Cantemos, indecisos no caminho a seguir,
mesmo tendo lido a exposição aprimorada de Paulo Tunhas, ineptos e hesitantes, na noite e no dia, no calor ou no
frio. Entre uns e outros, vá o diabo e escolha. Cantemos:
Canção popular infantil
Já o vento nos leva ao ar, coradinha da cor da romã, pé aqui, pé ali, pé além dá-me
os teus braços ó meu lindo bem
Ó que praias tão lindas tão belas, onde eu ia passear, sentadinha
na areia, sozinha, a apanhar conchinhas do mar
O vento
e o moinho um moinho lento não
tinha vento
e o
moleiro dizia se eu invento o vento o meu
moinho lento ganha alento
Sentados na cerca /premium
A ciência funciona olhando para trás. “Seguir a
ciência”, sem mais, é estar atrasado. “A liderança política é uma arte, não uma
ciência, e requer que olhemos para a frente.” Mesmo no meio da névoa.
PAULO TUNHAS OBSERVADOR, 24 set 2020
Desde
que começou a presente pandemia, escrevi aqui pouquíssimo sobre a coisa e
fiquei sempre num grande nível de generalidade. Que me lembre, limitei-me a
algumas considerações sobre a fragilidade dos indivíduos e das sociedades. O
tema da fragilidade humana é um tema importante do cristianismo, desde os seus
princípios (o filósofo Jean-Louis Chrétien dedicou-lhe, não há muitos anos, um
interessante livro, intitulado, justamente, Fragilité), embora sob muitos aspectos, e sob outra forma, a
filosofia grega o antecipe. E a
questão da perecibilidade das instituições, bem como das sociedades como um
todo, é, quase se poderia dizer, o problema central da filosofia política. É verdade que também disse uma coisa ou outra sobre o
modo como o governo e a DGS – partindo do princípio que se pode verdadeiramente
aqui estabelecer uma distinção entre as duas entidades – lidaram e lidam com a
pandemia, mas não de uma forma minimamente desenvolvida.
Sobre
a controvérsia central que agita as cabeças pensantes, ou, pelo menos,
falantes, não escrevi nada, embora julgue perceber os motivos fundamentais
das duas escolas de pensamento que disputam a atenção pública.
Por
um lado, temos as várias pessoas – muito diferentes entre si, diga-se de passagem
– que encaram várias das medidas “securitárias” dos governos não apenas como
inúteis, ou até contraproducentes (creio que é o ponto de vista de alguém que
vale sempre a pena ler, Henrique Pereira dos Santos), mas também como
orientadas por um motivo próprio e em parte inconfessável: a
apetecível extensão do domínio do Estado sobre os indivíduos e o concomitante
desprezo pela tradição da liberdade individual. Entre nós, é
sobretudo Alberto Gonçalves que tem
insistido neste ponto de vista (José Manuel Fernandes em parte também), mas não faltam outros autores que igualmente o
sublinham, como, por exemplo, Johan Norberg
ou, num livro que a Guerra & Paz fez o favor de publicar em português, Bernard-Henri
Lévy (Este vírus que nos enlouquece).
Como
disse, sou sensível a este tipo de argumentos, embora, no caso de Lévy, eles
apareçam, como é habitual com o autor, envoltos numa retórica que é a do “detestável
Eu”, para falar como Pascal, que ele cita, um “detestável Eu” vestido de
fúria e indignação. É como se ele não conseguisse dar um passo na direcção
certa sem, por um voo retórico, dar um passo seguinte que vai longe demais. A
partir de uma certa altura é o tom que conta, não o conteúdo. E poderia, é
claro, fazer entrar nesta lista as posições delirantes de alguém como Giorgio
Agamben, entre muitos outros, mas não quero
confundir tudo e misturar aqueles que prestam atenção ao real com aqueles que
encontram no real uma mera oportunidade para, forçando as coisas, o apresentar
como a prova concludente das suas posições filosóficas.
Do outro lado, temos aqueles que
defendem as ditas posições “securitaristas”.
Além dos governos, uma boa parte da população partilha esta atitude. Sem que
me escapem excessos, disparates ou tendências autoritárias que nos levam direitinhos
a prepotências sortidas, confesso que também sou sensível a alguns dos
argumentos desta escola de pensamento. Como em tudo, o nosso ponto de vista
é em parte moldado não apenas pela razão pura e simples – se pode haver uma
razão pura que, ainda por cima, seja simples -, mas também pela nossa
experiência pessoal. O interesse próprio fala sempre um bocadinho, mais alto ou
mais baixo. E o facto de ter chegado aos sessenta anos (e por quase exclusivo
mérito próprio, com pouca contribuição do acidental) com um admirável cocktail de
doenças crónicas, por causa das quais passei, de resto, o mês de Janeiro quase
inteiro no hospital, contribui, sem dúvida, para um certo acordo meu com a
escola securitária. Esta situação de balanço entre duas atitudes opostas não me
aconselharia, de modo algum, a escrever sobre o assunto. E não o faria se não
tivesse lido, sexta-feira passada, um artigo de Charles Moore no Daily
Telegraph (“The public can deal with the
truth regarding our flawed Covid strategy”) com o qual concordo
em inteiro e cujas ideias centrais me parecem dever ser partilhadas com os
leitores do Observador que o não leram.
O que diz Charles Moore? Primeiro, que, em matérias onde é difícil ter uma
opinião segura, onde a certeza é raramente possível, há uma tendência, face à
obrigação de apresentar um ponto de vista firme, para acentuar
excessivamente a nossa razão, por mais fraca que seja: o tom conta mais do que o conteúdo. A natureza
tentativa das nossas opiniões tende a ser disfarçada. É mais sábio, embora
menos pagante, sentarmo-nos na cerca, olhando para os dois campos da questão.
Depois,
Charles Moore confessa que, instintivamente, sente mais simpatia por uma
atitude liberal – como a sueca — que confia na capacidade de os indivíduos
tomarem por si mesmos decisões adultas do que pela posição estatista – como a
chinesa — que promove um poder arbitrário de os punir. Ao mesmo tempo, Moore
não alinha com a posição libertária segundo a qual as nossas escolhas livres
não podem afectar os outros, como se o egoísmo adquirisse subitamente o
estatuto de uma virtude. Do mesmo modo, nenhum governo democrático se
pode permitir, em nome da desejabilidade de uma qualquer imunidade de grupo,
que a doença siga o seu curso, como se milhares de mortos não contassem grande
coisa. Mais: é mais sábio gastar o dinheiro público em medidas
hospitalares que podem até revelar-se desnecessárias, já que a sua
existência tranquiliza as pessoas, confortando-as no sentimento de que, caso
doentes, poderão ser tratadas, do que poupar esse dinheiro, julgando-o
inutilmente gasto.
A
própria doença é ambígua: não é uma praga tão mortal que obrigue a que toda a
vida normal seja interrompida, nem uma simples gripe. É por isso natural que os governos oscilem, em
função das situações, entre a abertura e o fechamento. É um dever político “reconciliar
as exigências conflituosas da complexa sociedade moderna”. Esta
oscilação, acrescenta Charles Moore, é, de resto, mais bem compreendida
pelas pessoas do que por aqueles que, nos media, optam encarniçadamente por uma
atitude ou outra. A maior parte
das pessoas confia na relativa segurança de comer em restaurantes mas não se
atira de cabeça para uma rave party ou para um bar apinhado de gente. O
governo deve saber lidar com várias disposições psicológicas na população. Uns
poucos são decididamente imprudentes, outros poucos são hipocondríacos. A maior
parte encontra-se no largo espectro entre as duas atitudes. A regra
de ouro, no entanto, é falar a verdade e não pretender que tudo vai pelo melhor
dos caminhos e que em breve tudo estará bem.
Finalmente, devemos desconfiar do
mantra de “seguir a ciência”. É assim
que Charles Moore conclui o seu artigo. A ciência funciona olhando para
trás. “Seguir a ciência”, sem mais, é estar atrasado. “A liderança política é
uma arte, não uma ciência, e requer que olhemos para a frente.” Sabendo, desde
o princípio, que ainda estamos a caminhar no meio de uma espessa névoa.
Estas palavras de Charles Moore
parecem-me grandemente acertadas. Não indicam, é claro, uma via mágica para a
acção correcta. Mas fornecem um quadro razoável para pensar a trapalhada em que
andamos metidos.
CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE
COMENTÁRIOS:
josé maria: A Terra é plana,
as vacinas são perigosas e o uso de máscara não é preciso, trata-se apenas de
uma mera gripezinha. diria qualquer seguidor do Jair ou similar. Gens Ramos: Entre o abandalhar e o “Securitate” existe o 1/2
termo; acho que é por aí. Adelino
Lopes: Ciência? Pois, compreender o erro, as
probabilidades, etc, mete (muito) medo a quem desconhece. Mas atenção, quem
desconfia das possibilidades da ciência, ou nem acredita nela de todo, deve
manter a coerência; ou seja, deve livrar-se de tudo o que a ciência lhe permite
(carro, hospital, net, roupa, comida, etc, etc). Caso contrário, passa para
aquele grupo dos hipócritas que gostam de cuspir no prato em que comem. Agora,
os cientistas são (todos) de confiança? Pois, o problema actual da ciência é
mesmo esse: está muito tomada pelos políticos profissionais, mais conhecidos
por progressistas. Mas, mais uma vez, para contornar este problema, só mesmo
recorrendo à ciência. Não vislumbro nenhuma outra alternativa. Portanto,
relativamente ao “finalmente” do Charles Moore, quero acreditar que não sabe do
que fala, quando refere o mantra. A alternativa é muito pior. bento guerra: A política não é uma ciência e a ciência nunca está
completamente certa, por definição. A operação chinesa do Covid encontrou uma
Europa sem pensamento e uma América onde conseguiram fazer do presidente um
"punching bag" mundial. A China prepara o assalto
Luis Novais
Reis > bento guerra: Trump
dixit
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