De amigos sinceros, a um Homem notável – João Salgueiro.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 18.02.23
O
Dr. João Salgueiro (1934-2023) é personalidade da maior estima por parte de
muitos de nós, economistas portugueses licenciados na segunda metade do séc.
XX.
Dispensa
apresentações.
Há,
contudo, uma faceta do seu percurso que não vejo referida nos obituários que já
li e à qual dou grande relevância: tutelando o então Secretariado
Técnico da Presidência do Conselho durante o Consulado do Professor Marcelo
Caetano, o Dr. João Salgueiro protagonizou, na governação económica e financeira,
a substituição de políticos de formação jurídica por economistas políticos.
Coincidência
ou não, Portugal atravessou então um período de fulgurante crescimento.
Tags: política
nacional
COMENTÁRIOS:
Anónimo 18.02.2023 21:14
Falando tu, Henrique, do Dr. João Salgueiro, é-me impossível nada
dizer. E esse é o problema: tendo tanto para dizer, não sei o que dizer.
Talvez afirmar (e disse a ele várias vezes) que lhe devo muito
profissionalmente, aprendi imenso com ele, foi um “pai” profissional para mim.
Como Homem Público, são conhecidas as suas posturas, a sua honestidade, a
profundidade dos seus raciocínios, a sua visão estratégica, a sua polivalência.
Cito três ou quatro factos menos conhecidos: foi assistente de Economia I
(Práticas) em Económicas, quando éramos caloiros (1963/64) e, em virtude da sua
passagem pelo Governo do Prof. Marcello Caetano, teve alguma dificuldade
profissional após 1974, de tal forma que se preparava para sair do País quando
o Dr. Artur Santos Silva, conhecedor da intenção, e ocupando o cargo de uma
Secretária de Estado do Ministério da Finanças (Tesouro), convenceu-o a ficar e
foi convidado para Presidente do Banco de Fomento Nacional, que aceitou, tendo
ingressado, nessa qualidade, em 1976, talvez, no mês de Março. Não é altura, nem eu serei o mais isento,
pelas razões acima evidenciadas, para fazer uma apreciação exaustiva do seu
papel. Devo, porém, dizer duas coisas: o prestígio que o Banco assumiu,
designadamente na ordem externa e o papel fulcral que teve no financiamento da
Economia muito se deveram a ele, às suas Equipas de Gestão e, obviamente, aos
Colaboradores. Talvez seja suficiente dizer que o Banco de Fomento, apesar de
não ter um passado internacional, passado pouco tempo da sua entrada, passou a
gerir linhas de crédito do Banco Europeu de Investimento, do Banco Mundial, do
KFW, do Creditanstalt (austríaco) e foi o primeiro Banco, após a Revolução de
1974, a ir ao mercado externo endividar-se, primeiro com garantia do Estado,
depois sem ela. Coube também ao Banco de Fomento gerir um Fundo feito pelos
Países da EFTA para financiar empresas a médio e longo prazos (foi nesse
contexto que, pela primeira vez, e com um sorriso, escrevi uma data do atual
milénio – 2002, termo do Fundo). Nessa data, o Fundo, após desempenhar a sua
função, foi extinto e o seu significativo património remanescente entregue ao
Estado Português, por decisão dos Países Contribuintes. Foi uma pena o Banco de Fomento ter
sido privatizado, e viu-se a falta que fez, de tal forma que, a duras penas, se
criou uma espécie de outro!... Embora na Caixa Geral de Depósitos
estivesse muito menos tempo do que no BFN/BFE, também aí deixou a sua marca positiva.
Como Presidente da APB nunca se deixou intimidar pelos vários poderes
políticos, e desempenhou as funções com o seu habitual equilíbrio, na defesa
dos interesses da Banca, claro, mas sempre se pautando pela razoabilidade e
pelo bom senso. Como Ministro das Finanças, num tempo extraordinariamente
difícil (1982), eu e uma grande empresa industrial, com muitos milhares de
trabalhadores, situada na cintura industrial de Lisboa, somos devedores ao Dr.
João Salgueiro e ao Eng. Ricardo Bayão Horta por haverem acreditado num projeto
que lhes apresentámos, impeditivo do fecho da empresa, e que muitos,
particularmente alguns especialistas industriais, diziam que seria impossível
de cumprir. Foi cumprido e até mereceu honra de bibliografia. Abraço amigo.
Carlos
Traguelho
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