Que dependem dos pontos de vista dos navegadores, que somos todos nós, os crentes e os cépticos. Mas que interessa conhecer, inscritos nos "Contos de encantar" das infâncias de hoje.
Estamos à beira de uma guerra nuclear?
Uma Rússia racional não deverá atacar
países da NATO por fornecerem armamento à Ucrânia, algo que aconteceu centenas
de vezes durante a Guerra Fria sem que isso tivesse levado a uma Terceira
Guerra.
BRUNO CARDOSO REIS, Historiador
e especialista em segurança internacional
OBSERVADOR, 17 fev. 2023, 00:1912
Desde a queda da União Soviética, em
1991, que nunca se falou tanto de uma guerra nuclear. Será que é um risco real?
E será que por isso devemos aceitar uma paz a qualquer preço na Ucrânia?
Alarmismo deliberado
É
normal que haja muita gente assustada. A
propaganda russa tem apostado em assustar os europeus e americanos, acenando
repetidamente com o seu vasto arsenal nuclear para tentar forçar os aliados da
Ucrânia a deixar de a ajudar a defender-se. E, sim, uma guerra
nuclear total é o maior risco imediato para a sobrevivência da humanidade. Provavelmente provocaria um inverno
nuclear de anos que destruiria toda ou quase toda a vida na terra.
Isto para não falar da destruição directa que se estima poderia resultar na
morte de centenas de milhões de pessoas.
Até o imerecidamente famoso doomsday clock já estará só a cinco
minutos para a meia-noite – a hora fatídica do fim do mundo. Embora se trate de uma avaliação muito subjectiva dum
conjunto de cientistas norte-americanos, mostra bem que, mesmo a esse
nível, há gente muito assustada. Não podemos estar certos de nada numa
guerra, mas devemos ter o cuidado de não facilitar o trabalho intimidatório da
Rússia.
As armas nucleares, a paz e o
pseudopacifismo
Comecemos por um breve passeio pela
história do armamento nuclear e da sua relação paradoxal com a paz. A arma
nuclear não surgiu como parte de um projecto de destruição ou dominação, mas de
defesa da liberdade. A primeira explosão de uma arma nuclear
aconteceu nos EUA, no deserto profeticamente chamado de Jornada del Muerto, no
Novo México, no campo de tiro de Alamo Gordo, no dia 16 de julho de 1945. Foi
o culminar do primeiro grande projecto de investigação científica e de
desenvolvimento tecnológico. Esta iniciativa dos EUA contou com colaboração
britânica, canadiana e, até, do governo belga no exílio (para o fornecimento do urânio a partir do Congo). Envolveu mais de 150.000 pessoas em 30
locais, custando mais de 24 mil milhões de dólares. Tudo começou, em agosto de
1939, com uma carta de Albert
Einstein, um dos muitos cientistas brilhantes
forçados ao exílio pelo avanço do nazismo, que escreveu ao presidente dos EUA
para o alertar para o risco dum novo tipo de arma, com um poder destrutivo sem
paralelo, ir parar às mãos da Alemanha nazi. O
projecto surgiu para evitar a possibilidade de uma superpotência nuclear nazi,
praticamente invencível. Estas
primeiras armas atómicas teriam sido usadas contra a Alemanha e não contra o
Japão, se o regime nazi não se tivesse rendido, a 8 de maio de 1945. Acabaram
por ser usadas, a 6 e 9 de agosto de 1945, contra Hiroshima e
Nagasaki, para forçar a rendição do Japão, anunciada pelo imperador a 15 de
agosto de 1945. Estimava-se que uma invasão convencional do Japão
resultaria em milhões de mortos. O líder soviético, Estaline, quando foi
oficialmente informado da existência da nova arma pelo novo presidente dos EUA,
Harry Truman, na conferência de Potsdam, encorajou a sua rápida utilização
contra o Japão.
Depois disso assistimos, por parte da Rússia soviética, a uma
corrida contra o tempo para obter a sua arma nuclear. Tiveram sucesso, em
agosto de 1949, muito graças à sua vasta rede de espionagem. Mas, em 1950, no
início da Guerra da Coreia, os EUA tinham 300 armas nucleares e a União Soviética
apenas 6. Em 1962, aquando da Crise dos Mísseis de Cuba, os EUA tinham 23.000
ogivas face a 2.700 da União Soviética.
Conhecendo
bem melhor esta sua desvantagem do que os serviços de informações ocidentais, a
Rússia soviética dedicou-se durante toda a Guerra Fria, com a ajuda da rede
internacional comunista, a criar uma vasta organização de propaganda
pseudopacifista. Muitos intelectuais públicos, muitos artistas
famosos, de Jorge Amado até Pablo Picasso (que desenhou uma bela pomba para
servir de logotipo) associaram-se a sucessivos apelos à paz, culminando na
criação do chamado Conselho Mundial da Paz, em Paris, em 1949. Esta rede
continuou durante décadas a apelar ao desarmamento unilateral e sem
condições do Ocidente. Fazia sentido, nesta doutrina comunista
pseudopacifista, em que o bloco dito capitalista era intrinsecamente uma ameaça
à paz e o bloco soviético era por definição um defensor da paz! O slogan
que melhor caracteriza esse movimento (e até alguns pacifistas mais sinceros e
radicais) era: “better red than dead” – melhor sob o domínio “vermelho” da
União Soviética, do que arriscar fazer-lhe frente. Hoje voltamos
a ouvir o mesmo tipo de vozes a fazer o mesmo tipo de apelos. Não aprenderam
nada, o que é normal, o dogmatismo não é muito propício à aprendizagem.
Um risco sério deve ser
estrategicamente gerido
Claro que devemos levar a sério o risco de a Rússia recorrer a armas
nucleares. Mas isso não se faz cedendo ao pânico, seja ele da rua, de
colunistas ou de apelos interesseiros de filo-putinistas. Como bem
notou Constanze Stelzenmüller, da
Brookings – numa conferência recente organizada pela FLAD que tive o gosto de
moderar –, os mais altos responsáveis russos e muitos dos seus
propagandistas usam, cada vez mais, uma linguagem genocida em particular em
relação aos ucranianos, mas mesmo em relação a todos os europeus. Apesar
disso, a verdade é que Putin e a elite que o rodeia parece minimamente racional
e determinada a sobreviver para gozar os frutos de décadas de acumulação
cleptocrática. Não se vê como é
que alargar a guerra para atacar mais países, inclusive membros da NATO,
arriscando uma guerra nuclear total, serviria os interesses do Kremlin. Tal
como durante a Guerra Fria, não há nada pior do que o Ocidente mostrar fraqueza
ou temor. Sim, a Rússia tem armas nucleares. Por isso, os EUA e os países
europeus têm deixado muito claro que não irão intervir militarmente de forma
directa no conflito. Por isso, também – por causa do chapéu de
protecção dado pelo arsenal nuclear dos EUA, da França e da Grã-Bretanha – uma Rússia racional não deverá atacar
países da NATO por fornecerem armamento à Ucrânia, algo que aconteceu centenas
de vezes durante múltiplos conflitos da Guerra Fria sem que isso tivesse levado
a uma Terceira Guerra Mundial. Honremos os enormes riscos que os
ucranianos estão a correr, com grande coragem, empenhando-nos em ajudá-los a
continuar a defender-se, sem complacências, mas também sem pânicos.
ARMAMENTO
NUCLEAR DEFESA RÚSSIA MUNDO
COMENTÁRIOS:
Joaquim Ribeiro: O autor parece um propagandista
a soldo: martela os leitores com uma cassete de ideias pre-cozinhadas, que não
têm qualquer sustentação. Quanto à racionalidade dos actores, de um e do outro
lado, ela é a mesma que meteu o continente europeu em duas guerras
devastadoras. No que diz respeito à acumulação cleptocrática, a ideia aplica-se
igualmente, às elites políticas americanas. É claro que há uma
diferença importante: enquanto as russas se limitam, por ora, a depredar o seu
próprio território, as elites americanas saqueiam o mundo inteiro. Quanto
aos ditos agentes do PUTINISMO, o autor vê-se ao espelho. Finalmente, custa-me
OBSERVAR a orientação sectária do jornal no que à guerra diz respeito: há dois
dias, vi a Helena Matos defender a política da “UNIÃO SAGRADA” do Afonso
Costa !!! ENFIM ! Consta, por aí, que corre uma lista com as entidades e
personalidades que recebem ajuda ou propina do Estado Americano, via NATO. Não
sei se é verdadeira ou mais uma manobra de propaganda. Seja como for, a pergunta
é a seguinte: pretendem meter Portugal na guerra da Ucrânia? Em troca de
quê? Qual é o interesse nacional nesse disparate criminoso? Fernando
Fernandes: Muito boa análise
como sempre, mas que merece o desagrado dos nossos defensores da paz, os
estalinistas do PCP.
pedro dragone: O Kremlin tem sabido utilizar os seus agentes de
propaganda na media Ocidental para incutir na população e nalguns dirigentes
políticos o temor nuclear, com o intuito de induzir hesitação no apoio militar
à Ucrânia. Com frequência, vemos estes agentes referir o número de ogivas detidas
pela Rússia, na casa dos 6 milhares, como indicador de uma alegada supremacia
nuclear Russa sobre o Ocidente, ignorando que, num hipotético conflito nuclear,
após o lançamento de apenas algumas dezenas de ogivas por cada uma das partes
beligerantes já não sobraria ninguém em nenhuma das partes para lançar as
restantes ogivas disponíveis nos respectivos arsenais! Quer isto dizer
que o número de ogivas detido por cada lado não é o factor relevante a definir
a sua capacidade nuclear. Existem outros factores bem mais decisivos tais como
a capacidade de intercepção das ogivas do inimigo, ou a capacidade de fazer o
primeiro ataque - o que, por sua vez, depende essencialmente da eficácia dos
sistemas de inteligência, vigilância e decisão de cada um dos lados - e,
finalmente, também do alcance e precisão dos vectores de lançamento utilizados.
Ora em
qualquer destes factores existe uma clara supremacia Ocidental. E o Kremlin
sabe disso. Carregarem no botão vermelho só em acto suicida de loucura ou
desespero. E isso eles também sabem. E por isso não fazem. O nuclear apenas
lhes serve para alimentarem uma guerra de medos que tem como objectivo travar
ou paralisar o inimigo na guerra convencional em curso. E nessa guerra de medos
têm sido relativamente bem sucedidos... Liberales Semper Erexitque:
O risco
existe, nem a Ucrânia é o Afeganistão, nem a Rússia de lá sairá derrotada sem a
arrasar antes, recorrendo a todos os seus recursos militares (não é por um urso
ter a boca fechada que ele não tem dentes). E aí, o que fariam os Rambos? A
julgar por aquilo que dizem, atacariam a Rússia directamente. Seria o último
ataque que fariam. Henrique
Frazão: Parole, parole,
parole..... Francisco
Almeida: Um artigo lúcido
e bem documentado. Pessoalmente - mais achismo já sei - tenho mais receio de
uso nuclear por países doentes como a Coreia do Norte, instáveis como o
Paquistão, em conflito insanável como Israel-Irão, se insistirem em permitir ao
Irão desenvolver capacidade nuclear, do que num conflito EUA/NATO-Rússia. Mas
eu próprio reconheço que posso estar enganado. bento guerra: É simples,não queiram
experimentar Nuno
Filipe: Divulgar este artigo (e outros)
para desmascarar os defensores da Rússia 🇷🇺 que existem em Portugal 🇵🇹. Estes “defensores” se a Rússia
🇷🇺 invadisse Portugal 🇵🇹 recebiam-nos de braços e nádegas abertas. E o colaboracionismo aqui ainda
será pior do que em Vichy. Os comunas cá sao bons a abocanhar a riqueza dos
outros para eles próprios (redistribuição pelo proletariado como eles dizem) e
a distribuír a pobreza (neste aspecto já distribuem). SIM a Rússia hoje em dia
não é comunista, mas um regime ditactorial é um regime ditactorial chame-se o
que se quiser, e regime ditactorial é o que os comunistas querem. A Alemanha nazi foi derrotada,
os dirigentes que foram apanhados foram Julgados e enforcados e a população foi
desnazificada (muitos diziam que não sabiam o que se passava). A Rússia tem de
ser derrotada e os seus dirigentes apanhados, julgados e condenados. E tem de
existir uma desrussificação (poucos são os que se mostram contra o regime, mas
se começar a existir insurgência popular constante, talvez a mudança venha de
dentro).Dividam aquele país em vários porque é muito território para um só
país. E apoiem a Ucrânia. E em Portugal o problema não é o Chega ( e eu
não sou deste partido) em Portugal 🇵🇹 o problema tem sempre sido
a esquerda “defensora dos pobrezinhos” (NOT). A esquerda portuguesa é sim
defensora da pobreza intelectual e de espírito e da pobreza à mesa (pela
esquerda muitas vezes teríamos de comer serradura como na Coreia do Norte 🇰🇵 e se calhar para lá
caminhamos) se continuarem a dominar o país tipo cancro invasivo. Viva Portugal
🇵🇹. luis doria > Nuno Filipe: Para além da linguagem peculiar
e das bandeirinhas, o que você escreveu está correcto! Fernando Cascais: Como é que se dispara um míssil
nuclear? R: um homem carrega num botão, supostamente vermelho. Parece uma coisa
simples, todavia, dizem que os protocolos são burocráticos e que é necessário
ligar uma série de disjuntores antes de ligar o interruptor geral. Uma prevenção
contra um presidente maluco, que depois de chegar a casa e dar com a mulher
enrolada com o guarda-costas, se lembrasse de se matar e levar uns milhares com
ele. Bem, as coisas não são assim tão complicadas, se bem que Biden deve andar
sempre perto da mala atómica para em caso de emergência lançar os ditos cujos,
depois do processo de autorizações. E na Rússia com Putin, como será? Será que
o homem também obedece ao protocolo? Não, obviamente que não, e quem lhe quiser
impor regras sujeita-se a voar de uma janela de um 10º andar. Para Putin
disparar um míssil nuclear será sempre mais fácil do que para Biden, e, o
grande receio do Ocidente é esse mesmo, tudo está dependente do estado de alma
de Putin, e, o imprevisto é algo a ter em conta.
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