Um pensamento um tanto macabro este do
Dr. Salles, que me parece envolto em tristeza, a mesma – ou outra – que nos
acabrunha, em face de perspectivas acabrunhantes, na conquista de um futuro
sombrio, visto um presente envolto numa qualquer maleita que parece ter-se
definitivamente imposto no ar que respiramos e nos transtorna a existência, mau
grado as passeatas que já se efectuam por esses caminhos do espaço, talvez um
próximo brinquedo do Homem irrequieto, sempre, e cada vez mais ambicioso na
obtenção do conhecimento, apesar da modéstia dos clássicos contida no aforismo
cartesiano “Só sei que nada sei”. Mas é por isso que recorro uma vez mais a
Pessoa, cujo poema “Tabacaria” do seu heterónimo Álvaro de Campos, nos enche
sempre a alma de encanto, e que envio ao Dr. Salles para nele mergulhar as suas
próprias tristezas, desejando simultaneamente que a sinceridade do Dr. Salles,
na afirmação do seu pensamento honrado, se mantenha por longos anos, assim,
ferino ou simplesmente sensato, como uma lição a seguir, há muito, todavia,
posta em causa, pelos adeptos do simplismo como virtude:
(Excerto de um pensamento lúcido):
«……….Que sei
eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que
penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos
que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste
momento
Cem mil
cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história
não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá
senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não
creio em mim.
Em todos os
manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não
tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em
mim...
Em quantas
mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão
nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas
aspirações altas e nobres e lúcidas —
Sim,
verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —,
E quem sabe
se realizáveis,
Nunca verão a
luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para
quem nasce para o conquistar
E não para
quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. ………»
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 25.07.21
O silêncio espera por nós na eternidade. Não
hesitemos agora em dizer o que pensamos – se pensamos.
COMENTÁRIOS
Escassos
meses depois de eu saber que havia dado um salto gigante a caminho da eternidade,
convida-nos agora a dizer o que pensamos, antes que o manto de silêncio nos
cubra na eternidade. Pois vou aceitar o teu convite, Henrique, e quebrando o
silêncio, vou alinhavar alguns pensamentos que, por factos que a seguir
discriminarei, assaltaram hoje ao meu cérebro. Vi hoje, no youtube, o professor
Agostinho da Silva, numa das suas conversas vadias, a dizer que o homem não tem
defeitos e virtudes, mas apenas características e somos nós, em função da
avaliação que fazemos delas, que caracterizamos cada uma delas em virtude ou
defeito. Pois, então, que todos os que estão na Eternidade, e independentemente
dessas características, que descansem em Paz. Também hoje comecei a reler “A
Guerra Fria”, de John Lewis Gaddis. O livro começa com a referência que no dia
25/4/1945, na cidade leste-alemã de Torgau, nas margens do Elba, encontraram-se
os exércitos aliados que convergiam de extremos opostos do globo e dividiam a
Alemanha nazi ao meio. Sorri pela coincidência de datas. Nessa mesma data, como
sabemos, houve a libertação de Itália, e nesse dia e mês, umas décadas depois,
Portugal haveria de comemorar a sua revolução que estende, pelo menos, até
outro 25, mas desta vez, de novembro e do ano subsequente. A este propósito,
não pude deixar de me recordar de André Malraux que disse que na revolução
portuguesa, pela primeira vez (e única, penso eu) os mencheviques derrotaram os
bolcheviques. Pronto, já quebrei o silêncio que nos espera na eternidade. Um
abraço. Carlos
Traguelho
Anónimo 31.07.2021: Para Baruch
Espinosa, há uma unidade entre a natureza e o espírito, aspecto em que difere
do dualismo de Descartes, que separa a filosofia da religião. Daí que, segundo
Baruch, Deus está na essência dessa unidade. E assim sendo a eternidade não
terá a estrita duração das nossas vidas?
Henrique Salles da
Fonseca: 31.07.2021: A questão
de haver ou não vida para além da morte. E, na afirmativa, por quanto tempo? Aos
raciocínios eruditos há a convicção empírica que move montanhas.
Adriano Miranda Lima 31.07.2021: Sr.
Dr., comentei e não reparei que não estava disponível a minha identificação,
como costuma estar. Citei Espinosa porque estou a lê-lo de novo. É dos meus
preferidos e o meu deus é o dele. Um abraço Adriano Miranda Lima
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