De um jovem com educação suficiente para
chamar a atenção para processos de construção política em que vamos vegetando –
e fomos – sem uma preparação cabal para os vindouros, numa “mesmice” empedernida
de que já falava Eça, e que, decididamente - dada a quantidade de comentários críticos
que os verrinosos do conformismo graxista expendem contra ele, e cuja maioria suprimi
– tende a não desaparecer. Assim somos, assim fomos, assim seremos. Mas ainda
bem que existem os “João Miguel Tavares” do alerta preocupado e corajoso.
I - OPINIÃO: Manual de instruções para a lenta corrosão
da democracia
Reparem nestas três notícias, todas da
maior gravidade, mas que foram recebidas sem o menor sobressalto cívico. Querem
saber como aos poucos se vai corroendo os alicerces de uma democracia? É assim.
PÚBLICO, 24 de
Junho de 2021
Reparem nestas três notícias, todas
saídas nos últimos dias, todas da maior gravidade, mas que foram recebidas sem
um suspiro e sem o menor sobressalto cívico. Manchete do Expresso: “Sete em cada dez concursos para dirigentes do Estado
são ‘viciados’”. Pós-título: “Análise às nomeações do Governo nos últimos dois anos
e meio revela que 69% dos escolhidos já estavam no cargo em regime de
substituição. Cresap
quer mudar regras para travar concursos feitos à medida.”
Tradução: A Cresap foi criada em 2011 pelo governo de Passos
Coelho, com o objectivo de despartidarizar os cargos superiores da
Administração Pública. Para liderá-la foi escolhido um militante do PS – João
Bilhim –, através de um acordo (secreto)
entre Passos e António José Seguro. A Cresap nunca despartidarizou como devia,
mas introduziu exigência e racionalidade no processo de selecção de altos
quadros do Estado, até esse processo ser totalmente sabotado pelo actual
governo, que banalizou uma inconcebível artimanha: colocar boys em regime de substituição até estes
ganharem a experiência suficiente para assegurar a entrada na shortlist da
Cresap. Depois, passam de substitutos a oficiais. Uma pura fraude ao espírito
da lei. Reacções? Zero.
Notícia do Jornal Económico: “Transparência
e Integridade alerta para ‘mais uma porta giratória’ com 16 magistrados no
Governo”. Pós-título: “Entidade considera que a integração de juízes e
procuradores entrou ‘em velocidade de cruzeiro’ nos executivos de António
Costa. E apela a intervenção dos conselhos superiores de Magistratura e do
Ministério Público.”
Tradução: A
Associação Transparência e Integridade (TI) decidiu efectuar uma pequena pesquisa sobre o número de
magistrados nomeados por este governo, na sequência de mais uma decisão muito lá de casa da
ministra da Justiça, que apontou a procuradora Carolina Berhan da
Costa para o DCIAP, por onde passam os crimes de corrupção, após esta trabalhar
como adjunta no seu próprio gabinete. Segundo
a TI, desde que António Costa é primeiro-ministro houve 23 nomeações de
magistrados para os cargos de ministro, secretário de Estado, chefe de
gabinete, adjunto ou director-geral. Nada disto é ilegal – o
Estatuto dos Magistrados Judiciais não o impede –, mas devia ser: as portas giratórias na área da justiça são
inaceitáveis, pois colocam em causa a independência do poder judicial. Reacções a
isto? Zero.
Notícia do Expresso,
também deste fim-de-semana: “Juízes
desapontados acusam PS e PSD de fugir à ocultação de riqueza”. Pós-título: “Projectos
de lei de combate à corrupção e para criminalizar ocultação de riqueza vão ser
debatidos dia 25 no Parlamento [ou seja, esta sexta-feira]. Sindicato dos
Juízes desiludido com propostas do PS e PSD.”
Tradução:
após o PS, na sequência da decisão do
juiz Ivo Rosa sobre a Operação Marquês, mostrar uma súbita
disponibilidade para acolher a sugestão da Associação Sindical dos Juízes e criminalizar
de vez o enriquecimento ilícito, logo entraram em campo os construtores
de alçapões. PS e PSD aceitam agora o aperto da malha da ocultação
da riqueza via declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, mas
obrigando o TC – para haver dolo e crime – a uma notificação prévia para
justificar o dinheiro suspeito – que ninguém sabe que existe. É como entregar pistolas à polícia para
combater o crime e depois ficar com as balas. Querem
saber como aos poucos se vai corroendo os alicerces de uma democracia? É assim.
Jornalista
TÓPICOS OPINIÃO
JUSTIÇA JUÍZES CORRUPÇÃO MINISTÉRIO PÚBLICO ASSOCIAÇÃO
SINDICAL DOS JUÍZES PORTUGUESES ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
IssequerabomINICIANTE:
Mais uma na mouche.
Insisto, no entanto, que o PSD só não faz o mesmo porque não pode. É (mais) uma
prova de que o regime de 1976 está completamente podre e é também uma prova de
que ele não é reformável por dentro (quanto mais não seja por a justiça ou não
existir ou estar capturada). Excluindo golpes militares e afins, o regime vai
possivelmente cair com nova falência do estado... cidadania
123 EXPERIENTE: Infelizmente, esta crónica vai cair em
saco roto, tal como as dezenas de outras, de vários cronistas e jornalistas que
têm apontado casos graves de funcionamento da nossa democracia. Parece que
chegamos ao ponto em que, são tantas as evidências, os casos, e de forma tão
reiterada, que a comunicação social e comentadores não conseguem criar a onda
mediática necessária para criar verdadeira indignação pública. Tudo é abafado
pelo caso seguinte, tudo é ultrapassado………………………………………….
II - OPINIÃO: E assim cá vamos, cantando e rindo
E se nos estivermos todos a habituar a
este triste teatrinho da mediania; aos 20 anos a divergir da Europa; ao
tribalismo acéfalo à esquerda e à direita; à bolha mediática que confundimos
com o país?
PÚBLICO, 17 de
Junho de 2021
E
se o verdadeiro problema de Portugal for o exacto contrário daquilo que
passamos o tempo inteiro a discutir? Não
qualquer espécie de desejo de voltar aos tempos do Estado Novo, coisa que só
existe na cabeça dos maluquinhos, mas o desejo de manter vivas a estrutura do
corporativismo que o Estado Novo criou e alimentou, e que impedem a democracia
portuguesa de se assumir verdadeiramente como uma democracia liberal?
E se Salazar estiver vivo nesta nossa
democracia corporativa, não como espectro
que ganha concursos na televisão, mas como criador de um poder férreo que
continua a estender-se a todo o país a partir do Terreiro do Paço, impelido por
um desejo de superintender o regime que passa pelo domínio das instituições e
da vida política e social – uma velha tentação do Partido Socialista –, e que
António Costa, com o seu soft power e a habilidade com que enfiou a esquerda de
protesto no bolso, tem vindo a concretizar como nenhum outro primeiro-ministro
desde o advento da democracia?
E se a nossa estagnação não for
apenas económica, mas também política e mental, derivada de um povo
transformado em cadáver democraticamente adiado que já nem sequer procria, e
conformado ao viver habitualmente? E
se os esquifes feitos de ferro não forem exclusivos do Estado Novo, mas também
da democracia, da Primeira República e da monarquia? E se for possível recuar
até ao século XVI para encontrar um país que colecciona oportunidades
perdidas, sempre aquém dos melhores sonhos das suas vanguardas?
E se a grande utilidade das
revoluções da nossa História, quase sempre muito poupadas em sangue e em suor,
não estiver na transformação de Portugal num país radicalmente diferente, mas
na simulação de disrupções que nunca realmente aconteceram com a profundidade
prometida, porque embora as elites e as corporações mudem, a fome é sempre muita
e a carne nunca muda?
E
se a grande utilidade do Estado Novo para a nossa democracia for a
possibilidade de demonizar a totalidade do passado como forma de justificar as
arbitrariedades do presente, tal como o Estado Novo usou para isso a Primeira
República, a Primeira República usou a Monarquia Constitucional e a Monarquia
Constitucional usou a Monarquia Absoluta? E se o passa-culpas, que ainda recentemente foi o cimento da nossa
peculiar “geringonça”, for apenas uma estratégia nacional de sobrevivência à
mediocridade instalada, e a justificação para a incapacidade de o país se abrir
a uma sociedade de indivíduos livres, em vez de eternamente manietados pelo
rotativismo de elites paroquiais e endogâmicas?
E se
aquilo que ainda nos vai consolando for a memória do passado, e a certeza de
que embora vivendo pior do que os outros europeus, ao menos vivemos melhor do
que os nossos pais e avós? E se isso estiver prestes a acabar? E se o futuro
que os pais de hoje desejam para os seus filhos for de novo uma vida e uma
carreira fora de Portugal, como acontecia nos anos 50 e 60 do século passado?
E se
nos estivermos todos a habituar a este triste teatrinho da mediania; aos 20
anos a divergir da Europa; ao tribalismo acéfalo à esquerda e à direita; à
bolha mediática que confundimos com o país? E se
formos demasiado parecidos com Pêro Vaz de Caminha, que após escrever em 1500
uma carta prodigiosa sobre o achamento do Brasil, reserva a última frase para
meter uma cunha a D. Manuel, pedindo a libertação do genro desterrado – com a
enorme, a gigantesca desvantagem que nenhum de nós descobriu o Brasil?
Jornalista
TÓPICOS POLÍTICA OPINIÃO PODCAST O
RESPEITINHO NÃO É BONITO OPINIÃO
COMENTÁRIOS:
Issequerabom
INICIANTE: Para os defensores da III República: Portugal está desde 1986 a
receber dinheiro e já foi ultrapassado por diversos países da Europa de leste!
Estamos hoje melhor que em 1974? Claro! O PS(D) que nos governa desde 1974 é responsável
pela vergonhosa performance deste regime falido que, obviamente, não se
consegue reformar por dentro!
cisteina
EXPERIENTE A política sempre se alimentou de idiotas úteis à esquerda e à
direita conforme lhes convenha defender o indefensável, sabia? Não faça
perguntas condicionais, escreva de sua justiça. Tristão
Bretão EXPERIENTE E se o @cisteina parasse de querer dizer
aos outros o que e como é que devem escrever? E se ele experimentasse estudar a
técnica das perguntas retóricas? E se ele não caísse na esparrela do conteúdo,
com que JMT lhe ofusca o espírito? E se ele se divertisse um bocado? Mario
Coimbra INFLUENTE E
se o Tristão der respostas...isso é que seria extraordinário. Ditadura e Estado
Novo é igual. Assim com 25A e democracia são sinónimos. Deixe-se de tratar as
pessoas de forma paternalista. Já basta PP e para isso tem muito que andar Tristão
Bretão EXPERIENTE: E se o Mário Coimbra (MC) fizesse a
mesma sugestão ao autor do artigo (que só tem perguntas) que me fez a mim? Ou o
MC vê lá alguma sentença que termine com outro sinal de pontuação que não seja
o ponto de interrogação? E se eu estiver só a parodiar essa técnica para pôr em
evidência o artifício que JMT emprega para parecer que debita apenas evidências
indiscutíveis? Quem é que nesse caso foi paternalista? E o MC pensa que as
equações 25A=democracia e EN=ditadura são o que se infere do 2º parágrafo do
texto de JMT? E se relesse? E, já agora, sem pergunta, seria talvez melhor se
deixasse quem vê num texto de opinião um texto, e o lê como texto, e assim o
critica ou satiriza, ser livre para o fazer. Não sou seu filho, nem do
@cisteina, para me virem dizer o que devo fazer. Fui claro? FzD
INFLUENTE: O Tristão é sempre muito claro: em resumo, está sempre a perder
a oportunidade de não escrever nada, uma vez que nunca tem nada de substância
para dizer. Agora fui claro? É que parece que não percebeu que a minha primeira
resposta era para si, não para o sagaz artigo que pretendia comentar... Tristão
Bretão EXPERIENTE: O FzD, com a arrogância do costume,
sempre a tomar quem pensa de maneira diferente da dele por idiota. E sempre a
achar que o vazio cerebral que o caracteriza é uma característica do resto da
humanidade. Se foi claro? Como é que pode ser claro quem é sempre escuro como
basalto? francisco
cruz EXPERIENTE: Todos a cascar no ceguinho?!! FzD, Mário
Coimbra, tenham maneiras. Aprecio incomensuravelmente, os comentários de Tristão
Bretão e este texto não foge à regra. Assertivo, pertinente e com fino sentido
de humor. Em contrapartida, as vossas intervenções grosso modo, revelam má
educação - quando não má fé - , pobreza de espírito e índole reaccionária.
Agora fui claro!? EXPERIENTE: Ai está está. Os portugueses às vezes fazem-me lembrar aquele
filme "Truman Show" . Vivem numa bolha aonde lhes vendem a ideia que
Portugal é o Ronaldo dos países. E não têm noção da pobreza com que se vive, da
falta de recursos, da baixa qualidade de grande parte da educação, da falta de
apoios sociais, qualidade da habitação etc Não têm a noção de como estamos atrasados em
relação ao norte/centro da Europa. Assim nunca sairemos do buraco. Eng.
Jorge Simões INFLUENTE: Não resulta "tentar lavar a cara a
burros pretos". Temos nos nossos genes décadas (séculos?) de servilismo e
sujeição a corporações que, na defesa de seus interesses, a todos condicionam.
E nada deve ser mudado, pois o povo é sereno, tudo aceita e até no seu empenho
em colaborar, chega a não coibir de fazer o papel de "bufo" contra os
que ousam pensar "fora da caixa". A reflexão de JMT parece-me muito
correcta, mas como se vê por muitos comentários, grande parte das pessoas está
satisfeita e nada quer alterar. fernando
jose silva INFLUENTE: É pertinente a análise proposta. De
facto, através de vários séculos, ainda não fomos capazes de construir uma
sociedade sem classes, pelo menos eticamente equilibrada. Portugal, para além
duma religião conservadora fora do tempo, tem sido subjugado aos interesses de
sucessivas elites autocráticas, minorias que acertam a democracia às suas
ambições, fazendo de Portugal bandeira, mas a sua, longe do todo português.
Naturalmente a pobreza, a miséria e o povo vão continuar a ser a grande maioria
do cidadão que paga impostos, sobrevive, sustenta as elites e é humilhado pelo
desperdício displicente e corrupto dessas elites de mentalidades reduzidas.
Isto é a nossa história, mesmo contada em tons cor-de-rosa conforme as
conveniências do poder que se instala. francisco
cruz EXPERIENTE: Incorrigível JMT! Você seguramente tem
uma fixação emocional ao passado salazarista - há mais portugueses que sofrem
desse mal. O título do artigo "E assim vamos, cantando e rindo"
parece um slogan propagandista de recrutamento para a Mocidade Portuguesa, ao
tempo da Ditadura. Estranho mesmo, é o "perfume" saudosista que emana
de todo o texto. Como é possível JMT ter saudade de um tempo que não viveu. Analisando
o texto, conclui-se que é absurdo e incompaginável com o bom senso e
inteligência: confuso, repleto de suposições e contradições. Em suma, não passa
de um delírio conjectural. Temo, que o próximo artigo de José Pacheco Pereira -
amanhã, este sábado?? - despache João Miguel Tavares para os cuidados
intensivos com patologia depressiva. Dommage. Mario
Coimbra INFLUENTE: Francisco fixação tem você com JMT, só
pode.
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