quarta-feira, 21 de julho de 2021

Só é pena o tal Acordo

A que a Paula, como professora de português tem que se submeter. Trata-se de um Relatório de Final de Ano sobre um Projecto de Ensino Básico, que ela fez no ano passado por proposta das chefias, e seguiu este ano, com o entusiasmo e dinamismo que nele revela, seguindo planos de uma sequência formativa de progressiva dimensão, na inter-relação pensamento / fala / escrita. Julgo que se trata de um processo pedagógico que poderá interessar tanto aos alunos como aos professores e até aos pais.

E repito o seu pensamento final, que me parece adequado aos tempos que passam. Mas, para além de compreender a diversidade do mundo, acrescento que é sempre boa a sujeição desse mundo a regras que o não façam despenhar-se no caos de uma diversidade descontrolada…:

“Parar é deixar de ter razão/razões para compreender o mundo e a sua diversidade.”

 

RELATÓRIO FINAL “FILHOTES DE MAIA” (20/21)

(Projeto de intervenção pedagógica no 1º Ciclo)

O presente relatório visa fazer um balanço do projeto “Filhotes de Maia”, aprovado em 2020 e dinamizado na Escola Básica Fausto Cardoso de Figueiredo, nas quatro turmas que integram o 1º ciclo.

Tendo nascido de um desafio ao meu gosto de escrever colocado pela Diretora do Agrupamento, apresentou-se logo como uma ideia à procura de forma.

Esteve na sua origem a frequência da sua formação em práticas de avaliação pedagógica (Maia), e estendeu novos ramos ao projeto final (sobre comunicação oral e escrita), apresentado pelo grupo da escola que frequentou a mesma acção – “Os treze magníficos”! – “Falar e escrever… é pensar!”, o nome do nosso projeto de intervenção final, tecido para moldar, dentro do espírito do Projeto Escola iNova 20/25 (?), o Projeto Educativo para o Agrupamento Ibn Mucana, em remodelação. “Filhotes de Maia” teve, como propósito, realçar as potencialidades da avaliação formativa, com a consequente tomada de consciência dos alunos e envolvimento na sua própria aprendizagem (revertendo num natural desdobramento e multiplicidade de práticas com constante feedback sobre o trabalho realizado). Serviu ainda para articular conteúdos das várias áreas disciplinares, tarefa mais fácil no 1º Ciclo (Português, Estudo do Meio e Expressões).

Estabelecidas as linhas de orientação do “Filhotes de Maia”, começaram as atividades “na Fausto”, no dia 28 de Setembro de 2020. Tinham-me sido atribuídos 90 minutos divididos, à 2ª feira, pelos 2º e 1º anos, e 120 minutos, à 4ª, pelos 4º e 3º anos. Em termos de tempo foram cumpridas praticamente todas as sessões (exceto em dois feriados à 2ª feira, uma aula de esgrima e uma de teste, no 1º ano; uma aula de teste no 3º e 4º anos, e as duas últimas de junho do 2º ano, por a turma se encontrar em isolamento profilático).

As atividades decorreram com ritmo, delineadas e normalmente conseguidas à cadência de uma por sessão.

No 1º e 2º anos, centraram-se, sobretudo, no ouvir e falar, mas também a partir do ver / compreender (filmes, imagens), aproveitando-se, por vezes, os conteúdos que os alunos se encontravam a trabalhar em aula, para consolidar regras ortográficas ou morfossintáticas, para refletir sobre temas e conceitos, sempre justificando e organizando, com lógica, as ideias que surgiam, ainda em pequenas produções muito centradas na oralidade. O 1º e 3º períodos terminaram com apresentações orais (no 1º, contar/ no 3º descrever).

No 3º e 4º anos, mais direcionados para o falar e escrever, para além dos aspetos linguísticos que servem de suporte às mensagens, foi muito treinada a estrutura do texto e induzida, através da exploração de temas, a noção da riqueza do pensamento; foram realizadas tarefas de registo de esquemas, resumo, reconto, escrita coletiva e individual, escrita após deteção e hierarquização de ideias / sua organização lógica, em tarefas de planificação e textualização, portanto, por vezes mesmo propostas pelos professores titulares das turmas, que, em articulação com o “Filhotes”, as transferiam para realização no tempo destas sessões). Também, e dentro das mesmas linhas do 1º e 2º anos, o 3º e o 4º terminaram com apresentações orais.

Introduziu-se, nestas duas turmas mais avançadas, o uso de rubricas (não fabricadas com os alunos, ainda, mas adaptadas, na sua linguagem, a cada faixa etária) e das listas de verificação. Não foi um trabalho tão sistemático quanto desejável (até para não o carregar de pormenores mais técnicos, uma vez que se pretendia privilegiar a natureza das ideias), apenas serviu de reflexão a cada um sobre o seu próprio trabalho em momentos de escrita individual. Não foram elaboradas grelhas para a oral, aspeto a rever e aperfeiçoar, no próximo ano letivo. No entanto, o feedback sobre a prestação oral dos alunos foi constituído por momentos ricos e participados, tentando eu sempre incutir a sua vertente criterial e não subjetiva, chamando a atenção para o enunciado, dando exemplos, colocando questões que apelavam ao cumprimento do pedido inicialmente feito.

As grelhas de avaliação formativa (rubricas) sobre a escrita e respetivas listas de verificação não contribuíram ainda para o aperfeiçoamento desejável das produções dos alunos, pois estes, na sua imaturidade, inexperiência de leitura, pressa e leveza, consideram, quase sempre, ter cumprido todos os requisitos, não observando e interiorizando, portanto, o sentido e o valor de GPS que estes critérios possuem.

Em todas as turmas se foi tentando sensibilizá-los, através de um vocabulário mais rico, para a noção de imagem literária, de associação entre o real próximo e concreto (estão ainda muito centrados em si próprios e no seu mundo pessoal) e um real imaginário / subjetivo: foram mobilizados adjetivos, advérbios, comparações e personificações, sem qualquer pretensão de trabalhar questões de metalinguagem e dar nomes às figuras de linguagem, retórica ou do pensamento. A meu ver, os alunos iriam interiorizando as potencialidades da língua e da linguagem literárias, sem serem massacrados com os seus nomes (terão tempo para tal, no 2º, 3º ciclos e secundário).

Constituindo-se como um processo apenas formativo, sem qualquer compromisso de classificação da minha parte, portanto, cada turma o recolheu à sua maneira: os mais desconcentrados e agitados (infelizmente do 4º ano) aproveitaram menos - o seu comportamento irregular generalizado e sistemática falta de atenção não permitiram a interiorização dos conceitos trabalhados ao longo do ano. Apenas duas alunas se dedicaram, embora se trate de alunas que a tudo se dedicam, tudo levando a sério na escola e não entram em palhaçadas ou perdas de tempo escusadas. Tratou-se, na minha opinião, de um projeto muito interessante, com muitas potencialidades, até para tentar fazer reverter os efeitos da pandemia sobre as aprendizagens, nestes dois últimos anos. Da turma do 4º ano, por ir para o 2º ciclo, esperar-se-ia uma atitude um pouco mais responsável e empenhada, que permitiria aos alunos apresentar, no próximo ano, competências facilitadoras das aprendizagens e, consequentemente, melhoria nos seus comportamentos.

O mesmo não aconteceu nas turmas do 1º, 2º e 3º anos, em que o interesse e a participação foram muito mais evidentes e o entusiasmo se nos foi colando gradual e naturalmente mais à pele, promovendo ideias mais variadas e aprendizagens mais significativas.

Para que os alunos avaliassem o projeto e, na sua constante construção se envolvessem e revissem, coloquei três questões informais no quadro:

- gostaste / não gostaste (justificando);

- o que aprendeste (o que fizemos);

- o que pode ser melhorado (propostas).

Por nos termos atrasado nas apresentações orais, que exigem um feedback imediato, os alunos responderam posteriormente, discutindo oralmente ou respondendo por escrito, processo já liderado pelo professor titular, que compilou os resultados e mos fez chegar (o 1º e o 3º anos, em formato digital, o 4º, em papel. O segundo ano não completou nem as apresentações orais, nem realizou a tarefa de avaliação proposta para avaliação do projeto, devido ao seu isolamento). No 4º ano, cada aluno entregou a sua folha com as respostas e foi de notar que, na 3ª questão (“O que pode ser melhorado?”),  a maior parte não compreendeu o alcance da pergunta, a sua relação com a natureza e desenrolar das tarefas, e apontou aspetos associados aos maus comportamentos individuais e do grupo-turma revelados ao longo do ano (em vez de fazer propostas, como se pretendia e aconteceu no 1º e 3º anos). Estas questões serão apresentadas como diagnóstico, exceto na turma que vier para o 1º ano por razões óbvias.

Também eu aprendi muito: a pensar na variedade e necessidades do outro, os meus públicos-alvo (mesmo em PLNM, que venho a lecionar de há uns anos para cá), nas estratégias de condução do plano com que fora pensado e iniciado o projeto, a adequar a minha própria linguagem às idades que faltavam no meu já longo caminho de escola. Foi um momento feliz, um daqueles em que a vida profissional compensou muitos dos (des)caminhos da vivência pessoal, e conseguiu mesmo mudar o olhar sobre o menos bom.

Termino com o pensamento que norteou a aceitação do “Filhotes de Maia”:

 

“Parar é deixar de ter razão/razões para compreender o mundo e a sua diversidade.”

 

Parece-me que esta frase é da minha autoria, pensei-a e escrevi-a. Nem vou tentar verificar a sua originalidade no nosso querido “doctor Google”, com o seu googlês ilimitado.

 

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