sábado, 28 de maio de 2022

O bolso da vida


Ou a bolsa, tanto faz, para a continuação da vida.

Portugal quer ficar no bolso da China?

Como a invasão da Ucrânia pela Rússia provou, o dinheiro das autocracias compra dependências que saem caras. Por isso, há que exigir explicações às autoridades portuguesas sobre a relação com a China.

ALEXANDRE HOMEM CRISTO

OBSERVADOR, 26/5/22

Uma pergunta incómoda: no dia em que a China constituir uma ameaça efectiva e inequívoca à segurança dos cidadãos europeus, qual será a posição de Portugal, cada vez mais na dependência de Pequim? A resposta não é nada óbvia para um país que se atirou voluntariamente para o bolso dos chineses em diversos sectores estratégicos. Mas importa insistir na pergunta (já feita pelo Bruno Faria Lopes) em busca de uma resposta cabal. Se já antes o risco era evidente e o silêncio ruidoso, a guerra na Ucrânia lembrou-nos das consequências para quem se coloca na dependência de Estados autocráticosveja-se, por exemplo, a dependência energética alemã face à Rússia. As escolhas estratégicas importam e por isso devem ser tema no debate público e político.

A Rússia foi, durante anos, avaliada com benevolência. Houve um tempo em que os líderes europeus faziam fila para construir uma relação privilegiada com Putin. Agora, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, os aliados do Kremlin em países ocidentais têm sido postos em xeque. Em Portugal, a pressão recaiu sobre o PCP, que se ergue (como sempre) pela defesa dos interesses russos. Em França, a candidata presidencial Marine Le Pen viu a sua campanha contaminada pelo financiamento do regime russo de que o seu partido beneficia há largos anos. E, por toda a Europa, a situação repetiu-se: nos extremos da esquerda e da direita, Putin havia comprado aliados, unidos pelo objectivo comum de enfraquecer as democracias e as instituições europeias. A invasão da Ucrânia pela Rússia tornou insustentável essa relação — e esses aliados de Putin têm sido ostracizados.

Agora, imagine o seguinte: e se esses aliados, em vez de estarem nas franjas anti-sistema dos Estados europeus, estivessem mesmo no centro do sistema político (nos partidos de governo, nas maiores empresas nacionais, nos sectores estruturais das economias europeias) — quão limitada estaria a resposta dos Estados europeus contra o inimigo? A questão não tem de ser tão abstracta: para colorir a imaginação, bastará pensar na ambição da China e na dependência que países como Portugal têm actualmente do financiamento de Pequim.

A China é o 5º país que mais investe em Portugal — os EUA estão em 8º lugar. À frente da China, só Espanha, França, Reino Unido e empresas portuguesas sediadas no estrangeiro. Não é um acaso, mas sim tratamento privilegiado: Portugal está no topo dos países europeus onde a China mais investe. E, ao contrário de Espanha ou França, o peso do investimento chinês concentra-se em sectores estratégicos, como os da electricidade, água e gás, em virtude da posição da China Three Gorges na EDP e da Fosun na REN. Na mesma linha, a China viu no Porto de Sines um ponto-chave da sua “Rota Marítima da Seda”, que visa ligar os portos chineses ao resto do mundo e alargar o alcance das exportações de produtos chineses — e Portugal, desde o início, demonstrou-se disponível para entregar Sines aos chineses (veja-se, por exemplo, como Marcelo e Costa já abordaram a questão). Nos Açores, fala-se da possibilidade de aquisição chinesa do porto da Vitória, com vista a colocar a China no centro das redes mundiais de energia. As visitas de altos responsáveis chineses aos Açores ilustram esse interesse.

Os exemplos multiplicam-se noutros sectores, como o sistema financeiro ou a saúde. E, ao mesmo ritmo alucinante a que cresce a influência do capital chinês em Portugal, aumentam as preocupações internacionais. Em 2019, Portugal foi descrito na imprensa internacional como um cavalo de Tróia da China, instalado no coração da UE. Dando conteúdo a essas inquietações internacionais, o primeiro-ministro António Costa interveio frequentemente em defesa do investimento chinês, nomeadamente em entrevista ao Financial Times, justificando o valor estratégico das parcerias com a China. No mês passado, António Costa insistiu e pediu o reforço da cooperação de Portugal com a China. Ora, nos EUA e na UE, a apreensão é cada vez mais evidente. Recorde-se que, em 2020, a pressão dos EUA manifestou-se de forma explícita: o embaixador norte-americano em Lisboa avisou que Portugal teria de escolher entre os EUA e a China. Consequentemente, em vários negócios em áreas estratégicas, os EUA ponderam entrar para assim travar a expansão da China.

Como quase sempre sucede, o dinheiro manda em quem olha apenas para o curto prazo. Mas, como a história nos relembrou na recente invasão da Ucrânia pela Rússia, o dinheiro das autocracias compra dependências que, mais tarde, saem caras. Por isso, talvez devêssemos discutir, fazer perguntas e exigir explicações às autoridades portuguesas sobre a relação com a China — antes que chegue o dia em que lamentaremos o silêncio.

CHINA  MUNDO  DIPLOMACIA  ECONOMIA

COMENTÁRIOS:

Otavio Luso: Tenho que reconhecer o meu imperdoável desconhecimento: em que empresas é que os USA investem em Portugal? Será que algum leitor ou mesmo o autor do artigo me podiam esclarecer?          Maria Reisinho: Vejo muita gente a ir buscar o Ex-Primeiro Ministro Passos Coelho de boa memória para muitos, com excepção para os que se vendem por subsídios de caca. Porém nunca se lembram de quem trouxe a troika 3 vezes para Portugal. Gente de fraca memória que levarão mais cedo ou mais tarde Portugal de novo á bancarrota. Afinal os políticos mais não fazem que, em nosso nome, estender a mão a Bruxelas, naturalmente que de pouco tem servido porque, esse dinheiro não tem servido para as melhorias necessárias, e mais do que evidentes aos olhos até dos mais “cegos” que, com certeza, não será a banda da esquerda. Tenho muita pena deste pobre país cheio de políticos corruptos e de um povo malandro, com as devidas excepções que, naturalmente são poucas, e certamente voaram para outros países uma vez que não querem viver na mediocridade o resto da vida, tal como eu fiz vai fazer 40 anos fugindo da primeira troika com que a governação socialista nos presenteou poucos anos depois do 25 de Abril.              Filipe Costa: Podem-me corrigir, mas a participação chinesa na EDP é de 19% e na REN de 17%, controlam o quê?           Ze Portugal > Filipe Costa: ...controlam tudo!          Paulo Silva: Portugal já estava no bolso quando baixou as calças na primeira visita do Dalai Lama. O PCP, que deve ter mesa, roupa e cama lavada em Pequim, ficava de trombas e amuava a um canto, e o Cenoura acedia a Pequim… Agora que o país está mesmo preso pelos to… tes, é que as alminhas vêm pedir actos de heroísmo. No início de 2015 poucochinho Costa disse que Portugal estava “muito diferente”, (para melhor), mas não agradeceu a Passos Coelho nem aos portugueses pelo esforço. Foi aos chineses.          João Ramos: Com governantes incompetentes e pedinchões não há volta a dar, quem nos oferece dinheiro é para onde vamos, não passamos disso, um dia virá o reverso da medalha e vamos ver no que isso dá, neste momento já temos um exemplo flagrante, o caso da Ucrânia, vamos ver se aprendemos alguma com isso… mas infelizmente duvido…       D. Quixote: Homem Cristo sempre com uma volta de atraso... Não aprendeu nada com o caso angolano... E que tal a coragem para propor o corte de relações (ou pelo menos a sua redução substancial para começar) com tudo o que seja estado não democrático e/ou que não respeite o estado de direito e as cartas fundamentais da ONU?!...          G. Silva: Quando alguém está falido, normalmente, não olha à origem do dinheiro que lhe oferecem. E este país está falido há muito tempo. Podia ser a China, podia ser outro país qualquer. A China tem sido o que oferece mais dinheiro (porque tem tesouraria).          Carlos Figueiredo: A única questão que está errada no título, é que ele já não tem ponto de interrogação, mas sim um ponto final. É triste, mas é a realidade. Quem detém hoje a REN e a EDP?           Filipe Costa > Carlos Figueiredo: Os chinocas, nem 20% de cada. Maria Reisinho: Haverá sempre silêncio quando a maioria do povo português bate na mesma tecla “Passos Coelho “, é mais fácil e não obriga a ir atrás de respostas a outro lado, na medida em que o povo português prefere o silêncio, prefere manter a política sempre no mesmo estado, prefere fechar os olhos a tudo o que vai acontecendo na governação pós-passos coelho. Até se poderiam perguntar, já passaram anos suficientes para vermos sinais positivos, afinal a troika foi uma má herança deixada a Passos Coelho pela governação socialista. Até poderiam andar mais para trás e pensar “ cada vez que Portugal cai nas lonas foi pela “bela” governação de socialistas”. Mas a ignorância é tanta que só se lembram do Passos Coelho. Ou essa atitude é pura ignorância, maldade ou medo de perderem os subsídios. Eu como não recebo nenhum estou á vontade para falar.           josé maria:1 de maio de 2012. Sob assistência da troika, o Governo de Passos Coelho celebra a venda de 21,35% da EDP à China Three Gorges (CTG), formalizando a entrada da empresa estatal chinesa na elétrica portuguesa. Ainda hoje, 10 anos volvidos, vão surgindo acusações de que Portugal entregou a Pequim o controlo de um ativo estratégico nacional. Expresso, 8/5/2022, Interessa, AHC? Só agora se lembrou da cedência da posição estratégica da EDP? Andava distraído em 2012?               Tiago Amendoeira: Quem é que vendeu a EDP aos chineses, quem?            advoga diabo: Tem tudo a ver o imenso Portugal dependente da China, dona de meio mundo, inclusive mais de 5% do tesouro dos EUA!, e a camisa de forças em que estão os vizinhos da Rússia por dependência energética...    Carlos Gonçalves: Muito bem! Bom, bom é o bolso americano. É quentinho e a administração americana não promove guerras em lado nenhum.              Maria Augusta > Carlos Gonçalves: Existe uma diferença ENORME e fundamental que não está ao alcance de um qualquer xuxo-comuna: os EUA são uma grande Democracia com muitos defeitos - Quem não os tem? - e a China é uma ditadura comunista....            António Monteiro > Carlos Gonçalves: Enxergas muito pouco.           Joaquim Formiga > Maria Augusta: Sem dúvida uma democracia. Muito permeável a lobby nomeadamente lobby das armas e das farmacêuticas. Mas está a caminhar para a Chinificação com estes democratas, até já tem uma ministra da verdade. Só espero que os republicanos não deixem que isso aconteça. Os comunas adoram impingir as suas ideias aos outros. Carlos Chaves: Caríssimo Alexandre Homem Cristo, este seu artigo é mais que oportuno, obrigado. Este é mais um exemplo de que em Portugal a maioria dos órgãos de comunicação social (neste caso excepto o Observador) não cumpre a sua função de pôr a debate assuntos como este de importância vital para o posicionamento de Portugal no mundo. Todos têm culpa no cartório da esquerda à direita passando pela Presidência da República, mas uns têm mais culpa que outros. Além dos casos que muito bem mencionou como na energia (EDP/REN) os socialistas/comunistas ((através da ANACOM) até nos meteram na polémica do 5G quando querem optar pela tecnologia Chinesa (Huawey) em detrimento da Norte Americana/Europeia levantando enormes preocupações em relação à nossa ciber segurança. E tudo isto andou e anda a ser feito nas nossas costas com a colaboração da nossa pseudo independente comunicação social.             Pedromi: Até que enfim que vejo alguém (jornalista) a tocar neste assunto! 👏👏👏              bento guerra: O dinheiro não tem pátria. Pode é ser roubado e estamos a ver disso nas "respeitáveis" instituições internacionais            Hipo Tanso: A ambição de poder dessa gente que diz governar o país não hesitará se for necessário entregar a nossa soberania por inteiro.             Cabral Paula > Hipo Tanso: Não podem, foi entregue a Bruxelas.         Pontifex Maximus: O melhor é fazer a pergunta ao Passos Coelho, esse grande estadista que por aqui se chora baba e ranho para voltar pois foi ele o responsável por se ter vendido tudo e mais alguma coisa ao Partido Comunista da China ao preço da uva mijona em nome das directrizes europeias (o Estado português não podia ter a Golden Share na EDO, embora nunca explicasse por que razão a Alemanha ou a França podiam, tinham e têm), da dívida que o PS e o PSD criaram (que estava lá e sabia muito bem que continuaria pois € 5 mil milhões não faziam diferença nenhuma) ou, quiçá, desconfio eu, de uns euros caídos inesperadamente no bolso de alguém…   Otavio Luso > Pontifex Maximus: Mas o deputado europeu no qual votou não lhe explicou porque é que a Alemanha e a França podiam ... Não lhe explicou também porque é que veio a troika e quais as exigências? Ahmed Gany > Pontifex Maximus: E a Manuela Ferreira Leite que hipotecou os créditos fiscais da segurança social ao Citigroup sem consultar o IGF.    O Malandro da Ópera: Portugal já está aos bocadinhos, espalhado por vários bolsos, no da China, no dos EUA e no da UE. Resta-nos a satisfação de quão grandes já fomos...            Alberto Rei: Como o Alexandre diz no penúltimo parágrafo, aquilo não foi um aviso, mas sim uma ameaça dos EUA               Alberto Rei > Alberto Rei: Isso é que é condicionar a política externa de um país ! isto são "os americanos", aqueles que não têm interesses na Ucrânia            Paul C. Rosado: Deste tema importantíssimo pouco se fala. Quer a esquerda, quer alguma direita, têm culpas no cartório. Uns apoiam na esperança de que a China venha a enfraquecer o sistema capitalista ocidental e assim acelerar a revolução. Outros porque colocar fábricas na China para utilizar escravos é excelente negócio e vender empresas por cá aos chineses, também. Precisamos de políticos que defendam verdadeiramente o Ocidente. E só da direita poderão chegar. Mas não podem é voltar às negociatas com Chinas e Venezuelas. Para isso temos a esquerda.  Carlos Silva E os poltugueses adolam !  Nuno Filipe: E os “portugueses” traidores à pátria que defendem a China provocando desemprego e pouca paz social em Portugal, porque não são desmascarados? E identificados? É porque não são os seus negócios boicotados? Fazem-se manifestações pelo futebol e pelos reality shows mas é que tal “abrir a boca” para falar do que realmente faz mossa ao final do mês e também no longo prazo por causa das decisões “económicas “ dos traidores… vivemos em “Vichy” e não sabemos. <- sim a referência é mesmo aos traidores colaboracionistas.    O Malandro da Ópera > Nuno Filipe: "porque não são os seus negócios boicotados?" Porque se se proibisse qualquer empresário de fazer negócios com quem quer que seja, no caso que aponta: com a China, estar-se-ia a ser mais chinês que os próprios chineses. A liberdade de escolha não é um pressuposto garantido no liberalismo?              joão reis > Nuno Filipe: Qual seria/é a sua sugestão de negócio para Portugal deixar de 'depender' da China ?         Pontifex Maximus  > Nuno Filipe: Não são boicotados porque precisamos de clicar no interruptor e ter electricidade a funcionar e as alternativas são meras ficções para se dizer que vivemos num mercado concorrencial, esta é a miserável razão para isto,              Pedro Lisboa: Portugal já está no bolso da China 🇨🇳,graças ao Nr 44 e ao vendedor de bazar. O povo acéfalo e bovinizado continua a votar no PS.         joão reis > Pedro Lisboa: Você chegou a Portugal recentemente? ou não quer olhar para o 'retrovisor'?           João Floriano: Portugal socialista, pobre de mão estendida, estará sempre no bolso de alguém.               Cabral Paula: A China investiu em Portugal num momento em que nem os brasileiros nos emprestavam dinheiro. Não cuspa na sopa!             Nuno Filipe > Cabral Paula: Os escravos romanos também recebiam comida dos donos, isso não mudava a sua situação, continuavam a ser escravos. E sim o exemplo é premente.            Otavio Luso >Nuno Filipe: Imagino que a sua empresa não negoceia com os chineses nem se deslocalizou para o oriente. Estou certo não estou?           Cabral Paula > Nuno Filipe: Os chineses trabalharam pelo dinheiro que têm, ao contrário dos romanos que faziam os escravos trabalhar por eles. Não vejo razão nenhuma para desconfiar dos chineses agora, nós não temos problemas com chineses, nós não temos problemas com ninguém, porque é que raio é que temos que andar a arranjar inimigos se nos damos todos bem?            Andrade QB: Costa e Marcelo até a mãe venderiam para satisfazer as suas ambições políticas. Infelizmente, lá no fundo, lá no fundo, muita eleitor está de acordo com eles quando se babam com as oportunidades de negócio trazidas pela pandemia (agricultura) ou pela invasão da Ucrânia (turismo e captação do investimento que iria para o Leste). Pedir proteção ao ocidente e vender a alma aos chineses faz parte da maneira de ser dos melhores do mundo.          FME: A China está para Portugal como os comunistas para António Costa. É tudo uma questão de sobrevivência.       Américo Silva: Não há qualquer problema, a UE, quando lhe apetecer, nacionaliza tudo o que for chinês, nem precisa que haja guerra.


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