Stat
virtus, é claro, não se deve
exagerar - para ambas as bandas. Fechar os olhos a problemas como o da
escassez das águas, o degelo nas zonas polares, proveniente do aquecimento
global, e as terríveis consequências sobre a Fauna e a Flora, e, naturalmente, sobre
o Homem e o seu habitat, parece inconsciência, que é necessário atalhar. O mal
é que o problema tende a agravar-se, com o aumento populacional e os Kim Jong-uns entretendo-se com os seus
brinquedos de envergadura a reforçar, impunemente, esse mal-estar. E distraidamente,
por parte dos com mais poderes económicos, que não se intrometem, cientes das
suas próprias responsabilidades là-dessus.
A Greta não passou de um artifício pedante e ruidoso, posto em prática por
gente rica de uma nação rica – não o suficiente, todavia, para competir com os
reais vendilhões do Templo – desde os dos desgastes ambientais na Amazónia aos
das poluições sem freio, de um mundo cada vez mais tecnologicamente aparelhado
e envaidecido nas suas descobertas desgastantes.
Não se deve exagerar, com certeza, nas críticas manipuladas essencialmente pelos interesses de uma esquerda de aparente - interesseira - misericórdia - ou sagaz azedume. Mas que vivemos assustados, a pensar nos vindouros, isso também.
A eco-ansiedade
Há adolescentes (alguns bem tardios)
que têm crises terríveis de pânico quando vêem a água correr das torneiras em
casa dos pais, porque imediatamente pensam no colapso climático.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 21 Out
2021
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Fico
sempre fascinado com o modo como certas ideias, em certas épocas, se tornam um
tema absorvente e dominante, ao ponto de congregarem sob si todos os outros
temas e formarem com eles um todo que avança pela sociedade dentro como a lava
incandescente de um vulcão. Dantes, costumava ser a “luta de
classes”, o célebre “motor da história”. Agora, é o “aquecimento
global”, que vai destruir o planeta. O que une
todas essas ideias é o seu carácter omni-explicativo. Nada, em princípio, escapa ao seu poder e praticamente
tudo pode delas ser deduzido. Permitem, num ápice, fazer sentido de tudo,
dando-nos uma causa comum, e todos nós precisamos desesperadamente de fazer
sentido, se possível unanimemente, deste mundo feito em pedaços.
Para
mais, como dizia um filósofo, certas palavras, que ele chamava “ídolos da praça
pública”, tendem a ganhar um poder próprio e a desviar o entendimento da rota
certa. O investimento passional que elas suscitam, fazendo que tudo ganhe a
dimensão de uma escolha existencial imperativa e inadiável, estimula a
facilidade de acreditar que naturalmente é a nossa e reforça a nossa tendência
a ver sinais da justeza das ideias nos acontecimentos mais díspares e
desconexos. Já agora, esta tendência para o entrincheiramento numa
opinião leva-nos a procurar a todo o custo confirmações dela, por mais fortes
que sejam as instâncias em contrário. É
algo que pertence à natureza humana e que se enquadra dentro daquilo que o
mesmo filósofo chamava “ídolos da
tribo”.
As ideias não precisam de ser falsas. Pelo
contrário, convém que contenham, no seu núcleo central, uma parte de verdade
que interesse a todos. Acontecia com a “luta
de classes”, acontece com o “aquecimento
global”. Mas a
“ciência” que nos explicava a primeira e que nos explica a segunda raramente
resiste à tentação de magnificar esse núcleo central e à anexação imperial de
todos os outros fenómenos. Isto que digo é uma banal constatação. Não pretendo, ao contrário do grosso da opinião que me
calha ler, ter qualquer competência científica para emitir juízos de fundo
sobre a matéria. Quando
muito, e porque, durante algum tempo, li muita literatura respeitante ao
assunto, tenho algumas ideias gerais sobre certos aspectos da controvérsia em
torno do “aquecimento
global”. Trata-se,
como é muito compreensível, de uma controvérsia
impura, em que os
elementos propriamente científicos e os elementos políticos tendem, perigosa
mas inevitavelmente, a confundir-se, como, de resto, a muito corrente expressão
“consenso científico” o ilustra: a ciência busca a verdade, não o
consenso; e a política busca o consenso, não a verdade.
Além
disso, num plano
puramente sociológico, há toda uma
indústria que à sombra desta questão se construiu e que garante uma enorme
quantidade de empregos em lugares vários e que condiciona poderosamente a
investigação científica. E não estou
sequer a pensar na tão falada “transição
climática” do nosso PRR. Estou a
dizer que se alguém quiser obter financiamento para uma
investigação da reprodução do lince ibérico na Serra da Malcata terá
provavelmente de apresentar um projecto com um título do género: “Os efeitos do aquecimento global na reprodução
do lince ibérico na Serra da Malcata”. E muitas outras coisas assim.
Nada
disto, é claro, tira qualquer
seriedade à questão.
Pessoalmente, sou muito sensível aos problemas ecológicos. Gosto deste nosso
bom velho planeta, gosto de animais, de montanhas e do mar. Tudo o que ameaçar
a vida sobre o planeta deve ser obviamente combatido e acho muito bem que se
congreguem todos os esforços possíveis para reduzir ao máximo os malefícios
inerentes ao progresso efectivo da melhoria das condições de vida nas nossas
sociedades industriais, até porque, além do que mencionei antes, tais
malefícios se arriscam a pôr perigosamente em causa esses mesmos progressos.
Do que francamente não gosto, no entanto, é do fanatismo apocalíptico que rodeia a Grande Causa, que conta já com os seus santos (Santa Greta e São
Guterres, entre outros) e um grande número de terroristas do Bem. E
não gosto dos efeitos que a Grande Causa provoca na cabeça de muita gente a
quem ela bateu forte na cabeça, como em tempos Das Kapital tinha
batido, com os efeitos nocivos que todos conhecem.
Ora,
nas vésperas da Cimeira de Glasgow (31
de Outubro – 12 de Novembro), um artigo
da revista Lancet, em pré-publicação (falta ainda a
avaliação por pares), dá-nos optimamente conta desses efeitos nocivos. E, como seria de esperar, muita imprensa (entre nós,
sobretudo o Público) não conteve o seu entusiasmo justiceiro. Helena Matos já se referiu ao caso aqui no
Observador, mas não resisto a retomar brevemente o tema. Aparentemente, os jovens deste mundo andam a sofrer
de uma nova doença que se chama “ansiedade
climática”, ou,
alternativamente, “eco-ansiedade”, um mal que primeiramente fora
auto-diagnosticado por Greta
Thunberg.
Devo
dizer que sou compreensivo para com as ansiedades, sendo eu próprio um ansioso
da pior espécie. É verdade que, com a muito idade, o sofrimento psicológico vai
tendendo a diminuir, à medida em que a esperança se vai inexoravelmente
esvaziando. A alma continua a ter as suas flutuações, em circunstâncias
adversas, mas elas vão-se tornando menos lancinantes. O
sofrimento por antecipação (“Ela vai-me abandonar”) é menos praticado, até
porque finalmente entra na nossa cabeça, com alguma constância, a ideia de que
a vida é um processo de falsificação do nosso passado, de crenças (das mais
públicas às mais privadas) que se vão revelando sucessivamente erradas. A energia concentra-se toda em tentar
evitar a queda no cinismo e em manter ainda alguma ligação aos ideais. Como no poema de Beaudelaire, La
charogne, mas aqui sem ironia nenhuma, é
preciso guardar a forma e a essência divina dos nossos amores decompostos.
Isto, parecendo que não, poupa-nos a algumas angústias.
Mas
a adolescência – lembro-me bem – é lixada para os sofrimentos. Acredita-se
ainda muito na omnipotência do pensamento, e, como é inevitável, rói-nos a
dúvida: e se o
pensamento falhar? O
desespero está sempre ao lado, pronto a saltar para a boca de cena, com a mesma
força do dogmatismo. Daí a “eco-ansiedade”, filha da facilidade de
acreditar levada ao extremo, da crença no sentido absoluto que buscamos. A acreditar nos artigos do Público, há adolescentes
(alguns bem tardios) que têm crises terríveis de pânico quando vêem a água
correr das torneiras em casa dos pais, porque imediatamente pensam no colapso
climático, ou que são tomados de inomináveis angústias quando reparam no grande
número de embalagens de plástico nos supermercados. A não
participação dos outros (dos pais, por exemplo) nessas angústias
transtornam-nos. Transtornam-nos as “pessoas desinformadas”. Tudo isso, e muito
mais, lhes é insuportável. Procuram, portanto, outros que comunguem das suas
angústias. Juntam-se em grupos de “eco-ansiosos” e isso alivia-os. Há outros
que também acreditam no fim do mundo. Alivia-os até o saberem que existe um
nome, “eco-ansiedade”, para o mal de que padecem.
Mas,
e aqui entram os inevitáveis psicólogos, trata-se de um mal ambíguo. Os
psicólogos encontram-se face a um doloroso dilema. Por um lado, reconhecem que
se trata de um mal mental. Por outro, também eles adeptos da Grande Causa, não
podem considerá-lo exactamente como tal, não podem considerar que se trata de uma
vulgar monomania, já que a angústia tem uma plena justificação na realidade.
Quer dizer que esse sistema de crenças apocalípticas é ao mesmo tempo racional
e irracional, e isso não sucessivamente mas simultaneamente. Esperemos que
consigam resolver este difícil problema. Mas
o que é que os psicólogos não conseguem resolver?
Por
mim, em momentos mais optimistas, partilho a opinião do velho Taki, na Spectator,
a propósito de um assunto completamente diferente: “Suponho que é a natureza humana, nada de particularmente
grave”. E, quando julgo que é pior do que isso, penso noutra coisa. É preciso
evitar a ansiedade.
COMPORTAMENTO SOCIEDADE ADOLESCENTES ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS CLIMA AMBIENTE CIÊNCIA CRÓNICA OBSERVADOR
COMENTÁRIOS
Artur Morais: O problema não
é o jovem ficar revoltado pela torneira a correr, até eu ficaria revoltado.
O problema é a falta de foco nos
problemas reais, sendo que a falta de água pode e é o mais grave problema
nalgumas partes do mundo, enquanto noutras haverá água para dar e vender. O
mesmo se aplica às questões do lixo, às energias, etc... O essencial é não deixar as Gretas dominarem a
narrativa. Em vez disso, ensinar a história, ciência, enfim, mais educação com
rigor, poderá ser a chave para evitar situações que já ocorriam há 30 anos, em
que professores juravam que as praias que conhecíamos iam desaparecer, algo que
não ocorreu, voltem a acontecer. Sim,
é impossível sustentar um Planeta com 8 mil milhões de seres humanos, tal como
o fazemos agora. Não, nada se
resolve com histerismo e ansiedade social artificialmente incutida na
generalidade das pessoas.
Liberal Assinante do Local > Artur Morais: A
política é também a arte do possível, e os políticos que se dedicam a uma tara,
a ela sacrificando gerações de seres humanos, são maus políticos (um deles é
secretário-geral da ONU). A História pode-nos abrir os olhos sobre isso. E a
ditadura e a guerra não são "umas coisas do passado", estamos é
demasiado bem habituados.
JP Miranda: um
dia vamos acordar para a notícia dum qq jovem, eco-ansioso, que não aguentando,
se suicida por achar que o CO2 que liberta ao respirar vai "matar" o
planeta... já faltou mais
josé Maria: Paulo
Tunhas, o eco-negacionista convicto... Tanta filosofia, tão pouca inteligência e tanta
ignorância crassa... Sobra-lhe
em ridículo o que lhe falta em lucidez e conhecimento... Liberal Assinante do Local
> josé maria: "Sobra-lhe em ridículo o que lhe falta em lucidez
e conhecimento..." Não
é no Paulo Tunhas que eu penso ao ler estas inspiradas palavras! Nenhuma monomania é racional. Em rigor, nenhuma mania o
é, a mania é o contrário do equilíbrio da razão. O que agrava a tara marxista e
a tara ambientalista é elas serem colectivizadas e adoptadas por multidões que
se auto-legitimam na sua estrutural irracionalidade:
somos muitos, por isso estamos certos. letao jor: aceitei o conselho de um comentador e fui a
..".Extinction Clock,"... a fonte oficial da Internet para o clima do
fim do mundo e as previsões de extinção. Todas as previsões foram feitas por
indivíduos notáveis, acadêmicos, políticos, institutos e a imprensa.,... a fina
flor , as gretas thumberg do passado ... Liberal Assinante do Local > letao jor:
Há mais de cinquenta anos que nos prometem fins do
mundo, possivelmente até há mais tempo do que isso. Ah, se as pessoas soubessem
bem como é velhinho o tema do fim do mundo... E a piada maior de todas, ele
virá mesmo um dia, e isso é Ciência certa, tal como a nossa própria morte. As
"respostas" a estas verdades terríveis são necessariamente religiosas,
mesmo no caso dos ateus. maldekstre estas kaptilo: São por norma adolescentes tardios e perenes, coitados. Francisco Tavares de Almeida:
a ciência busca a verdade, não o
consenso; e a política busca o consenso, não a verdade. Mas o que é que os psicólogos não conseguem resolver? Noémia Santos: A Greta é demasiado jovem para ser tão negativa e
destilar tanto ódio. Mais me faz confusão quando destila esse ódio contra
gerações que há pouco anos lutavam pela sobrevivência. O ritmo a que tudo
evolui faz com que os jovens se esqueçam de que os avós passaram fome. Há aqui
muita falta de conhecimento da história. E há outra coisa que me incomoda
profundamente, esta nova tendência do ajuste de contas geracional. Podemos
corrigir erros, sim sem dúvida. Mas não com rostos carregados de ódio e de dedo
em riste maldekstre
estas kaptilo > Noémia Santos: O problema dela é precisamente usar o dedo em riste e
não para outras coisas que seguramente a deixariam bem mais feliz, satisfeita,
aliviada, alegre e bem-disposta com a vida e com os outros, em lugar de tanto
azedume e amargura. E se com 16 ou
17 anos já está assim, imagine-se o que será esta desgraçada quando passar dos
30. João Floriano
> maldekstre estas kaptilo: Tirar macacos do nariz é muito relaxante e sempre me
ajudou a pensar. A Greta sabe lá o que anda a fazer: será muito interessante
daqui a uns tempos saber pormenores sobre quem financia esta treta da Greta.
Por enquanto a torneira pinga e os paizinhos mais esgrouviados do que a
adolescente vão vivendo à conta. Quando a torneira secar porque entretanto
apareceu outro ícone, aí vamos ver. Quando chegar aos 30..... há bons
manicómios na Suécia?
Manuel Joaquim > Noémia Santos: A Greta é só uma frente para ideias de outras pessoas.
Um truque muito esperto, porque deixa a ideia que a oposição esta a discutir
com uma menina e isso é uma coisa que ninguém pode ganhar ou sair da cena sem
espalhar uma imagem péssima. Já
se criou uma palavra para isso: Pedophrastia. Mestre Nhaga: Se esses adolescentes tivessem passado um décimo do que
passaram muitos dos seus avós, que tarde souberam o que era um par de sapatos,
não puderam frequentar a escola e em carne só punham o dente em ocasiões
festivas, passava-lhes logo a eco-ansiedade. advoga diabo: O que pensar de alguém, ainda por cima notoriamente
inteligente, que perante a desgraça à vista de todos da Humanidade
"alegremente" persistir na destruição da sua casa comum, arruinando
assim o futuro das próximas gerações, o que nestas mais o preocupa é a
eco-ansiedade? Quando a Ideologia prevalece não há Filosofia que resista! João Floriano > advoga diabo: IH, que exagero! João Floriano: Excelente crónica cheia de pontos fortes para reflexão.
O mais forte para mim será a afirmação que «a ciência busca a verdade, não o
consenso e a política busca o consenso e não a verdade». Parto do pressuposto
que a reflexão é do Dr. Paulo Tunhas e só lhe posso tirar o meu chapéu.
Suponho que a Filosofia estará acima da Ciência e da Política. Outro ponto
interessante é o que se entende por tribalismo moderno e por que razão, com
tanto avanço científico e civilizacional continuamos à procura da nossa tribo e
da aprovação tribal que chega geralmente através das redes sociais com os
amigos virtuais. No início as tribos sentavam-se à volta da fogueira para
socializar, afastar o medo, a ansiedade. Hoje sentamo-nos à volta da rede
social e contamos histórias como antigamente. bento guerra: Não pisem a eco-formiguinha Fernando E: Delicioso comentário.
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