sábado, 21 de maio de 2022

Pinceladas


De pensamentos corteses que nos fazem meditar. Infelizmente, na impotência de um mundo destinado a ruir, sem soluções à vista. Mas ainda bem que as sentenças – não moralistas, mas razoavelmente indignadas – nos vão dando para meditar… Meditemos. Ou, se formos crentes, oremus.

 

PONTOS DE VISTA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 21.05.22

«O bem-estar das pessoas e o número de baixas humanas nesta guerra são a última preocupação dos políticos russos.»

«As sucessivas e antagónicas interpretações da História pelos políticos russos levaram à construção da piada que diz que “a História russa é… imprevisível”.»

José Milhazes em entrevista ao «OBSERVADOR» algures em Março de 2022 (as transcrições podem não estar “ipsis verbis”).

* * *

Entendamos por Estado o conjunto formado pelas estruturas políticas de um país, pela respectiva Administração Pública (incluindo o Poder Judicial bem como Empresas e Serviços Autónomos) e pelas Forças Armadas.

No Mundo Livre, o Estado serve os interesses das pessoas; nos países eufemisticamente chamados socialistas, as pessoas servem os interesses do Estado.

No Mundo Livre, a pessoa é o elemento central da sociedade e destinatária dos conceitos de bem-comum periodicamente submetidos a referendo universal; nos países “socialistas” (comunistas) e dessa tradição (Rússia e China), o Estado é a figura central da vida nacional e é chefiado por um autocrata que se faz rodear das maiores cautelas no que respeite à sua segurança pessoal – esta, sim, é a única pessoa que interessa, todas as outras são instrumentos.

No Mundo Livre, a vida humana é o Valor supremo; nas autocracias “socialistas” ou de sua origem, a vida humana é descartável.

* * *

Na Rússia destes meados de 2022, Putin é a única pessoa, tudo o mais é instrumentália e ele pode mexer na História a seu bel-prazer.

Pontos de vista?

Não! Prevalência ou ausência de Valores.

Dá para perguntar o que anda a Igreja Ortodoxa Russa a fazer. Temo que ande a «bater a bola baixinho» e o Metropolita de Moscovo a ver se escapa ileso. Valores? Sim, mas…

Lisboa, 21 de Maio de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags: política

COMENTÁRIOS:

Miguel Magalhaes 21.05.202211:23: Henrique: Análise rigorosa. Quando questionado o papel que a Igreja Ortodoxa poderia ter na procura de solução pacífica do conflito, eu respondo: ela estar "amarrada" a Putin. Quem visita as bonitas igrejas e basílicas em S Petersburgo, e ouve da boca do guia turístico " que há 10 a 20 anos atrás estavam ao abandono ou serviam de armazéns...", percebe o trabalho de Putin na ressurreição da Igreja. Porque depois da morte do comunismo só a Igreja podia ser o porta-voz dos sagrados valores da "Mãe Rússia".

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Francisco G. de Amorim: 21.05.2022 12:31: E o mundo inteiro a atacar o Bolsonaro, oposicionista 100% da esquerdalha.

Anónimo 21.05.2022  7:45: Caríssimo Henrique, Devo estar a repetir-me, mas é tão bom ler a clareza do que esceve e a sua coerência, de quem tem uma muito boa cabeça pensante, alheia aos cata-ventos que enxameiam a nossa "sociedade", que só posso dixer QUE NUNCA AS MÃOS LHE DOAM! Grande abraço do muito amigo e admirador António Alves-Caetano        A BEM DA NAÇÃO!, que é coisa que esta gentalha não pode desejar.

 

Adriano Miranda Lima1.05.2022  23:21: Sr. Dr. Salles da Fonseca, este seu ponto de vista é inteiramente partilhado por todos os seres humanos que o são de verdade. Ser-se um homem de igreja, como o Metropolita de Moscovo, não quer dizer que se seja um homem de verdade, porque de contrário ele não se vestiria de seda fina e ricos adornos para transmitir o que supõe ser a palavra de deus enquanto cauciona moralmente a morte e destruição de milhares de seres humanos. Portanto, ele não será muito diferente da criatura (Putin) que assiste reverentemente às suas prédicas enquanto arquitecta e instrumentaliza o mal. Stalin, ao menos, mantinha a sua consciência em linha de coerência com a malignidade da sua prática: aboliu a religião, evitou servir-se dela. A religião era ele. E Putin só não o diz claramente porque julga que se semear a dúvida (religiosa) entre o povo ingénuo, lhe dará ganhos de popularidade. E parece que está a resultar, a avaliar pelas sondagens de opinião que têm sido noticiadas, embora talvez manipuladas. Mas até quando? Portanto, esses dois e toda a sua corte de acólitos só se preocupam com as suas pessoas, como diz o Dr. Salles da Fonseca. O que é intrigante é a sua miserável e insignificante visão do mundo, concebendo-o como se nada mais houvesse para além das suas pessoas. Não parecem aperceber-se da fugacidade do tempo na sua difusa relação com o mundo, o seu porvir e o seu destino. Pensam que as razões do suposto estado imperial em nome do qual abdicam de toda a humanidade não é coisa transitória e extinguível como todo o fenómeno da natureza. A única coisa que lhes poderá sobreviver é a memória futura da tragédia infligida à criatura humana. Por isso é que a triste memória do Holodomor e dos campos de extermínio de Stalin e Hitler vai ficar para sempre. Os sonhos de grandeza, as vaidades e as presunções só serão lembrados enquanto instrumentos que foram do mal causado à humanidade. Como bem diz, “no mundo livre, a pessoa é o elemento central da sociedade e destinatária dos conceitos de bem-comum periodicamente submetidos a referendo”. Daqui se pode inferir que, mais do que a sociedade, a pessoa é o elemento central do mundo, pelo que se o homem não vive em liberdade então não vale a pena a sua existência. A arte de organizar o Estado é consegui-lo sem violentar e destruir o homem, ao contrário do que conseguiram certos credos políticos. Mas se o conceito de liberdade é o que nos permite amar a vida e prezar a condição humana, cultivar e valorizar sentimentos como o amor ao próximo e a compaixão é que consubstanciam a verdadeira doutrina da condição humana. Tudo o resto é acessório, pese a simplificação. Mas o que não é susceptível de simplificação e de ressalva na memória colectiva é a destruição e morte semeadas na Ucrânia por Putin com a bênção do Metropolita de Moscovo. Um abraço, Dr. Salles da Fonseca.



 

 

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