Sem dúvida estas, de festas e comemorações,
com arraial de preferência. O dinheiro
mal ganhado água o deu, água o levou, diz-se. Mas há sempre os eleitos a safar-se, não sei se por serem mais
safados se mais eleitos.
O longo 25 de Abril de Pedro Adão e Silva /premium
O PS não tem com que se incomodar. As avenidas à sua frente estão todas
abertas. Ao ponto de se poder celebrar a si mesmo sem pudor algum. O pudor é
uma virtude política, mas o PS não precisa dela.
PAULO
TUNHAS
OBSERVADOR, 10 jun 2021
A
pouco e pouco, chega o desinteresse. Não é algo que venha por uma decisão
qualquer ou por uma simples necessidade privada. Vem do tédio, do puro e
simples tédio que resulta da observação de uma repetição para a qual parece não
haver fim à vista. O PS tomou conta de tudo. Não é preciso dar exemplos de
cargos ou nomes, porque eles estão em todo o lado. Todos os dias chega algo de
novo – uma nomeação, uma lei, qualquer coisa assim – que confirma, e consegue
ainda acentuar, o que já vinha de trás. Não há nada que lhe escape. Portugal
está inteirinho nas mãos do PS. Vale sem dúvida a pena analisar o processo que
conduziu a esta situação, mas, à falta de alternativa palpável, mesmo as
melhores explicações não produzem efeito na realidade. Em perfeita democracia,
o PS meteu Portugal, onde a liberdade não é um bem que se preze por aí além, no
bolso. E viver no bolso do PS, enquanto o PS vive do nosso bolso, é um destino
que vai ser o dos portugueses – porque muitos o querem, sem dúvida – por muito,
muito tempo.
Não há, é claro, alternativa
discernível. O maior
partido da oposição, o PSD, que deveria naturalmente congregar em seu torno as
forças que se opõem a este Governo cada vez mais comandado por um
Partido-Estado, abdicou por completo da sua missão. O seu chefe iniciou-se com querelas teológicas –
“O PSD não é de direita” – e prolongou o seu discurso com um auto-elogio ético
permanente que é o vazio exibicionista da política levado aos seus extremos
mais radicais. Falta-lhe ainda toda e qualquer sensibilidade para a questão da
liberdade e nenhuma transformação do seu carácter inteligível é sequer
remotamente previsível. Pelo caminho, lançou pela borda fora todas as cabeças
pensantes que o PSD tinha adquirido nos tempos de Passos Coelho, quanto mais
não seja porque o poderiam confrontar com os seus limites. No mais fundo do seu
ser, continua a ser um candidato à presidência da Câmara do Porto, como
facilmente se vê pelas suas querelas, a propósito ou a despropósito, com o
actual presidente da Câmara.
O PS não tem com que se incomodar. As
avenidas à sua frente estão todas abertas. Ao ponto de se poder celebrar a si
mesmo sem pudor algum. O pudor é uma virtude política, mas o PS não precisa
dela. Daí ter nomeado, para a organização dos 50 anos do 25 de Abril, um
indivíduo que é todo ele um precipitado dos costumes da casa, Pedro Adão e Silva.
Sob o manto diáfano do comentário político – e, ó versatilidade!, também do
comentário futebolístico -, este excelente Pedro nunca hesitou em participar em
todas as iniciativas em que o PS julgou poder beneficiar dos seus talentos.
Entre elas, no consulado de Sócrates (mas a sua actividade começa já nos tempos
em que Ferro Rodrigues era secretário-geral), a colaboração num projecto que,
sejam quais forem os critérios adoptados, qualifica definitivamente como
infrequentável quem por lá tenha passado. Refiro-me ao blog “Câmara
Corporativa”, onde, sob o nome genérico de “Miguel Abrantes”, vários apoiantes
de Sócrates (Pedro Silva Pereira, João Galamba, e por aí adiante) atacavam
anonimamente quem ousasse pôr em questão o “menino de ouro” (obscena expressão)
do PS. Dos mais relevantes aos mais insignificantes. Até eu, que escrevia à
altura no jornal i, passei por lá referido uma vez ou outra, uma delas
sugerindo generosamente o meu despedimento.
Pois
bem, os serviços, mesmo os anónimos, foram recompensados. Pedro Adão e
Silva vai presidir, durante cinco anos,
seis meses e vinte e quatro dias, por resolução do Conselho de Ministros, à
comissão executiva das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril (tal como há uma
“longa Covid”, também há um “longo 25 de Abril”). E isso com o simpático
ordenado mensal de 3.745, 26 euros, mais 780.36 euros de despesas de
representação. Isto,
podendo manter a sua remuneração enquanto professor auxiliar no ISCTE e o que
recebe como colaborador do Expresso, da TSF, do jornal Record, da RTP e da Sport
TV. Além de, é claro, este titã do
pensamento e da acção socialistas, poder contar com mordomias diversas e uma
equipa, obviamente também remunerada, com uma extensão que se pode alargar.
Decididamente, se não foi para isto que “se fez o 25 de Abril”, devia ter sido.
Marcelo
Rebelo de Sousa revelou que, aos seus olhos, esta nomeação é “relativamente
consensual”, até porque estamos na presença de um “historiador” com obra feita.
Suponho que o consenso que ele vê foi detectado ao inspeccionar a velocíssima e
contraditória movimentação das suas próprias sinapses. Infelizmente, Pedro Adão e Silva não é
historiador, é sociólogo. Houve por ali uma badana mal lida. E é sociólogo
mesmo na acepção que há muitos anos deu ao termo Vasco Pulido Valente: o
produto do cruzamento de um socialista e de um astrólogo. Deve,
de resto, ter sido isto que o tornou num apetecível objecto de eleição para
António Costa.
Uma
vez não são vezes, escrevi este artigo mais para me aliviar do que por outra
coisa. Portugal está de rastos e a tentação de desviar o olhar é cada vez mais
forte. Ver o que se passa à nossa volta dói e faz mal, até porque não se vê
saída alguma. Reduz-nos e menoriza-nos. No outro dia, li um provérbio da costa
do Malabar: Aquele
que olha por demasiado tempo os macacos, torna-se semelhante à sua sombra. É
exactamente assim. E, no tempo que me restar de vida, gostaria de ter um
destino diferente.
COMENTÁRIOS
Martelo de Belem: O mais triste mesmo é ver que não existe alternativa. Votarei em alguém sabendo
que em nada terminará
Maria Soares: Grande artigo! Isto está nas últimas,
realmente… Maria
Cordes: Amargo, mas na mouche.
Coitados dos meus netos.
Mario Almeida. Pedro Adão e Silva passou por essa escola avant le temps de fake news e
discurso de ódio? E ainda dizem que Portugal não é um país de oportunidades! Claudia Mealha: Muito bom artigo f Teixeira: É difícil viver num local
assim. Junta-Te aos maus, serás pior do que eles... Estamos em Portugal,
colosso histórico, país glorioso e global, mas recentemente em processo de
auto-destruição por uma geração mansa que tudo aceita e tudo deixa passar. Este
exemplo é só mais um prego no caixão em que estamos a transformar um dos países
mais relevantes da humanidade pós renascimento. Fernando Gomes da Costa: Esta gente não tem programa.
Tem uma bucket list.
Joaquim Albano Duarte. Excelente! Carlos
Quartel: Normal
instalar-se um certo desânimo. Não podemos mudar os povos e não podemos pôr em
causa a qualidade e o direito de todos votarem. Um dilema complicado.
Muito boa
reflexão, com uma pérola de excepcional qualidade: O híbrido de socialista e
astrólogo, vulgarmente designado de sociólogo. Vasco Pulido Valente, inimitável
...... Joao Carlos
Nunes: Celebrar o quê e
para quê? No presente tal dia simboliza uma qualquer data no calendário vigente.
Tenha vergonha senhor PM e senhor PR. Portugal merece melhor. Antonio Mendes: Na mouche! Sergio Coelho: Extraordinário. Carminda Damiao: Muito bom artigo. Jose Afonso: salazar em 1928 pegou num país falido e endividado e
transformou-o num país equilibrado e sem dividas. O regime actual pegou em 1974 num país sem dividas e a crescer num país endividado e falido moral e economicamente. Jose Afonso: não sei se a democracia aguenta
esta falta de pudor e de vergonha...o regime caduco salazarista caiu empurrado
por meia dúzia de capitães...este regime podre xuxa, vai cair empurrado por
meia dúzia de sargentos.. bento
guerra: Comemoremos a
efectiva greve de combate dos capitães de Abril de 1974.Todos pensionistas ou
já mortos. Fado português
Francisco Tavares de Almeida: Já comentei a propósito da mesma nomeação que partidos
fora do poder - com a possível excepção da IL - deviam ignorar estas faustosas
comemorações e começar já a preparação de comemorações singelas dos 50 anos do
25 de Novembro de 1975. Acho que, mesmo muito tarde, há que começar a separar
as águas. Mas com as incertezas do quadro internacional e o despontar de novo período
inflacionista, não excluo que o programas das comemorações de 2024 ainda venha
a ser reduzido por determinação de uma futura "troika". Também não vejo nada de
positivo no futuro mas o artigo é realmente excelente, no fundo e na forma. Teresa Dias Coutinho: Realmente é revoltante que
estes casos de abuso de poder e decisões ruinosas para todos continuem a
acontecer num país que se desejaria governado por pessoas sensatas, com
horizontes mais alargados. Como se costuma dizer, é gastar enquanto há
dinheiro, sobretudo quando é de todos. Luís Martins: Fez bem em relembrar VPV e a
genial definição que ele fez do "sociólogo", porque quando ouvia este
sujeitinho Pedro na TSF, era essa definição que me assolava a mente, até que
deixei de ouvir há largos anos, talvez por receio da sombra dos macacos. Já
agora, é uma enorme injustiça que o outro Pedro, igualmente pouco dotado de
inteligência e de ciência, não acompanhe o amigo. É que também merece! Zé da Esquina: Excelente artigo! Na essência,
temos um malabarista e um contorcionista, sendo que o segundo (PR) se molda às
façanhas do primeiro, o nosso PM. Contrapesos, para quê? Para além de latinos,
tendencialmente nos vamos tornando latino-americanos, que mais não seja na
aceitação da ditadura que nos vão impingindo descarada, mas suavemente. Tal
como o sapo, estamos na panela, sentimos o quentinho e ficamos relaxados e
contentes... Só de pensar nisso me dá azia. Alberico Lopes: Maravilhoso artigo. Felizmente,
há alguém que não deixa de escrever o que muitos gostariam! Chegou-se,
realmente, ao grau zero da pouca vergonha! Pedro Cunha: Excelente artigo Mariano Velez: um óptimo artigo, descrevendo
um ambiente de fim de festa, algo que se adivinha em cada intervenção de RR.
Vamos eventualmente ter PS mais 6 anos; a festa terminará quando os Portugueses
estiverem de tanga e a Europa nos aceitar como indigentes, nos últimos lugares
de todas as tabelas que medem o desenvolvimento dos países. Mas teremos a maior
percentagem de ordenados mínimos, a maior carga fiscal sobre quem ganha
2000euros/ mês e a maior dívida publica em percentagem do PIB. Somos um país
sem hipótese de salvação, entregue nas mãos do PS.
Elvis Wayne: O pudor é para os tolos que acreditam que Portugal é uma democracia plena.
Já sabemos a
infame lengalenga: "Quem se mete com o Peiésse leva!" Rui Lima: Há um aspecto sempre esquecido
o estado gasta 50% da riqueza nacional ou seja o poder do PS como
partido-estado é muito superior a todos os regimes do passado. Hoje em Portugal
não é possível viver fora do estado ou contra ele . Paulo Almeida: António Costa é um génio!
Vejamos: ele sabe muito bem o que este tipo de decisões implica, ou seja, a
indignação generalizada e justificada de muita gente. Parte dessas pessoas vai
ceder finalmente à tentação de votar no Chega. Mas, quem perde? O PS? Não. Quem
perde é o PSD e o CDS que, cada vez ficam mais corroídos. Portanto, a
genialidade do Costa e a idiossincrasia do nosso sistema político permitem que
o PS navegue nesta política de oligarquia descarada, penalizando
simultaneamente o maior partido da oposição. Quanto mais faz, mais o PSD perde.
Claro que para isto tem de contar com o cinismo da esquerda. Portanto, aqui a
direita teria de ser muito inteligente. Mas como vemos, a direita nem é de direita
e perde tempo em ataques internos. Elvis Wayne > Paulo Almeida: Olá Paulo, o Paulo apesar de apresentar argumentos
verdadeiros ainda não acertou mesmo em cheio na realidade. O PS também sai
penalizado, muitos julgam que quem vai para o CHEGA! são os Mários Machados
desta vida e uns quantos ex-PSD. Enganam-se. Uma parte importante dos novos
apoiantes do CHEGA! vem também do PCP, PS e (pasmem-se) uns quantos do Bé. Na
Azambuja por exemplo a candidata que foi um horror de anos do PS, este ano
concorre pelo CHEGA!, o mesmo se verifica em alguns municípios e freguesias da
zona do Ribatejo. O PS também é penalizado, o PSD e CDS só o são por tabela por que a maioria
dos eleitores já os vêem (bem ou mal) como apêndices dos socialistas. Se não
querem sair escaldados destes tipos de escândalos, têm que fazer pela vida e
começar a ser mais dinâmicos (e não apenas abrir o bico para um par de
escândalos mais que óbvios). Cumprimentos. Winter Is Here!: O Tunhas evidencia o traço
anímico típico de ateus perante as adversidades. Entrega-se ao fatalismo.
Sucede o mesmo ao Alberto Gonçalves. Parece-me que escapa, a muita gente
desanimada, uma verdade eterna: A impermanência da existência. A roda da vida.
Escapa também aos que presentemente navegam a onda do poder inebriados com a
ideia de o tubo que surfam é eterno. Quantos mais convencidos do seu poder mais
expõem a prepotência, o autoritarismo e o desdém pela vida dos comuns mortais.
Caro Tunhas, pensa que Portugal
é uma ilha isolada do mundo? O mundo move-se. Parece-lhe de gente racional
pensar que em 2024, 2025,2026 que o mundo estará exactamente na mesma situação?
Diria o Mestre Zen perante o
regozijo atrevido dos que estão no alto da roda: Veremos! A roda gira. Sempre
foi assim e sempre será. Aquilo que hoje se afigura a muitos como um sucesso a
celebrar, uma manifestação de poder, amanhã será um marcador. O melhor nos próximos anos é
manter o PS+BE+PCP+PAN no governo. Deixemo-los celebrar. Quanto mais melhor. Assim à
Maria Antonieta. VICTORIA
ARRENEGA > Winter Is Here!: Eu concordo a 100% consigo mas
desanimo com uma certa facilidade. Podemos pôr a roda a girar mais depressa?
Devido à minha sensação de finitude ( tão usada que esta palavra está hoje!)
ainda gostava de ver o Parlamento com outro tipo de arrumação. Elvis Wayne > VICTORIA ARRENEGA: Mesmo que a corja xuxa fosse
corrida de hoje para amanhã, a Victoria sabe que demorariam muitos anos até as
coisas melhorarem? É a vida, tudo têm o seu ritmo, tudo têm o seu tempo. Manuel Magalhães: O PS perdeu a vergonha e a
dignidade já há muito tempo (desde que Costa o dirige), portanto nesse aspecto
nada de novo, mas o que mais me espanta é que não haja ninguém dentro daquele
partido com um mínimo de dignidade e decência para se insurgir contra estas
inúmeras situações, por outro lado também não espanta vermos o presidente (com
letra pequena) da República continuar na senda do servilismo em relação a
Costa, situação esta que envergonha a maioria de quem votou nele, pobre país!!! Joaquim Almeida: Excelente artigo e lamentável
realidade. Marcelo, uma vez mais, a escarrar-nos na cara. Como se vê, os
festejos já começaram... E ainda a procissão não saiu da capelinha! Quanto à
inevitável "estória" dos 50 anos: está bem entregue a este astrólogo
chucha. Antonio
Alvim: Aquilo que me
choca mais não é a nomeação do Pedro Adão e Silva. É: para que precisam de uma
Comissão desta dimensão e por tanto tempo? O que pretendem fazer da
comemoração dos 50 Anos do 25 de Abril? Desconfio bem, que não se trata
apenas de celebrar a Democracia. Penso que a introdução da tese no link abaixo elucida
bem o que querem fazer. http://eg.uc.pt/handle/10316/90761
Pedro Belo: Excelente artigo. O último
parágrafo resume na perfeição o sentimento geral de quem não se conforma com a
actual situação
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