quinta-feira, 5 de maio de 2022

Razões matemáticas

 

- “Necessárias e suficientes” - para deslindar as actuações quer do PC quer de outros muitos – entre os demais partidos, e especialmente o de António Costa – face à actuação do ditador russo no presente contexto de razia étnica: é o que nos apresenta a excelente crónica de Rui Ramos.

Porque é que o PCP não condena Putin?

Muita gente tem interesse em não ver o que o PCP é. É essa impunidade que alimenta a sua ousadia: por mais que pactue com Putin, nunca será demonizado como o Chega, que até condenou Putin.

RUI RAMOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 29 abr 2022

Há uma coisa que toda a gente percebe: quando o PCP, em vez de condenar a Rússia, condena genericamente a “guerra”, está a alinhar com a Rússia, porque numa guerra em que há um agressor, tudo o que seja fingir imparcialidade, não é prudência, mas apoio a quem começou a guerra. Mas há outra coisa que nem toda a gente percebe: porque é que o PCP se expõe a tanta abjecção por causa da Rússia? No tempo da União Soviética, ainda se percebia: era o clubismo comunista. Mas Putin não é comunista. “Continuo a não perceber”, confessava ontem a ministra Ana Catarina Mendes.

Mas nem é necessário suspeitar de dependências secretas da Rússia para perceber o PCP. Basta ter em conta o que o PCP quer ser. O PCP quer ser um partido que ocupa posições e tem poder nesta democracia: quer ter deputados, câmaras municipais, sindicatos, etc. Mas o PCP não quer reconhecer que os fundamentos da actual democracia — o pluralismo partidário, o Estado de direito ou a economia de mercado — têm tanto valor em si próprios, que nenhum objectivo político é válido se os colocar em causa. Para o PCP, o “comunismo” está acima do pluralismo partidário, do Estado de direito e, claro, da economia de mercado. O PCP é, como Álvaro Cunhal fazia questão de lembrar, “um partido revolucionário”: um partido que disputa eleições legalmente, mas cuja razão de ser é a revolução, isto é, a destruição do “capitalismo”. O PCP sabe que não está próximo desse dia. Mas nem por isso quer deixar de ser revolucionário. Putin, seja qual for a sua filosofia, contesta a ordem mundial que impede revoluções como as que o PCP deseja. Estar com Putin, que não é comunista, pode parecer contraditório. Mas estar contra Putin seria estar com quem não deixa a revolução comunista acontecer, e isso seria ainda mais contraditório.

Não é um suicídio? Não necessariamente. O PCP perdeu, entre as eleições de 2015 e de 2022, metade do seu eleitorado. Há quem argumente que perdeu votos por ter deixado de sustentar o governo socialista. Mas a maior queda eleitoral ocorreu entre 2015 e 2019, enquanto foi fiel ao PS. É provável que os comunistas acreditem que o afastamento dos seus eleitores tenha sido causado, não pela retirada de apoio ao PS, mas pelo apoio ao PS, na medida em que terá identificado o PCP com causas que os socialistas podem representar de um modo mais efectivo, tornando o PCP dispensável. Estar com a Rússia, quando os outros partidos parecem estar com a Ucrânia, é mostrar que há coisas de que só o PCP é capaz. Dir-me-ão: sim, mas são coisas que tornam o PCP inelegível. Têm a certeza? Na primeira volta das presidenciais francesas, Le Pen, Mélenchon e Zemmour, todos com um passado de aplauso a Putin, reuniram 52,3% dos votos. O fundo de revolta e de iconoclastia que, no Ocidente, suscita votos contra o “sistema”, não está exausto. É óbvio que o PCP calcula que vale a pena sujeitar-se às invectivas gerais para explorar esse fundo. Há gente escandalizada com isso? Mas essa gente votaria PCP se, por acaso, o PCP excomungasse Putin?

Para perceber os comunistas, há finalmente este aspecto a considerar: a quantidade de gente que pergunta: como é possível o PCP agarrar-se ao ditador Putin? Ana Catarina Mendes confessa-se “absolutamente perplexa”. Mas a perplexidade que neste caso faz sentido é outra: como é possível alguém ainda esperar que o PCP optasse, em qualquer conflito, pelo lado onde está o “imperialismo americano”? Como é possível que, perante a fidelidade do PCP à memória da ditadura soviética e às ditaduras de Cuba ou da Coreia do Norte, ainda haja pessoas que acreditem que a decência impediria o PCP de condenar a NATO em vez de Putin? O PCP pode ser o que é porque demasiada gente tem interesse em não ver o que o PCP é. Essa impunidade alimenta a sua ousadia: por mais que pactue com Putin, sabe que nunca será demonizado como o Chega, que até condenou o ditador russo. Em 1975, Mário Soares resistiu à instalação de um regime militar sob influência comunista. Mas entre 2015 e 2021, o PS governou arrimado ao PCP. Conveio então dizer que era um partido como os outros. Não era nem é. E quem quis perceber isso não precisou da guerra da Ucrânia. Aos que não quiseram perceber é que talvez dê jeito agora fazer de perplexos.

GUERRA NA UCRÂNIA  UCRÂNIA  EUROPA  MUNDO   PCP  POLÍTICA  VLADIMIR PUTIN  RÚSSIA

COMENTÁRIOS:

Jorge Tavares: Este artigo desmonta e arrasa completamente a "argumentação" do troll de serviço, que é tão fiel à verdade quanto Vladimir Putin.           Freddy G: Porque é que havia de condenar? Melhor, porque é que havia de centrar o discurso na crítica, já que se ainda sei ler as opiniões dos próprios, não apoiaram o apoiaram, e esquecer, como fazem os bons à maneira dos cheganos, que um conflito surge porque duas ou mais vontades em conflito podem escalar até aí e que o belicismo não é via para a paz. O cálculo racional da estratégia é uma coisa -consegue tornar menos violentas as guerras - enquanto o belicismo é uma espécie de chafurdar porcino na miséria humana.      Mariana Silva: Está na hora de limpar a AR e manter os partidos verdadeiramente democráticos. O PCP não é um deles.             Ah Pois: Para mim é óbvio, o que induz em erro na apreciação é a palavra "Putin". O PCP não apoia Putin, o PCP apoia a Rússia o que é totalmente diferente. Putin é um obstáculo ao PCP, mas a invasão é apoiada pelo segundo maior partido da Rússia, que é o Partido Comunista da Rússia. Portanto, todos os partidos europeus de extrema-esquerda apoiam a Rússia. Alguns podem pedir para acabar com a guerra, pedir para apoiar os refugiados, ou outras nuances, mas nenhum condena a Rússia. O resultado desta guerra, caso a Rússia ganhe, poderá levar a um reforço do movimento comunista internacional. Não por culpa de Putin, que é anti-comunista e sempre quis a integração com o Ocidente. Mas por culpa do próprio Ocidente. Se a Rússia perder, podemos não estar cá para contar como foi.            Vasquez da Gama > Ah Pois: Os comunistas apoiam a antiga URSS e pensam que a Russia também. O que não perceberam é que o comunismo está hoje a lutar pelo seu futuro na Ucrania. Eles estão com os globalistas da NU e OMS, etc a apoiar a Ucrania! E vão perder. P.S. O Putin vai dar cabo desses comunas.               Geiger Dieter: O PCP não condena Putin porque depende dos dinheiros que ele lhes manda. Putin é o benfeitor do PCP.          Freddy G > Geiger Dieter: Gostava, já que o afirma com grande certeza, que apresentasse indícios consistentes e fizesse queixa junto do MP. Penso que é proibido financiamento estrangeiro aos partidos.           João Alves: A perplexidade de Ana Catarina Mendes após seis anos de convívio íntimo com o PCP é pura hipocrisia. E tanto assim é que António Costa e demais colegas presentes na AR, entre os quais, penso, a sobredita perplexa, se recusaram a aplaudir o discurso de Zelensky, para não desagradar ao futuro dirigente da Eurásia (do Norte), de Lisboa a Vladivostok, (Ras)Putine. Talvez que António Costa aspire a um lugar de liderança numa futura UE integrada nesse espaço geoestratégico, a fim de lhe conferir um certo tom euro-asiático.            pedro santos > João Alves: Pondo de parte as hipóteses improváveis de ser por ignorância ou até por ingenuidade, também tenho para mim que só pode ser pura hipocrisia, assim como a de outra "perplexa" deputada, Isabel Moreira. Mas o não terem aplaudido o discurso de Zelensky foi por uma mera questão de protocolo: os membros do governo nunca aplaudem os discursos proferidos por entidades estrangeiras no parlamento. De resto, por muito que se desgoste do governo, e é o meu caso, nesta matéria, o apoio de Portugal à Ucrânica tem sido inequívoco.         João Alves > pedro santos: Todavia, era uma reunião extraordinária da AR numa ocasião especial, em que todos os presentes se levantaram e aplaudiram, nomeadamente o PR e os que estavam nas galerias, com violação do protocolo e sem que o Presidente da AR interviesse para repor a ordem. Inequívoco, inequívoco, mas com algumas restrições.           pedro santos > João Alves: Sim, o que diz tem razão de ser, não viria mal ao mundo por isso se o tivessem feito. Só entendi dever expor o que vi na televisão como razão para não terem aplaudido o discurso de Zelensky, por sinal, fraquinho, mas isso são já outras contas...           J Sm: Rui Ramos lamento dizer duas coisas que um historiador deveria saber - o PCP não condena Putin porque não pode apoiar a NATO e a sua política imperialista; a segunda coisa que por certo lhe escapou é que existe uma guerra civil há oito anos.            Manuel Cabral > J Sm: De que «guerra civil» está a falar? «Oito anos»? Quer dizer que a Rússia e a Ucrânia estão em «guerra civil» desde 2014? Uma «guerra civil»? Isso é o que diz o Putin e a sua corja de ditadores treinados desde o tempo do KGB... Mas há mais de 100 anos que a Ucrânia lutava para ser independente e já então foi esmagada pela Rússia na altura de Lenine e mais tarde de novo esmagada por Estaline! Quanto ao PCP, «não pode apoiar a NATO» e o imperialismo norte-amnericano? Coitadinho: se não pode, arreie!           Vasquez da Gama > Manuel Cabral: Há mais de 100 anos que a Ucrânia luta por quê? A Ucrânia não existe há 100 anos existe desde 1990 e foi criada contra a vontade da Rússia.            António Afonso: Resumindo: O PC não é nem nunca foi um partido democrático. Apenas usa a democracia para a tentar destruir. Quem não sabe isto ao fim de tantos anos só pode ser ignorante!            Cisca Impllit: Atavismo e fascínio pelo imperialismo soviético, é o que é! E o comunismo sempre foi uma dinheirama para um restrito conjunto que vivem como nababos, depois há os que fazem número, meio remediados, e os que vivem bem mal! Atavismos!           Patricio Guerreiro: As guerras também contêm pontos positivos, um deles saído desta Guerra da Ucrânia é o PCP ter sido claramente exposto aos olhos dos Eleitores como o Partido Antidemocrático que sempre foi. Só combateu a ditadura Salazarista para a substituir por uma de cariz Estalinista. Estes são os factos que estão em cima da mesa!         Ana Paula Cabrita > Patricio Guerreiro: Como todos os outros. Nunca existiu democracia em Portugal. Os cleptocratas portugueses não são melhores nem piores que os "outros".           Rott Caputo > Patricio Guerreiro: E quebrar as colônias com umas independências selectivas, lançando-as para uma miséria que perdura até os dias de hoje        Nuno A: Fernando Martins do Vale disse tudo. Não há ilógica. Há sobrevivência material, são as fontes de financiamento que esclareceriam num segundo as atitudes do PcP e do Trump              Zé Cunha > Nuno A: E que tem a ver o Trump com este jurássico park pcp? Era bem melhor começar por todas as fontes de financiamento de tds os políticos corruptos e seus partidos. O Trump é um bem sucedido homem de negócios. Bilionário! O que não invalida que não seja corrupto também…               antonio rodrigues > Utilizador Removido: Caro sr. Na França a sra. Le Pen não votou comunista mas até gosta de Putin
Calcule que até contraiu um um empréstimo volumoso para a sua campanha a um banco russo ligado à oligarquia ""Putinista"
Na Itália Salvini não votou comunista mas até gosta de Putin a ponto de ter sido vaiado na Polónia pois o presidente da Câmara onde estava mostrou uma foto com o sr.Salvini vestido com uma camisola com a foto do sr. Putin (em itália). O sr. tem na Europa milhões de adeptos do sr. Putin e todos odeiam a esquerda comunista ou equivalente ao Bloco. Podemos expressar opiniões diversas. Ao contrário da Federação Russa da Bielorússia Cuba Coreia do Norte China e dos pobres Países ex colónias portuguesas que tiveram dirigentes formados na ex união soviética que falam russo e têm explorado os povos com uma eficácia semelhante à ""putinista"" e os países da América Latina que tiveram guerrilhas comunistas e ditaduras fingindo não ser comunistas           Joaquim Moreira: Apesar de compreender os argumentos de Rui Ramos, não sei se são estas as razões por que o PCP não condena Putin. Mas concordo inteiramente com este ponto da situação: (...) entre 2015 e 2021, o PS governou arrimado ao PCP. Conveio então dizer que era um partido como os outros. Não era nem é. E quem quis perceber isso não precisou da guerra da Ucrânia. Aos que não quiseram perceber é que talvez dê jeito agora fazer de perplexos. Este o argumento que tem a minha compreensão! O PS é o único culpado, por ter sido apoiado, pelo partido que sempre foi contra o mundo civilizado. Que, como os países da NATO e da União Europeia, são democracias e não ditaduras nem autocracias!           Da Grreite Rizete: O PCP é o... PCP! Não muda e nesse sentido é coerente. Deve-se condenar Putin e aí temos por aqui uns “democratas” que mantêm um olho aberto para escrutinar o regime russo. Porém, quando se trata da Ucrânia, o outro olho já fica fechado. Fingem não ver que, na “democracia” ucraniana afasta-se o PGR a “pedido” do então VP dos EUA Joe “10% to the Big Guy” Biden, o que só prova que lá não existe Estado de Direito nem separação de poderes. Por outro lado também não querem ver que a Ucrânia é o único país “democrático” do Mundo que permite a existência de grupos neonazis no seio das suas forças militares, os quais não hesitam em ignorar a Convenção de Genebra no que toca a prisioneiros de guerra e em utilizar civis como “escudos humanos” ou cometer sobre estes todo o tipo de atrocidades e sevícias.            antonio rodrigues > Da Grreite Rizete: Eleições na Rússia ah ah ah, Putin já foi Presidente primeiro ministro e Presidente e pode alternar indefinidamente até ir para junto dos que o seu poder já matou em Londres na Chechénia na Síria. Recentemente morreram 6 oligarcas da mesma maneira. O que a sra designa como neonazis é um pouco como os neoliberais o que são?? no caso que refere tiveram poucos votos e não elegeram um único deputado nós não admitimos Partido Nazi mas teriam alguns milhares de votos e daí??        Paulo Silva > Utilizador Removido: A Ucrânia já foi um capacho de Moscovo, e o sr. Putin gostaria que assim continuasse, mas hoje é um Estado soberano e faz as alianças com quem bem entender. O que o sr. diz é que os EUA também podem invadir Cuba ou a Venezuela, é isso?!... É sem nexo a comparação que fez, como sem nexo foi a sua resposta. Ficamos mesmo é sem saber como reagiria se os EUA aplicassem a Cuba o mesmo tratamento que o sr. Putin aplica à Ucrânia… Se eu fosse inteligente deduziria que ia anuir… porque, lá está, é como diz, às portas de uma potência bola baixa. Mas como sou burro sei que ficaria inconsolável... Claro que o mundo já mudou, mas quando interessa vai-se ao passado, não é assim? Não sei em que mundo vive o sr. Cesário, mas em Cuba não há misseis a voar pelos céus, sirenes a tocar a toda a hora, milhões de deslocados, cidades arrasadas, aldeias destruídas, massacres, violações de mulheres, idosos e crianças, execuções sumárias, mortos, etc... Tá a ver diferença? Afinal quem é que precisa de lentes, sr. Cesário?... E olhe, ser resort dos americanos é melhor que caserna e soldadesca dos russos. Só para acabar e rematar algumas pontas soltas. Indignou-se com uma deputada - cujo país se encontra sob forte ataque militar - por esta ter chamado ‘terroristas’ aos seus, (separatistas, presumo). Disse também que nesse país fecharam canais de televisão. Não foi? O que é isso comparado com um tirano que se perpetua no poder há mais de 2 décadas, que persegue e mata os seus, e prende os seus cujo crime é exibirem uma folha de papel em branco?!... Falou também na ingerência de Washington. Mas essa, seja ela qual for, nunca pôs em causa a integridade territorial da Ucrânia, acordada no Memorando de Budapeste. A ingerência do Kremlin, sim, e quebrou-a. A Crimeia foi o primeiro passo. Reitero. Afinal quem precisa de mudar as lentes?...            julio Almeida: Completamente de acordo com o cronista. E penso que algum silenciamento do Chega e o tratamento de favor do PCP e do Bloco minam, a prazo, a credibilidade de alguns órgãos de informação.

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