Por cá. Quem precisa de outros de fábula,
se estes têm personagens que servem de modelo, espaço, tempo, acção … e o
trabalho insano e especializado dos narradores – entrevistadores – a insinuar o
statu quo do nosso genérico humano ambiental?
“É ponto de honra voltar a Portugal e
pagar cada tostão às pessoas”. E aos bancos? "Os bancos são os bancos"
/premium
Estava no Brasil enquanto a Ongoing caía em Portugal,
deixando na insolvência a mãe e o próprio — e dívidas a trabalhadores e à
banca. Confissões e remorsos numa grande entrevista a Nuno Vasconcellos.
Texto de HELENA GARRIDO e ANA SUSPIRO,
vídeo de TIAGO COUTO,
edição vídeo de ANA MOREIRA
OBSERVADOR, 04 jul
2021, 22:1232
Nuno Vasconcellos quis construir (mas falhou) um projecto de poder nos
media em Portugal, mas foi para o Brasil, deixando centenas de milhões de euros
de dívida aos bancos e também aos trabalhadores das suas empresas falidas. Agora,
promete pagar o que deve a quem trabalhava no Diário Económico, e com juros.
Quando, em entrevista ao Observador, fala disso e da relação com
Francisco Balsemão, mostra estar comovido, com a voz embargada. Mas antes de
pagar tem de resolver a insolvência pessoal. No final da entrevista, volta ao
tema e insiste: “É o primeiro colchão que vou fazer”. Já no que diz respeito às dívidas aos bancos, a história é outra. Também
falharam com ele, defende.
Numa longa entrevista de quase duas horas, por vídeo e
com Nuno Vasconcellos em São Paulo, o ex-dono da Ongoing diz que hoje vive
do seu salário, como administrador de várias empresas. Mas garante que não
é dono de nenhuma — nem no Brasil, nem no Panamá. Está insolvente em
Portugal, tal como a sua mãe. Tudo porque
cedeu aos bancos e deu um aval pessoal envolvendo bens da família e deixou no
BES um depósito de 100 milhões de euros como garantia da dívida, três meses
antes da queda.
Sobre o seu ex-sócio e homem de confiança, Rafael Mora, que o atacou no inquérito parlamentar ao Novo Banco,
não quer ir longe nas críticas pessoais. Tem mulher e filhos, e – como se diz
no Brasil – “não quero entrar numa fria com ele”. Apesar de achar que Rafael
Mora disse coisas que não correspondem à verdade, garantindo que era accionista
da holding que controlava o grupo. Na sua
perspectiva, alguns deputados estenderam um tapete vermelho a Mora na Comissão
Parlamentar de Inquérito. Não todos. Mariana Mortágua, a quem por vezes chama Helena, merece elogios.
Está
convencido que teria conseguido resolver os problemas da Ongoing e pago as
dívidas aos bancos se tivessem aprovado uma reestruturação, que não podiam
fazer por causa da “má imagem” que tinha a empresa e ele próprio em Portugal,
para onde quer voltar com o intuito de “limpar o nome” — mas para isso precisa
de reunir 10 milhões de euros.
Veja aqui os melhores momentos da entrevista a Nuno Vasconcellos:
.Porque deixou Portugal pelo Brasil e quando é que
isso aconteceu? Já venho para o Brasil desde os meus 25 anos. A minha primeira mulher
nasceu no Rio de Janeiro e tem cá família. Tenho nacionalidade brasileira há 10
anos, estou no Brasil com residência fiscal há 12 anos. Não é uma resposta
óbvia. Em Portugal tinha esgotado a minha situação de alguma forma. Houve
coisas que aconteceram que estavam a tornar a minha vida empresarial numa
situação muito complicada. O meu nome estava todos os dias nas páginas dos
jornais, fui acusado cinco anos, uma acusação falsa, fui posto num processo de
espiões que nada tinha a ver comigo. Foi bastante mediático.
. Foi por questões reputacionais ou por problemas económicos e
financeiros das empresas em Portugal? Naquela altura não havia problemas financeiros, há 10 anos. Para nós
estava tudo bem. A Ongoing deu quase 400 milhões de resultados positivos. Tinha
em caixa 120 milhões depois de ter feito um aumento de capital. Os problemas
financeiros começaram só depois da queda do BES.
Ouça aqui a entrevista na íntegra
. Os recursos que a Ongoing tinha em Portugal foram usados para
financiar os investimentos no Brasil? Em parte. A Ongoing no Brasil era sócia minoritária de uma holding de
tecnologias que tinha outros sócios. Os negócios no Brasil foram feitos com
brasileiros e havia uma holding que tinha um private equity, com recurso a crédito, mas uma boa parte com
capitais próprios. Esses 375 milhões de euros de lucros serviram, na íntegra,
para amortizar créditos aos bancos A Ongoing nunca distribuiu dividendos, tinha
contratos com os bancos em que todo o resultado das operações tinha de ir para
amortizar empréstimos.
. Que empréstimos é que Ongoing amortizou? E a que bancos em concreto? A duas grandes instituições, o BES e
o BCP, sobretudo o BCP. O BCP era o maior. A Ongoing chegou a ter 10% da
Portugal Telecom, dos quais 2,4 a 2,6% foram financiados pelo Credit Suisse,
uma operação cara. Depois, numa operação mais barata, o BCP deu uma linha de
crédito de 400 milhões de euros. E não fui eu que fui pedir, foi viabilizado,
foi proposto.
.Quem no BCP lhe propôs o crédito? Na altura o presidente era Paulo Teixeira Pinto, mas
ele não decidiu sozinho. Uma operação desta dimensão foi aprovada por todo o
conselho de administração.
. E ofereceram-lhe esse crédito para quê? Para comprar acções da Portugal Telecom. Não foi uma oferta, teria sido
maravilhoso. Estava na praia e um dos directores máximos do BCP veio ter
comigo e perguntou-me: ‘Nuno, não gostarias de reforçar a posição na PT?’ Na
altura tinha pouco mais de 2%. E estávamos no meio da OPA da Sonae. Eu disse
que era óptimo. Fizemos uma reunião com o administrador, que me passou ao
presidente, tudo ‘by the book’.
E o presidente deu-me um voto de confiança e a operação foi viabilizada
super rápido. Também havia um banco japonês em Londres que nos ajudou a comprar
mais de 3%.
. Se os bancos impuseram que fosse amortizando a dívida, porque é que
em 2014 a Ongoing tinha uma dívida elevada? A dívida não era muito elevada. Era muito dinheiro,
com certeza. O grupo chegou a ter uma dívida um pouco acima de mil milhões. Mas
o BCP emprestou 400 milhões e acho que chegámos a ter 410 milhões. Quando a
Ongoing pede o PER (Processo Especial de Revitalização), que não foi aceite, o
BCP tinha 290 milhões. Portanto, amortizou.
. A Ongoing nunca pagou dívidas? É falso. Toda a riqueza criada pela Ongoing foi
para pagar juros e amortizar empréstimos. Paguei o dobro dos juros ao BCP. Não
foi um negócio tão mau para o banco. Quando fizemos o contrato, pedi para ter
taxa de juro fixa. E quando houve aumento de juros, o banco já estava em
dificuldade e a perder muito dinheiro com este crédito. Eles pediram e eu
aceitei ficar com uma taxa mais alta. Mas os juros baixaram e a minha taxa não
baixou. Fiquei até um pouco chateado. Isso sufocou-nos também um pouco.
.Porque é que o colapso do BES teve um impacto tão significativo e levou a
Ongoing à falência? Em primeiro lugar, a Ongoing detinha acções do BES e
da Espírito Santo Financial Group, que era accionista do banco. A primeira
participação relevante da Ongoing foi na Espírito Santo Financial Group.
. Sempre com crédito? Parte capital e parte crédito. Havia muita dívida, sim, mas os nossos activos
chegaram a estar avaliados em 2 mil milhões.
Mas a parte de leão eram as acções da PT, que desvalorizaram muito. Tocou no ponto. A Ongoing tinha uma
dívida de 50% do activo. E tinha 265 milhões de capital social. A minha mãe era
a última beneficiária, através da RSH [Rocha dos Santos Holding]. A Ongoing
não era 100% da família, tinha outros accionistas. Cerca de 30% era um private equity. O BES era para nós um
pilar muito importante. Não só pela relação, mas também porque, ao não pagar a
dívida do GES à PT, de mil milhões, a Portugal Telecom acabou aí. A PT já
estava com problemas pelo investimento na Oi. Foram investidos mais de 3,7 mil
milhões na Oi e três anos depois só valia 400 milhões. Pouca gente conhece a
história. A PT tinha de provisionar mais de três mil milhões e nem sequer tinha
isso em capital social. Daí nasce a ideia de fundirem as duas empresas. Empurrar para a frente com a barriga.
.Mas a Ongoing como accionista apoiou essa solução. Se não apoiássemos, estaríamos
mortos. Não tínhamos outra solução. Ou era morrer ou juntar-se a outro gigante
para criar um grande operador de língua portuguesa. Sabíamos que a Oi estava
muito doente. O que nos deu a luz era que íamos ser maioritários na Oi. Se
fosse bem gerida talvez fosse possível dar a volta por cima. Mas infelizmente,
quando fizemos a fusão [primeiro] colocámos os activos da PT debaixo da Oi e os
accionistas brasileiros continuavam com o controlo, porque a operação não
estava fechada. E é quando se sabe que o BES [a Rioforte, do GES] deve mil
milhões à PT. Os brasileiros tiram proveito desta situação e dizem ‘ oh
pá, o contrato já não é válido’. Os accionistas da PT perdem muita força. Fomos
‘hijacked’ muito inteligentemente. As acções da PT viraram pó, tal como as do
BES, onde estavam os dois maiores ativos. Tínhamos 1,8% no BES e na ESFG.
. Se a Ongoing era accionista do BES, porque é que o crédito não foi para o
banco mau, como aconteceu com outras partes relacionadas, e ficou no Novo
Banco? Tenho uma resposta possível, talvez
não seja aquela que querem ouvir.
. Se
os créditos da minha responsabilidade eram tão maus, como passaram para o Novo
Banco? Porque
havia uma conta da Ongoing de quase 100 milhões de euros no BES. Um mês antes
do aumento de capital, um dos directores do BES liga-me a dizer que o BCE está
a apertar, temos de provisionar o crédito em 80%, eram quase 400 milhões.
.Qual foi a sua resposta? Eu disse: ‘Sim, estamos aqui uns para os outros. Vocês sempre me ajudaram’.
E dizem-me: ‘Tens as acções da Zon [NOS] e a da Impresa, Está na hora de
vender.’ Tinha mais de 20% da Impresa e consegui vender por 55 milhões de
euros e a dívida no BES que me deram para comprar era de 30 milhões. Pagamos a
dívida de 30 milhões. E achava que ia ter 25 milhões para investir. O banco
disse para deixar os 25 milhões para amortizar. As acções da Zon não estavam
dadas como garantia a nenhum banco. Era o meu colchão. Estavam lá mais de 100
milhões. Mas eles disseram que era preciso vender e trazer o dinheiro para cá.
.Essas interações com o BES foram com Ricardo Salgado? Nunca falei de crédito com Salgado
directamente, falava com directores e com o administrador da área do crédito,
António Sotto. E falava com o CFO [Amílcar Morais Pires], com quem tinha uma
relação óptima. Um cara brilhante, um excelente gestor. Já tinha vendido uma parte da Zon
e quando vendi tudo – deu 72 milhões mais os 25 milhões – , foram depositados
no BES numa conta que foi penhorada como garantia adicional. Ficaram lá cerca
de 100 milhões. O banco provisionou 80%. Só faltavam cerca de 10 milhões
para cobrir 100%. O banco pediu então um aval pessoal. E eu disse que
nunca dei e nunca dou avales pessoais. Mas o banco insistiu: tens de dar.
‘Confia em nós’, disseram.
.Isso foi quando? Um ou dois meses antes do aumento de capital do BES [maio de 2014].
Foram impecáveis. Cumpriram à risca [aceitaram financiar as empresas no Brasil
com um novo crédito de 30 milhões de euros] e eu cumpri à risca. Dei o meu
aval, mas avisei que não tinha nada em meu nome para além dos terrenos que já
estavam no banco como garantia. Pedi à família, que deu como garantia uns
armazéns e terrenos que tinham boas rendas. Estou bem arrependido de ter dado
esse aval. Foi por causa desse aval que estou insolvente em Portugal. Um
mês depois o BES faz um aumento de capital com enorme sucesso e dois meses
depois vai à falência. Depois pergunto aos novos gestores como é. Tenho o projecto
Chiado [reestruturação de crédito negociada com o BES], tenho salários para
pagar no Brasil…
. O que lhe disseram os gestores do Novo Banco? Fui lá com o
meu crédito aprovado pelo BES. Conhecia o presidente e o vice-presidente, Vitor
Bento e José Honório. Eles disseram: adoramos o teu projecto, mas o banco
não tem condições para emprestar mais. Então temos um problema seriíssimo,
respondi. Vendi os meus activos, entreguei mais activos, colaborei com o tudo o
que tinha, baseado numa promessa que não foi cumprida.
.Mas tinha dívida para pagar na altura ao Novo Banco. Havia dívida para pagar com certeza [cerca de 600 milhões]. Mas as empresas
é suposto terem dívida e irem pagando ao longo do tempo.
.Se calhar nunca pensou que amortizou metade da dívida no BCP e mesmo
pagando juros altíssimos. E amortizei a dívida relacionada com a Impresa.
.Aquilo que estava em seu nome que lhe permitiu amortizar dívidas, já
tinha sido vendido em 2014. Mas eu trouxe para o banco garantias que não existiam nos empréstimos. Uma
parte serviu para amortizar e a outra ficou lá em dinheiro. O meu crédito não
tinha risco, tinha quase 100 milhões em caixa, o que deveria dar um jeitão ao Novo Banco. E depois o BES
tinha provisionado o meu crédito.
.Era uma imparidade. Estava a comer o capital próprio do BES. Com certeza. O BCE considerou que
era um empréstimo de risco e obrigou o BES a fazer isso. Provavelmente, o BCE
mandou fazer isso porque sabia que se a PT e o BES fossem para o buraco eu
teria de ir também. Não por minha culpa. O dinheiro público não foi para pagar
a minha dívida. Já estava paga, ou seja, reconhecida.
.A recapitalização do Novo Banco também serviu para cobrir essa
imparidade. Não. O BES
provisiona a dívida da Ongoing meses antes de fazer aumento de capital.
.A dívida ficou lá e continuou a comer capital ao Novo Banco. Acabaram
por executar os seus avales pessoais? Sim, estou insolvente em Portugal.
.Que efeitos teve isso na fortuna da sua família, uma vez que entregou
bens dela? Para a minha
família foi o caos. Foi muito complicado. A minha família não está insolvente.
A minha mãe está insolvente. Tenho irmãs, cunhados, sobrinhos… a família não
está insolvente. A minha mãe está insolvente em Portugal [por causa da
Ongoing].
.Mas tem património fora de Portugal? Não. A minha mãe não tem um centavo, não tem um prédio
ou apartamento ou casa. Em Portugal ou fora.
.Porque foi tudo entregue à banca por causa das dívidas da Ongoing? Há sempre a ideia de que os
empresários têm muito dinheiro fora de Portugal. Muitos empresários tiveram de
recomeçar tudo com empréstimos, como a família Espírito Santo. Se calhar alguns
têm. Mas outros não. O verdadeiro empresário é o que se entrega de alma e
coração às empresas e põe dinheiro quando é preciso pôr. Foi o que aconteceu no
meu caso. Eu poderia hoje ter 100 milhões fora da Ongoing e fui pôr esse
dinheiro, a minha tábua de salvação, dentro do BES como garantias adicionais. O
BCP também pediu garantias.
A Ongoing
geria um fundo que tinha recursos da PT, do BES e do Montepio. O que aconteceu
a esse dinheiro?
Foi
investido em vários cativos, penso que está agora na fase de liquidação. Era um
fundo a nove anos, mais dois anos.
.Mas que activos? Não sei, não conheço todos. Sei que chegou a comprar fundos que investem em
arte e vinho.
.Onde está esse dinheiro? Não sei, deve estar lá e está-se a desinvestir dinheiro desses fundos.
.Quem gere esses fundos? Já não são geridos. A empresa está em dissolução. Sei porque o beneficiário
último era a família, mas hoje não recebem dinheiro porque não podem cobrar um fee [comissões de gestão] há cinco
anos. Quem fez a gestão desses fundos foram duas pessoas que trabalhavam na
área financeira para a família.
.As entidades que investiram nesses fundos vão ser reembolsadas? Isso não sei. Nunca fui administrador. Sempre houve uma cortina de ferro
com a Ongoing. Esses fundos eram regulados.
.Alguns desses fundos investiram na Ongoing ou em negócios ligados à
Ongoing? Não todos,
mas havia um ou outro que indirectamente investiu um… [Nuno Vasconcellos interrompe a resposta para atender o telefone e segundos
depois retoma a conversa]. Não houve
nenhum investimento directo ou indirecto na Ongoing.
.Qual foi o papel de Rafael Mora no desenvolvimento do grupo? Ele disse que o Nuno Vasconcellos tratava directamente de questões
financeiras com Ricardo Salgado.
É mesmo assim? Ricardo Salgado nunca foi financeiro, não falava com ele, nem pedia
autorização para fazer investimentos. As empresas têm relações com banqueiros.
A relação era com Salgado e com outros banqueiros. O Rafael também conhecia essas
pessoas. Fui com Mora a mais de uma reunião com Salgado. Mas a relação
privilegiada e de confiança de Salgado era comigo, como era com o presidente da
Caixa e com Paulo Teixeira Pinto no BCP. A Caixa era sócia na PT.
.Rafael Mora era o estratega do grupo? Achei sempre muito estranho o que os
media diziam sobre ele. Era meu vice-presidente. Os media diziam que ele era
brilhante, inteligente e que era quem mandava no grupo. Saiu um ano como o
16.º mais poderoso de Portugal [na lista anual elaborada pelo Jornal de
Negócios]. Cada um faz a imagem que quer. O Rafael veio dizer [na
audição da comissão de inquérito] que não era accionista, mas era.
.Quanto tinha? Tinha 9,9% da RSH, a holding que estava por cima da Ongoing. Estou aqui de
boa fé nesta entrevista. E tenho de trazer honestidade intelectual. Não tenho
intenção de enganar ou omitir nada. Fiz erros no passado, mas não dá para
manipular informação. Há pessoas que são especialistas nisso. É um tema
sensível. Rafael Mora tem filhos e uma esposa e não quero entrar numa fria com
ele. Acho que ele não foi muito correcto, mas sou um bom cristão. Não queria
usar o Observador para dizer alguma coisa incorrecta sobre o Rafael Mora.
.Vamos cingir-nos ao que fazia na Ongoing. O Rafael era vice-presidente, era o meu braço direito
para tudo. Mais tarde ficou com a tecnologia e eu fiquei com os media. O Rafael
tomava conta nos negócios e estava na PT, era com certeza uma pessoa de maior
confiança.
.Quando é que essa relação se começou deteriorar? Aconteceu depois de o BES falir. Ele
estava na Oi e era presidente executivo de uma holding em que a Ongoing era
minoritária. Com o dinheiro que havia, o Rafael queria privilegiar as
tecnologias em detrimento das empresas de media. Não aceitei pôr mais
dinheiro nas empresas de tecnologia para pagar salários e não pagar salários
nas empresas de media. Do meu lado nunca houve um grande corte ou zanga. Isso
só acontece depois de o Rafael sair da empresa. Houve procedimentos errados
que viraram processos-crime no Brasil e nos Estados Unidos. E o Rafael quis
salvar, salvaguardar a posição pessoal em empresas em que era accionista
pequeno para se tornar um grande accionista. O financeiro detectou situações
mais complicadas que tivemos de denunciar.
. Tem um processo judicial? Ele tem um processo-crime que está a ser julgado no
Brasil. E nos EUA perdeu um processo com um pedido de indemnização de mais de
30 milhões de dólares decidido por um juiz federal de Los Angeles.
. Não conhece nenhuma investigação do Ministério Público por causa da
queixa de Rafael Mora contra si em Portugal? Isso está no Ministério Público e eu não tenho acesso.
Mas essa queixa é no seguimento dos processos que estão cá [no Brasil]. Aliás,
a deputada do Bloco de Esquerda, às vezes faz acusações e faz perguntas… Eu
tenho de congratulá-la porque faz isso a toda a gente, não tem preferidos. Porque
quando se vai a uma CPI [comissão parlamentar de inquérito] é para responder a
perguntas, não é para ser acusado ou para ter uma acusação antes de fazer a
pergunta. Quem é filho de boa gente acaba por sentir. Mas o Rafael acabou por
dar algumas respostas que não são verdadeiras. De empresas que são dele, de
coisas que ele diz que eu fiz que não são verdade. Está documentalmente
comprovado. Tudo o que eu fiz, fiz de consciência tranquila e ainda hoje
pergunto por que raio um empresário como eu ia pôr quase 100 milhões de euros
que não estavam garantidos a banco nenhum, pega nesse dinheiro e dá de garantia
[ao então BES]. Ou eu fui muito burro, ou estava de boa fé.
.Rafael Mora defendeu que os problemas da Ongoing começaram quando o
Nuno Vasconcellos entrou em conflito com Pinto Balsemão pelo controlo da
Impresa. Faz sentido esta leitura? Quer explicar? [silêncio] Não me parece que seja a
versão correcta. Ninguém sabe qual era a relação que eu tinha com o dr.
Balsemão. Nem o Rafael Mora. Eu ainda hoje tenho um enorme carinho e amizade
pelo dr. Balsemão. Nunca me ouvirão falar contra ele ou contra a família
dele. Foi uma pessoa extraordinária durante toda a minha vida, foi quase como
um segundo pai, uma pessoa que eu adorava e que ainda hoje adoro e amo. E tenho
muita pena de não manter contacto com ele. Acho que havia muitas forças à volta
de Pinto Balsemão – e à minha volta também – que se calhar não gostariam desta
amizade tão forte.
.Como assim? Enquanto era só um pequeno empresário ou um gestor de empresas – que foi
aquilo que eu fui até aos meus 40 anos – a coisa foi… Quando eu passei a ser
uma pessoa, como se falou aí em Portugal, tipo uma estrela que apareceu do nada
– que também não é verdade, mas eu aceito. Também não vejo mal nenhum alguém
que veio do nada e fez o que fez, devo ter algum mérito. Mas infelizmente não.
Sou a quinta geração de empresários na minha família.
.Quando diz que existiam muitas forças à sua volta e à volta de
Balsemão, está a referir-se a Ricardo Salgado? Ao contrário. Eu fui um dos responsáveis, se não o
responsável, por unir Ricardo Salgado e Pinto Balsemão. Na altura o meu pai ainda era
vivo e o meu pai era um irmão para Pinto Balsemão e vice-versa. Quando
essa guerra entre BES e Impresa aconteceu fiquei muito incomodado porque eu
também estava no meio. A família Espírito Santo era como se fosse família para
mim. A família Balsemão era família para mim. Estava ali no meio de um tiroteio
que eu achava, inclusivamente, que ia ser prejudicado. Acabava por levar um
tiro nem que fosse de raspão. Pus-me imediatamente em campo para tratar disso.
Como também ajudei o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que também
tinha um problema sério na SIC – uma vez até apareceu lá no meio do programa.
.Então de onde é que surgiu esse conflito com Balsemão pelo controlo da
Impresa? O
conflito acontece porque se inventou que eu queria tomar conta ou ser o
presidente do grupo Impresa. E essa nunca foi a minha estratégia. A minha estratégia era
a Portugal Telecom, não era a Impresa. Nunca quis ser presidente da Impresa. A
obra que Pinto Balsemão fez com a ajuda do meu pai, eu acompanhei tudo. Fui a
primeira pessoa que chegou à casa de Pinto Balsemão, quando ele ganhou o
concurso da SIC, com uma garrafa de champanhe. Eu vi o Expresso a perder
dinheiro durante dez anos, com o meu pai preocupado.
Se não queria tomar conta da Impresa quem é que convenceu Francisco
Pinto Balsemão que o queria fazer? Ainda hoje estou para saber. Mas alguém fez isso. Lembro-me de um dia ter
chegado à sede da Impresa e ele estava sentado na mesa grande de reuniões de
costas e eu vim por trás. Estava a ler o Sol e disse-me: ‘Dizem-me que tu vais
comprar o Sol, isso é verdade?’. ‘Não, tio, isso não é verdade, nós temos uma
parceria com angolanos e esses angolanos é que querem comprar o Sol’. Até podem
ter falado do meu nome, mas eu nunca iria comprar uma empresa concorrente de
outra em que eu era accionista e que o meu pai ajudou a criar. Aí começou uma
desconfiança. Acho que ele não acreditou cem por cento em mim, devia ter as
informações dele. Mas era tudo mentira.
. Reatou as relações com Pinto Balsemão ou continuam sem se visitarem
ou falarem? Eu tentei
contactar com o dr. Balsemão há quatro ou cinco anos. E uma vez fui passar o
Verão a Portugal com os meus filhos e disse: ‘Vou ligar para ele, está velhote,
está mais velho, preciso de o ver, preciso de estar com ele, eu não posso, eu
não vou aguentar ele um dia não estar cá e ir embora sem [a voz fica
embargada]… sem fazermos as pazes’.
. E ele não atendeu? Não interessa.
. E com Ricardo Salgado? Tem estado com ele? Não. Falei com ele depois de ter ido à CPI [Comissão
Parlamentar de Inquérito], tive um telefonema. Estava triste. Há muitas
histórias que estão muito mal contadas.
Quer dar um exemplo? Ricardo Salgado deve ter feito muitos erros, como eu também fiz. Conhece
algum empresário que não tenha feito erros? Com certeza que Ricardo Salgado,
com a carreira que fez, comprou um banco que lhe foi roubado da família…. Não
nos podemos esquecer que o BES era um dos maiores bancos em Portugal. E eles
recompraram o banco, sem dinheiro, falido. Na Grécia, em Espanha [não deixaram
cair nenhum banco]. Os EUA só deixaram cair um banco e estão mais do que
arrependidos. Em Portugal não deixámos cair um banco, deixámos cair um, dois,
três, quatro, cinco bancos. Um deles de grande dimensão.
. O banco ainda existe e tem custado muito dinheiro aos contribuintes. Os accionistas é
que são outros. Respeito a sua opinião mas não concordo com ela. O
banco é a empresa mais alavancada. Nunca se pode perder a confiança num banco.
O que se deixou fazer foi perder a confiança. Se o Estado tivesse
encontrado uma forma – eu sei que o Governo e o primeiro-ministro na altura
tiveram directrizes da Comunidade Europeia para se executar e ponto final.
Se se tivesse investido dois ou três biliões [mil milhões] no momento certo,
nunca teríamos chegado a isto. Está à vista que foi um erro.
. O Diário Económico foi uma das empresas do seu grupo em que deixou
dívidas, nomeadamente aos trabalhadores. O que é que o levou a desistir do
projecto e a não pagar as dívidas que ainda hoje tem? Em primeiro lugar, quero pedir desculpa às pessoas. Eu
era o presidente máximo e a responsabilidade era minha e nunca fugirei a essas
minhas responsabilidades. Tenho uma culpa que caminha comigo, há mais de
cinco anos, por essas pessoas que não conseguiram receber indemnização. As
do Diário Económico foram as mais prejudicadas. À medida que ia entrando
dinheiro ia-se pagando e ia-se despedindo as pessoas. Eu nunca quis deixar o
Diário Económico e esse foi o meu erro. Já havia pressões para vender e
devia ter vendido. Mas eu acreditava tanto no projecto e que o Diário Económico
ia ser a única operação que iria ter em Portugal. Aí eu devia ter pensado mais
nas pessoas, quem sabe.
. E houve interessados na compra? Tinha um empresário brasileiro, que foi quem me ajudou
aqui no Brasil, que estava muito interessado no Diário Económico. E ele
disse-me: ‘Nuno, eu só posso ir a Portugal daqui a um mês, mas vou resolver a
situação porque tenho muito interesse no Diário Económico’. E eu liguei para as
pessoas e disse: ‘Vem aí um investidor tratar do assunto, precisa de falar com
as pessoas, o dinheiro vai chegar para pagar os salários logo após ele dar o
OK’. Só que houve algum advogado de algum trabalhador – com todo o direito –
que pediu a insolvência da empresa. E a partir do momento em que se pede a
insolvência, o empresário disse que não havia nada a fazer. A culpa não foi de
quem pediu a insolvência, foi minha, por não ter antecipado que isso poderia
acontecer. Aqui no Brasil isso nunca aconteceria.
. Quem era o empresário que estava interessado? Não gostaria de dar o nome porque
não tenho autorização. É uma pessoa extremamente low profile. Foi a pessoa que me deu a tábua de salvação aqui no
Brasil, que me estendeu uma mão quando eu estava completamente perdido aqui.
. Gostaria de voltar para Portugal? Com certeza. É o meu país.
. O que é que falta para poder voltar para Portugal? O que é que pode
ainda fazer pelas pessoas? Pagar as indemnizações? Para mim é um ponto de honra
voltar a Portugal e pagar cada tostão com juros a cada uma dessas pessoas.
Estou há cinco anos tentando pôr- de pé. Sou bastante otimista, nunca vejo o
copo meio vazio, vejo sempre o copo meio cheio, como qualquer empresário. Tenho
a certeza que vou voltar um dia a Portugal e vou limpar o meu nome. É um ponto
de honra [a voz fica embargada]… Peço desculpa… E poder de novo conquistar o
coração das pessoas que deram parte das suas vidas a trabalhar numa empresa que
eu ajudei a criar e que
era a minha responsabilidade, obviamente.
.Isso implica, do seu ponto de vista, pagar às pessoas, pagar aos
bancos? As pessoas são as pessoas. Os bancos são
os bancos. Os bancos tinham uma relação de negócio connosco. Os bancos não
cumpriram comigo também, muitas coisas. Se o BES tivesse cumprido com a PT nada
disto tinha acontecido. Há aqui uma triangulação. A culpa é minha? Não. A culpa
foi do banco. Eu fui arrastado. Eu nunca teria ido à falência se não tivesse
acontecido o que aconteceu à PT. Está a entender? O banco empresta-me dinheiro a
mim, depois pede dinheiro à PT…
.Não é uma questão de culpa, mas de responsabilidade relativamente aos
financiamentos que foram concedidos. Eu assumo as responsabilidades até eu não estar mais na Ongoing. Pediram-me
para pôr dinheiro lá [no BES] eu pus, para eu ir buscar mais garantias, eu dei
essas garantias, dei até aquelas que não tinha que foi o meu aval pessoal.
Ainda propus um PER [Processo Especial de Revitalização]. Nenhum dos credores
aceitou. Se tivessem aceitado. provavelmente eu teria dado uma grande volta à
situação. Provavelmente daqui a dois ou três anos eu teria pago uma boa parte
desse crédito. Mas a minha imagem em Portugal, a imagem da Ongoing, estava
acabada. Eles fizeram PER com outras empresas que estavam bem pior que a
Ongoing. O PER não foi dado à Ongoing pela sua má imagem.
.Como é que com o PER ia gerar receitas para pagar a dívida, por
exemplo, ao Novo Banco? O PER requer uma reestruturação da dívida. Aqui no Brasil fiz vários. Os
credores fazem um perdão de dívida ou transformam em capital. Mas viabilizam a
empresa e os postos de trabalho. Eu tinha a certeza que era capaz de fazer
isso, porque as empresas eram boas e viáveis. Quando se diz que a Ongoing
não era nada… Não era nada, mas pagava impostos, empregava mais de duas mil
pessoas. Não era apenas aquela tasquinha que vivia dos dividendos. E era só o
maior accionista da maior multinacional portuguesa, que era a PT. O nosso projecto
era ganhar cada vez mais controlo na PT e pegar naquelas empresas start-ups
todas e nas empresas de media e integrá-las na PTellos, ex-presidente da
Joe Berardo está a ser investigado, assim como o seu advogado André
Luiz Gomes, que também foi advogado da PT. Receia uma investigação relacionada
com os devedores dos bancos? Já fui investigado, em muitos outros casos, de ter
ligações ao Ricardo Salgado, no Brasil também por causa dos accionistas da Oi
que foram presos. Depois daquele caso miserável em que fui acusado durante
cinco anos de uma coisa que não fiz [o caso das secretas], nunca mais
fui acusado de nada. Eu estou de consciência tranquila, não fiz nada, não
desviei activos ou dinheiro. Pus tudo o que podia naquilo em que eu acreditava,
continuo a lutar para me reerguer e voltar. Devia impostos em Portugal, não
pessoalmente, mas como administrador do Económico e da Ongoing, e já comecei a
pagar. Espero que não andem à procura de um bode expiatório para justificar as
péssimas decisões que se fizeram no passado em relação ao BES. Como é que o banco é vendido por mil milhões e depois tem uma linha de
crédito de nove mil milhões [apoios públicos ao Novo Banco]? A culpa é do
empresário? Foi isso que tentei explicar na CPI e ninguém quis ouvir. Há
partidos políticos que estão falidos, há anos, tecnicamente. Onde é que está
essa dívida? A bem da verdade, cortou-se o pio ao Nuno Vasconcellos. Eu achei
aquilo ridículo, lamentável. Não as perguntas dos deputados, do Bloco de
Esquerda. Não gosto que ela [Mariana Mortágua] me acuse, obviamente. Ela é
assim com toda a gente e eu respeito isso. O que não aceito é que haja
deputados que a uns fazem perguntas com tapete vermelho, como aconteceu com
Rafael Mora. E para outros vem um monte de acusações.
. Quem é que foi o deputado que fez perguntas com tapete vermelho a
Rafael Mora?
Adivinhe. Foi o deputado do PSD, um
jovem. E o próprio presidente, quando ele chegou lá e disse “Dr. Rafael Mora
mandou logo um e-mail para cá, a dizer que queria ser ouvido”…
. E tem alguma explicação para isso? Para o tratamento VIP que, na sua
perspetiva, Rafael Mora mereceu? Não teve
tratamento VIP do PS nem do Bloco de Esquerda.
. Está arrependido de ter tratado assim os deputados? Porque na prática
os deputados sentiram-se insultados por si. Teria feito de outra maneira? A gente tenta sempre fazer de outra
maneira, quer melhorar, não quer piorar. Sobretudo se tem um mínimo de
humildade e inteligência emocional, acha sempre que pode fazer melhor. Mesmo
que ache que não fiz nada de errado. Eu respondi a todas as perguntas.
. Mas houve uma pergunta, em particular, que tinha a ver com uma
offshore no Panamá. Os accionistas da Affera? Mas eu não sei quem são os accionistas da Affera. Eu
não sou accionista de nenhuma empresa, hoje em dia. Nem posso ser. Eu estou
insolvente em Portugal.
. Mas esta é uma empresa no Panamá. Certamente que pode ser accionista
no Panamá ou mesmo no Brasil. Não posso. Mas mesmo que pudesse, era preciso que eu tivesse dinheiro para
poder investir nessas empresas. Infelizmente não tive essa capacidade. Todo o
dinheiro que eu tinha, meu e da minha família, deixei-o no BES, numa conta. um bom trabalho"
. O que é que faz no Brasil e o que é que tem? Eu tenho negócios no Brasil, sou gestor. Vivo do meu
salário. Tenho uma família para alimentar, tenho cinco filhos.
. É gestor mas não é proprietário? Não, não sou proprietário. Sou gestor das empresas que
estavam todas falidas. A Ongoing tinha uma participação de 40% na Realtime no
Brasil, que tinha um monte de empresas falidas aqui no Brasil. E eu tive de me
fazer à vida. Eram sociedades anónimas, transformei todas em sociedades
limitadas. E nomeei-me administrador único dessas empresas.
. Quem são os donos dessas empresas? Um grupo de accionistas americanos e brasileiros que
deram crédito naquela altura, com juros altíssimos, contrapartidas altíssimas
que deram o capital também. Eu não sou accionista dessa empresa nem de nenhuma
outra, nem no Paraguai ou no Panamá, nem no Brasil. Sou representante dessas
pessoas que me deram uma mão e acho que tenho feito um bom trabalho.
Avancei para um projecto há dois anos que é o maior parque temático no
Brasil. Estava com 750 pessoas desempregadas, fechado desde Janeiro.
Arranjei um grupo de accionistas e reabri o parque. Consegui fazer isso também
no jornal O Dia, uma reestruturação em que os trabalhadores aceitaram um corte
de 80% das dívidas que a empresa tinha. Fizemos isso com muita ajuda dos
trabalhadores e obviamente dos credores.
. Ou seja, fez no Brasil aquilo que não conseguiu fazer em Portugal? Consegui fazer aqui no Brasil porque
aqui nenhum advogado dos trabalhadores entrou com um pedido de insolvência. Se
algum credor tivesse pedido a insolvência da empresa, teria sido o fim.
[A entrevista tinha sido dada como concluída e Nuno Vasconcellos faz
questão de voltar a falar sobre o seu regresso a Portugal e o Diário Económico]
Eu gostava muito de voltar um dia a
Portugal, não para ter negócios, acho que não vou voltar a ter negócios em
Portugal, mas quero muito limpar o meu nome. Tenho filhos, tenho primos, tenho
uma família grande. Eles não têm culpa nenhuma, mas acabam por levar com esta onda negativa. Mas isso
não é o que me preocupa porque eles são pessoas fortes. O que me preocupa e
tira o sono são as pessoas que eu deixei desamparadas e que deram parte das
suas vidas. Sobretudo as pessoas que trabalharam na área de media e do Diário
Económico. Eu queria deixar esta mensagem para elas. Têm a minha promessa, o
meu compromisso, não vou descansar enquanto não pagar cada tostão que ficou
devido pela empresa a essas pessoas. Sinto-me moralmente responsável por essas
pessoas que nunca quis abandonar. E espero que acreditem em mim. E mesmo que
não acreditem, não tem problema porque vou pagar cada tostão com juros. Sei que
legalmente nada me obriga a isso, mas moralmente eu me obrigo a mim próprio. E isso
vai acontecer.
Tem algum horizonte temporal? Antes de fazer isso tenho de ir falar com o meu gestor
de insolvência. É algum dinheiro que está aqui em causa. Espero que Deus me dê
saúde para eu poder voltar. Esse colchãozinho é o primeiro que vou fazer, para
pagar a insolvência e depois pagar aos trabalhadores. Penso que será à volta de
dez milhões de euros. Bem negociado, com o administrador de insolvência. Com os
trabalhadores não quero negociar nada. Vou até pagar mais, com os juros. Deram
parte da sua vida. É lamentável aquilo que aconteceu. Não tem explicação, não
tem desculpa. A única coisa que eu posso pedir é desculpas.
ONGOING EMPRESAS NOVO BANCO
BANCA RESOLUÇÃO DO BES BANCO ESPÍRITO SANTO PAÍS
BCP
FRANCISCO PINTO BALSEMÃO PT
COMENTÁRIOS (de 32)
José Montargil: Seria interessante em Portugal os media, os jornalistas desmascararem estes
aventureiros que estão em todo o lado. Sejam bancários vindos do interior rural como os que
passam o Verão na Costa do Sol. Se uns vêm de gente pobre e pretendem sair da miséria
outros têm origem em malta cheia de massa e querem imitar os escroques
internacionais. Era isso o que eu gostaria de ler.
Rui Brandao: Entrevista interessante e ainda bem que o Observador a realizou e publicou.
Cada um deve avaliar o que é dito - não cabe aos jornalistas fazerem censura. De
resto, um pequeno comentário - desde 2005 os EUA não permitiram o fecho de
apenas um banco, mas sim cerca 500 bancos. Não foi só o Lehman Brothers, mas
muitos outros pequenos bancos que foram fechados ou vendidos a outras entidades
ao abrigo do TARP. OS accionistas perderam o dinheiro, os depositantes em geral
não.
……………
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