Para as realizações necessárias. É a
tese do relato económico do Dr. Salles da
Fonseca, como sempre orientado num sentido construtivo, desta
vez não atravessado pelo sentido de humor, mas antes por um pensamento
necessariamente sombrio, de destituído de fé nas tais “PERFORMANCES”.
PORTUGAL -
«PERFORMANCES» 2022
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 01.02.23
Em
2022, o PIB a preços constantes teve uma variação positiva de 6,7% e a inflação
foi de 7,8% pelo que o PIB a preços variáveis cresceu 14,5%
Dá para podermos imaginar o
que poderia ter sido o crescimento…
… se não tivéssemos ainda
uma vergonhosa taxa de analfabetismo de 3,1% e se TODA a
população em idade activa tivesse, pelo menos, o ensino obrigatório;
… se os nossos mercados fossem
transparentes com os preços a resultarem do confronto anónimo entre a
oferta e a procura em vez de estarem condicionados por um oligopsónio
(nomeadamente nos agrícolas e agrícolas transformados) nem a distorções
institucionais (pescas);
… se a iniciativa empresarial não fosse encarada com
desconfiança e amiúde alcunhada de ganância nem os lucros
… tivessem sido inculcados
como diabólicos nas mentes populares;
… se as condicionantes legais
e burocráticas à iniciativa privada não fossem tantas;
… se a carga fiscal não fosse
asfixiante;
… se, como informa a
comunicação social, não houvesse tanta «volatilidade» na gestão da «coisa»
pública…
… poderíamos ser o que não somos.
Fevereiro de 2023
Henrique Salles da Fonseca
Tags: economia
portuguesa
COMENTÁRIOS:
Anónimo 01.02.2023 15:13: Não me
sentiria bem comigo próprio, se não fizesse algum comentário a este teu post,
por também ser economista, pese embora não seja macroeconomista, nem frequente
ágoras onde estas matérias são discutidas. A pandemia, a idade e a saúde
afastaram-se desses fóruns e o meu último acto, vê lá bem tu, foi cancelar, com
efeitos do início deste ano, a minha inscrição na Ordem dos Economistas, eu que
pertencera à Associação dos Economistas, precursora da Ordem. Portanto, tens
que me relevar se, involuntariamente, cometer algum erro de análise. Começo por lembrar que esta é uma das matérias que,
habitualmente, serve de arremesso na luta partidária. Os opositores tendem a realçar os aspectos menos
positivos ou mesmo negativos e a esbater os positivos, enquanto os
“situacionistas” fazem o simétrico. Não vou, obviamente, por aí.
Subscrevendo o que escreveste, Henrique, acrescentarei
alguma coisa mais com base na informação disponível na internet, no “Diário de
Notícias” (Lusa, 31/1/2023). Antes de
mais, falta-me informação do que aconteceu com os Países europeus com os quais
nós nos comparamos (não é, certamente, com a Alemanha). Sabemos que em 2020
tivemos uma queda do PIB de 8,3%, um acréscimo de 5,5% em 2021 e agora um novo
aumento de 6,7%, ou seja, conseguimos recuperar e, finalmente, ultrapassar o
PIB de 2019. Muito bem e é de aplaudir o crescimento do ano transacto (a evidenciação, por alguns, que se ficou uma décima
abaixo do previsto pelo Governo é ridícula). Mas como nos comparamos com o ritmo de recuperação dos tais
países do Leste e com Espanha, por exemplo?
Não tenho informação. Vejamos agora um
pouco mais ao pormenor como crescemos em 2022. Segundo a notícia, o INE informou que tinha havido um
contributo expressivo da procura interna, verificando-se uma aceleração do
consumo privado e um abrandamento do investimento. Pois eu gostaria mais que o
investimento tivesse tido um papel mais relevante no crescimento. Mas aplaudo o contributo da procura externa líquida.
Foi, felizmente, positiva (mais exportações do que importações), ao contrário do se registara em 2021. Façamos agora o zoom sobre o 4º
trimestre. Ele é
importante pois assinala a última tendência. Comparando o crescimento do PIB nesse período com o de
igual período em 2021, temos 3,1%, enquanto análoga comparação relativa ao 3º
trimestre tinha sido de 4,9%, o que revela uma desaceleração. Se se
comparar o crescimento em cadeia, isto é, o 4º trimestre com o terceiro de
2022, temos apenas 0,2% (o crescimento do 3º com o 2º trimestre desse mesmo
ano havia sido de 0,4%. Mais uma desaceleração). Para além disso, há também
aqui um outro alerta: o contributo da procura externa líquida foi ligeiramente
negativo para o mencionado crescimento de 0,2% Prosseguindo a análise do 4º trimestre de 2022 com o de 2021,
conclui-se, ainda segundo a notícia, que: (i) houve desaceleração do
investimento; (ii) o contributo positivo da procura externa líquida também
diminuiu, tendo as exportações de bens e serviços desacelerado mais
intensamente do que as importações. Portanto,
Henrique, em termos absolutos há que aplaudir, embora a tendência no final do
ano não tenha sido tão entusiasmante do que foi ao longo de todo o ano. Como nos comportámos em relação aos parceiros
europeus, particularmente aos tais com que nos comparamos, não o sei. Abraço amigo. Carlos
Traguelho
Francisco G. de Amorim 01.02.2023
19:35: If,,, Rudiard Kipling !!!
APM 01.02.2023 20:07: Pois é!
A. Pinho Cardão 01.02.2023 21:13: Um post do Salles da
Fonseca que espelha bem alguns dos entraves ao crescimento da economia: o
condicionamento industrial burocrático que temos, entraves à concorrência,
desde logo pela protecção a empresas inviáveis, diabolização da ideia de lucro,
etc, etc. Já a taxa de analfabetismo não me parece relevante actualmente:
as pessoas analfabetas já estão envelhecidas e, pela lei da vida, pouco já
contam na actividade econoómica. Aliás, acompanho o Antonio Barreto quando diz,
e eu também penso, que é o crescimento económico que condiciona a educação e
não o contrário. O comentário do Carlos Traguelho é ele uma pérola de
análise, já que vai para além da primeira imagem e procura o detalhe. O élan da recuperação económica está a desvanecer-se.
Aliás, mantendo-se os condicionalismo de
que fala o autor do post, o contrário é que seria de admirar!
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