sexta-feira, 11 de junho de 2021

As grandes empresas portuguesas


Sem dúvida estas, de festas e comemorações, com arraial de preferência. O dinheiro mal ganhado água o deu, água o levou, diz-se. Mas há sempre os eleitos a safar-se, não sei se por serem mais safados se mais eleitos.

O longo 25 de Abril de Pedro Adão e Silva /premium

O PS não tem com que se incomodar. As avenidas à sua frente estão todas abertas. Ao ponto de se poder celebrar a si mesmo sem pudor algum. O pudor é uma virtude política, mas o PS não precisa dela.

PAULO TUNHAS

OBSERVADOR, 10 jun 2021

A pouco e pouco, chega o desinteresse. Não é algo que venha por uma decisão qualquer ou por uma simples necessidade privada. Vem do tédio, do puro e simples tédio que resulta da observação de uma repetição para a qual parece não haver fim à vista. O PS tomou conta de tudo. Não é preciso dar exemplos de cargos ou nomes, porque eles estão em todo o lado. Todos os dias chega algo de novo – uma nomeação, uma lei, qualquer coisa assim – que confirma, e consegue ainda acentuar, o que já vinha de trás. Não há nada que lhe escape. Portugal está inteirinho nas mãos do PS. Vale sem dúvida a pena analisar o processo que conduziu a esta situação, mas, à falta de alternativa palpável, mesmo as melhores explicações não produzem efeito na realidade. Em perfeita democracia, o PS meteu Portugal, onde a liberdade não é um bem que se preze por aí além, no bolso. E viver no bolso do PS, enquanto o PS vive do nosso bolso, é um destino que vai ser o dos portugueses – porque muitos o querem, sem dúvida – por muito, muito tempo.

Não há, é claro, alternativa discernível. O maior partido da oposição, o PSD, que deveria naturalmente congregar em seu torno as forças que se opõem a este Governo cada vez mais comandado por um Partido-Estado, abdicou por completo da sua missão. O seu chefe iniciou-se com querelas teológicas – “O PSD não é de direita” – e prolongou o seu discurso com um auto-elogio ético permanente que é o vazio exibicionista da política levado aos seus extremos mais radicais. Falta-lhe ainda toda e qualquer sensibilidade para a questão da liberdade e nenhuma transformação do seu carácter inteligível é sequer remotamente previsível. Pelo caminho, lançou pela borda fora todas as cabeças pensantes que o PSD tinha adquirido nos tempos de Passos Coelho, quanto mais não seja porque o poderiam confrontar com os seus limites. No mais fundo do seu ser, continua a ser um candidato à presidência da Câmara do Porto, como facilmente se vê pelas suas querelas, a propósito ou a despropósito, com o actual presidente da Câmara.

O PS não tem com que se incomodar. As avenidas à sua frente estão todas abertas. Ao ponto de se poder celebrar a si mesmo sem pudor algum. O pudor é uma virtude política, mas o PS não precisa dela. Daí ter nomeado, para a organização dos 50 anos do 25 de Abril, um indivíduo que é todo ele um precipitado dos costumes da casa, Pedro Adão e Silva. Sob o manto diáfano do comentário político – e, ó versatilidade!, também do comentário futebolístico -, este excelente Pedro nunca hesitou em participar em todas as iniciativas em que o PS julgou poder beneficiar dos seus talentos. Entre elas, no consulado de Sócrates (mas a sua actividade começa já nos tempos em que Ferro Rodrigues era secretário-geral), a colaboração num projecto que, sejam quais forem os critérios adoptados, qualifica definitivamente como infrequentável quem por lá tenha passado. Refiro-me ao blog “Câmara Corporativa”, onde, sob o nome genérico de “Miguel Abrantes”, vários apoiantes de Sócrates (Pedro Silva Pereira, João Galamba, e por aí adiante) atacavam anonimamente quem ousasse pôr em questão o “menino de ouro” (obscena expressão) do PS. Dos mais relevantes aos mais insignificantes. Até eu, que escrevia à altura no jornal i, passei por lá referido uma vez ou outra, uma delas sugerindo generosamente o meu despedimento.

Pois bem, os serviços, mesmo os anónimos, foram recompensados. Pedro Adão e Silva vai presidir, durante cinco anos, seis meses e vinte e quatro dias, por resolução do Conselho de Ministros, à comissão executiva das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril (tal como há uma “longa Covid”, também há um “longo 25 de Abril”). E isso com o simpático ordenado mensal de 3.745, 26 euros, mais 780.36 euros de despesas de representação. Isto, podendo manter a sua remuneração enquanto professor auxiliar no ISCTE e o que recebe como colaborador do Expresso, da TSF, do jornal Record, da RTP e da Sport TV. Além de, é claro, este titã do pensamento e da acção socialistas, poder contar com mordomias diversas e uma equipa, obviamente também remunerada, com uma extensão que se pode alargar. Decididamente, se não foi para isto que “se fez o 25 de Abril”, devia ter sido.

Marcelo Rebelo de Sousa revelou que, aos seus olhos, esta nomeação é “relativamente consensual”, até porque estamos na presença de um “historiador” com obra feita. Suponho que o consenso que ele vê foi detectado ao inspeccionar a velocíssima e contraditória movimentação das suas próprias sinapses. Infelizmente, Pedro Adão e Silva não é historiador, é sociólogo. Houve por ali uma badana mal lida. E é sociólogo mesmo na acepção que há muitos anos deu ao termo Vasco Pulido Valente: o produto do cruzamento de um socialista e de um astrólogo. Deve, de resto, ter sido isto que o tornou num apetecível objecto de eleição para António Costa.

Uma vez não são vezes, escrevi este artigo mais para me aliviar do que por outra coisa. Portugal está de rastos e a tentação de desviar o olhar é cada vez mais forte. Ver o que se passa à nossa volta dói e faz mal, até porque não se vê saída alguma. Reduz-nos e menoriza-nos. No outro dia, li um provérbio da costa do Malabar: Aquele que olha por demasiado tempo os macacos, torna-se semelhante à sua sombra. É exactamente assim. E, no tempo que me restar de vida, gostaria de ter um destino diferente.

PS  POLÍTICA   25 DE ABRIL   PAÍS

COMENTÁRIOS

Martelo de Belem: O mais triste mesmo é ver que não existe alternativa. Votarei em alguém sabendo que em nada terminará             Maria Soares: Grande artigo!  Isto está nas últimas, realmente…          Maria Cordes: Amargo, mas na mouche. Coitados dos meus netos.           Mario Almeida. Pedro Adão e Silva passou por essa escola avant le temps de fake news e discurso de ódio? E ainda dizem que Portugal não é um país de oportunidades!           Claudia Mealha: Muito bom artigo              f Teixeira: É difícil viver num local assim. Junta-Te aos maus, serás pior do que eles... Estamos em Portugal, colosso histórico, país glorioso e global, mas recentemente em processo de auto-destruição por uma geração mansa que tudo aceita e tudo deixa passar. Este exemplo é só mais um prego no caixão em que estamos a transformar um dos países mais relevantes da humanidade pós renascimento.           Fernando Gomes da Costa: Esta gente não tem programa. Tem uma bucket list.                 Joaquim Albano Duarte. Excelente!             Carlos Quartel: Normal instalar-se um certo desânimo. Não podemos mudar os povos e não podemos pôr em causa a qualidade e o direito de todos votarem. Um dilema complicado. Muito boa reflexão, com uma pérola de excepcional qualidade: O híbrido de socialista e astrólogo, vulgarmente designado de sociólogo. Vasco Pulido Valente, inimitável ......       Joao Carlos Nunes: Celebrar o quê e para quê? No presente tal dia simboliza uma qualquer data no calendário vigente. Tenha vergonha senhor PM e senhor PR. Portugal merece melhor.            Antonio Mendes: Na mouche!             Sergio Coelho: Extraordinário.           Carminda Damiao: Muito bom artigo.          Jose Afonso: salazar em 1928 pegou num país falido e endividado e transformou-o num país equilibrado e sem dividas. O regime actual pegou em 1974  num país sem dividas e a crescer  num país endividado e falido moral e economicamente.             Jose Afonso: não sei se a democracia aguenta esta falta de pudor e de vergonha...o regime caduco salazarista caiu empurrado por meia dúzia de capitães...este regime podre xuxa, vai cair empurrado por meia dúzia de sargentos..          bento guerra: Comemoremos a efectiva greve de combate dos capitães de Abril de 1974.Todos pensionistas ou já mortos. Fado português          Francisco Tavares de Almeida: Já comentei a propósito da mesma nomeação que partidos fora do poder - com a possível excepção da IL - deviam ignorar estas faustosas comemorações e começar já a preparação de comemorações singelas dos 50 anos do 25 de Novembro de 1975. Acho que, mesmo muito tarde, há que começar a separar as águas. Mas com as incertezas do quadro internacional e o despontar de novo período inflacionista, não excluo que o programas das comemorações de 2024 ainda venha a ser reduzido por determinação de uma futura "troika". Também não vejo nada de positivo no futuro mas o artigo é realmente excelente, no fundo e na forma.    Teresa Dias Coutinho: Realmente é revoltante que estes casos de abuso de poder e decisões ruinosas para todos continuem a acontecer num país que se desejaria governado por pessoas sensatas, com horizontes mais alargados. Como se costuma dizer, é gastar enquanto há dinheiro, sobretudo quando é de todos.           Luís Martins: Fez bem em relembrar VPV e a genial definição que ele fez do "sociólogo", porque quando ouvia este sujeitinho Pedro na TSF, era essa definição que me assolava a mente, até que deixei de ouvir há largos anos, talvez por receio da sombra dos macacos. Já agora, é uma enorme injustiça que o outro Pedro, igualmente pouco dotado de inteligência e de ciência, não acompanhe o amigo. É que também merece!           Zé da Esquina: Excelente artigo! Na essência, temos um malabarista e um contorcionista, sendo que o segundo (PR) se molda às façanhas do primeiro, o nosso PM. Contrapesos, para quê? Para além de latinos, tendencialmente nos vamos tornando latino-americanos, que mais não seja na aceitação da ditadura que nos vão impingindo descarada, mas suavemente. Tal como o sapo, estamos na panela, sentimos o quentinho e ficamos relaxados e contentes... Só de pensar nisso me dá azia.         Alberico Lopes: Maravilhoso artigo. Felizmente, há alguém que não deixa de escrever o que muitos gostariam! Chegou-se, realmente, ao grau zero da pouca vergonha!           Pedro Cunha: Excelente artigo          Mariano Velez: um óptimo artigo, descrevendo um ambiente de fim de festa, algo que se adivinha em cada intervenção de RR. Vamos eventualmente ter PS mais 6 anos; a festa terminará quando os Portugueses estiverem de tanga e a Europa nos aceitar como indigentes, nos últimos lugares de todas as tabelas que medem o desenvolvimento dos países. Mas teremos a maior percentagem de ordenados mínimos, a maior carga fiscal sobre quem ganha 2000euros/ mês e a maior dívida publica em percentagem do PIB. Somos um país sem hipótese de salvação, entregue nas mãos do PS.

Elvis Wayne: O pudor é para os tolos que acreditam que Portugal é uma democracia plena. Já sabemos a infame lengalenga: "Quem se mete com o Peiésse leva!"              Rui Lima: Há um aspecto sempre esquecido o estado gasta 50% da riqueza nacional ou seja o poder do PS como partido-estado é muito superior a todos os regimes do passado. Hoje em Portugal não é possível viver fora do estado ou contra ele .              Paulo Almeida: António Costa é um génio! Vejamos: ele sabe muito bem o que este tipo de decisões implica, ou seja, a indignação generalizada e justificada de muita gente. Parte dessas pessoas vai ceder finalmente à tentação de votar no Chega. Mas, quem perde? O PS? Não. Quem perde é o PSD e o CDS que, cada vez ficam mais corroídos. Portanto, a genialidade do Costa e a idiossincrasia do nosso sistema político permitem que o PS navegue nesta política de oligarquia descarada, penalizando simultaneamente o maior partido da oposição. Quanto mais faz, mais o PSD perde. Claro que para isto tem de contar com o cinismo da esquerda. Portanto, aqui a direita teria de ser muito inteligente. Mas como vemos, a direita nem é de direita e perde tempo em ataques internos.      Elvis Wayne > Paulo Almeida: Olá Paulo, o Paulo apesar de apresentar argumentos verdadeiros ainda não acertou mesmo em cheio na realidade. O PS também sai penalizado, muitos julgam que quem vai para o CHEGA! são os Mários Machados desta vida e uns quantos ex-PSD. Enganam-se. Uma parte importante dos novos apoiantes do CHEGA! vem também do PCP, PS e (pasmem-se) uns quantos do Bé. Na Azambuja por exemplo a candidata que foi um horror de anos do PS, este ano concorre pelo CHEGA!, o mesmo se verifica em alguns municípios e freguesias da zona do Ribatejo. O PS também é penalizado, o PSD e CDS só o são por tabela por que a maioria dos eleitores já os vêem (bem ou mal) como apêndices dos socialistas. Se não querem sair escaldados destes tipos de escândalos, têm que fazer pela vida e começar a ser mais dinâmicos (e não apenas abrir o bico para um par de escândalos mais que óbvios). Cumprimentos.            Winter Is Here!: O Tunhas evidencia o traço anímico típico de ateus perante as adversidades. Entrega-se ao fatalismo. Sucede o mesmo ao Alberto Gonçalves. Parece-me que escapa, a muita gente desanimada, uma verdade eterna: A impermanência da existência. A roda da vida. Escapa também aos que presentemente navegam a onda do poder inebriados com a ideia de o tubo que surfam é eterno. Quantos mais convencidos do seu poder mais expõem a prepotência, o autoritarismo e o desdém pela vida dos comuns mortais. Caro Tunhas, pensa que Portugal é uma ilha isolada do mundo? O mundo move-se. Parece-lhe de gente racional pensar que em 2024, 2025,2026 que o mundo estará exactamente na mesma situação? Diria o Mestre Zen perante o regozijo atrevido dos que estão no alto da roda: Veremos! A roda gira. Sempre foi assim e sempre será. Aquilo que hoje se afigura a muitos como um sucesso a celebrar, uma manifestação de poder, amanhã será um marcador. O melhor nos próximos anos é manter o PS+BE+PCP+PAN no governo. Deixemo-los celebrar. Quanto mais melhor. Assim à Maria Antonieta.   VICTORIA ARRENEGA > Winter Is Here!: Eu concordo a 100% consigo mas desanimo com uma certa facilidade. Podemos pôr a roda a girar mais depressa? Devido à minha sensação de finitude ( tão usada que esta palavra está hoje!) ainda gostava de ver o Parlamento com outro tipo de arrumação.           Elvis Wayne > VICTORIA ARRENEGA: Mesmo que a corja xuxa fosse corrida de hoje para amanhã, a Victoria sabe que demorariam muitos anos até as coisas melhorarem? É a vida, tudo têm o seu ritmo, tudo têm o seu tempo.      Manuel Magalhães: O PS perdeu a vergonha e a dignidade já há muito tempo (desde que Costa o dirige), portanto nesse aspecto nada de novo, mas o que mais me espanta é que não haja ninguém dentro daquele partido com um mínimo de dignidade e decência para se insurgir contra estas inúmeras situações, por outro lado também não espanta vermos o presidente (com letra pequena) da República continuar na senda do servilismo em relação a Costa, situação esta que envergonha a maioria de quem votou nele, pobre país!!!          Joaquim Almeida: Excelente artigo e lamentável realidade. Marcelo, uma vez mais, a escarrar-nos na cara. Como se vê, os festejos já começaram... E ainda a procissão não saiu da capelinha! Quanto à inevitável "estória" dos 50 anos: está bem entregue a este astrólogo chucha.         Antonio Alvim: Aquilo que me choca mais não é a nomeação do Pedro Adão e Silva. É: para que precisam de uma Comissão desta dimensão e por tanto tempo? O que pretendem fazer da comemoração dos 50 Anos do 25 de Abril? Desconfio bem, que não se trata apenas de celebrar a Democracia. Penso que a introdução da tese no link abaixo elucida bem o que querem fazer. http://eg.uc.pt/handle/10316/90761                 Pedro Belo: Excelente artigo. O último parágrafo resume na perfeição o sentimento geral de quem não se conforma com a actual situação 

 

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