quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Derrapagem?


Vale a pena ler o texto, citado no registo anterior deste blog, da revista “Courrier Internacional” sobre o mesmo assunto do exposto no OBSERVADOR, por PEDRO BASTOS REIS – o crime organizado na Holanda: («Numa carta aberta, o jornalista e especialista italiano em crime organizado Roberto Saviano acusa o país de se ter tornado o “ramo podre da Europa”, por se ter tornado “um território offshore”.»):

 

O crime organizado cresceu e a ameaça já chegou ao primeiro-ministro Mark Rutte. O que está a acontecer nos Países Baixos? /premium

Segurança foi reforçada, mas estará Rutte em risco? Mocro Máfia expandiu-se nos Países Baixos, o centro do tráfico de droga para a Europa, e tenta impor medo enquanto os seus membros são julgados.

PEDRO BASTOS REIS: Texto

OBSERVADOR, 05 out 2021

Seja para ir visitar o rei Guilherme Alexandre, para receber líderes internacionais ou para ir buscar um café antes de começar o dia de trabalho, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, desloca-se (quase) sempre de bicicleta e com poucas ou nenhumas medidas de segurança à sua volta, uma forma de estar muito característica dos políticos nos Países Baixos. No entanto, os passeios tranquilos de Mark Rutte podem ter os dias contados, numa altura em que a imprensa holandesa afirma que o homem que chefia o governo holandês há 11 anos pode estar na mira de um perigoso grupo de traficantes de droga.

A notícia foi divulgada no passado dia 27 de Setembro pelo jornal De Telegraaf, que, citando fontes do governo e da polícia sob anonimato, afirmava que agentes especiais dos Serviços de Segurança Real e Diplomática (DKDB) tinham sido mobilizados para proteger Mark Rutte. O gabinete de Rutte, porém, não confirmou que as medidas para a protecção do primeiro-ministro tenham sido alteradas, aumentando o suspense sobre o que está realmente em causa.

Tudo isto acontece quando passam cerca de três meses do assassínio do jornalista Peter R. De Vries, de 64 anos, especializado na investigação do crime organizado, e que estava a aconselhar e a atuar como porta-voz de Nabil B., uma testemunha-chave no julgamento contra membros da máfia marroquina.

Conforme conta o De Telegraaf, os alarmes que levaram ao alegado reforço da segurança em torno de Mark Rutte soaram quando foram avistados os chamados spotters da Mocro Máfia (expressão pela qual é conhecido o grupo de crime organizado cuja grande parte dos membros é de ascendência marroquina) perto do primeiro-ministro holandêsno mundo do crime organizado, por norma, os spotters seguem os alvos e recolhem o máximo de informação possível para delinear um plano de ataque. Temia-se que Rutte pudesse ser alvo de um rapto ou assassínio, ameaças que segundo o De Telegraaf estavam a ser levadas muito a sério pelos serviços de segurança, embora oficialmente não haja qualquer confirmação. Há, contudo, uma pergunta que fica no ar: qual o objectivo de grupos dedicados sobretudo ao tráfico de droga visarem directamente o primeiro-ministro?

Existem muitas especulações sobre quem está por trás das ameaças ao primeiro-ministro. Até agora, não há evidências claras de que a Mocro Máfia tenha Mark Rutte como alvo. Como Rutte não representa um obstáculo directo para o negócio ilegal de droga, não há razões para o atacarem”, afirma ao Observador Dina Siegel, professora de Criminologia da Universidade de Utrecht, antevendo que nada de significativo mudará em torno da segurança dos políticos no país, até porque pouco ou nada alterou desde que surgiram as notícias sobre o reforço policial em torno de Rutte.

Mark Rutte costuma deslocar-se de bicicleta, descartando a protecção policial GETTY IMAGES

“A imagem de um primeiro-ministro sempre a sorrir e a pedalar é uma imagem de marca de Mark Rutte, que a quererá manter no futuro. Existem políticos nos Países Baixos, como Geert Wilders [líder da extrema-direita holandesa], que têm segurança 24 horas por dia, mas “a maioria dos políticos enfatizam a liberdade de movimentos como um valor muito elevado”, acrescenta a especialista, especulando que o reforço das medidas de segurança pode ser apenas provisório.

“Criar medo” entre a sociedade holandesa pode explicar ameaça a Mark Rutte.

Se neste momento o que há são, sobretudo, especulações, a detenção na semana passada do político Arnoud van Doorn, suspeito de participar num plano para assassinar Mark Rutte, trouxe ainda mais confusão ao caso. Van Doorn, que abandonou o partido de extrema-direita de Geert Wilders para se converter ao Islão, foi detido, conforme explica o Politico, devido a comportamentos “suspeitos”, ao aparecer várias vezes no mesmo local do que o primeiro-ministro holandês em Haia. Acabaria por ser libertado sem qualquer acusação horas depois.

Apenas podemos especular. Pode ser que haja um sentimento de serem intocáveis. Outra razão pode ser a intenção de criar medo", diz Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht, sobre motivos que levaram ao aumento da protecção policial a Mark Rutte

Após o assassínio do jornalista Peter R. De Vries em julho, Mark Rutte prometeu mão firme perante o crime organizado no país e garantiu que “é uma questão de horas, dias, meses ou anos, [mas] será uma batalha que os Países Baixos vão vencer”. Além disso, no passado mês de Setembro, o governo interino holandês — as últimas eleições, que deram a vitória Partido Popular para a Liberdade e Democracia de Rutte foram em Março, mas os partidos ainda não chegaram a acordo para a formação de um novo executivo — prometeu uma verba de 430 milhões de euros para combater o crime organizado nos próximos anos.

No entanto, para Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht, “não é provável” que tal faça com que o primeiro-ministro holandês se torne num alvo para grupos como a Mocro Máfia. Para o especialista no crime organizado, o objectivo pode ser criar um sentimento de medo entre a população, numa altura em que membros da Mocro Máfia enfrentam a Justiça.

Centenas de pessoas prestaram homenagem, em Julho, no local onde o jornalista De Vries foi baleado NURPHOTO VIA GETTY IMAGES

Outrora membro da Mocro Mafia, Nabil B. tornou-se informante da polícia e os seus testemunhos em tribunal podem ser decisivos para condenações no chamado caso Marengo, em que 17 membros da máfia marroquina estão a ser acusados de traficar droga e de uma série de assassínios nos últimos anos. Derk Wiersum era o advogado de Nabil B. e na manhã de 18 de Setembro de 2019 foi assassinado à porta da sua casa em Amesterdão por um homem encapuzado que lhe deu dez tiros, fugindo de seguida numa carrinha que o esperava. No ano anterior, em 2018, foi Reduan Bakkali, irmão de Nabil B., assassinado. Em Julho deste ano, o jornalista Peter R. De Vries. Os três tinham em comum o facto de estarem na “lista negra” da Mocro Máfia, cujas ameaças, de acordo com a emissora holandesa NOS, levaram ao reforço da segurança em torno de cerca de 20 pessoas nos últimos meses, sobretudo jornalistas, juízes ou advogados.

A ascensão da Mocro Máfia

A abreviatura “Mocroremete para a expressão utilizada pelos membros do grupo, composto sobretudo por pessoas de ascendência marroquina e a viverem na Bélgica e nos Países Baixos, onde a organização está implementada.

Conforme explica a France 24, a Mocro Máfia foi fundada na década de 1990, quando o grupo começou a traficar haxixe de Marrocos para a Europa. Com o passar dos anos, o grupo expandiu-se, aprofundando as relações com cartéis de droga na Colômbia e no México, recebendo carregamento de cocaína e outras drogas sintéticas, provenientes da América Latina, nos portos de Antuérpia, na Bélgica, Hamburgo, na Alemanha, ou Roterdão, nos Países Baixos, e distribuindo-os depois pela Europa.

Ridouan Taghi foi detido no Dubai em 2019. Era “um dos homens mais perigosos e procurados do mundo

Segundo os especialistas que têm investigado o grupo, o líder da Mocro Máfia é Ridouan Taghi, de 43 anos, filho de imigrantes marroquinos, que foi detido em Dezembro de 2019 na mansão em que vivia no Dubai, onde tentava passar despercebido para coordenar as actividades do grupo. Era considerado pelas autoridades “um dos homens mais perigosos e procurados do mundo”, e actualmente está detido numa prisão de alta segurança em Vught.

Ridouan Tagahi negou o envolvimento da sua organização nos assassínios do advogado Derk Wiersum ou do jornalista Peter R. De Vries, mas todas as suspeitas das autoridades recaem sobre a organização que controla um império de milhões de euros.

Há mais conhecimento sobre as redes de droga, o que também cria a imagem de que o tráfico de droga está a aumentar. Isso é duvidoso, porque o porto de Roterdão sempre foi um ‘centro de drogas’ na Europa, mas agora temos muito mais informações sobre o modus operandi, quantidades e rotas de tráfico do que antes”

Dina Siegel, professora de Criminologia da Universidade de Utrecht

A ascensão da Mocro Máfia coincidiu com o papel central que os grupos a actuar nos Países Baixos assumiram no tráfico de droga na Europa. Num relatório publicado no passado mês de setembro, a Europol descreveu os Países Baixos como “o ponto de partida para o tráfico de cocaína no continente”, sendo que outrora era através de Espanha que a droga entrava em território europeu.

Há várias razões para isso, e uma delas é o facto de os Países Baixos serem um país de trânsito, voltado para a distribuição mundial de todo o tipo de mercadorias. Esses canais de distribuição são facilmente usados para traficar substâncias ilegais, como a cocaína”, explica o professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht Sven Brinkhoff. Agora, é sobretudo através de contentores que servem para transportar fruta ou café que a droga proveniente da América Latina chega aos portos europeus, particularmente a Roterdão.

Os Países Baixos estão a tornar-se num “narco-Estado”? Não é bem assim, dizem analistas

Esta mudança de paradigma, que coincidiu com vários assassínios atribuídos ao crime organizado, levou mesmo Jan Struijs, presidente do maior sindicato da polícia holandês, o NPD, a afirmar em 2019 que os Países Baixos têm ascaracterísticas de um narco-Estado”. Uma designação com a qual a especialista Dina Siegel não concorda.

“Definitivamente os Países Baixos não são um narco-Estado. Num narco-Estado existe infiltração e controlo de instituições estatais por parte do crime organizado. Esse não é o caso nos Países Baixos”, justifica a professora de Criminologia da Universidade de Utrecht.Há mais conhecimento sobre as redes de droga, o que também cria a imagem de que o tráfico de droga está a aumentar. Isso é duvidoso, porque o porto de Roterdão sempre foi um ‘centro de drogas’ na Europa, mas agora temos muito mais informações sobre o modus operandi, quantidades e rotas de tráfico do que antes”, acrescenta.

"Dado o facto de haver tanto dinheiro envolvido no tráfico de cocaína, haverá sempre gente nova envolvida"

Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht

Nos últimos anos, uma série de operações da polícia holandesa permitiram desmantelar vários laboratórios de produção de cocaína e dezenas de suspeitos foram detidos, o que tem permitido às autoridades reunirem cada vez mais informação sobre os grupos do crime organizado. Além disso, em Março deste ano começou o julgamento do caso Marengo, sentando no banco dos réus 17 membros da Mocro Máfia, incluindo o líder Ridouan Taghi, o que poderá levar a que seja feita justiça quanto às mortes não só de Derk Wiersum e Peter R. De Vries, mas de muitas outras pessoas que perderam a vida. O julgamento deverá continuar até 2022 e é prematuro falar no fim da Mocro Máfia ou de outros grupos semelhantes.

“O julgamento Marengo é muito importante, porque demonstra que o governo é capaz de levar à justiça pessoas suspeitas de assassínios. Ao mesmo tempo, dado o facto de haver tanto dinheiro envolvido no tráfico de cocaína, haverá sempre gente nova envolvida”, alerta Sven Brinkhoff.

HOLANDA  EUROPA  MUNDO  TRÁFICO DE DROGA  CRIME   SOCIEDADE  CRIME ORGANIZADO

COMENTÁRIOS:

Rita Belen: "17 membros da máfia marroquina estão a ser acusados" viva a diversidade           Jcmp: A Europa está tomada e não percebe que as coisas não se resolvem com conversas fofinhas...              Antes pelo contrário: O que está a acontecer?... Excesso de imigração descontrolada. Cá só não aconteceu - ainda - porque as máfias que estão no poder protegem as outras máfias! Hitlerilas Ventura: Meus amigos, isto são tudo faits divers que não interessam para nada. O importante é o nosso partido recuperar os 300 mil votos que perdeu domingo. Éramos 500 mil em Janeiro nas presidenciais e agora fomos apenas 208 mil nas autárquicas. CHEGA! Karoshi: Quem anda com mafiosos vive (e morre) pelas regras da máfia. Coitadinho do Roto. É que eles nem sequer defendem paraísos fiscais nem nada.        Harry Dean Stanton > Gabriel Bernardo: Mais um génio racista do chega que se vê logo que conhece muito bem a última década da Holanda. Ainda se falasse em Países Baixos como eles querem agora, podíamos todos pensar que o génio pensava que o país só tinha nascido há 10 anos. Onde realmente houve uma alteração sociológica profundíssima. Até guinaram mais um cm para a direita.  João Porrete: Francamente, eu sempre fui contra a pena de morte mas abro três excepções: genocidas, violadores ou assassinos em série, e chefes de máfias. Criminosos destas três categorias destroem não só as vidas das suas vítimas mas também as vidas de todos os que as rodeiam. Qualquer punição menos do que a perda da vida é grotescamente insignificante.           Maria da Graça de Dias > João Porrete: João... - Subscrevo na íntegra.           Harry Dean Stanton: A Holanda não é um narco estado mas é um estado muito baixo, tanto que até mudaram de nome. Para país baixinho. E o mais estranho é que o crime organizado e as máfias nem costumam gostar nada de paraísos fiscais!? Pode ser que ainda façam umas festas ao cabr@ozinho das finanças que não sabia o que nós fazíamos ao dinheiro e foi ontem apanhado nos Pandora papers. Eu já ficava satisfeito se ele aparecesse na rua com o bigodinho do Tio Adolfo. O Rutte já não precisa. Basta tirar os óculos.           Jose Felix > Harry Dean Stanton: Negativo! Não mudaram o nome. O nome original Netherlands quer dizer, precisamente, Países Baixos.              Jose Felix > Harry Dean Stanton: Koninkrijk der Nederlanden Desde 1954 e constituía, também, os territórios ultramarinos.          Maria da Graça de Dias > Jose Felix: Correcto, Netherlands, ou seja, Países Baixos. País com cerca de 41.525 km2 e cerca de um terço do território está abaixo do nível do mar. Desde o início da IM que conquistam terra ao mar, o que determinou desde tempos primórdios o nome do país  - Netherlands.

 

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