Imprescindíveis nas ambições de
conquista, esquecidas, todavia, das sábias e ameaçadoras palavras constantes no
Alcorão, que Hitler desprezou – e de que maneira: ”Ó vós que credes, a pena de talião é
prescrita contra quem infligir a morte”:
Um prazer de leitura, esta tradução de Winston Churchill por DAVID MARTELO. Texto de “A BIGORNA”, enviado por JOÃO SENA. É um regresso às origens de uma monstruosidade a tantos níveis, e para sempre inscrita na memória dos homens - enquanto houver estudiosos que as pesquisam e traduzem:
1939 – AS PROPOSTAS DE ALIANÇA ENTRE A GRÃ-BRETANHA, A
FRANÇA E A UNIÃO SOVIÉTICA
Winston
Churchill
Tendo
partido o judeu Litvinov, concretizara-se uma cedência importante aos
preconceitos de Hitler. A partir de então, o governo alemão deixou de designar
a sua política externa de anti-bolchevista e reservou as suas invectivas para
as “pluto-democracias”. Os artigos dos jornais asseguravam aos soviéticos que
o Lebensraum alemão não se estendia a território russo, e que, na realidade, se
detinha, em todos os pontos, a pequena distância da fronteira russa.
Para ler o artigo, clicar em:
Ler mais: https://www.a-bigorna.pt/
1939 – DO ‘PACTO DE
AÇO’ À APROXIMAÇÃO GERMANO-SOVIÉTICA Winston Churchill
Aos esforços tentados pelas potências
ocidentais para criar uma linha de defesa contra ela, a Alemanha respondia do
mesmo modo. No início
de Maio, eram estabelecidas negociações, em Como, entre Ribbentrop
e Ciano (1) , as quais se concluíram, de uma forma oficial e
pública, pelo tratado conhecido por “Pacto de Aço”, que seria assinado, em Berlim, em 22 de Maio,
pelos dois ministros dos Negócios Estrangeiros. Esta resposta parecia constituir um desafio ao
débil conjunto de garantias britânicas
formuladas relativamente à Europa Oriental. Ciano, no seu diário, relata uma conversa
com Hitler,
ocorrida no momento da assinatura desta aliança: Hitler declara-se muito satisfeito pelo
pacto e confirma que a política mediterrânica será conduzida pela Itália.
Interessa-se pela Albânia e demonstra um grande entusiasmo pelo nosso projecto
de fazer da Albânia uma praça-forte que, necessariamente, comandaria os Balcãs. (2) A
satisfação de Hitler mostrar-se-ia de forma ainda mais exuberante quando, em 23
de Maio, isto é, no dia seguinte à
assinatura do “Pacto de Aço”, se reúne com os chefes de estado maior. As actas
secretas dessa reunião já se encontram publicadas:
Encontramo-nos, neste momento, num estado
de fervor patriótico que é partilhado por duas outras nações, a Itália e o
Japão. O período que agora terminou foi muito
bem aproveitado. Todas as medidas foram tomadas segundo um encadeamento lógico
e em harmonia com os nossos objectivos. Os polacos não são um “inimigo
suplementar”, uma vez que a Polónia estará sempre do lado dos nossos
adversários. Apesar dos tratados de amizade, a Polónia tem sempre a secreta
intenção de aproveitar todas as oportunidades para nos prejudicar. Dantzig não
é, de maneira nenhuma, o objecto da contestação. Tratase de estender o nosso
espaço vital a Este e de assegurarmos aprovisionamentos. Não temos, por
conseguinte, de poupar a Polónia, e iremos tomar a decisão de atacar a Polónia
na primeira ocasião favorável. Não podemos contar com a repetição do caso da
Checoslováquia. Haverá guerra. A nossa tarefa consiste em isolar a Polónia, e o
sucesso deste isolamento será decisivo. Se não é seguro que um conflito
germano-polaco não redunde numa guerra a Oeste, então a luta será dirigida
principalmente contra a Inglaterra e a França. Se houvesse uma aliança entre a
França, a Inglaterra e a Rússia, contra a Alemanha, a Itália e o Japão, eu
seria constrangido a agredir a França e a Inglaterra com alguns golpes
decisivos. Duvido que possamos chegar a um entendimento pacífico com a
Inglaterra. Temos de nos preparar para o conflito. A Inglaterra vê no nosso
desenvolvimento o início de uma hegemonia que a enfraqueceria. A Inglaterra é,
portanto, a nossa inimiga e o conflito com ela será uma luta de morte. As bases
aéreas da Bélgica e da Holanda devem ser ocupadas pela força. Não se devem ter
em qualquer conta as declarações de neutralidade. Se a Inglaterra tem a
intenção de intervir na guerra da Polónia, teremos de ocupar a Holanda com a
rapidez de um relâmpago. Precisaremos de definir uma nova linha de defesa em
território holandês, até ao Zuiderzê. É uma ideia perigosa imaginar que o
conseguiremos por um preço barato, porque essa eventualidade não existe.
Teremos de
1 Ministros
dos Negócios Estrangeiros da Alemanha e da Itália, respectivamente. (Nota do
tradutor) 2 Ciano Diary,
p. 90.
Pág. 2 - ‘deitar fogo aos nossos navios’ (3) e tudo isto já não é uma questão de justiça
ou de injustiça, mas de vida ou de morte para 80 milhões de seres humanos. Em
todos os países, as forças armadas ou o governo devem aspirar a uma guerra de
curta duração. No entanto, o nosso governo deve também estar preparado para uma
guerra com a duração de dez ou
quinze anos. A
Inglaterra sabe que a perda de uma guerra significaria o fim do seu poderio
mundial. A Inglaterra é a força principal que se ergue contra a Alemanha. Os
próprios ingleses são orgulhosos, corajosos, tenazes, firmes na resistência e
dotados de um sentido de organização. Sabem retirar as lições dos factos,
possuem o gosto pelo risco e a bravura da raça nórdica. Mas o
alemão médio é superior. Se, na
primeira guerra mundial, tivéssemos tido mais dois couraçados e dois
cruzadores, e se a batalha da Jutlândia tivesse começado pela manhã, a esquadra
inglesa teria sido derrotada4 e a Inglaterra posta de joelhos. Além do ataque
de surpresa, é preciso fazer preparativos com vista a uma guerra prolongada e
providenciar no sentido de as hipóteses da Inglaterra no Continente serem
anuladas. O exército deverá manter as posições necessárias às forças
navais e aéreas. Se a Holanda e a Bélgica forem ocupadas com sucesso e
solidamente conservadas, se a França for igualmente vencida, estarão reunidas
as condições fundamentais para a condução de uma guerra bem-sucedida contra a
Inglaterra. (5) Em 30 de Maio, o ministro dos Negócios
Estrangeiros alemão enviava ao seu embaixador em Moscovo as seguintes
instruções: “Contrariamente à
política anteriormente prevista, decidimos agora empreender negociações firmes
com a Rússia soviética. (6) ” Enquanto as potências do Eixo cerram
fileiras e aceleram os seus preparativos militares, a ligação vital das
potências ocidentais com a Rússia tinha sido rompida. A profunda divergência de
pontos de vista entre os dois países ficava bem à vista no discurso que o
comissário do povo para os Negócios Estrangeiros, Molotov, pronuncia em 31 de
Maio, em resposta ao discurso do Sr. Chamberlain, nos Comuns, em 19 de Maio: Até
meados de Abril, afirma ele, o governo dos Sovietes empenhou-se em negociações
com os governos inglês e francês, a respeito das medidas a tomar. As
negociações iniciadas ainda não foram concluídas. Torna-se evidente, desde há
algum tempo, que, se existia um desejo real de criar uma verdadeira frente de
países pacíficos contra o crescente perigo de agressão, as seguintes condições
mínimas impunham-se de forma imperativa:
− Conclusão, entre a Grã-Bretanha, a
França e a URSS, de um pacto eficaz de assistência mútua contra a agressão, pacto
de um carácter exclusivamente defensivo.
− Garantia
acordada pela Grã-Bretanha, a França e a URSS aos Estados da Europa
central e oriental, incluindo, sem excepção, todos os países limítrofes da
URSS, contra o ataque de um agressor.
− Conclusão, entre a Grã-Bretanha, a
França e a URSS, de um acordo preciso sobre as formas e extensão da ajuda
imediata e efectiva que devem prestar entre si, assim como aos Estados beneficiários das suas
garantias, na eventualidade de uma agressão.
As negociações tinham conduzido a um
impasse de onde parecia ser impossível de sair. Os governos polaco e
romeno, embora aceitando a garantia britânica, não estavam dispostos a
(3)
Expressão que, em termos militares,
significa a auto-inviabilização de uma retirada. (Nota do tradutor) (4) É evidente
que Hitler ignorava completamente as circunstâncias da batalha da Jutlândia,
que foi, do início até ao fim, um esforço vão da esquadra inglesa para levar a
Alemanha a empenhar-se numa acção geral, no decorrer da qual a linha de batalha
inglesa, graças à irresistível potência dos seus fogos, não tardaria a impor a
decisão. (5) Nuremberg Documents, I, 167-168. (6) Nazi-Soviet
Relations, p. 15.
Pág. 3 aceitar
um empenhamento da mesma ordem da parte do governo russo. Uma tendência análoga
prevaleceu num outro sector de igual importância estratégica: os Estados
Bálticos. O governo dos
Sovietes deu a entender que não aderiria a um pacto de assistência mútua a
menos que a Finlândia e os Estados Bálticos fossem incluídos numa
garantia geral. Estes
quatro países recusavam, agora, semelhante condição, e o seu pavor era tal que
a sua recusa parecia ser para durar. A Finlândia e a Estónia
afirmaram mesmo que considerariam como um acto de agressão uma garantia que se
estendesse a elas sem terem expressado o seu consentimento. No
mesmo dia, 31 de Maio, a Estónia e a
Letónia assinaram um pacto de
não-agressão com a Alemanha. Assim, Hitler penetrava, sem dificuldade, nas
frágeis linhas de defesa da coligação que
se formara contra ele, com tanta demora e irresolução.
In Winston Churchill, The Second World War.
pp.
385-388. – Maio de 2021
Nenhum comentário:
Postar um comentário