sábado, 26 de junho de 2021

Aos colégios não se depara


a massificação do público escolar que o ensino público comporta. Basta isso, e a décalage entre, por vezes, os níveis sociais – ou, pelo menos, económicos,  dos respectivos ocupantes desses espaços, mais as turmas sobrelotadas do ensino público, com – por vezes - a degradação física do parque escolar público, para se poder justificar o insucesso deste último, se em confronto com aquele. Outros comentadores dirão o seu parecer, com muitos outros argumentos pertinentes acrescentando-os aos de Alexandre Homem Cristo. É um problema grave, sim, mas um país cuja língua é desprezada por um Acordo Ortográfico de infâmia, entre outros motivos graves, bastamente explorados por quem se revolta ainda, é porque não tem , realmente, grande nível formativo.... ou sequer informativo...

A revolução que importa (e que ninguém quer fazer) /premium

A Educação está capturada por interesses, que bloqueiam reformas e condenam crianças a não atingir o seu potencial. Desde logo, nos professores. Até quando o medo das corporações se irá sobrepor?

ALEXANDRE HOMEM CRISTO OBSERVADOR, 24 jun 2021

Portugal tem um sistema educativo centralizado, burocrático e alheio ao mérito. Não estou a partilhar uma novidade com quem esteja minimamente atento, bem sei. Mas, como há demasiada gente que prefere olhar para o lado, há dias em que urge gritá-lo bem alto, repeti-lo incessantemente, marcar posição e rejeitar que essa convivência com a mediania se converta em hábito e, muito menos, se torne na opção confortável para os decisores políticos — deixar tudo como está para evitar ondas. Não há volta a dar: quem prescinde da ambição de melhorar a vida de tantos miúdos que precisam da escola para superar os obstáculos da vida, em detrimento do conforto do status quo, torna-se parte do problema. Não há melhor exemplo dessa burocracia alheada do mérito do que o enquadramento dado aos professores: seja no recrutamento, seja na progressão de carreira, seja na remuneração, os incentivos das carreiras dos professores estão pervertidos. O sistema é cego para se se é bom professor ou mau professor — não se progride mais depressa por isso, não se ganha mais dinheiro por isso, não se obtém uma colocação mais concorrida por isso. É praticamente indiferente ser-se bom ou mau professor. Excepto para os alunos: para os miúdos, a qualidade do desempenho do professor que têm na sua sala faz uma diferença imensa.

Num estudo publicado ontem pela Edulog, no qual investigadores da NOVA SBE avaliaram os resultados dos 2º e 3º ciclos do básico e do ensino secundário entre 2007/2008 e 2017/2018, calculou-se o valor acrescentado pelo professor (VAP) nas disciplinas de Português e Matemática, organizando os professores em percentis. E, depois, estimou-se o que seria se os professores com piores desempenhos fossem substituídos por professores com bons desempenhos. Por exemplo, em Matemática no ensino secundário, se todos os professores do percentil 10 (os com menor valor acrescentado) tivessem o impacto dos do percentil 90 (os com maior valor acrescentado), a percentagem de notas negativas cairia em flecha: de 70% para 23%. Se fosse no 3º ciclo do ensino básico, a percentagem de negativas passaria de 63% para 22%. Outro exemplo, agora em Português. No ensino secundário, a percentagem de alunos com negativas passaria de 63% para 18%, enquanto no 3º ciclo do ensino básico a percentagem de notas negativas baixaria de 48% para 10%. Ou seja, duas conclusões. Primeiro, o desempenho dos professores importa, e muito, para o sucesso escolar dos alunos. Segundo, existe um enorme potencial de melhoria através dos professores — com mais apoio, sim, mas também com melhores políticas de formação e de recrutamento.

Olhando para estes dados, só os mais cínicos poderão alegar surpresa. Certo, não tínhamos estas valiosas métricas para analisar, nem valores para comparar as ordens de grandeza do impacto dos professores. Mas tínhamos evidências vividas ou testemunhadas. E, no dia-a-dia das escolas, qualquer director sabe quais são os seus professores que puxam o nível para cima e aqueles que se acomodam nos mínimos. Afinal, é assim em todo o lado: qualquer área tem bons e maus profissionais. O que não se encontra em todas as áreas é um sistema que trate bons e maus por igual, ignorando as diferenças que tanto importam. Essa conivência representa um fracasso do sistema educativo e um dos maiores obstáculos à missão das escolas públicas.

Acredito firmemente na força das reformas e no papel dos equilíbrios para a consolidação das políticas públicas. Mas há momentos onde as reformas mais necessárias têm de ser implementadas contra o sistema — contra o status quo, contra os interesses corporativos, contra os instalados. Ora, a Educação está capturada por interesses corporativos, que bloqueiam reformas, impedem a sua modernização e condenam milhares de crianças a não atingir o seu potencial. Em algumas das suas áreas, como a dos professores, precisa de uma revolução — para maior autonomia na contratação e maior exigência na formação e recrutamento. Até quando é que, nos partidos políticos, o medo dessas corporações se irá sobrepor ao dever de exigir mais e melhor para as nossas crianças?

EDUCAÇÃO  PROFESSORES  ESCOLAS

COMENTÁRIOS

Anarquista Coroado: Não me parece que o problema de Portugal seja o ensino. Senão, como se explicaria que os países mais desenvolvidos seduzem, desde há décadas, mais proximamente muitos especialistas de alto nível os portugueses para o seu mercado de trabalho? O ensino em Portugal pode melhorar mas a sua qualidade está à vista de quem não têm palas ideológicas. Há coisas más no ensino mas as soluções aqui propostas, pelo articulista e por alguns comentadores, daria cabo da liberdade de ensino, colocando o poder absoluto nas mãos dos directores, transformando as escolas num inferno maior do que já são em muitos casos em termos de relações com os alunos e com as direcções.          Filipe Costa: Isto é dominado por sindicatos, tudo o que é público é gerido pelo PCP, com o fechar de olhos do PS. O caminho é privatizar, não temos hipótese.          ….

Chapada de luva branca recheada de mão peluda > josé maria: Gostava de te ver a comportares-te com essa desonestidade de lambe-botas avençado no sector privado e conseguires sobreviver ao período de experiência. É que não é com graxismos à-la-funcionário-público nem a acusar o outro que se mantém o trabalho, é com esforço e com mérito de apresentar resultados positivos - coisa que tu e os teus amiguinhos do PêÉsse falham asquerosamente e mentem infantilmente. A vossa sorte é o Povo ser, como tu chamas, descerebrado, aqui até dá jeito para descartarem responsabilidades. E tudo começa na (sabotagem crónica) da educação. Orwell diria que o vosso Ministério da Educação trata de... manter a ineducação do Povo. Em países sérios gente como vocês serviriam apenas para não nascer. E por cá, apenas para redefinir escalas sempre crescentes de vergonha alheia. O resto, é apenas dissonância cognitiva patológica ou desonestidade psicopática. Mas isto apenas é a minha opinião pessoal, deduzida do que tenho lido nas várias versões do DSM ao longo dos anos. Jorge Martins Silva: Nunca ninguém me soube responder porque um mau professor numa escola no ano seguinte passa a bom professor noutra  escola? Eu conheço vários casos e o inversos!          Chapada de luva branca recheada de mão peluda >Jorge Martins Silva: Pode ser uma série de factores, uma escola é uma multiplicidade deles. Há que ter em consideração o tipo de alunos (betinhos de bem comportados; e no outro extremo crianças problemáticas) e também a personalidade do professor, há uns que conseguem comunicar com alguns tipos de alunos e com outros não. E também o ambiente entre professores, direcção da escola, recursos, etc, etc, etc. Também se passa o mesmo com os alunos: numas escolas falham miseravelmente e noutras conseguem aprender, e vice-versa. Numa situação o bolo pode sair bem feito, noutra nem por isso.        Manuel Magalhães: Tudo isto é muito certo, mas também há outro enorme risco que é a preocupação do actual ministério da “educação” em doutrinar politicamente as novas gerações em vez de as educar a pensar livremente para mais tarde estarem aptas a melhor decidir!!!           Chapada de luva branca recheada de mão peluda > Manuel Magalhães: Isso nunca acontecerá neste regime, e resumo: Smart people are dangerous!

Antonio Mendes: Infelizmente a mediocridade no ensino é a mesma do resto do país e só se superam em conjunto. Na minha opinião, no ensino só lá vai com três medidas radicais: 1) encerrar o ministério da educação e despedir todos os seus pedagogos; 2) suspender durante 5 anos a actividade dos sindicatos de professores; e 3) transferir as competências do ministério para as escolas e dar-lhes autonomia para se transformarem cooperativas de ensino privado.             Asdrubal Silva > Antonio Mendes: Não concordo nada consigo e explico. Primeiro: a instrução é universal no país e o programa é nacional e único (tudo o resto é folclore que aumenta desigualdades); acaba-se como o negócio das editoras com um livro bom adoptado e fica resolvido

Segundo: Acabar com a bandalheira na escola, e nisso compreende-se restabelecer a autoridade na escola, avaliar mesmo os professores, diferenciar a carreira de professor da carreira de gestão das escolas e instituir um corpo inspectivo rigoroso e eficiente. Terceiro: instituir exames nacionais em todos os anos de escolaridade, servindo para aferição e para classificação final. Quarto: Na primária, ter aulas apenas de manhã e de tarde a escola organizar actividades extracurriculares. Actividades extracurriculares não é manter os alunos fechados na sala de aulas todo o dia ... Muito importante: acabar com a interferência política nas escolas, na nomeação por inerência para o conselho geral etc, bem como com as palermices dos sindicatos e das associações de pais que funcionam como trampolim para a política. Muito muito importante : acabar com as aulas á moda dos anos 80, o professor a debitar matéria que está escrita no livro e apostar a sério nas novas tecnologias. Por último e não menos importante: acabar com a porcaria dos dados sigilosos que como se viu até para a Rússia são enviados e publicar tudo de forma transparente para poder ser escrutinado, pois se cada aluno apenas sabe a sua nota não consegue aferir se ela é correcta relativamente as outros. Tudo isto não implica qualquer gasto acrescido. Faltou-me um detalhe decisivo: acabar com a batota e cabulanço, sancionando de forma exemplar qualquer tentativa e isso aplica-se a todos os níveis de ensino ...              Anarquista Coroado > Antonio Mendes: Isso só seria possível numa ditadura militar e das mais duras. E sairiam das escolas apenas macacos amestrados.      Henrique Pt: Educação? Fosse só aí... O problema estende se a todo e qualquer organismos estatal. Uns mais outros menos, e muito poucos aqueles que possam ter uma avaliação positiva. Existe na função pública um sentido de impunidade, de emprego para a vida, sem grandes responsabilidades e competência. Mesmo quem queria ser diferente cedo percebe que não vale a pena pq o resultado será o mesmo. Isto leva a um ciclo sem fim de mediocridade que depois se expande aos alunos e trabalhadores no futuro. Portugal ou produz mediocridade ou funcionários de alto rendimento que depois a grande maioria sai pq não está para viver sem reconhecimento. Medianos são muito poucos mesmo, e tendem depois a incorporar se no sistema. Isto só lá ia com um reset total do sistema público. Demissões em massa com admissões imediatas mas com critérios rígidos.           Laurentino Cerdeira: O corporativismo dos professores é um obstáculo avassalador que impede a resolução deste enorme problema nacional! O METE NOJO, perdão, o Mário Nogueira, que não ministra há décadas, ainda não largou o osso?!..               Portugal, que Futuro: Duas notas, Alexandre Homem Cristo: 1.- Num país onde a avaliação do mérito NÃO existe (em mais de 99,8%, sim, noventa e nove vírgula oito por cento, das 271 mil empresas privadas registadas em Portugal à data de 31.12.2019, são os próprios donos e gestores que atribuem a si próprios os seus salários e apenas cerca de 7.200 ou seja menos de 2,7% das mesmas empresas têm um qualquer sistema de avaliação de desempenho para os empregados - dados da respectiva associação empresarial), a sua proposta é de facto revolucionária e merece ser cumprimentada, pelo que aqui o faço. 2.- Quanto ao trabalho dos "investigadores" da EDULOG que referiu (e no qual se baseou para escrever este artigo de opinião), que pertence a uma Fundação privada, parei logo na primeira página do sumário quando li que um dos capítulos da "investigação" era a "Estimação do VAC e do VAP". Esta gente nem Português sabe falar!  Francisco Correia > Portugal, que Futuro: Diria que o primeiro ponto que escreves é demagogia pura. Mas qual é o país do Mundo, em que não é o pequeno empresário privado (que arrisca o seu próprio capital) que define o seu salário? Chapada de luva branca recheada de mão peluda > Francisco Correia: Então porque é que arriscamos a arrancar actividade profissional por conta própria? Com elevados riscos deverão vir os correspondentes benefícios! Senão vai-se trabalhar por conta de outrem a cumprir horário para um mesmo salário fixo. Então mas querem limitar os negócios, e salários e lucro do pequeno empreendedor individual? (sim, o Estado Socialista quer porque abomina esforço, competência e meritocracia!) Que queriam fazer? Definir um salário, quiçá até um máximo, para o trabalhador por conta própria? E o resto, e o lucro do negócio, vão para quem, para o Estado? Já não chegam os elevados impostos (o nome diz tudo) para comprar Zés Marias e Advogas Diabos nas prateleiras dos supermercados do partido? Depois queixam-se que a malta não quer trabalhar... É que quando não vale a pena...           Paulo Loureiro: Experimentem ouvir uma discussão sobre educação em Portugal e contem os segundos que passam desde o início até aparecerem as palavras "professores", "carreiras", "salários", "reforma", "anseios", etc. Mas dos alunos que entram em abundância na universidade com notas fantásticas a matemática e depois chumbam 90% miraculosamente no primeiro ano a Álgebra, ninguém pia. Nós já sabemos do que a casa gasta, não é verdade?             Português indignado: O sindicato comunista da Fenprof nem quer ouvir falar em reformas na educação... E sabemos como este governo horroroso do PS precisa do PCP para se manter no poder....             VICTORIA ARRENEGA > Português indignado: Fenprof uma das estruturas sindicais mais estáticas, anquilosadas, jurássicas que se pode imaginar.    Troca Tintas > Português indignado: Nos anos 80 os sindicalistas deram cabo da indústria, já só falta mesmo a educação. isto só la vai com a ilegalizarão do PCP ao abrigo da resolução da UE que equipara o comunismo ao nazismo. Ana Paiva: Todos os professores competentes que conheço também anseiam pela reforma. Também, aqui, o País está refém da mediocridade!           Zé da Esquina: É certamente por isso que quem pode coloca os filhos em escolas privadas.           Chapada de luva branca recheada de mão peluda > Zé da Esquina: Geralmente, sim. Mas também as há que passam os meninos betinhos empertigados, teddy boys filhinhos de gente de bem. Assim a frio não me recordo do nome da instituição mas há uma dúzia de anos havia uma que andava a inflacionar as notas dos meninos de bem para poderem entrar nas universidades e foi apanhada num escândalo público. Conheci pessoalmente um menino que foi apanhado neste esquema, um dealerzeco de droga que se gabava à cara podre a dizer "A minha mãe é juíza e o meu pai é advogado!" Sabia que tinha as costas quentes e só a arraia-miúda é que era apanhada. E quando viu a sua escola apanhada por inflacionar as notas, a coisa correu-lhe mal, na altura com sorte deram-lhe o 12º ano e não entrou em nenhuma universidade (deve ter tropeçado e caído de boca na calçada dos exames nacionais ou algo do género). Mas sim, geralmente o ensino privado é muito superior ao público.         Zé da EsquinaChapada de luva branca recheada de mão peluda: Há de tudo, mas quando vemos um ranking dos exames (em que alunos do público e do privado são avaliados pela mesma bitola), onde os cinquenta primeiros lugares (?!) são ocupados por escolas privadas, parece-me que está tudo muito claro. E isso não tem a ver com a competência de muitos professores do público, sendo que muitos deles fazem das tripas coração em prol de um ensino de qualidade. Quinta Sinfonia: Pois esse é um dos grandes problemas de Portugal, temos na função pública implantado um sistema comunista, seja-se bom ou mau profissional ao fim do mês o salário é o mesmo. Não há cultura do mérito e as poucas avaliações que há são simulacros disso mesmo: uma tragédia nacional.          Joaquim Albano Duarte: Mais reformas? Passamos a vida de reforma estrutural em reforma estrutural e os resultados estão à vista, hoje uma boa parte dos alunos do nono ano de escolaridade não sabe escrever e soletra a ler.      Antonio Alvim: As escolas, como tudo o que funciona, precisam de ter dono e precisam da competição que só existe quando existe liberdade de escolha. Precisam de ter como dono alguém que faça disso o seu projecto de vida e que se realize com o seu sucesso. Só assim será possível concretizar aquilo que o autor propõe e bem. A autonomia no sistema público não funciona. Acaba sempre aprisionada pelo corporativismo e pelo amiguismo…………………………….


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