segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Avisos à navegação


Que dependem dos pontos de vista dos navegadores, que somos todos nós, os crentes e os cépticos. Mas que interessa conhecer, inscritos nos "Contos de encantar" das infâncias de hoje.

Estamos à beira de uma guerra nuclear?

Uma Rússia racional não deverá atacar países da NATO por fornecerem armamento à Ucrânia, algo que aconteceu centenas de vezes durante a Guerra Fria sem que isso tivesse levado a uma Terceira Guerra.

BRUNO CARDOSO REIS, Historiador e especialista em segurança internacional

OBSERVADOR, 17 fev. 2023, 00:1912

Desde a queda da União Soviética, em 1991, que nunca se falou tanto de uma guerra nuclear. Será que é um risco real? E será que por isso devemos aceitar uma paz a qualquer preço na Ucrânia?

Alarmismo deliberado

É normal que haja muita gente assustada. A propaganda russa tem apostado em assustar os europeus e americanos, acenando repetidamente com o seu vasto arsenal nuclear para tentar forçar os aliados da Ucrânia a deixar de a ajudar a defender-se. E, sim, uma guerra nuclear total é o maior risco imediato para a sobrevivência da humanidade. Provavelmente provocaria um inverno nuclear de anos que destruiria toda ou quase toda a vida na terra. Isto para não falar da destruição directa que se estima poderia resultar na morte de centenas de milhões de pessoas. Até o imerecidamente famoso doomsday clock já estará só a cinco minutos para a meia-noite – a hora fatídica do fim do mundo. Embora se trate de uma avaliação muito subjectiva dum conjunto de cientistas norte-americanos, mostra bem que, mesmo a esse nível, há gente muito assustada. Não podemos estar certos de nada numa guerra, mas devemos ter o cuidado de não facilitar o trabalho intimidatório da Rússia.

As armas nucleares, a paz e o pseudopacifismo

Comecemos por um breve passeio pela história do armamento nuclear e da sua relação paradoxal com a paz. A arma nuclear não surgiu como parte de um projecto de destruição ou dominação, mas de defesa da liberdade. A primeira explosão de uma arma nuclear aconteceu nos EUA, no deserto profeticamente chamado de Jornada del Muerto, no Novo México, no campo de tiro de Alamo Gordo, no dia 16 de julho de 1945. Foi o culminar do primeiro grande projecto de investigação científica e de desenvolvimento tecnológico. Esta iniciativa dos EUA contou com colaboração britânica, canadiana e, até, do governo belga no exílio (para o fornecimento do urânio a partir do Congo). Envolveu mais de 150.000 pessoas em 30 locais, custando mais de 24 mil milhões de dólares. Tudo começou, em agosto de 1939, com uma carta de Albert Einstein, um dos muitos cientistas brilhantes forçados ao exílio pelo avanço do nazismo, que escreveu ao presidente dos EUA para o alertar para o risco dum novo tipo de arma, com um poder destrutivo sem paralelo, ir parar às mãos da Alemanha nazi. O projecto surgiu para evitar a possibilidade de uma superpotência nuclear nazi, praticamente invencível. Estas primeiras armas atómicas teriam sido usadas contra a Alemanha e não contra o Japão, se o regime nazi não se tivesse rendido, a 8 de maio de 1945. Acabaram por ser usadas, a 6 e 9 de agosto de 1945, contra Hiroshima e Nagasaki, para forçar a rendição do Japão, anunciada pelo imperador a 15 de agosto de 1945. Estimava-se que uma invasão convencional do Japão resultaria em milhões de mortos. O líder soviético, Estaline, quando foi oficialmente informado da existência da nova arma pelo novo presidente dos EUA, Harry Truman, na conferência de Potsdam, encorajou a sua rápida utilização contra o Japão.

Depois disso assistimos, por parte da Rússia soviética, a uma corrida contra o tempo para obter a sua arma nuclear. Tiveram sucesso, em agosto de 1949, muito graças à sua vasta rede de espionagem. Mas, em 1950, no início da Guerra da Coreia, os EUA tinham 300 armas nucleares e a União Soviética apenas 6. Em 1962, aquando da Crise dos Mísseis de Cuba, os EUA tinham 23.000 ogivas face a 2.700 da União Soviética.

Conhecendo bem melhor esta sua desvantagem do que os serviços de informações ocidentais, a Rússia soviética dedicou-se durante toda a Guerra Fria, com a ajuda da rede internacional comunista, a criar uma vasta organização de propaganda pseudopacifista. Muitos intelectuais públicos, muitos artistas famosos, de Jorge Amado até Pablo Picasso (que desenhou uma bela pomba para servir de logotipo) associaram-se a sucessivos apelos à paz, culminando na criação do chamado Conselho Mundial da Paz, em Paris, em 1949. Esta rede continuou durante décadas a apelar ao desarmamento unilateral e sem condições do Ocidente. Fazia sentido, nesta doutrina comunista pseudopacifista, em que o bloco dito capitalista era intrinsecamente uma ameaça à paz e o bloco soviético era por definição um defensor da paz! O slogan que melhor caracteriza esse movimento (e até alguns pacifistas mais sinceros e radicais) era: “better red than dead”melhor sob o domínio “vermelho” da União Soviética, do que arriscar fazer-lhe frente. Hoje voltamos a ouvir o mesmo tipo de vozes a fazer o mesmo tipo de apelos. Não aprenderam nada, o que é normal, o dogmatismo não é muito propício à aprendizagem.

Um risco sério deve ser estrategicamente gerido

Claro que devemos levar a sério o risco de a Rússia recorrer a armas nucleares. Mas isso não se faz cedendo ao pânico, seja ele da rua, de colunistas ou de apelos interesseiros de filo-putinistas. Como bem notou Constanze Stelzenmüller, da Brookingsnuma conferência recente organizada pela FLAD que tive o gosto de moderar –, os mais altos responsáveis russos e muitos dos seus propagandistas usam, cada vez mais, uma linguagem genocida em particular em relação aos ucranianos, mas mesmo em relação a todos os europeus. Apesar disso, a verdade é que Putin e a elite que o rodeia parece minimamente racional e determinada a sobreviver para gozar os frutos de décadas de acumulação cleptocrática. Não se vê como é que alargar a guerra para atacar mais países, inclusive membros da NATO, arriscando uma guerra nuclear total, serviria os interesses do Kremlin. Tal como durante a Guerra Fria, não há nada pior do que o Ocidente mostrar fraqueza ou temor. Sim, a Rússia tem armas nucleares. Por isso, os EUA e os países europeus têm deixado muito claro que não irão intervir militarmente de forma directa no conflito. Por isso, também – por causa do chapéu de protecção dado pelo arsenal nuclear dos EUA, da França e da Grã-Bretanhauma Rússia racional não deverá atacar países da NATO por fornecerem armamento à Ucrânia, algo que aconteceu centenas de vezes durante múltiplos conflitos da Guerra Fria sem que isso tivesse levado a uma Terceira Guerra Mundial. Honremos os enormes riscos que os ucranianos estão a correr, com grande coragem, empenhando-nos em ajudá-los a continuar a defender-se, sem complacências, mas também sem pânicos.

ARMAMENTO NUCLEAR    DEFESA    RÚSSIA    MUNDO

COMENTÁRIOS:
Joaquim Ribeiro: O autor parece um propagandista a soldo: martela os leitores com uma cassete de ideias pre-cozinhadas, que não têm qualquer sustentação. Quanto à racionalidade dos actores, de um e do outro lado, ela é a mesma que meteu o continente europeu em duas guerras devastadoras. No que diz respeito à acumulação cleptocrática, a ideia aplica-se igualmente, às elites políticas americanas. É claro que há uma diferença importante: enquanto as russas se limitam, por ora, a depredar o seu próprio território, as elites americanas saqueiam o mundo inteiro. Quanto aos ditos agentes do PUTINISMO, o autor vê-se ao espelho. Finalmente, custa-me OBSERVAR a orientação sectária do jornal no que à guerra diz respeito: há dois dias, vi a Helena Matos defender a política da “UNIÃO SAGRADA” do Afonso Costa !!! ENFIM ! Consta, por aí, que corre uma lista com as entidades e personalidades que recebem ajuda ou propina do Estado Americano, via NATO. Não sei se é verdadeira ou mais uma manobra de propaganda. Seja como for, a pergunta é a seguinte: pretendem meter Portugal na guerra da Ucrânia? Em troca de quê? Qual é o interesse nacional nesse disparate criminoso? Fernando Fernandes: Muito boa análise como sempre, mas que merece o desagrado dos nossos defensores da paz, os estalinistas do PCP.              pedro dragone: O Kremlin tem sabido utilizar os seus agentes de propaganda na media Ocidental para incutir na população e nalguns dirigentes políticos o temor nuclear, com o intuito de induzir hesitação no apoio militar à Ucrânia. Com frequência, vemos estes agentes referir o número de ogivas detidas pela Rússia, na casa dos 6 milhares, como indicador de uma alegada supremacia nuclear Russa sobre o Ocidente, ignorando que, num hipotético conflito nuclear, após o lançamento de apenas algumas dezenas de ogivas por cada uma das partes beligerantes já não sobraria ninguém em nenhuma das partes para lançar as restantes ogivas disponíveis nos respectivos arsenais! Quer isto dizer que o número de ogivas detido por cada lado não é o factor relevante a definir a sua capacidade nuclear. Existem outros factores bem mais decisivos tais como a capacidade de intercepção das ogivas do inimigo, ou a capacidade de fazer o primeiro ataque - o que, por sua vez, depende essencialmente da eficácia dos sistemas de inteligência, vigilância e decisão de cada um dos lados - e, finalmente, também do alcance e precisão dos vectores de lançamento utilizados. Ora em qualquer destes factores existe uma clara supremacia Ocidental. E o Kremlin sabe disso. Carregarem no botão vermelho só em acto suicida de loucura ou desespero. E isso eles também sabem. E por isso não fazem. O nuclear apenas lhes serve para alimentarem uma guerra de medos que tem como objectivo travar ou paralisar o inimigo na guerra convencional em curso. E nessa guerra de medos têm sido relativamente bem sucedidos...              Liberales Semper Erexitque: O risco existe, nem a Ucrânia é o Afeganistão, nem a Rússia de lá sairá derrotada sem a arrasar antes, recorrendo a todos os seus recursos militares (não é por um urso ter a boca fechada que ele não tem dentes). E aí, o que fariam os Rambos? A julgar por aquilo que dizem, atacariam a Rússia directamente. Seria o último ataque que fariam.                  Henrique Frazão: Parole, parole, parole.....             Francisco Almeida: Um artigo lúcido e bem documentado. Pessoalmente - mais achismo já sei - tenho mais receio de uso nuclear por países doentes como a Coreia do Norte, instáveis como o Paquistão, em conflito insanável como Israel-Irão, se insistirem em permitir ao Irão desenvolver capacidade nuclear, do que num conflito EUA/NATO-Rússia. Mas eu próprio reconheço que posso estar enganado.               bento guerra: É simples,não queiram experimentar              Nuno Filipe: Divulgar este artigo (e outros) para desmascarar os defensores da Rússia 🇷🇺 que existem em Portugal 🇵🇹. Estes “defensores” se a Rússia 🇷🇺 invadisse Portugal 🇵🇹 recebiam-nos de braços e nádegas abertas. E o colaboracionismo aqui ainda será pior do que em Vichy. Os comunas cá sao bons a abocanhar a riqueza dos outros para eles próprios (redistribuição pelo proletariado como eles dizem) e a distribuír a pobreza (neste aspecto já distribuem). SIM a Rússia hoje em dia não é comunista, mas um regime ditactorial é um regime ditactorial chame-se o que se quiser, e regime ditactorial é o que os comunistas querem. A Alemanha nazi foi derrotada, os dirigentes que foram apanhados foram Julgados e enforcados e a população foi desnazificada (muitos diziam que não sabiam o que se passava). A Rússia tem de ser derrotada e os seus dirigentes apanhados, julgados e condenados. E tem de existir uma desrussificação (poucos são os que se mostram contra o regime, mas se começar a existir insurgência popular constante, talvez a mudança venha de dentro).Dividam aquele país em vários porque é muito território para um só país. E apoiem a Ucrânia. E em Portugal o problema não é o Chega ( e eu não sou deste partido) em Portugal 🇵🇹 o problema tem sempre sido a esquerda “defensora dos pobrezinhos” (NOT). A esquerda portuguesa é sim defensora da pobreza intelectual e de espírito e da pobreza à mesa (pela esquerda muitas vezes teríamos de comer serradura como na Coreia do Norte 🇰🇵 e se calhar para lá caminhamos) se continuarem a dominar o país tipo cancro invasivo. Viva Portugal 🇵🇹.                   luis doria > Nuno Filipe: Para além da linguagem peculiar e das bandeirinhas, o que você escreveu está correcto!                   Fernando Cascais: Como é que se dispara um míssil nuclear? R: um homem carrega num botão, supostamente vermelho. Parece uma coisa simples, todavia, dizem que os protocolos são burocráticos e que é necessário ligar uma série de disjuntores antes de ligar o interruptor geral. Uma prevenção contra um presidente maluco, que depois de chegar a casa e dar com a mulher enrolada com o guarda-costas, se lembrasse de se matar e levar uns milhares com ele. Bem, as coisas não são assim tão complicadas, se bem que Biden deve andar sempre perto da mala atómica para em caso de emergência lançar os ditos cujos, depois do processo de autorizações. E na Rússia com Putin, como será? Será que o homem também obedece ao protocolo? Não, obviamente que não, e quem lhe quiser impor regras sujeita-se a voar de uma janela de um 10º andar. Para Putin disparar um míssil nuclear será sempre mais fácil do que para Biden, e, o grande receio do Ocidente é esse mesmo, tudo está dependente do estado de alma de Putin, e, o imprevisto é algo a ter em conta.

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