Transcrevo uma, pela curiosidade que me
despertou, ficando a conhecer um exemplo, reproduzido pelo OBSERVADOR, dessas
fake news deselegantes, de intuitos pouco honestos. Mas simultaneamente,
agradecendo aos céus que nos livrou, por enquanto, de situações tão socialmente
perturbadas, permitindo, por aqui, um cliché amoroso camoniano de perpétua
memória:.
Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de üa outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
que de uns e outros olhos derivadas
se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
LUÍS DE CAMÕES.
"Esta é a Venezuela de 2021. Fica aí a dica
para 2022."
JOÃO FRANCISCO GOMES Texto
OBSERVADOR, 26 out 2021
“Esta é a Venezuela de 2021. Fica aí a dica
para 2022.” A frase
tem sido usada para descrever um vídeo com perto de dois minutos e meio onde é
possível ver ruas cheias de lixo e entulho e vários edifícios danificados ou
destruídos — e que nos últimos meses ganhou grande popularidade nas redes
sociais.
O
curto vídeo, filmado na vertical, percorre um conjunto de ruas onde podem ser
vistas pessoas em pranto, lixo pelo chão e vários edifícios destruídos. Várias
placas visíveis nas imagens estão escritas em espanhol — a mesma língua que se
ouve da parte de vários homens que comentam a cena.
Apesar de se tratar de uma publicação
curta — apenas o vídeo e aquela breve frase —, não é difícil ver neste conteúdo
uma posição política sobre a forte crise económica que se vive actualmente
na Venezuela.
Liderado
por Nicolás Maduro desde 2013, o regime socialista venezuelano vive tempos
especialmente conturbados desde as eleições de 2018, quando a oposição (em
maioria no Parlamento) recusou reconhecer a legitimidade da reeleição de Maduro
e Juan Guaidó se proclamou presidente da Venezuela — tendo recebido o apoio de
uma grande parte da comunidade internacional.
A
crise económica e financeira que a Venezuela atravessa tem sido atribuída pelos
opositores ao regime socialista de Maduro — e por Maduro aos empresários e às
sanções impostas pelos EUA contra o país. Ao longo dos últimos três anos,
têm-se multiplicado na Venezuela as imagens dramáticas que mostram prateleiras
vazias nos supermercados e confrontos violentos no acesso a bens de primeira
necessidade.
No
início deste mês, o bolívar venezuelano foi desvalorizado
brutalmente, tendo a taxa de conversão passado de 1 euro = 4,9
milhões de bolívares para apenas 1 euro = 4,9 bolívares.
As imagens, que se tornaram virais
nas redes sociais, estão a ser passadas como sendo representativas da crise
venezuelana. No entanto, trata-se de um erro. Na verdade, o vídeo foi filmado
na cidade de Cali, na Colômbia, onde em maio deste ano uma manifestação
integrada numa greve nacional resultou num grande incêndio no primeiro piso do
Hotel La Luna (que é visível nas imagens).
À esquerda, a imagem que o vídeo diz
corresponder à Venezuela. À direita, uma imagem do Google Maps que mostra o
mesmo lugar, na Colômbia.
Como a agência brasileira Lupa
explica, basta recorrer ao Google Maps para encontrar o hotel e toda a rua
mostrada no vídeo. A imprensa colombiana também deu conta do
incêndio no hotel, que ocorreu durante protestos violentos numa greve nacional
contra a reforma tributária na Colômbia — que, na altura, teve eco também no Observador.
Conclusão
O
vídeo que tem sido partilhado várias vezes nas redes sociais com a legenda “Esta é a Venezuela de 2021. Fica aí a dica para 2022.” não foi
filmado na Venezuela, mas na Colômbia, como é possível comprovar por diferentes
fontes. Trata-se de uma informação objetivamente errada.
Assim, de
acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é: ERRADO
No sistema
de classificação do Facebook este conteúdo é: FALSO: as principais
alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção
corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de
verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma
parceria de fact checking com o Facebook.
Nenhum comentário:
Postar um comentário