Sem tresler. Mais uma lição – desta vez de prática e definições – e condenações
de políticas económicas - com palavrões poderosos para melhor nos situarmos, na
questão económica. Aprender até morrer. Mas ficamos gratos ao Dr. Salles, por
estes ensinamentos, de orientação, com o seu sabor crítico específico, em texto
a que apôs o sacrossanto título das nossas devoções economicistas (menos eruditas,
contudo, basta-nos o estarem implícitas) - “GENUFLEXÓRIO” - no email recebido,
que nos traz à memória o “Malandrice!”
de Raul Solnado.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 21.02.23
Em complemento da definição anterior de transparência mercantil,
os
mercados ou são transparentes ou manipulados: transparentes quando o risco se distribui equitativamente pela
oferta e pela procura; manipulados por quem alija o risco.
Alija
o risco quem determina o preço ludibriando o confronto da oferta e da procura
condicionando a liberdade de licitação, o anonimato dos agentes e a publicidade
dos próprios preços. A criação de monopólios (um só
fornecedor), de monopsónios (um só comprador), de oligopólios (domínio do mercado por poucos grandes fornecedores),
de oligopsónios
(domínio do mercado por poucos grandes
compradores), enfim, da cartelização e da combinação de estratégias (e de
preços) são modos
limitadores/impeditivos da concorrência que obstam à transparência e carregam o
risco para uma banda em favor da outra.
Tudo isto, nos mercados à vista porque, nos mercados
de futuros, a coisa» pia mais fininho. Já lá iremos…
Historicamente, em traços
muito gerais, o mundo
rural sempre assentou no autoabastecimento
e nos intermediários para os excedentes. Grande primitivismo que
os poderes políticos tentaram remediar pela agremiação da oferta nos Grémios do
Estado Novo e nas cooperativas do pós-25.
E, para manter a serenidade de espírito, passo por cima dos verdadeiros
atentados de «lesa Nação» que se ensaiaram na
estrutura fundiária nacional com parcelamentos, emparcelamentos,
nacionalizações e não sei já que outras vilanias..
Até à nossa entrada para a CEE existiam os Organismos de Coordenação
Económica a quem competia dessazonalizar os preços. Com a adesão à CEE/UE,
passou a vigorar a Política Agrícola Comum. Contudo, houve outra medida de
política que raramente é assinalada, mas que teve um enorme impacto nos nossos
mercados domésticos e ela foi da iniciativa do então Primeiro Ministro Cavaco
Silva ao incentivar a
entrada em Portugal das chamadas Grandes
Superfícies. Teve o mérito de combater a inflação que então rondava
os 30% ao permitir a concorrência externa, mas esmagou a produção nacional de
cujos custos não cuidou. E assim se instalou o actual oligopsónio em que os preços são marcados fora de Portugal.
A
sério…???
(continua)
Fevereiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Nenhum comentário:
Postar um comentário