Nos presenteou com a sua “Floresta de Enganos”, de
burladores burlados, sua peça final, - e a própria Inês Pereira, burlada antes pelo mavioso escudeiro Brás da Mata, seu primeiro marido, enganará o segundo, o pacóvio e bem-intencionado Pero Marques, em avançados jeitos feministas. De
resto, o engano é coisa clássica, não nos condenemos assim tanto, já aqui foi
referida a farsa francesa medieval de “Maître Pathelin” onde advogado e
comerciante rivalizam na esperteza enganadora, superados pelo caricato pastor
que responde apenas com o seu “mé”. Lembro também o Don Juan Tenório, El
Burlador de Sevilla, perito nas suas falsidades amorosas… Que pode um primeiro
ministro e os seus esquemas de subserviência ambiciosa, contra os LFVs da nossa
praça, onde o futebol se reclama de um dos três FFF da nossa construção social,
económica e mental? Nada a fazer, temos os nossos “més” qb…
OPINIÃO: A lista de Vieira: da tragédia
à farsa em cinco dias
Os titulares de cargos públicos querem
honrar Vieira, mas é Vieira a tirá-los
da lista como se eles fossem desonrosos. É o mundo ao contrário!
RUI TAVARES PÚBLICO,
18 de Setembro de 2020
Eu
sei que é suposto a História dar-se primeiro como tragédia e repetir-se depois
como farsa, mas que diabo, ninguém me tinha dito que seria tão rápido. Na segunda-feira
caprichei a escrever sobre a inclusão de António Costa na lista da Comissão
de Honra de Luís Filipe Vieira como tragédia shakespeariana, com punhaladas
e discursos grandiloquentes, e eis que cinco dias volvidos tudo se desfaz em
farsa, com Luís Filipe Vieira a tirar inopinadamente da sua lista não só António Costa como os políticos que o tinham
decidido honrar.
A
tentação seria repetir também a dose, e em vez da tragédia chamada Júlio
César, que me serviu de mote na segunda, optar
agora por uma farsa, talvez Comédia de Enganos. Mas não vale a pena. Não há nada de mais elaborado a
dizer sobre esta reviravolta da história do que notar que a emenda conseguiu
ficar ainda pior do que o soneto. Ou seja, os
titulares de cargos públicos querem honrar Vieira, mas é Vieira a tirá-los da
lista como se eles fossem desonrosos. É o mundo ao contrário!
Tendo
em conta o coro de críticas à mistura da política com o futebol num tempo em
que sobre Luís Filipe Vieira impendem
suspeitas de interferência com a justiça, o que se esperaria seria uma de duas
coisas. Ou António Costa (porque é principalmente dele que se
trata, enquanto chefe do poder executivo) mantinha a sua posição de que estar
naquela lista fazia parte de uma parte da sua vida enquanto adepto
de futebol que é absolutamente irrelevante para a política,
pese embora a contradição aparente com o dever de reserva que ele recomenda aos
ministros. Ou então
António Costa tomaria em conta as críticas que lhe foram feitas e, dando-lhes
razão no fundo ou aceitando os seus argumentos na forma, diria que tinha
decidido retirar o seu nome da lista.
O que acabou por acontecer, não sendo
nenhuma dessas duas opções, pode parecer à primeira vista ter isentado o
primeiro-ministro de ter de fazer uma escolha, ainda para mais quando o
Presidente da República já tinha anunciado que este seria um tema da conversa semanal entre ambos.
O assunto parece assim encerrado, mas a verdade é que deixa um gosto amargo,
porque é precisamente ao primeiro-ministro que compete tomar este tipo de
escolhas, para o bem e para o mal.
Ao retirar com pouca cerimónia os
titulares de cargos públicos da sua lista de honra, Vieira acaba por reforçar a
ideia de que é o futebol que manda nisto tudo e que são os presidentes de clube
os únicos a poderem verdadeiramente tomar decisões, nos tempos que correm, sem
temerem consequências por parte da opinião pública. Mesmo
aí, Vieira teria podido tomar uma atitude mais cívica, e humilde, declarando
publicamente que lamentava a situação criada e que embora agradecesse a
disponibilidade dos titulares de cargos públicos em causa, os desejava
dispensar do compromisso que eles tinham assumido.
Mas as boas maneiras parecem não
fazer parte do acervo do presidente de clube de futebol. E foi assim que,
tratando o chefe de governo como um daqueles treinadores a quem se dá uma
chicotada psicológica dias depois de se lhe ter demonstrado confiança, Vieira
acabou por pôr e dispor das pessoas que o tinham querido honrar com os seus
nomes.
Se este episódio já revelava uma
estranha ausência do mais simples tacto político, agora ele acaba por ilustrar
uma problemática incompreensão dos valores republicanos. Não é, nunca por nunca
ser, um presidente de clube de futebol que “despede” um primeiro-ministro, nem
que seja da sua comissão de honra.
Se
António Costa foi surpreendido por esta decisão de Vieira, é mau. Se de alguma
forma sabia dela antes, é pior, porque nesse caso teria aceitado esta
menorização do cargo que representa. Prefiro
então pensar que tenha sido exclusivamente Luís Filipe Vieira a tratar os seus
apoiantes como objectos, assim como trata jogadores de futebol ou treinadores
ou, quem sabe, juízes. Mas mesmo assim isso diz muito sobre o tipo de figuras
deste mundo do futebol que as pessoas que faziam e fazem parte da comissão de
honra dele estão a honrar com os seus nomes. Eles emprestaram-lhe honra, ele
retirou-lhes dignidade.
Para onde quer que nos viremos, tudo
isto é triste, tudo isto existe, mas tudo isto é mais do que fado — ou futebol.
Para um país, ser farsa não deixa de ser também trágico à sua maneira.
Historiador;
fundador do Livre
TÓPICOS
ANTÓNIO COSTA LUÍS FILIPE VIEIRA FERNANDO MEDINA FUTEBOL JUSTIÇA SL BENFICA OPINIÃO
COMENTÁRIOS:
rosab EXPERIENTE: Esta gente pode encher-se de "adereços" tais
como belos carros, casas fantásticas, roupa da melhor qualidade e marca, tudo
para exibir cá para fora, mas não resulta. A meia-tigelice salta não para a
mesa do chic restaurante onde julgam ter direitos, mas sim para o chão da
taberna de onde nunca conseguiram sair. É aí que jogam como sabem, arrotando
com forte ruído o que julgam ser "orientação para pacóvio", mas que
depois de abanado e disperso no ar, o "pacóvio" dá-se conta de que
não passou de um...pum! Em pino!
Maria Odete Vilas Coutinho MODERADOR: Este é aquele típico caso em que a emenda é, de longe,
muito pior do que o soneto; agora é que piorar é impossível!! Pedro de
Souza INICIANTE: O mais inusitado
nessa história é a presença da palavra HONRA, que é um termo completamente
vetusto. 18.09.2020
DCM EXPERIENTE: São imensas as tragédias causadas pela presente
pandemia uma delas é a degradação do estado de saúde mental de grande parte da
população que tem grande dificuldade em entender e aceitar que, apesar dos seus
dramas, falta de dinheiro para máscaras ou até para comer, haja outros, cada
vez em maior número, que continuem a agir como se vivêssemos no melhor dos
mundos como por exemplo, gastar imensas fortunas em armamento cada vez mais
sofisticado ou até para comprar os mais caros jogadores de futebol .
José Cruz Magalhaes MODERADOR: O dirigismo desportivo não se pauta por critérios de
honra, urbanidade ou lisura de comportamentos. É um meio serôdio e promíscuo, em
que vale enlamear tudo e todos, em prol de sucessos pessoais e clubísticos. Se
António Costa o ignorava, é uma boa ocasião para aprender. 18.09.2020
joorge EXPERIENTE: Todos a serem gozados pelo Vieira e pelo Costa, mas
completamente gozados, e escrevem, escrevem, batem no peito, arrancam cabelos.
Eles gritam muito alto “vergonha, calamidade, horror, desgraça “ e a maior
parte das gentes acompanha o Vieira e o Costa na gargalhada. Isto é circo.
18.09.2020
Bárbara Oliveira INICIANTE: Andamos a ser completamente gozados pelo Vieira, pelo
Costa e, pelos vistos, pelo joorge e ainda, de acordo consigo, pela maior parte
das gentes. Mas nós já desconfiávamos... 18.09.2020
Parece-me
evidente que António Costa (AC) foi previamente informado, por Luís Filipe
Vieira (LFV), da sua exclusão da Comissão de Honra (CH). Se fosse
conspiracionistas, diria até que essa decisão foi concertada entre ambos ou,
inclusivamente, solicitada pelo primeiro-ministro como uma tentativa de sair de
mansinho, sem, mais uma vez, ter de assumir publicamente que errou e pedir
desculpas por isso (até porque é duvidoso que AC, ainda hoje, perceba o seu erro
de fundo, estando apenas atrapalhado com a dimensão mediática que o caso
assumiu). Ainda assim, AC foi menorizado pelo presidente do Benfica, em dois
momentos, que o usou, a seu bel-prazer. O AC primeiro-ministro, com outros
titulares de cargos públicos, foi despedido por LFV; mas, pergunto, o AC
cidadão, continua na dita CH? 18.09.2020
acandrade INICIANTE: Magnífico! R. Tavares no seu melhor. LFV
"usou" o PM de Portugal e o Pres. da principal Câmara do país, para
fins eleitoralistas. Se ver deputados da República, mesurosos e servis, à volta
de LFV já é deprimente, agora foi bem mais grave. Para culminar e como a coisa
se complicou, foram todos "chicoteados", como se fossem uma qualquer
equipa técnica. Humilhante sem dúvida. Perante a situação pandémica que
vivemos, como foi possível o PM, deixar-se arrastar para o mundo do futebol?!
Ainda por cima por um LVF, a contas (e que contas!) com a justiça? O Pres. do
glorioso Benfica não pode ser "isto"! 18.09.2020
DemocrataXXI EXPERIENTE: Encomenda ou rasteira ? A humilhação pública deste
script, a partir do dia em que o PR e Ana Gomes abriram a boca, estava
garantida. Que saídas restavam a Costa? Teve de escolher entre uma humilhante e
insuportável mea culpa pública, ou o endosso do trabalho a LFV. Na escolha que
fez, Costa só se esqueceu de dar umas dicas sobre retórica a usar por a LFV, e
na saída, tal como na entrada nesta história, o tiro saiu-lhe pela culatra.
18.09.2020
JORGE COSTA EXPERIENTE: Além de termos um primeiro-ministro inábil, sabemos
agora que temos um novo DDT, o não menos mediático Luís Filipe Vieira. Vivo num
País disfuncional, onde quem deveria governar não só é inapto como também é
inepto para o desempenho do cargo. Todos os dias temos histórias novas...
Vergonha!....
JDF
INFLUENTE: Há várias famílias mafiosas em Portugal...
não queiramos fazer do vieira o que ele não é: o único padrinho! 18.09.2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário