Retrato primoroso
de governantes, de governados, de um país, de uma nação. Por Helena Matos. Não. “Daqui ninguém nos tira”.
Não são eles que decidem mal, somos nós
que não os percebemos /premium
Exoneração do Chefe do Estado-Maior da
Armada pelo Governo? Foi um equívoco. Afinal o PR sabia de tudo? É um
mal-entendido. Politicamente falando não são eles que decidem mal, nós é que
não percebemos
HELENA MATOS Colunista
do Observador OBSERVADOR, 03
out 2021
Há povos que são governados por gente
que assume os seus actos, logo gente que erra ou acerta. A nós, portugueses, neste tempo que levamos do século
XXI, calhou-nos outra estirpe de gente. Que gente é esta? Uma gente
que à menor questão ilude os problemas argumentando que foi tudo um equívoco ou
um mal-entendido, gesto que em si mesmo é uma forma matreira de transferir o
ónus da questão para os outros: os que não percebem – os equivocados – ou pior
aqueles que percebem mal – os maus entendedores.
Quem
seguir as declarações dos políticos portugueses acreditará que estes têm o
infortúnio de pairar sobre um povo de gente ignara que ora se equivoca ora cai
em mal-entendidos. Perceber não
está por assim dizer ao nosso alcance.
Mas quem é que mal-entende quem? Por exemplo, no caso da exoneração do Chefe do
Estado Maior da Armada (CEMA), o presidente da República veio já
tranquilizar-nos garantindo que “Todos os equívocos sobre a polémica na Armada estão esclarecidos” como se tudo se tivesse resumido a uns trocadilhos
que nós no nosso fraco entender não discernimos, e não a uma perturbante
sucessão de factos que não estão de modo algum esclarecidos: um
Governo que não aceita críticas, faz
uma reforma da instituição militar na lógica do quero, posso e mando e não
tolera a oposição do actual CEMA, Mendes Calado, a essa reforma; uns militares que
concebem a ascensão a Chefe do Estado Maior da Armada como um carrossel em que
entram e saem vice-almirantes a tempo de atingirem o cargo de CEMA antes da
idade da reforma; um Presidente da
República que trata os assuntos de Estado com o imediatismo de um comentador,
perorando no meio de uma visita à Casa do Artista sobre a exoneração do Chefe
do Estado Maior da Armada.
Para que a rábula ficasse completa temos depois o Governo a lembrar que a exoneração não estava a
acontecer até porque, como Marcelo sabia,
ela estaria agendada para 2022. Em resumo, não só os
equívocos não estão desfeitos como esta sucessão de factos nada tem de
equívoco, antes pelo contrário, com assinalável clareza, expõe os bastidores de
um poder que se tornou um fim em si mesmo.
Já
foi assim quando o primeiro-ministro chamou “cobardes” aos médicos e depois
veio dizer que fora tudo “um mal-entendido” ou o Secretário de Estado para a
Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, veio
explicar que fora mal interpretado após ter declarado que Portugal ganhou com a
pandemia. Portanto, umas vezes mal-entendemos, outras não sabemos
interpretar as mensagens que nos chegam do lado de quem detém o poder. Enfim, nunca
estamos à altura de quem nos governa. Porque o poder esse nunca está em causa!
Esta transferência da atenção dos
factos para a interpretação (ou falta dela) que deles fazemos é uma tendência
que crescerá tanto mais quanto a classe política não tiver capacidade nem
coragem para enfrentar a realidade do país. Ora este pavor a ser apanhado a decidir, que na classe
política é uma táctica para manter o poder, está a contaminar a administração pública,
aí por razões de sobrevivência. É
certo que ser funcionário público é visto por boa parte da população como uma
forma de ganhar mais trabalhando menos e usufruindo de um conjunto de
garantismos, entre eles o do emprego vitalício. Mas começa a ser crescente
a fuga dos cargos e funções da administração pública que implicam ter de tomar
decisões, ter de agir, estar frente a frente com as pessoas, sem que o
funcionário/titular em questão se possa refugiar na armadura dos procedimentos
e das burocracia. São os
concursos por preencher dos professores — Mais de 100 mil alunos ainda sem
professores, alertam sindicatos. Falta de professores tem-se vindo a acentuar
de ano para ano; — que se
somam às vagas dos agentes policiais por preencher — PSP preocupada com vagas por
preencher em concurso de novos agentes— ou os hospitais do SNS cujos
directores consideram não terem condições para exercer o seu trabalho — Um mês depois da demissão do
director do serviço de Obstetrícia do Hospital de Setúbal, director abandona
cargo.… Existirão
outras e diversas razões para cada um destes títulos mas eles têm um
denominador comum: quem não pode invocar para si o privilégio de ser mal
entendido confronta-se com uma realidade dura que nada tem a ver com a verdade
oficial.
PS. Voltou
a reportagem sobre o Presidente em calções de banho! Em São Tomé e
Príncipe Marcelo recuperou a performance balnear. Como não podia deixar de ser
houve selfies e alguma assistência. Felizmente que os presidentes só fazem
dois mandatos, ou Marcelo acabava a tomar banho sozinho.
FORÇAS
ARMADAS DEFESA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA POLÍTICA MINISTÉRIO DA
DEFESA GOVERNO
COMENTÁRIOS:
José Barros: Excelente como
Helena Matos nos habituou.
João Afonso: Nada disto é
novo. Para aqueles que viveram o reinado de Guterres, lembrar-se-ão da novilíngua
que então entrou em uso. Expressões como: "tolerância zero" ou "discriminação
positiva", são sintomáticas do que viria a seguir, pois impedem o executor
de executar. Guterres inaugurou os governos da não decisão e da não execução.
Costa dá muito boa continuidade ao
pântano. Laurentino
Cerdeira: Mais um excelente artigo. obrigado.
Resumindo: costuma dizer-se, “juntou-se à fome a vontade de comer”. É o que
apetece dizer, quanto ao versado nesta crónica, da infelicidade que foi e é
para o meu querido país as circunstâncias terem juntado no mesmo tempo, tão
fraco presidente com tão incompetente primeiro-ministro! Vem-me logo a memória
Luís Vaz de Camões: “Fraco rei faz fraca a forte gente.”. Alberico Lopes: Que texto maravilhoso! Estamos mesmo no país das
maravilhas! Ou melhor: no país do faz de conta! Em que tanto o 1º. ministro
como o seu ajudante - o sr. Marcelo das selfies e do fato de banho na praia -
nos querem fazer crer que somos todos uns coitadinhos, que nem conseguem
discernir o que é ridículo e o que deveria ser uma pose de estado, com as
consequências que eles nunca sabem tirar! Pudera: se fossem capazes de assumir
as suas responsabilidades, já há muito que estariam fora de circuito! Até
quando o permitiremos? Maria
Cordes: Escreveu e expressou, o que sentimos,
estupefactos. Quando levantámos cabeça, sobre o sucesso da vacinação, a salvar
a honra do Convento, eis que surge o "carrossel", e um protagonismo,
que não reconheço na Armada que o meu Pai serviu. Este filme, que se desenrola
há demasiados anos, incêndios, golas de fumo, decisões sem sentido, silêncio
sobre as velocidades a que andam os ministros, que acham que são mais que os
outros, etc etc, é muito repetitivo. Carlos Quartel: Crónica para cumprir compromissos, nada de novo. A paz
podre está instalada e o acontecimento é a reabertura das boîtes e danceterias.
Milhares de adolescentes, felizes e risonhos, queixando-se que não aguentavam
mais. Com a colaboração de felizes e risonhos repórteres. Valha-nos o Costa,
que decidiu abrir a porta do curral. Talibans,
Somália, Sudão, Congo, Etiópia, milhões de crianças com menos de meio quilo,
cheias de moscas, tudo isso é propaganda reaccionária. E andamos preocupados com as crises climáticas, o
excesso de plástico, o nível dos oceanos, quando o problema está no nível de
imbecilidade, vazio mental e comportamento rasteiro da nossa espécie.
Covid 20 e covid 21 necessitam-se para
limpar isto ...... Américo
Silva: Boa crónica, eles são como nós, Portugal
e os portugueses são particularmente aptos a sobreviver em quaisquer
circunstâncias. DASS é o segredo: D-dissimulado.
Se perguntares a um galego a sua opinião sobre qualquer assunto, são conhecidos
por nunca a revelarem, tal como os galegos do sul, chamados portugueses. A-agenciador.
Aquela actividade interesseira cheia de pequenos passos dos cristãos-novos,
sempre em busca de vantagem, com bilionários a receber o RSI, e insolventes a
passear-se de helicóptero pelo mundo. S-subserviente, sempre a gabar as qualidades de sua
excelência de quem depende, bajulador e incapaz de crítica, óptimo para
carreiras políticas internacionais. S-submisso, incapaz de tomar decisões à espera que outros
as tomem para a sua vantagem, não reclama e sofre todos os enxovalhos, desde
que vislumbre compensação, por mísera que seja. Cipião Numantino: Algum dia, em algum lugar alguém proclamou:
"cada povo tem os governantes que merece"! Seja assim ou não, nesta
espécie de choldra a que se convencionou chamar um país, parece que o conceito
bate absolutamente certo. E ao leme do estado temos gente que, qualquer um de
nós, a um nível aparente e meramente conceptual acharíamos que não são flores
que se cheirem. Tenho, para mim, uma opinião altamente negativa das pessoas que
regem os destinos do país. E iniciando o périplo pelo 3º. da hierarquia de seu
nome Ferros Rodrigoso, acharia que estaria bem colocado e a preceito como
espanta-pardais onde na sua voz tonitruante "amandasse" uns arrotos e
uns traques que afastasse diligentemente toda a passarada. Sobre o 2º., o
inefável Kostakovich, se tivesse um burro a pastar numa courela quando ele
passasse, não deixaria de o ter permanentemente sobre uma fixa mirada, sob pena
do asno me ser surripiado para ser entregue a um dos seus apaniguados. De
resto, sempre desconfiei de quem viveu uma vida inteira de expedientes. E
interessa-me pouco se foi a vender roupa contrafeita, ou a viver como um
político vendendo a banha da cobra para se governar à sombra do efeito.
Nulidade humana que atrai, dizem os livros, outras nulidades de semelhante
calibre. Gente que nunca trabalhou, e que nunca fez nada de útil, dirigindo um
povo inteiro. Assim à laia de uma raposa promovendo a administração, a ordem e
a concórdia, num movimentado galinheiro. Tem tudo para dar bota, não concordam?
Fixo-me, finalmente, no papagaio-mor do reino. Sem quaisquer dúvidas o mais
inteligente dos três. Uma espécie de conde tendo à direita o seu carroceiro e,
à esquerda, o moço de estrebaria. Um mistério, para mim, este papagaio. E nem
sequer sei se os dislates de que faz uso e gala são racionalmente assumidos se,
ao contrário, interiorizou que para um povo destes e os governantes que o precedem,
"bacalhau basta" e não faz mais do que gozar com o pagode. Um efectivo
"trio da vida airada". Uma alternância alarve e carroceira de tantos
e tantos governantes que pontificaram neste país. Sei bem que a esquerda, no
geral, é pouco exigente quanto aos seus timoneiros. Um "pe do fi lo"
como o Mao, um assassino raivoso como o Che ou um anafado cruel, tonto e venal
como o Maduro serve-lhes na perfeição. O que vier à rede é peixe! Contudo para
mentes que se regem por raciocínios lógicos e que tentam enxergar para lá do
imediato, tais situações constrangem e apoucam. Por mim tenho vergonha dos meus
governantes. E sendo um anti-salazarista convicto, ainda assim, assinalaria
"as verdades" mesmo que más e austeras do fradalhão de Santa Comba. Pelo
menos, neste caso, não precisaria de tomar para mim as vergonhas alheias. Que a
dignidade, mesmo que aparente, também se desprende das suas formalidades. Que
trio! Que me valha o sempre milagreiro Santo Eucarário!...
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