Sobre a tal frase de uma avidez
pressurosa, específica de mendicidade, e sobre as reformas a vir, cuja realização
embarca em esquemas já conhecidos da nossa inércia mental e física. Vergonha?
Cadê? Os textos são de João Miguel
Tavares e de Paulo Rangel. E comentadores, alguns com idêntica vergonha, outros do
mesmo calibre finório e despudorado de quem nos governa.
I - OPINIÃO: O projecto
do PS para Portugal em apenas cinco palavras
Já posso ir ao banco? E naquele momento
estava ali Portugal inteiro, e o resumo do que tem sido a nossa vida, sobretudo
a partir de meados da década de 90.
JOÃO MIGUEL TAVARES PÚBLICO, 22 de Junho de 2021
A frase abriu reportagens televisivas
e recebeu atenção por parte de colunistas, mas, ainda assim, sabe a pouco
– ela merece ser erguida em cartazes, replicada em anúncios, estampada em
t-shirts e transformada em luzes de néon, para colocar no arco da Rua Augusta,
à entrada do Terreiro do Paço. É uma frase perfeita, composta por cinco
palavras de uma ou duas sílabas, mas que resume melhor do que qualquer discurso
aquilo que tem sido Portugal
desde 1986, e, sobretudo, do que planeia ser o Portugal de António Costa: “Já posso ir ao banco?”
Para
quem não viu, eu conto com tudo aconteceu. Na semana passada, a presidente da
Comissão Europeia veio a Lisboa
entregar um cheque de 16,6 mil milhões de euros (13,9 mil milhões
em subvenções a fundo perdido e 2,7 mil milhões em empréstimos até 2026),
no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). Portugal –
bravo! – foi o primeiro a entregar a versão final do seu PRR e o primeiro a
receber luz verde de Bruxelas. Daí a visita da presidente da Comissão e daí o
diálogo que se segue.
Ursula
von der Leyen para António Costa: “Agora tem muito trabalho pela frente.”
António
Costa, com um sorriso do tamanho de três legislaturas: “Já posso ir ao banco?”
Ursula
von der Leyen, maternal: “Já pode ir ao banco.”
E
foi isto. A frase original, dita em inglês manhoso de camone, ainda tem mais
graça: “Now I can go to the bank?” E naquele momento estava ali Portugal
inteiro, e o resumo do que tem sido a nossa vida, sobretudo a partir de meados
da década de 90: simultaneamente
um desperdício monumental do dinheiro dos contribuintes líquidos europeus –
o nosso PIB era 81%
da média europeia em 1995 e, muitas dezenas de milhares de milhões de euros
depois, ia em 78% da média europeia em 2019, ou seja, divergimos em vez de
convergir – e uma dependência gigantesca desses fundos na manutenção das
clientelas e na alimentação da nossa democracia corporativa, como bem demonstra
a felicidade de António Costa.
Atenção:
não sou só eu que o digo. Louve-se a honestidade da comissária europeia Elisa Ferreira –
uma escolha do actual governo –, que ainda este fim-de-semana afirmou, num momento de grande lucidez, qual
deveria ser a nossa prioridade: “Deixar de ser um país da coesão. Porque
neste momento é penoso ver que Portugal, com estes anos todos de apoio, ainda
está entre os países atrasados.” Sim, é penoso; e sim, continuamos atrasados.
Este é um ponto que os portugueses, tão habituados a ir bater à porta de
Bruxelas de mão estendida, tendem a esquecer: continuar a receber fundos de
coesão em 2021 e ir aos pulinhos de felicidade levantar cheques ao banco é um
brutal sintoma do fracasso das políticas de desenvolvimento económico em
Portugal. Estamos
há 35 anos a receber fundos de coesão, e, cerca de 150 mil milhões de euros depois,
continuamos na cauda da Europa, e a ser ultrapassados ano após ano pelos países
de Leste.
António
Costa acha que agora é que é, e garantiu que este PRR irá
ter um “poder transformador profundo na nossa sociedade”, pois ele ambiciona
muito mais do que “responder às necessidades imediatas da crise”. Ursula von der Leyen também jurou que sim: “Não
há dúvida que vai transformar profundamente a economia de Portugal.” Mas
irá mesmo? Assim de repente, talvez seja prudente duvidar. Há pelo
menos 25 anos que o dinheiro que chove da Europa não só não transforma
coisíssima nenhuma, como tem sido um obstáculo à ocorrência de verdadeiras
transformações.
Jornalista
TÓPICOS: POLÍTICA OPINIÃO PLANO DE
RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA UNIÃO EUROPEIA ANTÓNIO COSTA PS BRUXELAS
COMENTÁRIOS
inconveniente INICIANTE: As ajudas a
Portugal não começaram em 1986 com a adesão plena, começaram antes, com as
ajudas de pré adesão, salvo erro em 1983. Portanto vamos a caminho de 40 anos
de dinheirinho dos europeus a cair cá no burgo. Figueira da Foz INFLUENTE: O meu comentário
não é ao JMT. Não há comentários para o que diz. Se 1 por mil do que diz se
tivesse verificado estávamos pior que a Venezuela. Mas a prova dos factos não
lhe interessa. Apenas se interessa pelo veneno lento que vai escrevendo sempre
que lhe dão espaço. O meu comentário é para os comentadores que tanto o
apreciam e lhe dão razão. Por favor virem-se para a política, exerçam essa
honrosa actividade (se for exercida por vós e apenas por vós), porque só assim
o país resolve os seus problemas. E não seria bom fazermos uma adenda às
Memórias de Raul Brandão quanto à sua opinião sobre a Casa de Bragança? O país
salvo ao fim de tantos séculos. Bem aja o veneno de JMT. OldVic1 MODERADOR: "Louve-se a
honestidade da comissária europeia Elisa Ferreira – uma escolha do actual
governo –, que ainda este fim de semana afirmou, num momento de grande lucidez,
qual deveria ser a nossa prioridade: 'Deixar de ser um país da coesão. Porque
neste momento é penoso ver que Portugal, com estes anos todos de apoio, ainda
está entre os países atrasados.'”: espantoso. Uma alta responsável do partido
mais responsável por esta situação falou verdade sobre essa responsabilidade. É
óbvio que esta afirmação vai cair no esquecimento em pouco tempo. Há muito
tacho que depende disso, sobretudo agora que o Estado é cada vez mais uma
filial do Largo do Rato.
cidadania 123 EXPERIENTE: Mas alguém duvida
que este novo cheque é para distribuir pelos amigos, em gastos não produtivos?
Desde logo, me recordo no PPR de uma verba significativa para construir
habitação. Ou seja, ao invés de construir fábricas, indústrias,
investimentos que criam emprego e riqueza, vão construir bairros sociais para
os mesmos de sempre, para substituir as casas destruídas que foram também
construídas com fundos .Ao contrário dos países de leste que se
desenvolvem mais que nós, os empresários são apoiados, enquanto aqui são
atacados, esmifrados em impostos, em protecção excessiva dos trabalhadores
(despedir um preguiçosoou incompetente,) greves, baixas médicas, etc. FPS
MODERADOR: Mas
alguém duvida? Eu... MMRdM
EXPERIENTE: Portugal
vive e viverá de mesadas da Europa enquanto não duplicar a produção industrial
nacional. Catarina Fiolhais INICIANTE: Isto não é só o
coração partido, é uma tristeza e uma dor tão intensas que não há como as
verbalizar. Como é possível que num país civilizado não seja crime o que este
PS e a extrema-esquerda fizeram nos últimos 25 anos ao meu rico país, ao futuro
dos meus filhos e dos filhos dos portugueses? Se não as há, façam-se, a bem ou
a mal, as leis e criem-se os mecanismos necessários, mas esta gente não pode
continuar impune. Kathleen Becker INICIANTE: 25 anos de
socialismo...? Esteve fora do país? E outros tantos de direita, especialmente
com uma dor inenarrável e intensa, na governação de Cavaco...? A sua memória é
curta para além de selectiva.... AAA INICIANTE: O Cavaco? Esse foi o único que pôs este
país a convergir a sério! Se não acredita vá ver os números! Esses não mentem. A2 EXPERIENTE: E se as condições de Portugal, de
periferia, de uma população menos escolarizada do que a dos países de leste,
impuserem que se estará sempre abaixo da média, e que se não há convergência é
porque os fundos não foram suficientes? Mario Coimbra INFLUENTE: Desculpas. A
população está mais escolarizada do que sempre esteve. O problema é o Estado e
como sempre geriu os fundos. E mais importante a omnipresença em tudo. O Estado
está em todo o lado e atrofia o crescimento. Em vez de apostar no empreendedorismo
e criar condições para sermos autónomos, não. Prefere controlar tudo. Ana Mendes INICIANTE: Quando um amigo ,
engenheiro e chefe de serviços numa importante Câmara Municipal, do PS, me
disse que vergonha termos perdido com a Alemanha retorqui: vergonha é sermos
dos últimos na UE. Esse ê o nosso problema: trocar a política pelos futebóis.
Parabéns pelo artigo e parabéns à Elisa que me deixou de boca aberta... AAA INICIANTE: Grande socialismo da treta! Pobre
Portugal que andas com os olhos tapados! Bem concluía hoje o Polígrafo: em
Portugal, a estupidez favorece o socialismo.
II - OPINIÃO: A deriva de Costa que põe o país à deriva
A errância de Costa e do seu Governo
desgastou seriamente a autoridade do Estado; o que obviamente só pode
descredibilizar a mensagem e potenciar os casos de insucesso.
PAULO RANGEL PÚBLICO, 22 de Junho de 2021
1. O Governo entrou em espiral
degenerativa. Está sem rumo, está sem prumo. Costa
sempre navegou à vista, mas agora navega às-cegas. Todos os dias se abrem
rombos na embarcação. A deriva de Costa pôs o país à deriva.
2. Que
estamos à deriva é bem fácil de ver.
Mário Centeno, agora ungido governador do Banco de
Portugal, já veio alertar: não mexam na legislação laboral. Mas Costa, na sua moção de candidatura a secretário-geral
do PS, nem hesita: é tempo de
rever as leis laborais, para melhor as adaptar aos desígnios do PCP e do Bloco.
Que isso prejudique o emprego, que isso afunde as empresas, de nada
interessa. A sobrevivência política, no mês que segue ou no Orçamento que vem,
é a deriva de Costa.
3. A gestão da pandemia no Verão de 2020,
no Natal de 2020 e no Verão de 2021 é a melhor prova de como as derivas de
Costa deixam o país à deriva. No Verão de
2020, o Governo recusou-se a enfrentar a realidade já adivinhável em Maio e
conduziu Lisboa a uma deterioração da situação em pleno Verão, com as
consequências sanitárias e económicas que se conhecem. Como a primeira
experiência não serviu de lição, sobreveio a gestão ruinosa do Natal. Quando já
todos se precaviam da então chamada “variante inglesa”, Portugal mantinha as
portas abertas e, pior, decretava quatro dias de tolerância. A pausa para o
Natal haveria de trazer a vaga mais mortífera e ruinosa da crise pandémica. Em
Maio de 2021, e depois de sacrifícios enormes, a pandemia parecia repousar em
águas calmas. Vieram os festejos da vitória futebolística do Sporting e o
Governo insistiu na dose. O Governo e, já agora, o presidente da Câmara de
Lisboa. Ninguém fez nada. Entregaram a polícia à sua sorte, aceitaram ecrãs
gigantes na via pública, organizaram uma viagem triunfal de consagração,
deixaram a cidade à solta. Os efeitos não se fizeram esperar. Como se isso não
bastasse, resolveram organizar a Champions no Porto, para mostrar urbi et orbi que
aqui não havia problemas. Já na posse de estudos matemáticos que revelavam o
cenário de grave deterioração em curso, condenaram o Governo britânico por ter
fechado o saudoso corredor verde. Os desenvolvimentos em Portugal e no
Reino Unido deram toda a razão ao Governo britânico, mas nem Costa nem Santos
Silva vieram retratar-se. A ministra
da Saúde eclipsou-se. A errância de Costa e do seu Governo desgastou seriamente
a autoridade do Estado; o que obviamente só pode descredibilizar a mensagem e
potenciar os casos de insucesso.
4. Ao
mesmo tempo, o Governo, pela mão do ministro das Infra-Estruturas, compromete o
futuro do país na TAP. Os portugueses que paguem a factura,
qualquer que seja o preço. Pelo caminho, ainda consegue, em tiradas demagógicas
inconsequentes, atacar companhias como a Ryanair,
como se elas não tivessem importância para a economia nacional e regional e até
um papel de serviço público. Quando,
em suposto nome da pandemia, se gasta mais com uma empresa como a TAP do que
com todas as outras empresas nacionais, está tudo dito sobre a prioridade que o
Governo dá à ideologia e aos interesses corporativos.
5. Do ministro da Administração Interna, já nem se sabe o que dizer. São erros graves atrás de
erros graves e declarações inaceitáveis atrás de declarações inaceitáveis, que,
de há muito, justificam a sua demissão espontânea ou provocada. Desde a morte
no aeroporto aos festejos no campeonato, das confusões na reorganização do SEF
à questão da colocação de
refugiados em Caxias e respectiva prestação parlamentar, não resta
já a mínima credibilidade institucional.
6. O ministro da Educação, para lá de
ter falhado totalmente nos planos de contingência para a pandemia, é agora o
rosto de uma nova política de betão para as escolas. Mais largas centenas de milhões de euros para edifícios, eis a
grande aposta do Governo na educação pós-pandémica. Voltamos à política da escola-edifício dos tempos de Sócrates,
onde a funcionalidade e o conforto dos projectos deu lugar ao luxo e a obras
sumptuárias. Escolas de mármore convivem com escolas onde chove e venta. A
recuperação das aprendizagens e a correcção das desigualdades geradas pela
suspensão pandémica será convertida em cimento, areia e aço.
7. O plano de
recuperação e resiliência — supostamente negociado por ministros invisíveis, nas pastas sobrepostas do Planeamento e da Coesão — é um
monumento ao investimento no sector público, apostando numa visão estatista que
cultiva a dependência da sociedade civil.
8. Deste plano, ficam as tiradas lamentáveis do primeiro-ministro, que são todo
um retrato do modo como Costa olha para este instrumento. Primeiro, cunhou o termo “bazuca”, que
sugere facilidade e facilitismo no uso do dinheiro — tudo o que não se recomenda num caso destes. Depois, voltado para a presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez a pergunta sacramental:
“Já posso ir ao banco?” Em ambos os casos, Costa sublinha apenas a ideia de
avidez e de corrida ao dinheiro — tudo o que o país dispensava, farto, como
está, de conviver com o mau uso dos fundos europeus. Nestas duas frases,
está o populismo e o imediatismo de Costa; mas está também a sua falta de
estratégia e de visão para o futuro do país.
9. Basta
olhar para as declarações da comissária Elisa Ferreira, apesar das
enormes responsabilidades que teve no ambiente e no planeamento nos anos 90 e
que nada a parecem inquietar. É, de facto, penoso, depois de 30
anos de financiamento a fundo perdido para se modernizar, ver Portugal a
mendigar mais e mais fundos. Os fundos de coesão existem justamente para se
criarem condições para deixar de precisar deles. Mas Portugal parece viciado neles
e deles absolutamente dependente. Choca de sobremaneira que, diante deste
historial, tal como na situação pandémica, o primeiro-ministro não tenha
aprendido nada. E se limite a alardear: “Há
dinheiro, senhores; há dinheiro, senhores!”.
SIM António Guterres. A reeleição como secretário-geral da ONU é o
reconhecimento da enorme valia do seu desempenho, que, com a nova administração
americana, pode ter mais oportunidades.
NÃO Pedro
Adão e Silva. Não se
percebe como o responsável
pela celebração dos 50 anos de Abril comenta, dia a dia, sucessos e
fracassos do Presidente da República, do primeiro-ministro, oposição e tutti
quanti. E a neutralidade institucional?
Eurodeputado (PSD)
TÓPICOS: ANTÓNIO COSTA POLÍTICA PRIMEIRO-MINISTRO GOVERNO UNIÃO EUROPEIA OPINIÃO COVID-19
COMENTÁRIOS
FPS MODERADOR: Então hoje não há Fernando Medina? Ana Mendes INICIANTE: Caro Paulo, um dia dir-lhe-ão que tinha carradas de
razão...infelizmente receio que seja tarde. Cumprimentos e cuide-se o melhor
possível...( vá-se aguentando lá por Estrasburgo que já não é nada mau ). Adolfo-Dias INFLUENTE: Cada vez mais acho Paulo Rangel certeiro.
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