Vale a pena ler o texto, citado no
registo anterior deste blog, da revista “Courrier
Internacional” sobre o mesmo assunto do exposto no OBSERVADOR, por PEDRO BASTOS
REIS – o crime organizado na Holanda: («Numa
carta aberta, o jornalista e especialista italiano em crime organizado Roberto
Saviano acusa o país de se ter tornado o “ramo podre da Europa”, por se ter
tornado “um território offshore”.»):
O crime organizado cresceu e a ameaça já
chegou ao primeiro-ministro Mark Rutte. O que está a acontecer nos Países
Baixos? /premium
Segurança foi
reforçada, mas estará Rutte em risco? Mocro Máfia expandiu-se nos Países
Baixos, o centro do tráfico de droga para a Europa, e tenta impor medo enquanto
os seus membros são julgados.
PEDRO BASTOS REIS:
Texto
OBSERVADOR, 05
out 2021
Seja
para ir visitar o rei Guilherme Alexandre, para receber líderes internacionais
ou para ir buscar um café antes de começar o dia de trabalho, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, desloca-se (quase) sempre de bicicleta e com
poucas ou nenhumas medidas de segurança à sua volta, uma forma de estar muito
característica dos políticos nos Países Baixos. No entanto, os passeios
tranquilos de Mark Rutte podem ter os dias contados, numa altura em que a
imprensa holandesa afirma que o
homem que chefia o governo holandês há 11 anos pode estar na mira de um
perigoso grupo de traficantes de droga.
A
notícia foi divulgada no passado dia 27 de Setembro pelo jornal De Telegraaf,
que, citando fontes do governo e da polícia sob anonimato, afirmava que agentes
especiais dos Serviços de Segurança Real e Diplomática (DKDB)
tinham sido mobilizados
para proteger Mark Rutte. O
gabinete de Rutte, porém, não confirmou que as medidas para a protecção do
primeiro-ministro tenham sido alteradas, aumentando o suspense sobre o que está
realmente em causa.
Tudo
isto acontece quando passam cerca de três meses do assassínio do
jornalista Peter R. De Vries, de 64 anos, especializado na investigação do crime organizado,
e que estava a aconselhar e a atuar como porta-voz de Nabil B., uma
testemunha-chave no julgamento contra membros da máfia marroquina.
Conforme
conta o De Telegraaf, os alarmes que levaram ao alegado reforço da segurança
em torno de Mark Rutte soaram
quando foram avistados os chamados spotters
da Mocro Máfia (expressão pela qual é conhecido o grupo de crime
organizado cuja grande parte dos membros é de ascendência marroquina) perto do
primeiro-ministro holandês — no mundo
do crime organizado, por norma, os spotters seguem os alvos e recolhem o máximo
de informação possível para delinear um plano de ataque. Temia-se que Rutte pudesse ser alvo de um rapto ou
assassínio, ameaças que segundo o De Telegraaf estavam a ser levadas muito a
sério pelos serviços de segurança, embora oficialmente não haja qualquer
confirmação. Há, contudo,
uma pergunta que fica no ar: qual
o objectivo de grupos dedicados sobretudo ao tráfico de droga visarem directamente
o primeiro-ministro?
“Existem
muitas especulações sobre quem está por trás das ameaças ao primeiro-ministro.
Até agora, não há evidências claras de que a Mocro Máfia tenha Mark Rutte
como alvo. Como Rutte não representa um obstáculo directo para o
negócio ilegal de droga, não há razões para o atacarem”, afirma ao Observador Dina Siegel, professora de
Criminologia da Universidade de Utrecht, antevendo que nada de significativo mudará em torno da segurança dos
políticos no país, até porque pouco ou nada alterou desde que surgiram as
notícias sobre o reforço policial em torno de Rutte.
▲Mark Rutte costuma deslocar-se de
bicicleta, descartando a protecção policial GETTY IMAGES
“A
imagem de um primeiro-ministro sempre a sorrir e a pedalar é uma imagem de
marca de Mark Rutte, que a quererá manter no futuro. Existem políticos nos
Países Baixos, como Geert Wilders [líder da extrema-direita holandesa], que têm
segurança 24 horas por dia, mas “a maioria dos políticos enfatizam a liberdade de
movimentos como um valor muito elevado”,
acrescenta a especialista, especulando que o reforço das medidas de segurança
pode ser apenas provisório.
“Criar medo” entre a sociedade holandesa pode explicar ameaça a Mark
Rutte.
Se
neste momento o que há são, sobretudo, especulações, a detenção na semana
passada do político Arnoud van
Doorn, suspeito
de participar num plano para assassinar Mark
Rutte, trouxe
ainda mais confusão ao caso. Van Doorn, que abandonou o partido de extrema-direita de Geert
Wilders para se converter ao Islão, foi
detido, conforme explica o Politico, devido a comportamentos “suspeitos”, ao aparecer
várias vezes no mesmo local do que o primeiro-ministro holandês em Haia.
Acabaria por ser libertado sem qualquer acusação horas depois.
“Apenas podemos especular. Pode ser que haja um
sentimento de serem intocáveis. Outra razão pode ser a intenção de criar medo", diz Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal
da Universidade Aberta de Utrecht, sobre motivos que levaram ao aumento da
protecção policial a Mark Rutte
Após o assassínio do jornalista Peter R. De Vries em julho, Mark Rutte prometeu mão firme perante o crime organizado no
país e garantiu que “é uma questão de horas, dias, meses ou anos, [mas] será
uma batalha que os Países Baixos vão vencer”. Além
disso, no passado mês de Setembro, o governo interino holandês — as últimas
eleições, que deram a vitória Partido Popular para a
Liberdade e Democracia de Rutte
foram em Março, mas os partidos ainda não chegaram a acordo para a formação de
um novo executivo — prometeu uma verba de 430 milhões de euros para
combater o crime organizado nos próximos anos.
No
entanto, para Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta
de Utrecht, “não é
provável” que tal faça com que o primeiro-ministro holandês se torne num alvo
para grupos como a Mocro Máfia. Para o
especialista no crime organizado, o objectivo pode ser criar um sentimento de
medo entre a população, numa altura em que membros da Mocro Máfia enfrentam a
Justiça.
▲Centenas de
pessoas prestaram homenagem, em Julho, no local onde o jornalista De Vries foi
baleado NURPHOTO VIA GETTY IMAGES
Outrora membro da Mocro Mafia, Nabil B. tornou-se
informante da polícia e os seus testemunhos em tribunal podem ser decisivos
para condenações no chamado caso
Marengo, em que 17 membros da máfia marroquina estão a ser
acusados de traficar droga e de uma série de assassínios nos últimos anos. Derk Wiersum era o advogado de Nabil B.
e na manhã de 18 de Setembro de 2019 foi assassinado à porta da sua casa em
Amesterdão por um homem encapuzado que lhe deu dez tiros, fugindo de seguida
numa carrinha que o esperava. No
ano anterior, em 2018, foi Reduan
Bakkali, irmão de Nabil B.,
assassinado. Em Julho deste ano, o jornalista Peter R. De Vries. Os três tinham em comum o facto de estarem na
“lista negra” da Mocro Máfia, cujas ameaças, de acordo com a emissora holandesa NOS,
levaram ao reforço da segurança em torno de cerca de 20 pessoas nos últimos
meses, sobretudo jornalistas, juízes ou advogados.
A ascensão da Mocro Máfia
A
abreviatura “Mocro” remete para
a expressão utilizada pelos membros do grupo, composto sobretudo por pessoas de
ascendência marroquina e a viverem na Bélgica e nos Países Baixos, onde a
organização está implementada.
Conforme
explica a France
24, a Mocro Máfia foi fundada na década de 1990, quando o grupo começou a traficar haxixe de
Marrocos para a Europa. Com o passar
dos anos, o grupo expandiu-se, aprofundando as relações com cartéis de droga na
Colômbia e no México, recebendo carregamento de cocaína e outras drogas
sintéticas, provenientes da América Latina, nos portos de Antuérpia, na
Bélgica, Hamburgo, na Alemanha, ou Roterdão, nos Países Baixos, e
distribuindo-os depois pela Europa.
Ridouan Taghi foi detido no Dubai em 2019. Era “um dos homens mais
perigosos e procurados do mundo”
Segundo
os especialistas que têm investigado o grupo, o líder da Mocro Máfia é Ridouan Taghi, de 43
anos, filho de imigrantes marroquinos, que foi detido em Dezembro de 2019 na
mansão em que vivia no Dubai, onde tentava passar despercebido para coordenar
as actividades do grupo. Era
considerado pelas autoridades “um
dos homens mais perigosos e procurados do mundo”, e actualmente
está detido numa prisão de alta segurança em Vught.
Ridouan
Tagahi negou o
envolvimento da sua organização nos assassínios do advogado Derk Wiersum
ou do jornalista Peter R.
De Vries, mas todas
as suspeitas das autoridades recaem sobre a organização que controla um império
de milhões de euros.
“Há mais conhecimento sobre as redes de droga, o que
também cria a imagem de que o tráfico de droga está a aumentar. Isso é
duvidoso, porque o porto de Roterdão sempre foi um ‘centro de drogas’ na
Europa, mas agora temos muito mais informações sobre o modus operandi, quantidades
e rotas de tráfico do que antes”
Dina Siegel, professora de Criminologia da Universidade de Utrecht
A
ascensão da Mocro Máfia coincidiu com o papel central que os grupos a actuar
nos Países Baixos assumiram no tráfico de droga na Europa. Num relatório
publicado no passado mês de setembro, a Europol descreveu os Países Baixos
como “o ponto de partida para o tráfico de cocaína no continente”, sendo que
outrora era através de Espanha que a droga entrava em território europeu.
“Há várias
razões para isso, e uma delas é o facto de os Países Baixos serem um país de
trânsito, voltado para a distribuição mundial de todo o tipo de mercadorias. Esses
canais de distribuição são facilmente usados para traficar substâncias ilegais,
como a cocaína”, explica
o professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht Sven Brinkhoff.
Agora, é sobretudo através de
contentores que servem para transportar fruta ou café que a droga proveniente
da América Latina chega aos portos europeus, particularmente a Roterdão.
Os
Países Baixos estão a tornar-se num “narco-Estado”? Não é bem assim, dizem
analistas
Esta
mudança de paradigma, que coincidiu com vários assassínios atribuídos ao crime
organizado, levou mesmo Jan Struijs, presidente do maior sindicato da polícia
holandês, o NPD, a afirmar em 2019 que os Países Baixos têm as “características
de um narco-Estado”. Uma designação com a qual a
especialista Dina Siegel não concorda.
“Definitivamente
os Países Baixos não são um narco-Estado. Num narco-Estado existe infiltração e
controlo de instituições estatais por parte do crime organizado. Esse não é o
caso nos Países Baixos”, justifica a
professora de Criminologia da Universidade de Utrecht. “Há mais
conhecimento sobre as redes de droga, o que também cria a imagem de que o
tráfico de droga está a aumentar. Isso é duvidoso, porque o porto de Roterdão
sempre foi um ‘centro de drogas’ na Europa, mas agora temos muito mais
informações sobre o modus operandi, quantidades e rotas de tráfico do que antes”, acrescenta.
"Dado
o facto de haver tanto dinheiro envolvido no tráfico de cocaína, haverá sempre
gente nova envolvida"
Sven Brinkhoff, professor de
Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht
Nos
últimos anos, uma série de operações da polícia holandesa permitiram
desmantelar vários laboratórios de produção de cocaína e dezenas de suspeitos foram detidos, o que tem
permitido às autoridades reunirem cada vez mais informação sobre os grupos do
crime organizado. Além disso, em Março deste ano começou
o julgamento do caso Marengo, sentando
no banco dos réus 17 membros da Mocro Máfia, incluindo o líder Ridouan Taghi, o
que poderá levar a que seja feita justiça quanto às mortes não só de Derk
Wiersum e Peter R. De Vries, mas de muitas outras pessoas que perderam a vida.
O julgamento deverá continuar até 2022 e é prematuro falar no fim da Mocro
Máfia ou de outros grupos semelhantes.
“O
julgamento Marengo é muito importante, porque demonstra que o governo é capaz
de levar à justiça pessoas suspeitas de assassínios. Ao mesmo tempo, dado o
facto de haver tanto dinheiro envolvido no tráfico de cocaína, haverá sempre
gente nova envolvida”, alerta Sven
Brinkhoff.
HOLANDA EUROPA MUNDO TRÁFICO
DE DROGA
CRIME SOCIEDADE CRIME
ORGANIZADO
COMENTÁRIOS:
Rita Belen: "17 membros da máfia marroquina estão a ser
acusados" viva a diversidade Jcmp: A Europa está tomada e não
percebe que as coisas não se resolvem com conversas fofinhas... Antes pelo
contrário: O que está a acontecer?... Excesso de
imigração descontrolada. Cá só não aconteceu - ainda - porque as máfias que
estão no poder protegem as outras máfias! Hitlerilas Ventura:
Meus amigos, isto são tudo faits
divers que não interessam para nada. O importante é o nosso partido recuperar
os 300 mil votos que perdeu domingo. Éramos 500 mil em Janeiro nas presidenciais
e agora fomos apenas 208 mil nas autárquicas. CHEGA! Karoshi:
Quem anda com mafiosos vive (e morre) pelas regras da
máfia. Coitadinho do Roto. É que eles nem sequer defendem paraísos fiscais nem
nada. Harry Dean Stanton > Gabriel
Bernardo: Mais um génio racista do chega
que se vê logo que conhece muito bem a última década da Holanda. Ainda se falasse
em Países Baixos como eles querem agora, podíamos todos pensar que o génio
pensava que o país só tinha nascido há 10 anos. Onde realmente houve uma
alteração sociológica profundíssima. Até guinaram mais um cm para a direita. João Porrete: Francamente, eu sempre fui
contra a pena de morte mas abro três excepções: genocidas, violadores ou
assassinos em série, e chefes de máfias. Criminosos destas três categorias
destroem não só as vidas das suas vítimas mas também as vidas de todos os que
as rodeiam. Qualquer punição menos do que a perda da vida é grotescamente
insignificante.
Maria da Graça de Dias > João Porrete: João... - Subscrevo na íntegra.
Harry Dean Stanton: A Holanda não é um narco estado
mas é um estado muito baixo, tanto que até mudaram de nome. Para país baixinho.
E o mais estranho é que o crime organizado e as máfias nem costumam gostar nada
de paraísos fiscais!? Pode ser que ainda façam umas festas ao cabr@ozinho das
finanças que não sabia o que nós fazíamos ao dinheiro e foi ontem apanhado nos
Pandora papers. Eu já ficava satisfeito se ele aparecesse na rua com o
bigodinho do Tio Adolfo. O Rutte já não precisa. Basta tirar os óculos. Jose Felix > Harry Dean
Stanton: Negativo! Não mudaram o nome. O
nome original Netherlands quer dizer, precisamente, Países Baixos. Jose Felix > Harry Dean
Stanton: Koninkrijk der Nederlanden Desde 1954 e constituía,
também, os territórios ultramarinos. Maria da Graça de Dias > Jose Felix: Correcto, Netherlands, ou seja, Países Baixos. País com cerca de 41.525 km2
e cerca de um terço do território está abaixo do nível do mar. Desde o início
da IM que conquistam terra ao mar, o que determinou desde tempos primórdios o
nome do país - Netherlands.
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