quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Bolha antiga…

 

Um texto precioso, que mereceu comentários de vária natureza, mas a maioria apoiou, pela sua clarividência. Vivemos com medo, é certo, e o medo condiciona. Sabemos que aqueles dos governantes que pretenderam seguir as vias normais, se saíram mal nas suas opções. Mas as medidas, nas escolas, não deixam de ser ridículas e talvez inúteis e de convite a uma inércia perigosa. Como bem salienta Helena Matos. Mas haverá sempre bons e muito bons no mundo, trabalhemos nisso, confiemos. De resto, sempre vivemos um pouco em neblina… ou “nevoeiro”, disse-o Pessoa.

Os meninos da bolha /premium

O recreio foi proibido em várias escolas. Depois dos políticos que vivem numa bolha, temos os meninos da bolha. Os políticos da bolha abominam a realidade. Os meninos da bolha temem o ar livre.

HELENA MATOS Colunista do Observador         OBSERVADOR, 27 set 2020

Os alunos de várias escolas portuguesas não podem ir ao recreio “por medo da covid-19”. A opção é mantê-los dentro das salas de aula. Dizem os responsáveis que é mais seguro. A sério que as crianças ne adolescentes ficam mais seguros dentro da sala? Ou perguntemos ao contrário: não será mais seguro o ar livre do recreio do que o ambiente confinado da sala?

Não entro nem quero entrar na discussão sobre se para enfrentar o Covid-19 foi ou é mais eficaz o confinamento generalizado ou se pelo contrário devemos centrar as medidas nos grupos mais vulneráveis, como são os idosos institucionalizados. Tenho contudo a certeza de que confinar crianças dentro de uma sala de aula, impedindo-as de correr num recreio, é uma estupidez. Mais e muito pior, estamos a criar uma geração de meninos da bolha que, ao contrário do que aconteceu com o verdadeiro menino da bolha, David Vetter, que nasceu com uma doença imunológica rara, não nasceram doentes mas vão ficar cada vez mais frágeis física e psicologicamente. Qual é o risco de contrair Covid-19 por se frequentar o recreio? Quem o avaliou? Sim, já sei que para se chegar ao recreio os alunos têm de atravessar corredores e que no recreio as crianças acabam a tocar umas nas outras mas no que ao Covid-19 respeita são esses riscos superiores aos de ficar numa sala? E sobretudo quais são os riscos de uma infância em que não se saltou, não se empurrou, não se jogouem que não se teve tempo nem espaço que não fossem didacticamente assepticizados pelos adultos?

O combate ao Covid-19 veio acentuar a paranóia securitária que há longos anos se apoderou das escolas portuguesas e que levou a sanear dos pátios de muitas delas as árvores, a terra e tudo aquilo que não está devidamente homologado. Mas há que dizer que a escola apenas reflecte a tendência da sociedade: as crianças portuguesas do século XXI não podem molhar-se porque se constipam; não podem limpar as mesas porque, coitadinhas, isso não é da sua competência e, quem sabe, ficam com as falanges afectadas; não podem andar a pé porque se cansam; não podem comer doces porque ficam agitados; não podem beber leite porque são alérgicos; não podem ser chamados à atenção porque ficam traumatizados; não podem comer pão porque são intolerantes; não podem apanhar vento porque ficam com dores de ouvidos e agora não podem ir ao recreio por causa do coronavírus!

Somos cada vez mais um país de filhos únicos de pais a que outrora chamaríamos velhos. A complexificação da maternidade e da infância fizeram de cada criança um caderno de encargos de momentos que têm de ser perfeitos.

Como é óbvio, à medida que a sua vida se torna mais protegida os meninos-bolha tornam-se menos capazes de enfrentar as agressões do mundo, sejam essas agressões os vírus, a violência dos outros ou os mais prosaicos problemas da vida. E quanto mais artificial for essa vida maior a disponibilidade destas gerações para aderirem a discursos patetas e patéticos sobre a natureza. O que aí se diz e escreve sobre “salvar o planeta”, movimentos zero, ser amigo do ambiente, emergências climáticas, mais slogan, menos manifestação, vão todos dar à crença de que temos de expiar o pecado mortal de sermos humanos (dentro dos humanos há ainda uns mais culpados que outros, como rapidamente os meninos-bolha repetem).

Querem um símbolo do nosso tempo? A bolha. Temos uma geração de políticos que da sua bolha se preserva do que impõe aos outros: exaltam o SNS mas apenas recorrem aos hospitais privados; defendem a escola pública mas os seus filhos e netos não a frequentam; adoram os transportes públicos mas nunca os utilizam (tal como acontece com a bicicleta só os utilizam nos dias da propaganda); dizem que gostavam de viver no Bairro Amarelo onde apenas reparam na paisagem ao longe porque as suas dioptrias ideológicas não lhes permitem ver os prédios degradados, as rendas por pagar, o tráfico de droga, a lei do mais forte…

À bolha da política junta-se agora a bolha da vida com estas gerações de meninos cujo modelo de educação é a bolha. A bolha dos políticos ainda temos a esperança de a rebentar numas eleições. Quanto à geração dos meninos da bolha, a tal que nasceu intolerante a tudo e agora já nem pode ir ao recreio, tenho uma certeza: ou esta geração perde o medo do mundo ou o mundo tem fortes razões para vir a ter medo dela.

PS1. Não se aguenta mais a peça “Orçamento: agarrem-me senão eu aprovo-o” levada à cena por Catarina Martins desde que a partir de 2015 assumiu o papel de muleta do PS. Nunca tive o gosto ou o desgosto de ver Catarina Martins na sua vida pretérita de palhaça-actriz mas é francamente cansativa esta peça que, devidamente patrocinada por todos nós, mantém nos palcos de Portugal vai para cinco anos.

PS2. Diz o jornal Sol que está periclitante a reeleição do engenheiro Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU e que, caso tal não aconteça, a pátria, ou mais propriamente a Fundação Gulbenkian, o esperam. Desculpem, mas não pode ser pois ninguém está preparado para viver no país em que Marcelo está em Belém e Guterres na avenida de Berna. Não há povo que resista a tanto comentário! Com a particular agravante de que Guterres, ao contrário de Marcelo, é monocórdico nas suas fixações: há umas décadas tudo o que dizia desembocava na paixão pela educação. Depois entrou-lhe o frenesi dos refugiados: fosse qual fosse o assunto em discussão ele havia de chegar ao tema dos refugiados. Seguiu-se-lhe a fixação nas alterações climáticas. Pobreza, riqueza, guerras, paz… tudo, mas tudo sem excepção, ia dar ao clima e respectivas alterações. Agora o engenheiro Guterres anda ocupado com o género. A quem o quer ouvir (ou não quer mas a tal é obrigado) garante o engenheiro Guterres que o Covid veio expor as desigualdades de género… Dentro de algum tempo outra temática se seguirá com igual empenho e desacerto nas preocupações do nosso antigo primeiro-ministro. Em resumo, o engenheiro Guterres é um caso particular de síndroma de Tourette: não diz um único palavrão mas também não diz nada que se aproveite.

SOCIEDADE  EDUCAÇÃO  CORONAVÍRUS  SAÚDE PÚBLICA  SAÚDE

COMENTÁRIOS:

A. A. R. Alves: Entramos numa vertigem que só parará com violência.      Zé DO TELHADO: " De pequenino é que se torce o pepino"? O tempo não volta para trás, por isso, "o que la vai, la vai".     Isabel Mª S. Marques 100% de acordo! pedro dragone: Eu também estava (e continuo a estar) convencido que o risco de contágio é maior dentro da sala de aula que no recreio. Mas dando de barato que é no recreio, é por um ano (no máximo) de privação de recreio que as crianças irão ser afectadas?! Não me parece, Helena Matos, não me parece. Afinal eles, os putos, têm é de apanhar "choques" para aprenderem a dureza da vida e não andarem sempre metidos em "bolhas de nornalidade" não é HM ??? Ou nisto já não é ??!! LOL Mas compreendo: a coisa dá jeito à dramatização "que se impõe"! Olha eles e elas, por aí abaixo, em delírio ha ha há Dá-lhe palha Helena Matos, dá-lhes palha que o pessoal adora LOL       M M > pedro dragone: Concordo consigo. Os 15 (ou 10 ou o que seja) anos que um garoto passou agarrado ao smart phone, ao tablet ou à play station não são um problema. Não ter recreio agora é o fim do mundo. A sério?       Liberal Assinante do Local > pedro dragone: Não há volta a dar ao texto, Napoleão é que sabia: «O tolo tem uma grande vantagem sobre o homem de espírito: ele está sempre contente consigo próprio.»   M M > Liberal Assinante do Local: Os argumentos que utilizou para demonstrar que o pedro estava errado demonstram a sua inteligência, sem dúvida, Liberal.    Liberal Assinante do LocalM M: Dar trela a um tolo é já um passo para nos juntarmos a ele. O mesmo digo em relação a si, que está a "bascular" para se juntar a ele. Tinha melhor opinião dos seus comentários por aqui, mas a vida por vezes desilude-nos...        Carolina Matos: Alerta muito lúcido e pertinente. "Os meninos da bolha" já estavam a ser afincadamente preparados na era pré-covid. Esta nova distopia só veio providenciar a capa perfeita para aprofundar o processo produtivo. Trata-se, somente, de produzir o pasto acéfalo ideal para assegurar a sedimentação do presente totalitarismo progressista e, simultaneamente, neutralizar qualquer espécie de resistência, por exemplo, ao roubo da história, identidade e cultura dos "meninos da bolha", que, em todas as ocasiões, se querem exclusivamente cooperantes com a cleptocracia corporativa globalista e os neo-revolucionários totalitários, que têm, entre mais, por fundamental roubar-lhes o seu próprio ser e nação e entregá-los a bárbaras hordas invasoras, perspectivadas como eleitores-escravos-consumidores.     Anarquista Inconformado > Carolina Matos: A sério? Que grande filme, vai ganhar um Oscar de certeza. Será da água que andam a beber? Anarquista Inconformado: Mas que grande bolha. Hilariante e ao mesmo tempo preocupante, o ocaso. Liberal Assinante do Local > Anarquista Inconformado: O teu dá mostras disso... Maria AugustaAnarquista Inconformado: Grande "bolha" e prestes a rebentar e o que tu camarada tens em cima dos ombros. Aguenta!   M M: Já viram o vídeo em que um pai ameaça matar professores e funcionários porque há um caso positivo na escola do filho? O pai esclarece que os vai matar a todos e que lhes vai dar porrada e, enfim, tudo isto porque há um caso positivo na escola. Não porque o filho apanhou Covid na escola mas porque há um caso positivo. Os professores, na mesma turma, têm miúdos com pais que acham tudo e o seu contrário mas a verdade é que quem decide as medidas a tomar é o Ministério da Educação, não as escolas.     Maria Emília Santos Santos > M M: Isso deveria acontecer se o Ministério da Educação o fosse de verdade, mas não é! Um ministério de educação que quer impor prostituição nas escolas, é tudo menos de educação! Pobres dos pais que não entenderem esta tragédia enorme!    M M > Maria Emília Santos Santos: Prostituição nas escolas? Anda com muitas fantasias nos seus sonhos, Emília...  Maria Pinto: A Covid serve de desculpa para tudo, ajustes directos de milhões e milhões , gente aterrorizada que deixou de pensar, alunos que não têm ensino normal, gente que morre de tudo, sem conseguir uma consulta, sem tratamento, sem exames, serviços publicos que não tratam de nada,  expropriações arbitrárias , enfim....tudo ao jeito desta comunada que nos governa para transformar Portugal numa Venezuela!!!     Maria Narciso: Alguns comentários vão claramente para a vertente política, fazendo crer que as crianças na escola pública são obrigadas a ficarem fechadas e que no ensino privado isso não acontece, esquecendo por completo que antes da Covid 19 existir, esses pais colocam por livre e espontânea vontade os seus filhos em colégios internos, muitos deles militares, onde as crianças ficam sujeitas a uma severa disciplina.    Liberal Assinante do Local > Maria Narciso: Muitos deles militares? Oh Maria Maria, que bicho lhe mordeu? Acorde!    Maria Narciso > Liberal Assinante do Local: Não se pode escamotear a verdade .   Romeu Francisco: Quando os meninos da bolha chegarem à adolescência, serão meninos revolucionários. Como os tempos são de retrocessos de esquerda, parece-me que os putos serão vanguardistas de direita :)     Maria Narciso : Analisando na vertente política , nomeadamente no aproveitamento político da situação : - As escolhas têm de ser feitas e por muito que se faça, nunca irá agradar a todos, mas é preciso perceber que não foi uma situação criada, nem imposta pelo Governo, que as decisões nunca são tomadas de ânimo leve e são sempre pensadas de forma global , estamos perante uma situação complexa e completamente adversa à nossa forma de interagir. Todos temos que ter consciência disso, adaptarmo-nos da melhor maneira à situação , porque isto só lá vai com bom senso e a cooperação de todos .   Liberal Assinante do Local > Maria Narciso: Considera "bom senso" impedir as crianças de ter recreio ao ar livre por causa de uma eventual constipação para elas inofensiva e até imperceptível?    Lúcio Cornélio: Como sempre, mais um esplêndido artigo de Helena Matos. Este talvez ainda mais esplêndido do que o habitual porque vai ao fundo e destaca um fenómeno social que tem vindo a transformar todas as crianças, as novas gerações, em mutantes ultra-protegidos, sem imunidades a nada e catequisados na "nova normalidade" de passarem a ser peixes de aquário com ração a horas certas e a achar que isso é normal. Não. Não é normal.    Liberal Assinante do Local > Lúcio Cornélio: Mas não culpe as crianças e o jovens, kamarada Sparta, até por que aquilo que lhes está a ser feito desde Março é para lhes impor os interesses dos adultos (de alguns), e os supostos interesses dos idosos.     Abelardo Moro > Liberal Assinante do Local: Tem toda a razão. As crianças e jovens não têm nenhuma culpa neste cartório. Nem podemos exigir que se revoltem, quando os pais e os professores, inexplicavelmente timoratos, estimulam e agravam este clima de terror...  Lúcio Cornélio > Liberal Assinante do Local: Não culpo não, Kamarada. Os miúdos e os jovens, incluindo a jovem Greta provavelmente, são fruto do ambiente em que vivem e dos hábitos e ensinamentos que os adultos lhes inculcam e que, por sua vez, irão inculcar mais tarde aos seus filhos. Por isso eu acho esta espécie de "revolução cultural" em curso - e que já dura há uns bons anos - tão perniciosa.

Carlos Almeida: Sou um fanático admirador seu cara HM. Os seus textos espelham tudo aquilo que o povo enganado sente. Obrigado pelos momentos de leitura prazeirosa que me proporciona. Viva a liberdade! Joaquim Moreira: Depois da "geração rasca", temos "os meninos da bolha", que são os filhos de pais que agora andam à rasca! Não sei se a Helena Matos, vai conseguir ou não, que os "meninos da bolha" fiquem como marca desta geração. Mas de uma coisa tenho a certeza, são produto de uma geração que é uma tristeza. Não por culpa própria, mas por terem vivido numa época em que a protecção, apareceu como resultado da confusão, que se gerou na cabeça da minha geração. Que tendo feito, participado ou fugido da Guerra Colonial, fez, participou ou acabou por aceitar a Revolução do 25 de Abril em Portugal. Como se pode imaginar, desta confusão alguma coisa devia resultar. O que se passa com a gestão da pandemia, de que Helena Matos nem quer falar, também só esta confusão podia gerar. Quando pais e professores, preferiam em casa continuar, quando obrigados a ir para a escola, só podiam dentro das salas ficar. Não vá o vírus andar lá fora a passear! Mas convém também dizer, que o que na escola pública está a acontecer, não acontece na escola privada, como é fácil de saber! Liberal Assinante do Local > Joaquim Moreira: A escola pública não é bitola para ninguém, pode é ser o mau exemplo.         Joaquim Moreira > Liberal Assinante do Local: Infelizmente, não só é "bitola", como é um "exemplo" do que é a escola! Sobretudo para o respectivo ministro, e para quem apoia este "governo", que tem um "primeiro-ministro" sinistro!       J SNisia Silva: Há muitos “miúdos“ bons que hoje têm menos de trinta anos que fazem coisas muito boas, são educados, trabalham, e são críticos, filhos de homens normais. Hoje este “miúdos” já  homens têm também responsabilidades, e que também viveram em recreios de terra, andaram à chuva, mexeram na lama...E sim há muita anormalidade também, mas nem tudo é mau.

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