Não, não é esta nossa ainda. Hoje é a da
utopia, do ilusionismo de que trata Raquel
Abecasis, e abrangendo mesmo os dias inteiros. Embora parcialmente
nela vividos, pelos merceeiros de ocasião. A do nevoeiro será a dos nossos vindoiros,
em repetição frustrada, mesmo sem D. Sebastião que lhes preste, pobres vindoiros,
o nevoeiro absolutamente cerrado para eles. A esperança também. Que
a mercearia, gerida pelo ilusionismo – saloio ou sabido – esgotar-se-á, no
nevoeiro geral, sem lenda que valha com o tal D. Sebastião eternamente
desejado, como o disse também José Cid, referindo-se
aos do nevoeiro de hoje. De sempre, afinal. Os que se importam com isso:
A Lenda D'el Rei D. Sebastião
Fugiu
de Alcácer Quibir
El Rei D. Sebastião
Perdeu-se num labirinto
Com seu cavalo real
As bruxas e
adivinhos
Nas altas serras beirãs
Juravam que nas manhãs
De cerrado de Nevoeiro
Vinha D. Sebastião
Pastoras e
trovadores
Das regiões litorais
Afirmaram terem visto
Perdido entre os pinhais
El Rei D. Sebastião
Ciganos vindos
de longe
Falcatos desconhecidos
Tentando iludir o povo
Afirmaram serem eles
El Rei D. Sebastião
E que voltava de novo
Todos foram
desmentidos
Condenados às galés
Pois nas praias dos Algarves
Trazidos pelas marés
Encontraram o cavalo
Farrapos do seu gibão
Pedaços de nevoeiro
A espada e o coração
De El Rei D. Sebastião
Fugiu de
Alcácer Quibir
El Rei Rei D. Sebastião
E uma lenda nasceu
Entre a bruma do passado
Chamam-lhe o desejado
Pois que nunca mais voltou
El Rei D. Sebastião
El Rei D. Sebastião
Costa, o merceeiro ilusionista /premium
Gerir a mercearia é um exercício de
ilusionismo. A CP não tem dinheiro, mas a aposta na ferrovia é uma prioridade
para o Governo. As escolas não têm professores, mas o ano lectivo começou a
horas.
RAQUEL ABECASIS, Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas
eleições autárquicas e legislativas
OBSERVADOR, 05 out
2021
Está na hora de garantir o negócio por
mais um ano. Para o ano
logo se vê de que lado sopra o vento. Tem sido sempre assim desde que António
Costa é primeiro-ministro. Programa de governo? Estratégia para o país a médio
prazo? Nada disso. É preciso é
deixar o barco seguir sem grandes sobressaltos.
É
assim por estes dias como todos os anos em Outubro. Ouvimos as grandes
exigências de deputadas não inscritas, de quem o resto do ano nem ouvimos
falar, do PAN e da causa animal, do PCP cada vez menos exigente e do BE que vai
fazendo as contas para saber se este ano vai ser rebelde e chumbar o orçamento,
ou se os seus votos fazem falta para manter a mercearia de Costa a funcionar.
Entretanto,
num ministério perto de si, a vida continua, igual a sempre. Aquele grande
projecto, aquela aposta na ferrovia, o reforço do SNS e tudo o mais aguardam a
descativação do senhor ministro das finanças. Menos mal que a culpa nunca é dos
ministros sectoriais e cabe sempre a João Leão, o forreta.
Em
São Bento, o dono da mercearia disfarça com uns diplomas bem modernaços sobre a
igualdade de género, o fim da transmissão de touradas na RTP, ou o plano de
recuperação das aprendizagens nas escolas onde não há professores, mas isso
também não interessa nada.
Gerir uma mercearia do tamanho de um país, na perspectiva de António
Costa, é um exercício de ilusionismo. A CP não tem
dinheiro, mas a aposta na ferrovia é uma prioridade para o Governo. As
escolas não têm professores, mas o ano lectivo começou a horas e quando
chegarem os professores, se chegarem, vai haver recuperação das aprendizagens.
Agora é que é, quando houver dinheiro, vai direitinho para o reforço do SNS. E,
entretanto, prometem-se umas revisões da lei laboral ao PCP e uns acertos nos
subsídios da função pública e está aprovado o orçamento.
A estabilidade política, tão útil ao
país, é também uma ilusão. A gestão
da mercearia, para ser bem-feita, não permite subir o nível e a dimensão do
negócio. Para isso era precisa uma estratégia, um desígnio e um
conjunto de metas a atingir. Era preciso que Costa fosse ao mercado parlamentar
negociar o futuro e não oferecer brindes em promoção.
A ausência de uma proposta
mobilizadora para o país prova-nos, ano após ano, que António Costa não é um
bom negociador, é antes um grande ilusionista. Se ao menos fosse mágico, podia
tentar mudar Portugal com um toque de magia. Mas, infelizmente para todos, não
é esse o talento do primeiro-ministro.
Para a semana, o Presidente respira
de alívio, já temos orçamento garantido. O problema volta para as mãos de uma
maioria de portugueses que na sua actividade privada continuam a batalhar para
construir empresas sólidas e modernas num país político que rema em sentido
contrário.
COMENTÁRIOS:
Luís Abrantes: … sem ofensa para os merceeiros e ilusionistas, que esses trabalham e têm
profissão…!!!
Jorge Martins: Completamente de acordo. Simples e conciso. klaus
muller: Pulido Valente
dizia que o K. tinha fama de ser a excelência dos negociadores mas que, se
víssemos bem, ele limitava-se a entrar numa reunião, a concordar com tudo o que
a parte contrária pedia e, depois, ia gradualmente faltando à palavra dada, i é,
não ia cumprindo o que tinha assinado. Aliás, tanto o BE como o PCP já se
queixaram disso mesmo. Clarisse Seca
> klaus muller: E qual foi o contributo do PCP e BE, além de passarem
ao poder e dominarem a agenda política? klaus muller
> Clarisse Seca: Concordo em absoluto consigo, Clarisse. O BE e o PCP vão ter o cuidado
de terminar quaisquer danos que ainda não tenham sido feitos pelo K. José
Ramos: Estes
"milagres" aconteciam de forma sistémica na URSS e nos países
satélites durante e após a era Brejnev. O fim é o que se sabe e prevalece no "homem
novo" que dirige a Rússia e que faz dela o gigantesco país atrasado que
sempre foi.
Karoshi: Talvez devesse haver uma forma de a própria população
referendar e propor Orçamentos de Estado. Muitas pessoas acabavam a ganhar
alguma noção daquilo que o país precisa mesmo ou não precisa de financiar. E
acima de tudo poderiam senti-lo na própria pele. Até
lá, restam os bitaites de gente que quer sempre cortes para os outros mas nunca
para eles mesmos. Rui Teixeira:
Bom texto!
E convém não
esquecer que, além dos "jornalistas" avençados e/ou em situação
precária que se fartaram de chamar ao nosso costinha-merceeiro
"Habilidoso", houve gente sem trela e sem problemas financeiros que
chegaram a qualificá-lo de "Génio", por ex., um tal Soromenho
Marques.
Maria Mole: Excelente. Era bom que o Presidente da República
também o lesse, talvez assim se aperceba de que o país está mesmo mal, e que a
culpa não é dos Portugueses sempre tão pessimistas….. Pedro Calado: Exactamente...mas com uma
nuance, eles (governo) não gerem a mercearia (país), apenas se limitam a gerir
a contabilidade da caixa (ps)!!! Nuno Torres: Raquel, gostei, mas olhe há
mercearias muito bem geridas e que dão muito bons lucros. Talvez melhor
metáfora fosse o lumpen proletário que vive do expediente, do xico espertismo
como entretém. do desenrasca a tempo inteiro, da trapalhice como praxis, bem
falante quanto baste para sacar uma esmola, do agarrem-me se não bato, etc. advoga
diabo. Se a admiração de RA pelo
sindicato STOP faz sentido, afinal que interessa desprezar os alunos em nome de
uma polÍtica de "terra queimada" para desgastar o Governo? Já a
admiração por PNS não passa de inconfessável desejo de radicalização do PS.
Tanta irresponsabilidade! Rita
Salgado: Que bem descrito! Alberico Lopes: É sempre um prazer enorme ler
os artigos da Raquel Abecassis! Parabéns, Raquel! Antonio Pedro
Mieiro: Sempre excelente 👏👏👏 PENSADOR:
A Raquel está a ser muito
injusta para os merceeiros, que fogem a sete pés do
ilusionista/malabarista/prestidigitador! Com efeito, é desmerecer a digna,
séria, trabalhadora e empreendedora profissão de merceeiro, quando lhe associa
semelhante personagem... Ediberto
Abreu: Aliás, este é um
governo de merceeiros, a começar no Costa e a acabar no Nuno da Feira (sem
desprimor para os verdadeiros merceeiros) Andrade QB: Hoje já dá para ver que as
mercearias não sobreviveram à gestão de merceeiro. Fernando E:
Brilhante. António
Duarte: Tem razão Raquel,
só lhe faltou falar do dono do circo onde trabalha o ilusionista,
contorcionistas e outros artistas variados: o Sr Marcelo, que até já garantiu,
urbi et orbi, qual papa, que vende bilhetes até 2023, isto se algum leão ou
outro animal amestrado se não constipar e morrer (quer dizer, irritar o PAN,
que não votará o Orçamento ou o PCP, que não montará as bancadas na próxima
terra, por exemplo). No fundo, a Raquel padece do mal que há anos afecta os
comentadores da chamada direita civilizada, que chegará à lua no ano em que o
circo fechar a porta (ou seja, daqui a muitos anos, quando já ninguém for ao
circo).
Lidia Santos: Muito bom mamadorchulo dostugas: Se isto fosse uma mercearia com
um bom taberneiro à frente, estávamos bem, o problema é que não passamos de uma
reles tasca mal frequentada, lhbtq e afins.
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