Afinal temos os mesmos direitos de colaborar
em espionagem, como fazem os da CIA, da KGB e Cia, (parece que extinta, mas
nunca se sabe, há sempre remanescentes). Temos o dever de dar o nosso contributo para a segurança do
mundo e assim nos valorizarmos, ora essa!
Delação!
Medina garante que a delação foi um erro técnico
administrativo de procedimentos. Não é verdade! Não é um caso de protocolo, nem
um erro de rotinas, é uma questão de controlo da liberdade de expressão!
OBSERVADOR, 12 de
Junho de 2021
Em
2021, na Europa, continente dos direitos e das liberdades, terra de asilo e
refúgio, em Portugal, Estado democrático há quase cinquenta anos, mais
propriamente na capital, Lisboa, a câmara municipal tem gesto
horrendo de delação e insídia.
É
possível que o presidente da câmara, Fernando Medina, e o seu gabinete de apoio
não tenham querido expressamente agradar ao governo russo e entregar os
cidadãos que se manifestaram em Lisboa. É também possível que a Câmara de Lisboa
não tenha desejado encantar os governos
de Israel, da China e da Venezuela, fornecendo-lhes coordenadas de
opositores. É finalmente provável que, dada a diversidade de governos em causa,
a Câmara de Lisboa não esteja a seguir os caminhos da cumplicidade política.
Muito bem. É sempre bom deixar a porta aberta a uma explicação inocente. Mas
a verdade é que a Câmara de Lisboa praticou, durante anos, actos moralmente
reprováveis e politicamente condenáveis.
O
presidente da câmara pediu
desculpas. Mas não respondeu a dúzias de perguntas. Não
revelou responsabilidades, não esclareceu o comportamento da sua instituição.
O presidente da câmara pediu perdão, mas defendeu-se mal e não foi convincente.
Depois das desculpas de mau pagador, criticou os adversários políticos.
Donzela ferida, tratou-os de oportunistas. Contra-atacou, na crença de que era
essa a melhor defesa. Mas admitiu que as informações poderiam ser dadas a
países democráticos.
O
Governo, a quem se exige explicação pronta, parece estar ausente. Pretende que o problema se limite a Lisboa e seja
uma questão municipal. Mas não pode escapar a várias exigências, como seja
a de verificar quantos municípios fazem o mesmo. Assim como de responder a afirmações claras do embaixador russo,
segundo as quais a sua embaixada recebe muitas informações deste tipo e que as
outras embaixadas também.
Os
silêncios e os adiamentos do primeiro-ministro foram confrangedores. Assim como os dos ministros dos Negócios
Estrangeiros, da Administração Interna e da Justiça. Onde está a decisão de
mandar efectuar inquérito urgente? Que outros organismos fornecem dados
pessoais e políticos às embaixadas? E às polícias? Quantas câmaras municipais
(são 308 no país inteiro) têm as mesmas rotinas? Quantas enviam dados pessoais
e políticos às embaixadas? E aos serviços de informação?
Medina
lidera Lisboa há seis anos e candidata-se a novo mandato
Em
tudo quanto se vê, ouve e lê sobre este assunto, há frequentemente um gosto
amargo. Muita gente, autoridades, jornalistas, comentadores e académicos,
sugere que há modos aceitáveis e denúncias justificadas. “Se é um país
democrático…”, alvitra um. “Se for um país da União Europeia…”, sugere outro.
“Se ainda fosse um país da NATO…”, aconselha ainda outro.
Ou
então, há quem aceite facilmente que nomes de pessoas possam ser enviados para
a PSP, a GNR, o SIS e outras polícias. Nomes individuais? Com dados e coordenadas?
Para as polícias? Enviados pela autarquia? A que título? Denúncia? Vigilância?
Moralidade de costumes? Espionagem politica? Custa acreditar que os nossos
contemporâneos, portugueses ou europeus, estejam assim tão insensíveis às
questões de direitos fundamentais e da liberdade individual.
Parece que estão aceites normas
condenáveis. Por
exemplo, pode enviar-se informação pessoal e política a embaixadas de países
democráticos, amigos e aliados! Tal é errado! Não se deve enviar informação deste tipo a nenhuma
embaixada, amiga ou não. Desde que ao abrigo de tratado internacional e sem
qualquer implicação política, as únicas informações pessoais que poderão ser
objecto de transmissão cuidadosa e condicional são as que dizem respeito a
criminosos procurados pela Interpol, assassinos, salteadores e traficantes de
qualquer coisa.
Parece
que se pode enviar informação pessoal e política a países democráticos que
respeitem a Convenção dos Direitos Humanos. Falso! Não se pode nem deve enviar
informação deste género a nenhum país, seja qual for o regime. Até porque seria
necessário avaliar, caso a caso, a democracia de cada Estado.
Há
quem não veja inconveniente em que se possa enviar informação pessoal e
política aos países da União Europeia com os quais existe já uma tradição de
partilha de informação e de canal aberto entre as polícias. Errado! A informação pessoal e política não deve ser
enviada a nenhum país, seja ele da União Europeia, da NATO, da CPLP ou de
qualquer outra associação internacional. Tanto faz que seja a
Rússia ou a China, a Espanha ou a Itália! Isto não se faz, ponto final!
Pode uma câmara municipal, no quadro das actividades da liberdade de
manifestação, enviar informação pessoal e política às polícias portuguesas, à
PSP, à GNR, ao SEF e ao SIS. Errado!
Isso também é próprio de Estado policial. A câmara só deve saber onde se
desenrolam as manifestações e disso, apenas disso, informar as polícias e os
agentes de trânsito. Não tem de dar nomes de pessoas.
Dizem
ainda que se pode enviar informação pessoal e política a empresas, instituições
e organizações diante das quais se fazem manifestações. Errado!
A câmara pode informar sobre a ocorrência prevista, o
local e a hora, mas nada deve dizer sobre as pessoas e as suas coordenadas!
O
problema não é o de protecção de dados, como tanta gente diz. Não é um problema
de segredo informático, nem de procedimento administrativo. O
problema é político e fundamental. Uma
câmara não pode usar prerrogativas oficiais para obter dados pessoais e
políticos a fim de os transmitir seja a quem for!
Medina garante que a delação foi um erro técnico administrativo de
procedimentos. Não é verdade! Trata-se
de cultura de poder! De Inquisição! De espionagem política. De denúncia e delação.
Não é um caso de protocolo, nem um erro de rotinas, é uma questão de controlo
da liberdade de expressão!
A ideia de que esta é uma “partilha
de dados” é sinistra e faz pensar em relações comerciais, burocráticas e
similares. Aqui não se trata de partilha do que quer que seja. Há entrega,
delação e denúncia de pessoas cujas coordenadas podem facilitar a espionagem, a
perseguição e a represália. Não estamos a falar de hábitos de consumo ou de
preferências comerciais, dados que, aliás, nunca deveriam ser recolhidos sem
autorização. Estamos a tratar de liberdades, de garantias constitucionais e de
direitos fundamentais. E de instrumentos, aparentemente neutros, que podem
servir eficazmente para a perseguição pessoal e política. Falamos de liberdade!
Sociólogo
TÓPICOS
LISBOA
CÂMARA DE
LISBOA FERNANDO MEDINA GOVERNO RÚSSIA LIBERDADE POLÍCIA
COMENTÁRIOS:
Bom dia, Lisboa! MODERADOR: Belíssimo texto
de António Barreto! Incisivo quanto baste! A situação tem de mudar
radicalmente, com efeito. Obrigado! Henrique Duarte MODERADOR: Subscrevo em absoluto. Mário Guimarães EXPERIENTE: Não acredito que
outros organismos do Estado forneçam dados pessoais a outros Países quando uma
formação claríssima para que isso não aconteça. Falamos de um presidente
negligente, insensato, que no início nem valorizou. Pouco inteligente passou ao
ataque sem reconhecer o erro. Devia ser incriminado. Merecia. Não tem hombridade
para se demitir. Porque está degradado no cargo que ocupa. Carvalho
Carvalho.881625 INICIANTE: Este caso é lastimável. Nada justifica que as
entidades públicas de um país tenham que informar e identificar os promotores
de manifestações e comunicar esses dados a outros países, sejam estes quais
forem. Contudo, parece que há um tom excessivo em toda esta polémica, como
se a democracia esteja ameaçada e a PIDE a caminho. Não será por um acto
burocrático que a democracia se fragiliza, por indigno que seja. Talvez o teor
das reacções a esse acto firam mais a democracia, por instigar azedume contra o
próprio sistema democrático. Mais grave, muito mais grave, foi a espionagem que
durante anos se fez a presidentes e membros de governos europeus, caso que não
suscitou tamanha indignação apesar de atingir, claramente, todos os direitos
dos espiados e dos países em que eram, e são, governo. José Cruz Magalhaes MODERADOR: A opinião
expressa por AB é clara e lúcida, acerca de um caso que deveria interrogar e
incomoda todos os democratas. Como foi possível manter durante uma década, uma
reiterada prática de denúncia, a coberto de uma pretensa lei que colide e viola
artigos e normas constitucionais? Como foi possível que um procedimento
considerado de rotina, da competência de extintos Governos Civis, nunca tenha
sido questionado, por total incompatibilidade com a Lei Fundamental do país, em
quarenta anos de democracia Constitucional? Por que exercício, de contornos
suicidas, se transferiu uma prática indigna e ilegal, para as Câmaras
Municipais, depois da extinção, ditada por meros critérios de diminuição de
custos do Estado, sem que este procedimento levantasse dúvidas, esclarecimento,
ou simples rejeição? Incognito INICIANTE: A ironia neste
lamentável episódio é ser a Rússia a vir dar lições (elementares) de democracia
a Portugal. Medina, pelo que afirma, parece nem saber o que isso é (uma
democracia, e como funciona) e suspeito que António Costa e o governo também
não.
Fowler Fowler EXPERIENTE: Este é mais um
caso ilustrativo da falta de cultura e visão democrática de pessoas e
instituições: muitos dizem defender as liberdades, as garantias constitucionais
e os direitos fundamentais, para depois, na prática, revelarem que, afinal,
faltaram às primeiras lições. Sobre esta matéria, nos organismos públicos,
deveria ser obrigatório a frequência de acções de formação contínua para actualização
de informação/ conhecimento e desenvolvimento de capacidades. Espero que se
aproveite esta boa lição de Barreto, apesar de eu achar que se lhe aplica o
dito “Olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço”. Madala1903 EXPERIENTE: Não posso senão
apoiar a opinião de AB. Tem toda a razão. ATV EXPERIENTE: O mais curioso de
tudo isto é que se falarmos na PIDE dizem-nos que foi extinta, mas estas
delações são em tudo semelhantes ao que sucedia durante esse período. Mais uma
vez as liberdades individuais estão em causa. Nota-se que, apesar de todos
podermos comprar qualquer livro, há temas que não se discutem. Estamos em
período de silêncio, um silêncio opressor que deixa o mais atento preocupado
com as eventuais consequências. Até quando? Quando é que nos poderemos
realmente sentir livres e dizer o que pensamos sem considerar eventuais
represálias? O comportamento do Estado é deplorável e deixa a claro que não
existe um Estado de Direito onde os indivíduos gozam de liberdade e protecção.
Vamos também ter uma lista dos assuntos que não se podem discutir nas escolas e
universidades? Manuela INICIANTE: Subscrevo
inteiramente! Manuel Marques INICIANTE: Obrigado António
Barreto! Era isto que faltava dizer, é a isto que se chama por os pontos nos is! fmart8 EXPERIENTE: Concordo na
íntegra. Isto é um problema de democracia. zav60.911576 EXPERIENTE: De todas as
notícias e artigos de opinião que li sobre este assunto, cheira-me que este foi
o que mais se aproximou da verdade: este acontecimento não passaria de mais um
“fait divers” se não estivessem próximas as autárquicas (calhou acontecer com a
dupla FM/AC mas aconteceria se fosse a do CM/RR) e não envolvesse a Rússia
(ex-“soviética” – relembro que já aconteceu com a China, Israel e Venezuela). Há
alguém que me consiga informar desde quando é que passou a ser uma prática legal
informar as embaixadas de que vão ser alvo de uma manifestação? É que foi aí
que nasceu o problema
Esteves EXPERIENTE: Vivemos uma falsa
democracia. os boys da política cativaram a liberdade, reduzindo-a aos seus
estreitos interesses, usam a democracia como o casulo da realização das suas
ganâncias pessoais e de grupo. Permitem uma liberdade controlada, tola,
indigente, fingem que são democratas e assim, pouco diferem das velhas
ditaduras fascistas e comunistas. Servem-se do capitalismo, como fizeram os
chineses, e este só é possível com alguma liberdade. São uma espécie de
"Traição dos Porcos filósofos" Dão migalhas aos pobres e repartem as
fatias do bolo entre si. Este caso Câmara de Lisboa, o recente caso da virgula,
a nomeação do PAS, a falsificação do currículo do procurador, centos de casos,
mostram como ludibriam, são corruptos e mentirosos, logo mais pedem-nos o voto
e prometem tudo de bom.
OldVic1 MODERADOR: Se alguma vez
Portugal se tornar uma democracia liberal adulta, haverá a mesma preocupação
com a liberdade individual que há agora, de forma às vezes obsessiva, com a
igualdade. Enquanto isso não acontecer, seremos os medíocres do costume. Joao MODERADOR: Nesta super
concordo. SeuMatois EXPERIENTE: Da forma como
escreve parece que é a CML que decide que dados pede e a que Instituições os
remete. Há uma lei que a CML cumpre. Vai na volta o AB até esteve na elaboração
dessa lei de 1974…. Talvez mais honestidade intelectual não fosse má ideia. Paula Reis Lobo MODERADOR: O que diz é
falso. OldVic1 MODERADOR: António Barreto
esteve no governo de Vasco Gonçalves que fez a lei!? Acho que o seu comentário
"foi na volta".
Miguel Leitão 77 EXPERIENTE: Uma lei de 1974!
A sério que escreveu isto?! Para mim foi Afonso Henriques ou Passos Coelho, sem
dúvida os maiores culpados de toda a malfeitoria nacional! António Silva M INICIANTE: Os dados que pede
estão, e muito bem, na minha opinião, na Lei. A quem os remete, ou está escrito
em tinta invisível na Lei, ou não constam da Lei. Pelo que se pode ver, por uma
leitura da imprensa (salvaguardando a veracidade do que sai na imprensa) esta
prática é comum na
CML, desde 2011 (quando a
responsabilidade pela autorização das manifestações passou para as câmaras
municipais, por extinção dos governos civis). Estranho é que as outras
câmaras (por exemplo Porto, Coimbra e Faro) "desobedeçam" a essa "lei",
que "surgiu" em 2011 e que obriga a partilhar os dados dos
organizadores das manifestações. Obviamente que os autarcas de Porto,
Coimbra, Faro e de outras câmaras que não cumprem a tal "lei" de
2011, já deveriam ter apresentado a demissão! Conde de Montecristo INICIANTE: Se é ingenuidade,
fica-lhe mal. Se for mais do que isso, terá de ir para as terras do Facebook. As
pessoas que por aqui andam não perdem tempo com argumentos que se esgrimam nos
cafés. cidadania 123 EXPERIENTE: Organizar uma
manifestação na via pública, em minha opinião, não pode ser razão para fichar
pessoas em nenhuma base de dados, sobretudo de cidadãos portugueses, por um
país estrangeiro. Não percebo a necessidade da morada pessoal, mas também
considero que não pode ser um acto anónimo, pois a política não deve ser uma actividade
na clandestinidade . Teriam os agora indignados e a comunicação social, a mesma
postura se fossem manifestações da extrema direita,ou a defender o racismo ou o
fascismo? A defesa da liberdade de expressão não significa anonimato de
quem organiza actividade política na via pública, pois também implica
responsabilidade sobre o que pode acontecer. timóteo_p INICIANTE: Não há margem
para equívocos, neste caso a CML actuou como agente/informador do KGB, mas a
gravidade da sua conduta, que sabemos agora repetida, em nada depende da
natureza da parte a quem enviou as informações. É grave para a Rússia e as
outras ditaduras, mas tem a mesmíssima gravidade quando para a Espanha, França
ou qualquer um. Impensável que estes fulanos não se tenham ainda demitido,
andem a meter os pés pelas mãos e a mentir por todo o lado e, claro, a dizer
que a culpa é da lei !!!
Joao MODERADOR: Nesta tem
razão... “Se é um país democrático…”, alvitra um. “Se for um país da União
Europeia…”, sugere outro. “Se ainda fosse um país da NATO…”, aconselha ainda
outro... Ah Ah tal e qual, a turminha de bufos e cúmplices alegres de crimes e
perseguições do seu clube só sabe fingir defender os direitos humanos fora do
seu clube, já dentro é um fartar vilanagem. Hipocrisia do costume. Lars Arens EXPERIENTE: O pai escreve
“(...)só sabe fingir defender os direitos humanos fora do seu clube, já dentro
é um fartar vilanagem. Hipocrisia do costume”. Sabe que respeito o pai por ser
o pai. Mas pergunto: você dentro da perspectiva do “seu clube” não age da mesma
forma? Isso não será hipocrisia também? Joao MODERADOR: Caro Lars,
percebo o que diz mas não tenho clube, tenho sim um instinto "pobrezinho"
de me condoer dos mais fracos e explorados, quando vejo um robusto engravatado
loiro à porrada a um franzino desdentado e esfarrapado não aplaudo como a
turminha bem pensante faz, antes pelo contrário, critico. Aqui por exemplo
nunca censuro nem denuncio comentários, bem ao contrário de outros que enchem a
boca com "democracia" e que me censuram à dúzia por dia só porque
sim. Por exemplo já votei do Lucas Pires ao Garcia Pereira, sou livre e
gostaria que os outros fossem livres. Mas sérios, claro, o que mais critico é a
hipocrisia e a propaganda hipócrita, no internacional a omissão e o
branqueamento das guerras e terroristas ao serviço dos que se auto proclamam
"democratas".
Luis Rocha EXPERIENTE: Bravo! Obrigado.
Era isto.
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