domingo, 13 de setembro de 2020

Curiosidade, estranheza


Por ignorância, com certeza. Mas fere-nos os brios. De Vila Real de Santo António, sempre li que tem um traçado esquadriado ordenado pelo Marquês de Pombal, tal como a Baixa de Lisboa, mas na Internet colhi outros dados:

«A "cidade do Marquês" é um marco incontornável dos caminhos do Absolutismo, do Iluminismo, do Urbanismo e da Arte do Portugal pombalino. Utopia de cidade ideal, à escala portuguesa, ela é o mais coerente programa urbanístico do Estado Absolutista (à excepção da reconstrução forçada de Lisboa) e uma das suas mais esclarecedoras manifestações de poder. A construção da vila está intimamente relacionada com aspectos económicos e com uma ideologia que visava tornar o antigo Reino do Algarve numa das mais prósperas regiões de Portugal. Como provou H. Correia, Vila Real "não é um caso fortuito, mas uma peça imprescindível para a concretização de uma reforma económica que procura o aumento da produção nacional" e a progressiva menor dependência do estrangeiro (CORREIA, 1997, p.224) e, em particular, das actividades pesqueiras de Espanha. É à luz destes dados que, em 1773, o Marquês de Pombal ordenou que a quase destruída aldeia de pescadores de Santo António de Arenilha  se tornasse na cidade mais moderna do país e no pólo económico mais florescente» do Algarve.

E o Dr. Salles assim nos vai dando curiosas lições inesperadas…

TOPÓNIMOS E GENTÍLICOS: AREIAS DO GUADIANA

HENRIQUE SALLES DA FONSECA           A BEM DA NAÇÃO, 12.09.20

Espanha nunca aceitou de bom grado a conquista portuguesa do Algarve com base numa herança de um avoengo qualquer

Mas a «uti possidetis» vingou por antecipação à inclusão dessa figura (posse efectiva de uma região) no Direito Internacional e o Algarve é português e ponto final na discussão.

Contudo, durante o Consulado Pombalino, correram rumores de que os espanhóis se preparavam para tomar conta de toda a foz do Guadiana. E o Marquês mandou construir à pressa uma cidade sobre as areias da nossa margem do Guadiana. Chamou-lhe Vila Real de Santo António e mandou os habitantes de Monte Gordo transferirem-se para a nova cidade. As hesitações foram dirimidas com espingardas apontadas às costas.

Antes desta tomada de posse pela força, aquelas areias na margem direita do Guadiana eram esparsamente ocupadas por choupanas de pescadores que tanto podiam ser portugueses como não. Eram transfronteiriços e viviam onde melhor lhes aprouvesse. As areias eram conhecidas por «arenillas» (areiazinhas), nome que, uma vez aportuguesado, se transformou em «arenilhas». Mas o povo logo se encarregou de deitar a baixo o «e» e o nome do local passou a ser Arnilhas.

Nome bem mais apropriado que Vila Real de Santo António que ali foi pespegado por Decreto, não por sentimento. E o sentimento é tal que os vila-realenses ainda hoje se auto denominam arnilhas.

Bem seria que as placas toponímicas nas entradas da cidade ostentassem essa designação entre parênteses por baixo do nome oficial.

Setembro de 2020      Henrique Salles da Fonseca

FONTE – José Pedro Queiroga, Tavira

Tags: história

COMENTÁRIOS

Anónimo12.09.2020: Muito bem, Henrique. Obrigado pelo ensinamento. Desconhecia a razão da construção de Vila Real de Santo António. Fazendo jus à Lei de Lavoisier, aquele concelho foi criado e o de Cacela (Velha) foi extinto. É assim a vida. Abraço. Carlos Traguelho

Francisco G. de Amorim 12.09.2020: Ideia boa, essa da placa

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