Às vezes resultam. Nós somos disso prova. Emérita.
Israel. Oposição anuncia Governo de coligação sem
Benjamin Netanyahu
O partido liderado pelo islâmico
Mansour Abbas formalizou o seu apoio ao projecto de coligação anti-Netanyahu, o
que permitiu eliminar um dos últimos obstáculos para a formação de um novo
Governo.
OBSERVADOR,02 jun
2021
O
líder da oposição israelita Yair Lapid, encarregue de formar Governo, anunciou esta
quarta-feira que conseguiu fechar um acordo com as forças da oposição para
formação de um Executivo que destituirá do poder o atual primeiro-ministro,
Benjamin Netanyahu.
A nova
coligação governamental, composta por partidos de quase todo o espectro
ideológico, incluindo um partido árabe, o que acontece pela primeira vez, será
liderada durante os primeiros dois anos pelo ultranacionalista religioso
Naftali Benet, que será substituído pelo centrista Yair Lapid nos dois
seguintes, noticiou a agência EFE.
O anúncio acontece depois de o partido árabe
israelita Raam, liderado pelo islâmico Mansour Abbas, ter formalizado o seu
apoio ao projeto de coligação anti-Netanyahu. Abbas “assinou o acordo de
coligação para formar um governo de unidade”, adiantou em comunicado o gabinete
do líder da oposição Yaïr Lapid, citado pela agência France-Presse.
Os adversários do primeiro-ministro israelita cessante,
Benjamin Netanyahu, tinham apenas algumas horas para anunciar esta quarta-feira
um acordo visando conduzir o país a uma “nova era” e acabar com mais de dois
anos de crise política.
As negociações
para a formação de um novo Governo juntaram nos últimos três dias as equipas
dos principais dirigentes da esquerda, do centro e de uma parte da direita,
como a da Yamina, a coligação do líder da direita radical, Naftali Bennett,
previsto como futuro primeiro-ministro no quadro de uma rotação no poder.
A adesão do Raam ou da outra formação árabe israelita,
a Lista Unida, resolveria o problema do campo anti-Netanyahu, que precisava de
mais quatro deputados para atingir os 61 (a maioria no parlamento de 120
lugares) necessários para formar um governo.
O conflito com os palestinianos, o relançamento
económico, o lugar da religião: tudo no papel divide a heterogénea coligação
anti-Netanyahu com excepção da vontade de afastar o primeiro-ministro com 15
anos no poder, os últimos 12 consecutivamente. A ser julgado por corrupção em
três casos diferentes, Netanyahu é o primeiro chefe do governo israelita
acusado durante o mandato.
Artigo actualizado às 22h10PUB
COMENTÁRIOS:
Filipe Costa: Isso dura meia
dúzia de meses, só vão dar força ao Netanyahu, uma geringonça israelita condenada
ao fracasso.
Censurado Censurado: O mais importante para Israel nesta fase é afastar definitivamente
Netanyahu da cadeira poder. Com quem o país não tinha qualquer hipótese de paz.
Nem dentro de portas nem fora de portas. Há muito tempo que a única preocupação
de Netanyahu é o seu próprio coiro.
Acordo inédito em Israel abre a porta
para Governo da “coligação de mudança”
Ao mesmo tempo que eram anunciadas as
últimas assinaturas no acordo para o primeiro executivo sem Benjamin Netanyahu
em 12 anos, surgiam dúvidas sobre se a coligação conseguirá apoio parlamentar.
PÚBLICO, 2 de Junho de 2021
Foto: Naftali Bennett e Yair Lapid no Parlamento RONEN
ZVULUN/EPA
Um acordo único na história de Israel foi assinado, esta terça-feira,
pelos líderes de oito partidos de quase
todo o espectro político. A proposta
de coligação negociada pelo líder da oposição, Yair Lapid, está, no
entanto, sujeita a aprovação do Knesset (Parlamento), e mal se soube que
estavam a ser conseguidas as assinaturas que faltavam, surgiu também a notícia
de mais um deputado que iria votar contra, deixando o bloco com apenas 60
deputados em 120, ou seja, sem uma maioria.
Faltava
pouco menos de uma hora para o final do prazo quando Lapid anunciou que entregou ao Presidente, ReuvenRivlin, o acordo de coligação. “Prometo que este governo vai servir todos
os cidadãos de Israel, incluindo os que não votaram nele. Vai respeitar os seus
opositores e fazer todo em seu poder para unir todas as partes da sociedade
israelita”, declarou Lapid.
O ainda primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, levou a cabo uma campanha de pressão para que um dos
deputados ou deputadas do bloco mude de opinião, para fazer fracassar esta
tentativa de o afastar – o grande ponto
em comum destes partidos é serem uma alternativa a Netanyahu, arguido num
processo por vários crimes incluindo corrupção, e no poder há 12 anos. Vários
analistas sublinhavam que este governo, se aprovado, só deverá tomar posse a 14
de Junho, dando dez dias de espaço para Netanyahu e os seus apoiantes
tentarem levar a deputados a mudar de lado.
Mas
o que quer que aconteça, este é um acordo de estreias: Naftali Bennett,
que apesar de ser chefe de um partido com apenas sete deputados, tem destinado
o cargo de primeiro-ministro na primeira metade do mandato do governo (alternaria,
depois, com Yair Lapid,
embora ninguém espere que, mesmo que aprovado, este governo dure
tanto tempo), seria o primeiro chefe de Governo religioso em
Israel (Bennett é ortodoxo, embora venha de uma família secular e
tenha uma mulher secular). Nunca
se juntaram tantos partidos tão diversos num acordo de coligação. E finalmente, nunca tinha havido uma
participação de um responsável de um partido árabe israelita numa coligação,
nem que apenas num acordo.
Por tudo isto, é difícil
sobrevalorizar este acordo entre partidos com tantas diferenças e numa cultura política de contrapartidas, com muitos deputados a
exigir cargos em troca do seu voto favorável ao governo no Parlamento.
“É
mesmo como a ‘Guerra dos Tronos’, a política israelita nesta altura. Ninguém
poderia ter previsto isto”, dizia ao Financial Times George Birnbaum, estratega
da campanha de Bennett. “Um partido islamista formar uma coligação com um tipo
como Bennett é surreal
– a realidade é mais estranha do que a ficção”.
A acção que abriu caminho a
este governo partiu de Yair Lapid, o centrista que recebeu o mandato de formar
governo a seguir ao falhanço de Netanyahu obter apoio para uma coligação maioritária – a oferta de deixar Bennett ser o primeiro a
ocupar a chefia do Governo e de ele próprio só ocupar o cargo na segunda parte
de um governo que ninguém arrisca dizer se vai mesmo ser aprovado no
Parlamento, quanto mais quanto irá durar. Foi um acto de
abnegação raro na política israelita.
Mas as mudanças mais relevantes vêm de Bennett e de uma figura até há pouco tempo totalmente marginal
chamada Mansour Abbas.
Bennett, que chegou a ser chefe de gabinete de Netanyahu enquanto este estava na oposição, cortou finalmente
com o antigo mentor político. Entre altos e baixos políticos, o antigo líder do
conselho de colonos Yesha, que fez fortuna com uma empresa de tecnologia, não
tinha ainda decidido fazer mesmo um corte com Netanyahu (recentemente, no julgamento
em que responde por crimes de corrupção e tráfico de influências, uma das testemunhas-chave, um antigo CEO do site de
notícias Walla contou como a cobertura era influenciada por Benjamin Netanyahu
e pela sua mulher, Sara, que pediam não só notícias positivas sobre si
próprios, mas negativas sobre rivais, por exemplo, sobre Naftali
Bennett).
Antigo
militar numa força de elite, uma das frases mais famosas de Bennett é: “já
matei muitos árabes e isso não tem problema nenhum”. Foi dita numa reunião
em 2013, em que, esclareceu depois o seu gabinete, defendeu que os soldados
israelitas deviam receber ordem de matar palestinianos suspeitos de terrorismo
em vez de os capturar ou prender.
Uma fotografia de Bennett e
Abbas, juntos com Lapid, simboliza o enorme passo dado nestas negociações.
A outra enorme mudança vem do campo árabe israelita, de um dos
partidos que representa a comunidade de palestinianos que ficaram a viver no
Estado de Israel depois de este ser declarado em 1948 e são hoje cidadãos
israelitas. Um dos partidos, o Raam, de
Mansour Abbas, muçulmano
conservador, com apenas quatro deputados, decidiu quebrar o tabu dos partidos
da comunidade, que não indicavam sequer uma preferência de candidato a
primeiro-ministro, para admitir participar num governo em nome de uma melhoria
das condições da comunidade (que vive em geral em zonas com menos investimento,
enfrenta discriminação no acesso a habitação, etc).
A
meio da tarde, um conselho religioso (shura), analisava um ponto de
discórdia em relação a uma reivindicação do Raam em relação a autorização
retroactiva de construção no sector árabe: as zonas árabes de vários locais em
Israel, e em Jerusalém Oriental – que é território ocupado – são muitas vezes
sujeitas a restrições maiores de construção, o que leva a construções ilegais e
é um dos grandes problemas da comunidade. Acabou por dar luz verde a Abbas.
Ironicamente, foi o próprio Benjamin Netanyahu que, depois de
campanhas eleitorais em que usou a “ameaça árabe” para levar os seus apoiantes
às urnas, abriu a porta a uma participação do Raam na política, porque era o único partido extra que lhe poderia permitir os 61
deputados. Mas precisava também de um partido abertamente racista e
antiárabe, e o fosso entre os dois foi demasiado grande até para um político
talentoso como Netanyahu conseguir resolver.
Se
é difícil sobrestimar a dimensão destas mudanças, também é difícil sobrestimar
o potencial de qualquer acontecimento que leve um deputado ou uma deputada a
resolver não votar a favor deste governo, o que acontecerá provavelmente
na próxima quarta-feira. E ao
final da noite surgiram notícias de que um deputado do Yamina iria reduzir a
margem de apoio do bloco para 60 deputados, embora houvesse também rumores de
que dois deputados árabes israelitas poderiam votar a favor da coligação. Como
disse o próprio Mansour Abbas sobre as negociações, “só está terminado
quando terminar”.
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COMENTÁRIOS
MARIO RODRIGUES.210405EXPERIENTE: Israel situa-se no Médio Oriente? Ou
será no Próximo Oriente?
zav60.911576 EXPERIENTE: Esta notícia, daqui a 50, 60,
70 anos, fará parte das notícias a que o Público (se ainda existir então) dará
o mesmo tratamento que o DN dá hoje às suas notícias sobre a ascensão dos Nazis
ao poder na Alemanha: elas nunca existiram e sobre as que até se provem terem
existido, foram apenas fruto da ingenuidade do seu autor… é que se há algo que
é permitido, recorrentemente, à Humanidade é ser ingénua perante os carrascos
aceitáveis. Esta é, para todos os efeitos, uma espécie de notícia sobre a luta
de poder na Alemanha Nazi e não sobre o que se passava nos territórios ocupados
por ela… Ah e claro, chamem-me de anti-semita se quiserem porque não me
incomodo: estou bem acompanhado com a maioria dos membros da AG da ONU.
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