocínio
lógico/consistente. Escolhem um lado nesta guerra como quem escolhe a
equipa de futebol ou partido político porque ignoram descaradamente o elemento
de sofrimento humano criado pela atrocidade urssa. Parece que até escolhem o
lado nalguns casos só para ser do contra… infelizmente há muito imbecil no
mundo.
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