sábado, 16 de março de 2024

Pois

 

Um descritivo como sempre gerido com nobre intelectualidade que a ninguém perdoa os truques da nossa pequenez temerosa e assaloiada, quando não pedante, ou falsamente decente, de que os da AD, por ser a mais responsável neste momento, definem bem o que reputo de preguiça ou cobardia, que não vão salvar a nação que tanto precisa de salvação e de gente capaz para isso. Um agradecimento do coração a AG, que os descreve a todos, com saber - sem picardia, contudo, que só merecemos palmatoadas.

A direita do Chega arrisca ser a que sobra

De acordo com Sua Sumidade, os resultados foram claros: ganhou a esquerda, já que teve mais votos e mandatos que o centro-direita e a extrema-direita separados.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 16 mar. 2024, 00:2010

O dr. Tavares é uma inteligência. Um dia caiu-lhe uma maçã na cabeça e no interior desta germinou a tese dos três blocos. Quer dizer, o dr. Tavares apenas lhe deu o nome, se tanto. O resto ficou a cargo dos “media”, que por insondáveis motivos acham graça ao personagem e resolveram atribuir-lhe a autoria de um truque obviamente inventado, ou no mínimo popularizado, há anos pelo dr. Costa e adoptado pela esquerda em peso e pela parte da “direita” que se julga virtuosa.

O truque – perdão, a tese –, é o seguinte. Existe a extrema-direita, que é o Chega, o centro-direita, composto por PSD e IL, e a esquerda, que agrupa a rapaziada remanescente. A esquerda, que mistura o PS com os “franchises” locais de Putin, Lula, Maduro e do Hamas, é o único conjunto de forças verdadeiramente democráticas e pode fazer o que lhe apetecer, incluindo, se necessário, acordos escritos com os canibais do Haiti. O centro-direita não pode fazer nada, excepto sonhar com a consideração de uma esquerda que lhe dedica sistemático asco. E a extrema-direita não entra nas contas.

Quem entra destravado pelas contas é o dr. Tavares, a explicar aos leigos os resultados eleitorais que os leigos, coitados, pensavam ter influenciado e percebido. De acordo com Sua Sumidade, os resultados foram claros: ganhou a esquerda, já que teve mais votos e mandatos que o centro-direita e a extrema-direita separados. A separação é fundamental a todo o edifício teórico, dado ser preciso que os primeiros dois blocos não se juntem para que o terceiro seja justamente consagrado vencedor. Alguns leigos, casmurros, talvez perguntem porque é que a esquerda, ainda que venere “Che” Guevara e conviva com ex-Stasi, nunca é “extrema” e nunca se sujeita às restrições morais que impõe à direita. Ora essa: porque o dr. Costa, o dr. Tavares e a esquerda em peso assim o decretaram, e a “direita”, ou a parte “virtuosa” da “direita”, aceitou toda contente o decreto.

Um estrangeiro, um ermita ou qualquer indivíduo pouco familiarizado com o estado a que desceu a política caseira lê o acima descrito e imagina tratar-se de brincadeira. Não, senhor. Por incrível que pareça, o dr. Tavares é real. A conversa dos três blocos anda por aí. E há gente à “direita” que admite, e aplaude, tudo. Ou seja, no passado Domingo, a esquerda foi arrasada nas urnas de maneira quase inédita e, apesar das recusas dos chefes de PS e do BE em aderir ao delírio, o dr. Tavares continua a tentar convencer-nos do contrário. E o extraordinário é que o ouvem Detesto analogias futebolísticas, mas é como se a equipa goleada quisesse levar a taça sob o argumento de que o adversário não podia ter jogadores com nomes começados por “C” – e os painéis da especialidade debatessem a pertinência do tema dias a fio. Vendo bem, é pior que isso..

Surrealismo de lado, os partidos não socialistas, ou menos socialistas que o PS, conseguiram a 10 de Março uma vasta maioria parlamentar. É uma oportunidade rara, que, sujeitos às respectivas consequências, aproveitam ou desperdiçam. Ao invés do que finge a brigada das “linhas vermelhas”, o problema do “não é não” jamais passou pela mera, e parcialmente inevitável, rejeição do Chega, e sim pelo fervor com que a rejeição do Chega desviou o PSD (e a IL) da rejeição do socialismo. Na mesma linha (de cor facultativa), a alternativa ao “não é não” não implica puxar o Chega para o governo, com as pastas da Administração Interna, da Defesa e da Justiça. Não faltam tons intermédios na gestão das coisas, possíveis através de negociações, cedências, expectativas, dependências, medos, bluffs e chantagens, afinal a matéria da política. O que não é possível, ou não devia ser, é permitir que escrúpulos postiços devolvam em breve o poder ao PS e seu actual séquito de leninistas. Os leninistas não têm escrúpulos.

E receio que certa direita não tenha juízo. Após se constatar o sensacional fiasco da “cerca sanitária”, dois ou três dos iniciais adeptos da estratégia reconheceram o erro, uns tantos continuam calados e muitos, à semelhança dos sábios que vão contra um poste até que o poste se queixe, insistem em demonstrar a sua razão. A demonstração é que não é fabulosa: consiste em exibir provas de que os dirigentes do Chega, os deputados do Chega e os votantes do Chega são, cito, “grunhos”, presume-se que por comparação com os vultos intelectuais que votaram no dr. Tavares, na dra. Mariana e no dr. Pedro Nuno, eles próprios monumentos à sofisticação. E em simultâneo fala-se de “princípios”, os exactos princípios que impelem a brigada das “linhas vermelhas” a preferir o radicalismo da esquerda mais selvagem a sequer acolher uns palpites de uma “extrema-direita” cujo maior desvario são as exalações “sociais” e estatistas.

Pendurado na fragilidade do tipo de governo que ameaça escolher liderar, o dr. Montenegro vai distribuir brindes pelo povo, na esperança de que os brindes comprem a aprovação da esquerda. Não compram. Com jeito, garantem o enterro da direita. Menos a direita do Chega, que arrisca ser a que sobra.

COMENTÁRIOS (de 10)

José Paulo Castro: A teoria do Dr. Tavares é tão simples como as seguintes regras: 1) "Os mandatos do Chega na assembleia são anulados, não contam para nada. " 2) "Na sub-assembleia da República assim constituída, com apenas 182 deputados, a esquerda terá maioria e o PSD e a IL ficam na oposição." Ah, o democrata! E democrata representativo... do tipo que evolui de "cada cidadão, um voto" para "por cada cidadão, eu voto".

Maria Paula Silva: A direita do Chega arrisca-se a ser a única que sobra e que vai crescer. Podem agradecer a todos os outros. E quanto às analogias futebolísticas  que também detesto, até porque metade delas nem as percebo porque o que detesto mesmo é o futebol,  parece-me que nos últimos anos a política exercida se parece cada vez mais com o futebol.  E é tudo muito medíocre, desde os jogadores aos jogos escabrosos. Entretanto,   o piroso do psd ou ad (ou seja lá o que isso for) com vergonha de não ser de esquerda vai descambar até estar completamente fundido ou aglutinado pelo ps. O Chega agradece. É para lá que vão todos os descontentes e os que se sentirem traídos. Montenegro está a arranjar um karma desgraçado.

 

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