sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Outrora agora


Quando outrora eu levava o meu pequeno gira-discos vermelho com esta canção e outras de Gilbert Bécaud – e outros – para cantarem com ele e aprenderem melhor ao vivo, com a letra, o sentido favorecedor da alegria de viver, vindo lá de fora, com a sua relativização – precária, é certo – desse sentido da vida, que se coadunava com o pensamento adolescente das alunas - mal pensava eu que muitas décadas depois, uma transformação social tão vivamente a aplicasse, enraizada nos sentimentos dos condutores dos destinos de hoje, indiferentes ao porvir da nação, cada vez reduzindo mais as mentes, joguetes de um deixar passar arbitrário e mesquinho e fútil, que só não roça na pele desses condutores de rebanhos, autistas ambiciosos. Pobre mocidade que nem se dá conta, provavelmente, hoje, de ser assim manipulada, porque aplica à sua existência, inconscientemente, contudo, essa tal filosofia da preguiça que há muito lhe foi incutida, e continua a sê-lo, por interesse próprio dos que a incutem, auxiliados por pandemia propícia. Mas ainda bem que vão existindo homens conscientes, como Alexandre Homem Cristo a transmitir-nos alguma esperança – noutras flores…

L'important, c'est la rose

Toi qui marches dans le vent

Seul dans la trop grande ville

Avec le cafard tranquille du passant

Toi qu'elle a laissé tomber

Pour courir vers d'autres lunes

Pour courir d'autres fortunes

L'important...

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

Crois-moi

Toi qui cherches quelque argent

Pour te boucler la semaine

Dans la ville tu promènes ton ballant

Cascadeur, soleil couchant

Tu passes devant les banques

Si tu n'es que saltimbanque

L'important...

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

Crois-moi

Toi, petit, que tes parents

Ont laissé seul sur la terre

Petit oiseau sans lumière, sans printemps

Dans ta veste de drap blanc

Il fait froid comme en Bohème

T'as le cœur comme en carême

Et pourtant...

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

Crois-moi

Toi pour qui, donnant-donnant

J'ai chanté ces quelques lignes

Comme pour te faire un signe en passant

Dis à ton tour maintenant

Que la vie n'a d'importance

Que par une fleur qui danse

Sur le temps...

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

L'important c'est la rose

Crois-moi
Compositor: Paroles: Louis Amade. Musique: Gilbert Bécaud

O preço da incompetência /premium

Era escusado os mais novos pagarem pela incompetência do Governo, ficando sem dois dias de aulas, em nome de um nivelamento por baixo e da conveniência política de quem não cumpre os seus compromissos

ALEXANDRE HOMEM CRISTO        OBSERVADOR, 26 nov 2020,

Houve um tempo nesta pandemia em que a desorientação do Governo o encaminhou para medidas vistosas, mas discutivelmente ineficazes, com o propósito de mostrar serviço. Agora, a orientação ascendeu a um novo patamar: o da introdução de medidas inequivocamente sem eficácia, cujo propósito já apenas consiste no encobrimento da incompetência acumulada. A proibição de ensino à distância nos próximos dias 30 de Novembro e 7 de Dezembro é disso um exemplo gritante: o Governo impede as escolas privadas de darem aulas online nesses dias, não por motivos sanitários (os alunos estariam em casa), mas (presume-se) porque não poderia garantir igual continuidade educativa nas escolas públicas. Será esta uma defesa da igualdade? Não, é um nivelamento por baixo e uma manobra política: se os miúdos matriculados no privado tivessem aulas, o país perguntar-se-ia o porquê de o mesmo não acontecer no público — uma pergunta incómoda a evitar, uma vez que a resposta é simples: porque o Governo falhou. Ou seja, esta proibição prejudica os alunos, mas beneficia o Governo. Fica claro o que, na balança, pesou mais.

Recapitulemos. Nas próximas duas segundas-feiras não haverá actividades escolares presenciais. A decisão surge no seguimento da renovação do estado de emergência e das medidas para os fins-de-semana e feriados de Dezembro, com vista a impedir a circulação de pessoas nos dias de ponte. Percebe-se o objectivo de confinar nessas segundas-feiras, mesmo que seja fácil discordar da necessidade de fechar escolas ou desconfiar da eficácia da medida — de resto, o próprio Governo tinha adoptado a boa prática de evitar a todo o custo o encerramento escolar, precisamente por saber que a medida não justifica o dano causado aos alunos. Mas o problema maior revelou-se na tarde desta terça-feira: quando as escolas privadas anunciaram planos para manter actividades à distância nesses dois dias, o Governo apressou-se a agitar o texto do decreto e alertar para a proibição.

Primeira pergunta: será que o decreto impede realmente o ensino à distância nesses dias? A resposta depende da secção do decreto 9/2020. Se olharmos para o preâmbulo, a suspensão das aulas aparece explicitamente reduzida ao ensino presencial, pelo que seria possível o ensino à distância: nesses dias, estão “suspensas as actividades lectivas e não lectivas e formativas com presença de estudantes em estabelecimentos de ensino públicos, particulares e cooperativos e do setor social e solidário”. Mas, mais à frente, se lermos o artigo 22.º, a menção ao presencial desaparece: estão “suspensas as actividades lectivas e não lectivas e formativas em estabelecimentos de ensino públicos, particulares e cooperativos e do sector social e solidário”. Como desempatar perante a ambiguidade? Com bom-senso: para além de o sentido estar claro no preâmbulo, as normas excepcionais devem ser interpretadas de forma restritiva, de modo a limitar o dano causado. Ou seja, no plano legal, a posição do Governo é duvidosa.

Segunda pergunta: para quê impedir aulas online se escolas, alunos, pais e professores as tinham programado e as queriam realizar? O Governo não se quis explicar. E, sendo certo que o motivo não é sanitário, por mais que se pense no assunto não emerge resposta possível que não seja a da conveniência política. Com as escolas públicas encerradas devido à tolerância de ponto, a preocupação do Ministério da Educação foi bloquear o funcionamento dos privados e uniformizar por baixo os efeitos para todos os alunos — se uns não têm, nenhum pode ter. E, para além disso, quis salvaguardar-se de justificar a sua própria incompetência: se permitisse ensino à distância, ficaria com uma bomba-relógio nas mãos. É que, enquanto nas privadas há provas dadas de que o ensino à distância é viável, na generalidade das escolas públicas não estão ainda asseguradas as condições (equipamento, ligação à internet, formação dos professores) para o ensino à distância ser uma realidade proveitosa. Porquê? Porque o Primeiro-Ministro não cumpriu o prometido de ter tudo operacional no início de Setembro e, consequentemente, continuam a faltar meios tecnológicos a alunos e professores nas escolas públicas.

Os mais jovens têm sido das principais vítimas, não da pandemia em si, mas das medidas restritivas e de contenção. Perderam meses de aulas, o que inevitavelmente prejudicará a sua formação escolar e os seus horizontes futuros. Abdicaram das suas vivências de juventude e adolescência, ficando confinados num momento das suas vidas em que se testam limites, se forjam relações e se experimenta a liberdade. Deterioraram o seu bem-estar e a sua saúde mental, com consequências ainda imprevisíveis para a sua vida adulta. Com tanto dano acumulado, era escusado que os mais novos viessem agora também pagar o preço da incompetência do Governo, ficando sem dois dias de aulas, em nome de um nivelamento por baixo e da conveniência política do primeiro-ministro, que não cumpre os seus compromissos. Oxalá sejam muitas as escolas e os professores a contornar este bloqueio ilegítimo.

EDUCAÇÃO  PANDEMIA  SAÚDE  ESCOLAS

COMENTÁRIOS:  Leonardo d'Avintes: Os "serviços" públicos têm prioridades. Quando há conflito de interesse, o "serviço" público cessa de servir o público para servir prioritariamente grupos profissionais, sindicatos e partidos políticos. Não obstante serem estes serviços pagos pelos impostos de todos, os cidadãos são absolutamente desconsiderados nos seus direitos. Pagam e não bufam!          Pedro Mesquita Vasconcelos: Mas e ninguém tem coragem de perguntar quem são os únicos beneficiados com estas tolerância?       Francisco Correia: Esta geração de miúdos que está no ensino básico vai ser uma desgraça. Vão chegar ao secundário sem saber nada.     João Vicente > Francisco Correia: E os que estão no secundário vão chegar à universidade sem nada saber. Qual será pior?       João AdderJoão Vicente: E não é assim que lá chegam agora?      Romeu Francisco: "nos estabelecimentos de ensino" pressupõe estrutura física. Logo, o virtual, videoconferência ou simplesmente online não está incluído. Dar aulas não-presenciais não viola a lei.         José Tavares: É por isto que necessitamos de jornalistas, e de uma imprensa, livre, a bem da Democracia. Parabéns Alexandre!    Viriato Afonso: Não compreendo a surpresa e indignação com os nivelamentos por baixo decididos por socialistas. Não são os mesmos que sempre quiseram "acabar com os ricos"? Não temos exemplos recentes como não permitir a abertura dos grandes supermercados em horários diferentes para acomodar o recolher obrigatório? Não andou para aí um ministro a dizer que os sacrifícios são para todos (mesmo que não haja necessidade de sacrificar todos)? Socialismo é a distribuição de miséria e pobreza, e já existe há tempo suficiente para tal ser cientificamente comprovado.           Português Indignado: Esta decisão do Governo PS é profundamente idiota, estúpida e irracional. Faltam-me as palavras para descrever tamanha aberração.  O que me entristece mais ainda é a esmagadora maioria dos portugueses votarem nestas criaturas irresponsáveis e incompetentes. Cada vez mais ignorantes, pobres e dependentes do Estado, socialismo e ser socialismo. Será que os portugueses não são capazes de serem melhor do que isto ????????      Joao Figueiredo > Português Indignado A luz dos Açores dá-nos alguma esperança. é ver os esquerdistas da treta a espumarem ...         A V: Este nivelamento por baixo é antigo, mas agora serve apenas para que não seja ainda mais gritante a diferença entre público e privado. Dos filhos de amigos em idade escolar, só os do privado tiveram aulas com regularidade; os do público tiveram algumas horas com os directores de turma, subitamente transformados em enciclopedistas, e raramente tiveram mais do que os disparates que iam sendo papagueados naquela versão indescritível de teleescola... Enquanto a população não compreender que o facilitismo não é o caminho a seguir e que há que impor limites mínimos de qualidade para que todos tenham uma educação de qualidade, não há nada a fazer. Já agora, fala-se de os professores do público não terem recebido formação para dar aulas on-line, mas e os do privado receberam ou tiveram que as dar? E esta ponte é para quê? Ou há confinamento ou há vida normal. Agora promover pontes com alunos sem aulas e com pais que têm que ir trabalhar porque senão não recebem é, no mínimo, uma afronta. Digam-me lá quais são os alunos cujas escolas ficam noutros concelhos? É que os professores podem movimentar-se à luz das excepções previstas...       Viriato Afonso > A V: Pedir exigência e rigor ao tuga médio é como pedir tolerância religiosa a um taliban. Boa sorte!         Joao Figueiredo > A V: É verdade sim senhor, o meu filho que andou no privado até ao 9º ano, sempre que um professor faltava era substituído por outro, nunca esteve sem aulas. No público, o ano passado no 10º, esteve 6 meses sem matemática e biologia. Este no 11º esteve 2 meses sem Português e ainda não tem professor de Química, isto numa escola da aldeia de Lisboa ... é um fartote.          A V: Não diga mal do facilitismo. É graças a isso que num passado recente um colador de cartazes chegou a 1º ministro.         Joao Figueiredo: Não sei o que fizeram todos eles quando eram jovens, eu colei cartazes e não me desgraçou a vida, nem fez de mim menos homem e poderia eventualmente ser 1º ministro, tive tanta profissão na minha vida ... afinal todos os nossos primeiros tiveram uma vida muito facilitada. Troca Tintas > Joao Figueiredo: Pois, aqui o miúdo ia ficar no privado até ao 4º (está no 3º), depois disso, oficial. Desde o ano passado que acho que vai até ao 12º no privado. A vergonha é que os profs metem baixas de 1 mês sucessivas, por isso não podem ser substituídos. Lá vou eu ter que pagar impostos e fazer umas horas extra pro colégio do miúdo.       Filipe Fernandes: Concluiu muito bem Alexandre: "bloqueio ilegítimo".

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