a massificação do público escolar que o
ensino público comporta. Basta isso, e a décalage
entre, por vezes, os níveis sociais – ou, pelo menos, económicos, dos respectivos ocupantes desses espaços, mais
as turmas sobrelotadas do ensino público, com – por vezes - a degradação física
do parque escolar público, para se poder justificar o insucesso deste último,
se em confronto com aquele. Outros comentadores dirão o seu parecer, com muitos
outros argumentos pertinentes acrescentando-os aos de Alexandre Homem Cristo. É um
problema grave, sim, mas um país cuja língua é desprezada por um Acordo
Ortográfico de infâmia, entre outros motivos graves, bastamente explorados por
quem se revolta ainda, é porque não tem , realmente, grande nível formativo.... ou sequer informativo...
A revolução que importa (e que ninguém quer fazer) /premium
A Educação está capturada por
interesses, que bloqueiam reformas e condenam crianças a não atingir o seu
potencial. Desde logo, nos professores. Até quando o medo das corporações se
irá sobrepor?
ALEXANDRE HOMEM
CRISTO OBSERVADOR, 24 jun 2021
Portugal
tem um sistema educativo centralizado, burocrático e alheio ao mérito. Não
estou a partilhar uma novidade com quem esteja minimamente atento, bem sei. Mas,
como há demasiada gente que prefere olhar para o lado, há dias em que urge
gritá-lo bem alto, repeti-lo incessantemente, marcar posição e rejeitar que
essa convivência com a mediania se converta em hábito e, muito menos, se torne
na opção confortável para os decisores políticos — deixar tudo como está para
evitar ondas. Não há volta a dar: quem prescinde da ambição de melhorar a
vida de tantos miúdos que precisam da escola para superar os obstáculos da vida,
em detrimento do conforto do status quo, torna-se parte do problema. Não há
melhor exemplo dessa burocracia alheada do mérito do que o enquadramento dado
aos professores: seja no recrutamento, seja na progressão de carreira, seja na
remuneração, os incentivos das carreiras dos professores estão pervertidos.
O sistema é cego para se se é bom professor ou mau
professor — não se progride mais depressa por isso, não se ganha mais dinheiro
por isso, não se obtém uma colocação mais concorrida por isso. É praticamente
indiferente ser-se bom ou mau professor. Excepto para os alunos: para os
miúdos, a qualidade do desempenho do professor que têm na sua sala faz uma
diferença imensa.
Num
estudo
publicado ontem pela Edulog, no qual investigadores da NOVA SBE
avaliaram os resultados dos 2º e 3º ciclos do básico e do ensino secundário
entre 2007/2008 e 2017/2018, calculou-se o valor acrescentado pelo professor
(VAP) nas disciplinas de Português e Matemática, organizando os professores em
percentis. E, depois, estimou-se o que seria se os professores com piores
desempenhos fossem substituídos por professores com bons desempenhos. Por
exemplo, em Matemática no ensino secundário, se todos os professores do
percentil 10 (os com menor valor acrescentado) tivessem o impacto dos do
percentil 90 (os com maior valor acrescentado), a percentagem de notas
negativas cairia em flecha: de 70% para 23%. Se fosse no 3º ciclo do ensino
básico, a percentagem de negativas passaria de 63% para 22%. Outro exemplo,
agora em Português. No ensino secundário, a percentagem de alunos com negativas
passaria de 63% para 18%, enquanto no 3º ciclo do ensino básico a percentagem
de notas negativas baixaria de 48% para 10%. Ou seja, duas conclusões.
Primeiro, o desempenho dos professores importa, e muito, para o sucesso escolar
dos alunos. Segundo, existe um enorme potencial de melhoria através dos
professores — com mais apoio, sim, mas também com melhores políticas de
formação e de recrutamento.
Olhando
para estes dados, só os mais cínicos poderão alegar surpresa. Certo, não tínhamos estas valiosas métricas para
analisar, nem valores para comparar as ordens de grandeza do impacto dos
professores. Mas tínhamos evidências vividas ou testemunhadas. E, no dia-a-dia
das escolas, qualquer director sabe quais são os seus professores que puxam o
nível para cima e aqueles que se acomodam nos mínimos. Afinal, é assim em
todo o lado: qualquer área tem bons e maus profissionais. O que não se encontra
em todas as áreas é um sistema que trate bons e maus por igual, ignorando as
diferenças que tanto importam. Essa conivência representa um fracasso do
sistema educativo e um dos maiores obstáculos à missão das escolas públicas.
Acredito
firmemente na força das reformas e no papel dos equilíbrios para a consolidação
das políticas públicas. Mas há momentos onde as reformas mais necessárias têm
de ser implementadas contra o sistema — contra o status quo, contra os
interesses corporativos, contra os instalados. Ora, a
Educação está capturada por interesses corporativos, que bloqueiam reformas,
impedem a sua modernização e condenam milhares de crianças a não atingir o seu
potencial. Em algumas
das suas áreas, como a dos professores, precisa de uma revolução — para maior
autonomia na contratação e maior exigência na formação e recrutamento. Até
quando é que, nos partidos políticos, o medo dessas corporações se irá sobrepor
ao dever de exigir mais e melhor para as nossas crianças?
COMENTÁRIOS
Anarquista Coroado: Não me parece que o problema de Portugal seja o ensino. Senão, como se
explicaria que os países mais desenvolvidos seduzem, desde há décadas, mais
proximamente muitos especialistas de alto nível os portugueses para o seu
mercado de trabalho? O ensino em Portugal pode melhorar mas a sua qualidade
está à vista de quem não têm palas ideológicas. Há coisas más no ensino mas as
soluções aqui propostas, pelo articulista e por alguns comentadores, daria cabo
da liberdade de ensino, colocando o poder absoluto nas mãos dos directores,
transformando as escolas num inferno maior do que já são em muitos casos em
termos de relações com os alunos e com as direcções. Filipe Costa: Isto é dominado por sindicatos, tudo o que é público é
gerido pelo PCP, com o fechar de olhos do PS. O caminho é privatizar, não temos
hipótese. ….
Chapada de luva branca recheada de mão peluda > josé maria: Gostava de te ver a comportares-te com essa
desonestidade de lambe-botas avençado no sector privado e conseguires
sobreviver ao período de experiência. É que não é com graxismos
à-la-funcionário-público nem a acusar o outro que se mantém o trabalho, é com
esforço e com mérito de apresentar resultados positivos - coisa que tu e os
teus amiguinhos do PêÉsse falham asquerosamente e mentem infantilmente. A vossa
sorte é o Povo ser, como tu chamas, descerebrado, aqui até dá jeito para
descartarem responsabilidades. E tudo começa na (sabotagem crónica) da
educação. Orwell diria que o vosso Ministério da Educação trata de... manter a
ineducação do Povo. Em países sérios gente como vocês serviriam apenas para não nascer. E por
cá, apenas para redefinir escalas sempre crescentes de vergonha alheia.
O resto, é apenas
dissonância cognitiva patológica ou desonestidade psicopática. Mas isto apenas
é a minha opinião pessoal, deduzida do que tenho lido nas várias versões do DSM
ao longo dos anos. Jorge Martins Silva: Nunca ninguém me soube
responder porque um mau professor numa escola no ano seguinte passa a bom
professor noutra escola? Eu conheço vários casos e o inversos! Chapada de luva branca recheada de
mão peluda >Jorge Martins Silva: Pode ser uma série de factores,
uma escola é uma multiplicidade deles. Há que ter em consideração o tipo de
alunos (betinhos de bem comportados; e no outro extremo crianças problemáticas)
e também a personalidade do professor, há uns que conseguem comunicar com
alguns tipos de alunos e com outros não. E também o ambiente entre
professores, direcção da escola, recursos, etc, etc, etc. Também se passa o mesmo com os
alunos: numas escolas falham miseravelmente e noutras conseguem aprender, e
vice-versa. Numa situação o bolo pode
sair bem feito, noutra nem por isso. Manuel
Magalhães: Tudo isto é muito
certo, mas também há outro enorme risco que é a preocupação do actual
ministério da “educação” em doutrinar politicamente as novas gerações em vez de
as educar a pensar livremente para mais tarde estarem aptas a melhor decidir!!! Chapada de luva branca recheada
de mão peluda > Manuel Magalhães: Isso nunca acontecerá neste
regime, e resumo: Smart people are
dangerous!
Antonio Mendes: Infelizmente a mediocridade no ensino é a mesma do resto do país e só se
superam em conjunto. Na minha opinião, no ensino só lá vai com três medidas
radicais: 1) encerrar o ministério da educação e despedir todos os seus
pedagogos; 2) suspender durante 5 anos a actividade dos sindicatos de
professores; e 3) transferir as competências do ministério para as escolas e
dar-lhes autonomia para se transformarem cooperativas de ensino privado. Asdrubal Silva > Antonio Mendes: Não concordo nada consigo e
explico. Primeiro: a instrução é universal no país e o programa é
nacional e único (tudo o resto é folclore que aumenta desigualdades); acaba-se
como o negócio das editoras com um livro bom adoptado e fica resolvido
Segundo: Acabar com a bandalheira na
escola, e nisso compreende-se restabelecer a autoridade na escola, avaliar
mesmo os professores, diferenciar a carreira de professor da carreira de gestão
das escolas e instituir um corpo inspectivo rigoroso e eficiente. Terceiro:
instituir exames
nacionais em todos os anos de escolaridade, servindo para aferição e para
classificação final. Quarto: Na primária, ter aulas apenas de manhã e de tarde a
escola organizar actividades extracurriculares. Actividades extracurriculares
não é manter os alunos fechados na sala de aulas todo o dia ... Muito
importante: acabar com a interferência política nas escolas, na nomeação por
inerência para o conselho geral etc, bem como com as palermices dos sindicatos
e das associações de pais que funcionam como trampolim para a política. Muito
muito importante : acabar com as aulas á moda dos anos 80, o professor a
debitar matéria que está escrita no livro e apostar a sério nas novas
tecnologias. Por último e não menos importante: acabar com a porcaria dos dados
sigilosos que como se viu até para a Rússia são enviados e publicar tudo de
forma transparente para poder ser escrutinado, pois se cada aluno apenas sabe a
sua nota não consegue aferir se ela é correcta relativamente as outros. Tudo
isto não implica qualquer gasto acrescido. Faltou-me um detalhe decisivo:
acabar com a batota e cabulanço, sancionando de forma exemplar qualquer
tentativa e isso aplica-se a todos os níveis de ensino ... Anarquista Coroado
> Antonio Mendes: Isso só seria possível numa
ditadura militar e das mais duras. E sairiam das escolas apenas macacos
amestrados. Henrique Pt: Educação? Fosse só aí... O
problema estende se a todo e qualquer organismos estatal. Uns mais outros
menos, e muito poucos aqueles que possam ter uma avaliação positiva. Existe na
função pública um sentido de impunidade, de emprego para a vida, sem grandes
responsabilidades e competência. Mesmo quem queria ser diferente cedo percebe
que não vale a pena pq o resultado será o mesmo. Isto leva a um ciclo sem fim
de mediocridade que depois se expande aos alunos e trabalhadores no futuro.
Portugal ou produz mediocridade ou funcionários de alto rendimento que depois a
grande maioria sai pq não está para viver sem reconhecimento. Medianos são
muito poucos mesmo, e tendem depois a incorporar se no sistema. Isto só lá ia
com um reset total do sistema público. Demissões em massa com admissões
imediatas mas com critérios rígidos.
Laurentino Cerdeira: O corporativismo dos professores é um obstáculo
avassalador que impede a resolução deste enorme problema nacional! O METE NOJO,
perdão, o Mário
Nogueira, que não ministra há décadas, ainda não largou o osso?!.. Portugal, que Futuro: Duas notas, Alexandre Homem
Cristo: 1.- Num país onde a avaliação do mérito NÃO existe (em
mais de 99,8%, sim, noventa e nove vírgula oito por cento, das 271 mil empresas
privadas registadas em Portugal à data de 31.12.2019, são os próprios donos e
gestores que atribuem a si próprios os seus salários e apenas cerca de 7.200 ou
seja menos de 2,7% das mesmas empresas têm um qualquer sistema de avaliação de
desempenho para os empregados - dados da respectiva associação empresarial), a
sua proposta é de facto revolucionária e merece ser cumprimentada, pelo que
aqui o faço. 2.- Quanto ao trabalho dos "investigadores" da
EDULOG que referiu (e no qual se baseou para escrever este artigo de opinião),
que pertence a uma Fundação privada, parei logo na primeira página do sumário
quando li que um dos capítulos da "investigação" era a "Estimação do VAC e do VAP". Esta
gente nem Português sabe falar! Francisco
Correia > Portugal, que Futuro: Diria que o primeiro ponto que
escreves é demagogia pura. Mas qual é o país do Mundo, em que não é o pequeno empresário privado (que
arrisca o seu próprio capital) que define o seu salário? Chapada
de luva branca recheada de mão peluda > Francisco Correia: Então porque é que arriscamos a
arrancar actividade profissional por conta própria? Com elevados riscos deverão vir
os correspondentes benefícios! Senão vai-se trabalhar por conta de outrem a
cumprir horário para um mesmo salário fixo. Então mas querem limitar os
negócios, e salários e lucro do pequeno empreendedor individual? (sim, o Estado
Socialista quer porque abomina esforço, competência e meritocracia!) Que
queriam fazer? Definir um salário, quiçá até um máximo, para o trabalhador por
conta própria? E o resto, e o lucro do negócio, vão para quem, para o Estado?
Já não chegam os elevados impostos (o nome diz tudo) para comprar Zés Marias e
Advogas Diabos nas prateleiras dos supermercados do partido? Depois queixam-se
que a malta não quer trabalhar... É que quando não vale a pena... Paulo Loureiro: Experimentem ouvir uma
discussão sobre educação em Portugal e contem os segundos que passam desde o
início até aparecerem as palavras "professores",
"carreiras", "salários", "reforma",
"anseios", etc. Mas dos alunos que entram em abundância na
universidade com notas fantásticas a matemática e depois chumbam 90%
miraculosamente no primeiro ano a Álgebra, ninguém pia. Nós já sabemos do que a
casa gasta, não é verdade? Português
indignado: O sindicato
comunista da Fenprof nem quer ouvir falar em reformas na educação... E sabemos
como este governo horroroso do PS precisa do PCP para se manter no poder.... VICTORIA ARRENEGA
> Português indignado: Fenprof uma das estruturas
sindicais mais estáticas, anquilosadas, jurássicas que se pode imaginar. Troca Tintas > Português indignado: Nos anos 80 os sindicalistas
deram cabo da indústria, já só falta mesmo a educação. isto só la vai com a
ilegalizarão do PCP ao abrigo da resolução da UE que equipara o comunismo ao
nazismo. Ana Paiva: Todos os professores competentes que conheço também anseiam pela reforma.
Também, aqui, o País está refém da mediocridade! Zé da Esquina: É certamente por isso que quem
pode coloca os filhos em escolas privadas. Chapada de luva branca
recheada de mão peluda > Zé da Esquina: Geralmente,
sim. Mas também as há que passam os meninos betinhos empertigados, teddy boys filhinhos
de gente de bem. Assim a frio não me recordo do nome da instituição mas há uma
dúzia de anos havia uma que andava a inflacionar as notas dos meninos de bem
para poderem entrar nas universidades e foi apanhada num escândalo público.
Conheci pessoalmente um menino que foi apanhado neste esquema, um dealerzeco de
droga que se gabava à cara podre a dizer "A minha mãe é juíza e o meu pai
é advogado!" Sabia que tinha as costas quentes e só a arraia-miúda é que
era apanhada. E quando viu a sua escola apanhada por inflacionar as notas, a
coisa correu-lhe mal, na altura com sorte deram-lhe o 12º ano e não entrou em
nenhuma universidade (deve ter tropeçado e caído de boca na calçada dos exames
nacionais ou algo do género). Mas sim, geralmente o ensino privado é muito
superior ao público. Zé
da EsquinaChapada de luva branca recheada de mão peluda: Há de tudo, mas quando vemos um
ranking dos exames (em que alunos do público e do privado são avaliados pela
mesma bitola), onde os cinquenta primeiros lugares (?!) são ocupados por
escolas privadas, parece-me que está tudo muito claro. E isso não tem a ver com
a competência de muitos professores do público, sendo que muitos deles fazem
das tripas coração em prol de um ensino de qualidade.
Quinta Sinfonia: Pois esse é um dos grandes problemas de Portugal,
temos na função pública implantado um sistema comunista, seja-se bom ou mau
profissional ao fim do mês o salário é o mesmo. Não há cultura do mérito e as
poucas avaliações que há são simulacros disso mesmo: uma tragédia
nacional. Joaquim
Albano Duarte: Mais reformas? Passamos a vida de reforma estrutural em reforma estrutural
e os resultados estão à vista, hoje uma boa parte dos alunos do nono ano de
escolaridade não sabe escrever e soletra a ler. Antonio
Alvim: As escolas, como
tudo o que funciona, precisam de ter dono e precisam da competição que só
existe quando existe liberdade de escolha. Precisam de ter como dono alguém que
faça disso o seu projecto de vida e que se realize com o seu sucesso. Só assim será possível concretizar aquilo que o
autor propõe e bem. A autonomia no sistema público não funciona. Acaba
sempre aprisionada pelo corporativismo e pelo amiguismo……………………………….
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