Parece falácia o que diz Thatcher. Será que o inevitável nunca acontece,
como informa Jaime
Nogueira Pinto a respeito de uma frase de M.T.? Só se, de facto, se resistisse à crise de
natalidade na Europa, que Jaime
Nogueira Pinto aponta em termos de fatalidade, por conta de factores
vários, que tão bem aclara. Penalizado, certamente. O que os seus contrários
ideológicos aproveitam para ironizar levianamente, como de leviandade tem sido todo
este saracoteio político/social em que nos movemos, consequência do
esfrangalhar – parcial, embora – do status colonialista anterior, que a sermos
justos, deveria estender aos povos aborígenes americanos, australianos e tutti quanti, os mesmos tentáculos
descolonizadores que se impuseram às terras africanas – com as respectivas
consequências demográficas miscigenatórias que se repercutem numa Europa
invadida, em resposta à invasão que sofreu, para além da orientação familiar de
cada vez mais reduzida expressão nesse “primeiro mundo” de valores outros que
não o conceito de família ao modo clássico. Daí, a invasão europeia pelos
africanos e outros povos, por motivos diversos, aliás. A transformar o mundo
ocidental na aldeia global que tão amoravelmente se protege e preza.
Um bravo sempre, para Jaime Nogueira Pinto, herói no
seu saber e na sua coragem, arrostando, por vezes, com os comentariozitos de
quem, por seguir outra doutrina, se arroga no direito de ironizar, sandiamente.
O certo é que a Europa, devota das sãs doutrinas ditadas pelos princípios hoje universais
da benta solidariedade – excepto para com os emperrados jeitos do
convencionalismo arcaico defensor de velharias ideológicas ultrapassadas – é palco
hoje de uma invasão, como retorno de paga, pelos povos que ela outrora
invadira. E serão esses invasores os maiores povoadores – cá, como lá, na sua
terra, donde chegaram, com direito próprio. Que a solidariedade benta é o que
está a dar. E porque os Orbans são ínfimos, no processo.
Demografia europeia: resistir ao
inevitável” /premium
As projecções são precisas e
assustadoras mas, como dizia Thatcher, ao contrário do inesperado, o inevitável
nunca acontece.
JAIME NOGUEIRA
PINTO, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 08 out
2021
Basta
olhar para os números para perceber a gravidade da crise demográfica na
Europa, uma crise que
vem de longe e que já deu origem a sérias advertências: desde os livros do historiador
Pierre Chaunu, nos anos 80,
até romances distópicos, como Le
Camp des Saints, de Jean Raspail, escritor
e aventureiro francês.
Mas já lá vai quase meio século sobre
os livros de Chaunu e o romance de Raspail e nada parece ter sido feito para
estancar, tentar estancar ou, pelo menos, tratar de não encorajar a tendência
de decréscimo de reprodução das gerações na Europa.
Em
1900 – há 120 anos – um em
cada quatro habitantes do planeta era europeu e vivia na Europa. Os
europeus eram então cerca de 430 milhões,
incluindo os mais de cem milhões do Império Russo. No mundo, haveria então uns 1600 milhões de seres,
quase todos directa ou indirectamente dependentes da Europa e dos Estados
europeus.
Hoje,
com uma população
mundial de quase 8 mil milhões, só
um em cada dez habitantes do globo vive nos limites geográficos do Continente
Europeu. Desses 750 milhões que vivem na Europa, 450 milhões
residem nos 27 países da União Europeia; e desses 450 milhões, 25 milhões (5%)
não são cidadãos europeus. Em 2019, o
fluxo migratório de extracomunitários foi de 2.700 000 e só foi dada cidadania
a pouco mais de 700 mil. Segundo a
agência europeia Frontex, entre Janeiro e Outubro desse ano de 2019, entraram
na Europa cerca de 125 mil
clandestinos.
As
projecções demográficas são assustadoras: para as Nações Unidas, em 2100,
os habitantes da União Europeia vão ser 365
milhões, menos 85 milhões do que hoje; mas a
revista médico-científica americana The Lancet vai mais longe, prevendo uns meros 308 milhões de europeus. Por essa
altura, a população mundial deverá ser de 8,8
mil milhões, depois de
ter, em 2064,
atingido um máximo de 9,7 mil milhões.
Perante
estes números de futuríveis e de inevitáveis, há que não esquecer um famoso
comentário de Margareth Thatcher (lembrado, ainda há dias, por John O’Sullivan,
antigo speechwriter da Dama de Ferro): “The
unexpected always happens… The inevitable, never.”
Relembro-o
porque costuma ir nesse sentido a minha habitual reacção a profecias
quantitativas muito precisas, talvez devido a uma longa experiência de
profecias não acontecidas. E profecias das melhores proveniências – Nações
Unidas e suas Agências, grandes Bancos, reputados serviços de Inteligência,
gurus e mentes brilhantes de toda a espécie. A grande
maioria dos estudos prospectivos sobre o ano 2000, por exemplo, dava a URSS de
pedra e cal. Mas ainda que o inesperado possa vir a surpreender-nos, parece
haver aqui alguns inevitáveis. As causas da decadência demográfica são variadíssimas: um maior individualismo e egoísmo geracional, a
absoluta desvalorização do trabalho informal, doméstico e assistencial (a que
não é atribuído qualquer valor económico) e a hipervalorização do trabalho fora
de casa, a subida dos custos de criação e educação das crianças, a facilitação
de contraceptivos, a liberalização do aborto. E,
culturalmente, a passagem da família-modelo de três filhos para dois ou um, e
mais recentemente, a passagem da família-modelo para outros modelos de família.
Assim, o número de nascimentos no
espaço da União Europeia, que em 1964 foi de cerca de 6. 800.000, em 2019,
passou a ser de 4.167.000. O declínio vem acontecendo, inexoravelmente, no
último meio século e a taxa de natalidade na União Europeia é hoje de 1,53 por
mulher, sendo que o crescimento populacional
requer, pelo menos, 2,1.
Decadência e resistência
Estas taxas de natalidade podem variar (França,
com 1,86 nascimentos por mulher, está na dianteira, e Malta, com 1,14, na
retaguarda) mas a média ponderada vai sempre baixando. E, em França, o relativo
excesso reprodutivo deve-se claramente às famílias de imigrantes muçulmanos.
E, no entanto, a questão demográfica,
que é sempre vital, não parece preocupar uma Europa concentrada no direito à
morte assistida, no direito ao corpo e no direito à escolha num cardápio de
géneros em constante actualização.
Talvez
por isso, e encarnando uma cultura de resistência, o vilipendiado governo de
Viktor Orban tenha vindo a organizar na capital húngara, desde
2015, conferências para debater os riscos da decadência populacional e as
formas de a combater ou de a não agravar. Numa
linha consciente e lúcida, Orban tem procurado fazer do seu país um centro de
resistência política e cultural à nova vaga do wokismo, reunindo à sua volta
uma série de dirigentes e de intelectuais europeus. É interessante
que seja hoje esta área da OstEuropa a afirmar-se como linha da frente dos
valores cristãos e ocidentais
– o que ficará a dever-se, também, ao facto de o regime comunista imposto pelos soviéticos ter ali
congelado algumas mudanças libertárias nos costumes e de a família se ter
estabelecido e consolidado como bastião de afectos e confiança, numa sociedade
policial de suspeita e denúncia.
“As
famílias, que são a base das nossas sociedades, estão debaixo do fogo das
forças ocidentais liberais, mas não nos vamos render” – começou o
Primeiro-ministro húngaro no seu discurso
de abertura da Conferência de Budapeste sobre Demografia, que contou com um
grupo significativo de dirigentes políticos da região e com o
ex-Vice-presidente americano, Mike
Pence.
Pence
pegou na deixa e falou na “erosão da
família nuclear” como um dos mais duros golpes dados à civilização. Uma erosão
ou uma crise marcada pela “diminuição de casamentos, pela subida de divórcios,
pela banalização do aborto e pela queda da natalidade”.
E
poderão as políticas dos governos de Budapeste e Varsóvia inverter esta
tendência? Pence
pensa que sim. Para o
antigo Vice-Presidente norte-americano a razão da resistência ao
experimentalismo utópico, nestes e noutros países da Europa Central, deve-se a
uma longa e
dura experiência prática de utopia, como a levada a cabo pelo comunismo nos 45
anos, entre 1945 e 1990, em que dominou a região.
Assim, a experiência de “socialismo
real” da Europa Oriental parece
funcionar como uma poderosa vacina contra novos e delirantes ideais, direitos e
mandamentos, impostos, quer por via do monopólio do poder político estatal e
partidário, quer por outras vias, aparentemente mais diáfanas e modernas, mas
igualmente implacáveis. Ideais, direitos e mandamentos que nos chegam hoje, na
Europa Ocidental e nos Estados Unidos, através dos processos gramscianos do
marxismo cultural, por pressão legislativa e diabolização da dissidência.
Democracia é demografia
Perante
a questão demográfica – e é bom não esquecer que democracia é demografia, uma
vez que, pelo menos legal e teoricamente, não são as elites mas os grandes
números, o povo comum,
“quem mais ordena” – a solução fácil foi a importação de pessoas. Os
excedentes populacionais do outrora Terceiro Mundo migraram e migram agora para
a Europa e aqui ocupam um deficitário mercado de trabalho, constituindo um
inesgotável exército de reserva industrial.
Assim, sem filhos, as novas gerações de
europeus recorrem aos imigrantes. Não foi bem o que aconteceu na América quando, nos 100
anos que vão do fim das guerras napoleónicas ao fim da Grande Guerra, recebeu
mais de 80 milhões de europeus. Com
espaço de sobra e uma língua comum, com um ideal vitalista, capitalista e
agregador, a América foi integrando os seus imigrantes, que eram, na maioria,
cristãos e caucasianos. Não é o que acontece hoje nos pequenos espaços da
União Europeia, com largos sectores da imigração, sobretudo a que vem das áreas
islâmicas, a preferir o gueto da “inclusão” e da “diferença” à desactualizada e
chauvinista “integração”.
À importação de imigrantes, Orban e a
Hungria propõem-se responder com políticas de apoio à família e de incentivo à
natalidade. E têm
vindo a fazê-lo com bons resultados: quando 200 mil novas famílias
húngaras receberam benefícios fiscais, as famílias mais prolíferas viram
descer os seus impostos e as mães trabalhadoras com quatro ou mais filhos
ficaram isentas de contribuições fiscais para o resto da vida, houve um aumento
dos nascimentos e casamentos e um decréscimo do número de abortos.
A Conferência de Budapeste veio repor
na agenda política europeia uma das escolhas mais decisivas que hoje se põem ao
continente e ao mundo. Era bom que em Portugal estas grandes escolhas também
entrassem na Agenda.
DEMOGRAFIA
SOCIEDADE
EUROPA
MUNDO
COMENTÁRIOS:
João Diogo: Excelente
texto e que põe o dedo na ferida, mas quem pensa assim, é logo rotulado de
fascista.
Liberal Assinante do Local > João Diogo: É a
única família política que me ocorre que propõe o desígnio estatal de fazer
bebés. Nem mesmo os comunistas têm essa tara! Gigi Tavares: Suprimiram o comentário em que me queixava de ser
portuguesa, trabalhadora, pagadora de impostos e me ter debatido com a total
ausência de apoio e, pior ainda, as maiores e mais perversas dificuldades
quando quis ter filhos. Enquanto isso as nossas instituições multiplicam os
apoios e subsídios aos refugiados/ emigrantes não ocidentais que se reproduzem
à meia dúzia Theodor
Adorno: O saudosista quer mais brancos, mas a imigração
é o futuro e será a salvação da Europa. Liberal Assinante do Local > Theodor Adorno: Quer salvar a Europa? Ela pediu-lhe, foi? advoga diabo: Só uma cegueira ideológica doentia impede de JNP
aceitar que a baixa natalidade, bem como outras questões, só encontra solução
numa das tais inevitabilidades, aos quais pateticamente nega existência, o
livre fluxo de migrantes das zonas mais desfavorecidas do globo, para onde
podem encontrar uma vida digna nesta nossa "casa comum"! andrew sander > advoga diabo: Então
está a dizer que os Portugueses devem ser substituídos por outros povos no
nosso próprio país
jose Afonso > advoga diabo: a
melhor coisa que podes fazer é não te reproduzires. O clima agradece e a
sociedade também. Liberal
Assinante do Local: É uma velha
especialidade fascista, "façam filhos para o fuhrer". Curiosamente,
as poucas (felizmente) experiências conhecidas desse tipo de engenharia social
mostram não resultar. Começa o colunista por mentir logo na primeira frase,
impondo ao leitor uma "crise demográfica" na Europa. Balelas,
amiguinho, balelas.
Maria Alva: Excelente e
pertinente artigo sobre uma das causas do declínio europeu. Oxalá vão
aparecendo mais Orbans.
Jorge Carvalho: Magnificente exposição desta realidade vital de que não se pode fugir e há
que encarar de frente, o que a esquerda não faz nem pode fazer pela sua
estratégia gramsciana de desconstrução e por a sua natureza psicótico
esquizoide. Mais uma vez parabéns JNP bento guerra: É preciso aumentar a
produtividade, pela formação e inovação, jamais pela "africanização",
que já foi longe demais
AAA First: Entretanto, numa recente fugidia passagem pela Hungria, o papa Francisco
não pareceu muito entusiasmado com Orban. Num país que parece ser o que mais
pugna pela cultura cristã no ocidente, dá que pensar. Andre Martins > AAA First: O papa só se entusiasma com Cuba Venezuela Bolivia
Perú... Quinta Sinfonia: … já para não falar nas implicações no esquema de
ponzi do sistema de segurança social … vai mesmo ter que falir, não há economia
que aguente. L.
Perry: Eu estou na
esperança de termos inesperadamente Eric Zemmour como Presidente da República Francesa!
Felizmente o mundo já está a mudar. O Tribunal Constitucional Polaco decretou
guerra à UE, a França fez um acordo militar anti-Turco com a Grécia à revelia
da UE e Nato... Portugal devia-se preparar para o mundo pós-Nato e pós-UE, em
vez de continuar agarrado ao passado como a mulher de Lot. Francisco Correia: Os estímulos (ou falta deles) é
que ditam o resultado final. É tão mais fácil ter cães e gatos! Quinta
SinfoniaFrancisco Correia: Mas atenção, nem isso vão
querer ter. Espanha prepara-se para votar a proibição dos animais domésticos
ficarem mais de 24h sozinhos… sim, isto começa a ter cada vez mais graça 😅 João Floriano
> Quinta Sinfonia: O que se passa é que cães sozinhos desatam a uivar e a
ladrar e incomodam a vizinhança toda. E claro, têm de ir à «casa de banho». Américo Silva: Crónica pertinente. A Europa foi sucessivamente
invadida na pré história, desde o paleolítico. Os invasores recentes, chamados
de refugiados, uma vez estabelecidos, irão chamar-se europeus e defender o
território de invasões posteriores. Leva tempo. Eis algumas razões para o
declínio civilizacional e biológico europeu: 1-Entre os euroamericanos o sexo é um negócio. No
século XIX os escritores franceses achavam que a beleza feminina era inútil
quando resultava em filhos, devia antes brilhar nos salões, e transformaram a
mulher numa provocadora predadora sexual, assim defendida pelos homens,
intelectuais, políticos e magistrados, veja-se o caso Mayorga. 2-A propriedade adulterou-se, deixou de porvir do que se
produz, é uma vantagem obtida dos governos pelo poder legislativo, executivo e
judicial, como as grandes superfícies agrícolas que deixam de ter por
finalidade produzir bens, mas sim captar subsídios, tal como unicórnios,
bicórnios, tricórnios, direitos de construção, imobiliário especulativo,
negócios variados com o estado e outros 3-A
sociedade herda e sofre com erros não corrigidos, Dias Loureiro não foi
incomodado no BPN, Salgado pensa que não deverá ser incomodado no BES, na
Inglaterra porcos não serão consumidos por falta de capacidade dos matadouros,
as exigências aos pais nativos europeus contrastam com o apoio aos filhos de
grupos marginais e imigrantes. João Floriano > Américo Silva:
A Mayorga é um exemplo, um mau exemplo. Eu acho que há
uma indústria poderosissima de cosméticos, de moda, de beleza que factura
milhões à custa das mulheres que compram toda a espécie de mistelas para
permanecerem jovens e atraentes. E agora não são só as mulheres: os homens
também vão na onda: os metrosexuais. Óscar Alhão: Enorme JNP.
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