Um homem preocupado: Jaime Nogueira Pinto. Uma conscienciosa mas serena análise histórico-política sua, a respeito de um povo pequeno, que vai deslizando servilmente atrás das baboseiras escancaradas desde tempos passados, e que as vaidades e ambições de governação sobretudo dos governos socialistas – (que abarcam uma enorme quantidade de adeptos à maneira da “união nacional”, fingindo condená-la, mas aplicando-a para benefício próprio, só com menos sentido patriótico do que aquele que a instalara) – que as tais vaidades e avidez, repito, usam, distorcendo os valores de um comunismo que aceitam, embora o saibam ultrapassado há muito, no seu dogmatismo de fachada. Um texto extraordinário, este de Jaime Nogueira Pinto, como todos reconhecemos, embora lavemos as nossas mãos, indiferentes às suas razões…. Coragem não é connosco, a não ser para exigirmos dinheiro de esmola alheia … Esse tal, de antigamente, pelo contrário, mostrava o cotão dos seus bolsos, mas pagou os débitos, diz-se, e juntou ouro, da exploração …
Das
direitas lembradas, esquecidas e para esquecer /premium
O mal maior, o grande perigo para a
Esquerda e para uma preocupada e vigilante direita liberal vem de Trump, do Chega
ou, agora, até do Dr. Rui Rio. Saberão onde está, de onde vem o perigo real?
JAIME NOGUEIRA PINTO
OBSERVADOR, 13 nov
2020
Houve
e há muitas esquerdas, mas também houve e há muitas direitas. Esquerdas
democráticas e totalitárias, patrióticas e internacionalistas, nacionais e
europeias, liberais e socialistas, religiosas e laicas, autoritárias e
libertárias. E o mesmo número de direitas, também nestas e noutras variantes:
direitas liberais e totalitárias, republicanas e monárquicas, conservadoras e
revolucionárias, religiosas e agnósticas. Talvez por isso, numa entrevista que
publicámos no nº2 do Futuro Presente,
o velho Prezzolini (cuja
admiração partilhei com um bom amigo e um grande representante da direita
nacional, católica e conservadora, João Bigotte Chorão) tivesse definido a Direita como “o conjunto
das Direitas, das que recordamos e das que esquecemos”.
Isto, no princípio dos anos oitenta, quando decidimos resgatar das
cinzas e dos destroços do Estado Novo e do PREC uma alternativa de pensamento
ao “antifascismo” da esquerda festiva, um antifascismo meio decadente, meio
soporífero, quase sempre utilitário, o “antifascismo” que ficara da Revolução,
morta no 25 de Novembro de 1975, duas semanas depois do fim oficial do Império,
a 11 de Novembro.
Esse Novembro de 1975 marcou o fim de
duas gerações de revolucionários e de duas utopias – uma que tinha
querido fazer do Império uma Nação, mas que chegara tarde. Outra que tinha
querido fazer uma revolução comunista em Portugal, uma década antes de
Gorbachev iniciar a liquidação da revolução soviética.
Fracassámos
uns e outros, também porque, a seu modo, estes dois projectos eram utópicos, ou
melhor ucrónicos. Ou as duas coisas. Já não faziam parte do tempo e do lugar.
Vinham tarde.
Percebemos hoje que fazer do Império
uma Nação – integrada, multinacional, descolonizada de dentro para fora –
depois do fim dos impérios europeus, era uma missão impossível. Estávamos já
fora do tempo, mas isso não impediu que o nosso projecto derrotado tivesse
deixado uma marca em todos – e foram muitos – os que nele participaram. E até
nos nossos inimigos de então. Do outro lado não sei, mas os comunistas
portugueses que, graças ao Dr. Cunhal, não embarcaram em eurocomunismos,
acabaram por ser os últimos sobreviventes desse mundo que caiu na Rússia com
Gorbachev e na China com Deng Xiaoping. E que também deixou marcas.
Foi nas cinzas do pós-salazarismo e do pós-marcelismo que nós, que
nunca tínhamos sido salazaristas e muito menos marcelistas, quisemos fazer uma
direita nova; e fazê-la à imagem das memórias e histórias da Direita do
Prezzolini, que abrangia todas as outras, como alternativa àquela neblina
viscosa que era o Centrão pós-PREC, àquela pobreza de ideias – pobreza não é o
termo, pobreza tem uma certa dignidade e conteúdo, por isso, corrijo –, àquela
indigência de ideias, de história, de narrativa, que então dominava e domina o mainstream
político-intelectual doméstico.
Nesse
princípio dos anos oitenta, os que tínhamos na Direita um pensamento
alternativo achámos que era o tempo da coruja, o tempo de pensar, o tempo de
preparar o tempo das lutas. Lembro-me muito bem de a Zezinha, que esteve comigo
nas guerras e exílios do fim do Império, dizer que, naturalmente, o que
devíamos passar a ser era uma espécie de corpos – não sei se vivos, se mortos –
entre um tempo e outro, entre passado e presente, pontes entre a tal nação
utópica e o futuro da “pátria de novo pequena”.
Foi por esse tempo que criámos o Futuro Presente e fomos
à procura das raízes teóricas e vivas de uma alternativa, não tanto já contra a
filosofia e à prática do totalitarismo comunista, mas contra o tentacular “antifascismo” do Centrão, na
sua versão liberal (que era a da direita
permitida) e esquerdista (que era a
do socialismo democrático, que enfrentava os liberais).
Entretanto,
passaram quarenta anos.
O comunismo nas suas várias formas – a soviética, a maoista, os goulags
terceiro-mundistas – desapareceu. Restam
umas sobrevivências – a Coreia do Norte, Cuba, a Venezuela. Mas levantou-se e está de pé um
marxismo cultural ou uma correcção política que, sem usar assaltos ao Palácio
de Inverno, campos de concentração, massacres, terror, vai ganhando terreno. E que tem por aliados, por toda a
parte, os politicamente correctos de todas as categorias, conscientes ou
inconscientes, activos ou passivos.
Também na Direita acabaram os nacionais-socialismos, os fascismos e
os autoritarismos, como acabaram as ditaduras militares da América do Sul. E nenhum dos partidos de direita
nacional e popular que vêm surgindo na Europa, partidos cujo crescimento é
eleitoral, com razões diversas segundo cada país, propõe ou deseja o fim da
Democracia, o silenciamento da oposição, o controlo da imprensa. Do mesmo modo,
sob os governos que lhes “dão seguimento” e para os quais a esquerda e alguns
inocentes úteis arranjaram o qualificativo de “iliberais” – como a América de
Trump, o Brasil de Bolsonaro, a Polónia ou a Hungria – funcionam as
constituições, há oposição, eleições e equilíbrio de poderes e contrapoderes. A
América de Trump, o Brasil de Bolsonaro, a Polónia ou a Hungria não são Coreias
do Norte, Cubas, Venezuelas ou sequer Chinas… E, no entanto, parece ser
daquelas democráticas “derivas direitistas” e não destas ditatoriais “derivas
esquerdistas” que vem “o grande perigo para a democracia”. O grande perigo é só um: o “perigo
fascista” ou o perigo da “democracia iliberal”. Iliberal porquê? Proíbe a
iniciativa privada? Proíbe a liberdade religiosa ou de expressão de pensamento?
Tem milícias ou polícias políticas?
A
Academia, que nas chamadas Ciências Sociais está quase monopolizada pelos que ali exercem uma estratégia de
hegemonia ideológica e um verdadeiro autoritarismo iliberal – que policia a linguagem e as ideias, que higieniza
a História, que seca o pensamento crítico, e, logo, todo o pensamento –, não
constitui qualquer perigo. O controlo e a manipulação da classe
jornalística, com o silenciamento e ocultação de alguns assuntos e o realce
calculado de outros, a adjectivação sectária, o partidarismo misturado de
ignorância, são também inofensivos. Como inofensivas e isentas de perigos são
as leis fracturantes discretamente negociadas e passadas como moeda de troca
por quem liberalmente nos governa.
Nada
disto é, aparentemente, perigoso nem preocupante: o mal maior, o grande perigo para a
Esquerda e para uma preocupada e vigilante direita liberal vem de Trump, do
Chega ou, agora, até do Dr. Rui Rio. Rio,
que até há pouco tempo, e para os mesmos direitistas vigilantes e apreensivos,
era demasiadamente tecnocrata, chegando mesmo a exibir alguns tiques de
esquerda, passou agora a ser um cruzamento de Kerensky e Hindemburg, abrindo,
via Açores, as portas da cidadela da democracia aos ratos da peste do nazismo,
do fascismo-salazarismo, enfim, do iliberalismo.
Saberão
onde está, de onde vem o perigo real? Quem é o amigo e o inimigo? O que é a
direita, o que é a esquerda, o que é o centro?
Não, o perigo é o Trump, é o
Orban, é o Bolsonaro, é o Chega. O Maduro, Cuba, o Fórum de S. Paulo, o PCP, o
Bloco, são parceiros democráticos, liberais, inofensivos.
Voltando a Prezzolini, há
direitas que lembramos, há direitas que esquecemos e há direitas que são para
esquecer.
Receba um alerta sempre que Jaime
Nogueira Pinto publique um novo artigo.
POLÍTICA EXTREMA
ESQUERDA EXTREMA
DIREITA
COMENTÁRIOS:
Francisco Albino: Muito bem! Ha
que por os pontos nos iis. Filipe
Paes de Vasconcellos: Parabéns! Fernando Almeida: Ė imposivel esperar mais.Conheço indivíduos licenciados
em denominadas " ciências sociais", cuja cultura ė zero .Se vamos às
areas tecnoĺőgicas, é um " terror'. O que esperar com um
"quadro" destes.? Lúcio
Cornélio: Que artigo absolutamente sublime este, de
Jaime Nogueira Pinto! Não estando eu em sintonia política com ele, sou liberal
e agnóstico onde ele é conservador e católico, sei que o perigo neste Brave New
World vem desta corrente, totalitária e imbecilizante, da suposta nova esquerda
de causas. Por várias razões não votarei Chega, mas não o diabolizo como, por
exemplo, embora o estilo do homem me irrite, nunca diabolizei Trump. Não é
altura para as pessoas que prezam a liberdade estarem com bizantinices. O
inimigo do pensamento livre e da sua livre expressão, o nazismo
"politicamente-correcto", já franqueou as muralhas da Cidade. Leonardo d'Avintes: A Grande Encenação realizadas após Novembro de 1975,
segue dura e crua. A Academia
levará décadas a inverter o declínio consequente ao pensamento único.
A mídia trocou a sua independência e
liberdade por 15 milhões de euros. Esta escolha levou a que cada vez tenham
menos leitores. Os políticos
de "direita" ficam traumatizados com o nome, Rui Rio incluído. Talvez
porque não sejam de direita, talvez por alguma covardia. Seja como for, lideram
Portugal para uma pequenez aviltante. Joaquim Rodrigues: A
verdade é que a antiga direita salazarista, está no actual sistema, sente-se
bem neste sistema, na companhia dos partidos do sistema, os quais controla a
seu bel-prazer. A ideologia dominante do “Sistema” vigente, é a ideologia
anti-liberal dos herdeiros de salazar/cunhal. Não foi por acaso que Sócrates
juntou, nas suas negociatas, ex- cunhalistas como o Mário Lino e ex-
salazaristas, como o Ricardo Salgado. Em Portugal, qualquer movimento
anti-Sistema passa pela afirmação de políticas liberais. Em Portugal, a
dicotomia direita/esquerda é apenas um expediente para “manter este sistema”. O
“chega” não passa de uma “excrescência” retardada da facção mais fascistóide do
Salazarismo, mas é um grupelho do “sistema” apenas tornado possível pela
decisão do Costa de, em desespero de causa, para salvar a sua carreira
política, se ter aliado ao BE e ao PCP. O Passos Coelho, apesar de ter tomado
algumas iniciativas liberais e de ter tomado muitas medidas correctas enquanto
governante, não soube, quando saiu do governo, construir uma estratégia
racional, sólida, coerente e sistemática de oposição e de Governação. Ficou-se
pelo discurso limitado do regresso do “Diabo” que, com o andar dos tempos,
passou a ser, cada vez mais, motivo de chacota do Costa. Foi aliás, quando se
tornou ridículo, aos olhos de todos, o discurso do “diabo” que o Passos teve
que abandonar a liderança do partido. Assim como o Costa esgotou o seu
reportório programático de governo com as “reversões” e, concomitantemente,
esgotou a solução governativa “geringonça”, também o Passos tinha esgotado o
“seu” programa com a concretização do programa da TROICA. Pena foi que tivesse
convencido a TROICA a não fazer a “Regionalização”, ao contrário do que
aconteceu na Grécia, que já hoje está a colher os benefícios dessa reforma.
Passos
esgotou-se. Costa está esgotado. Mas, um e outro, são “lideres” de
“conjuntura”. A questão principal em Portugal não tem a ver com estas
“direitas-esquerdas”. A questão em Portugal é o “Sistema” “Estatista” e
“Centralista”, típico dos “Estados Totalitários” do pós 1ª Guerra Mundial que,
por Portugal ter ficado à margem da 2ª Guerra Mundial, foi “perpetuado” pelo
Salazar e preservado e retocado no PREC pelo Cunhal, até aos dias de hoje. É
esse “Sistema Estatista e Centralista”, a “mãe” de todo o “compadrio e
corrupção” à volta dos poderes de Estado, dos negócios de Estado e do Orçamento
de Estado, que levou Sá Carneiro a erguer a bandeira da “libertação da
sociedade civil”, da “livre iniciativa privada”, da “igualdade de
oportunidades”, do “liberalismo económico” e da “descentralização”. Sá Carneiro
não foi assassinado por ser de Direita ou de Esquerda. Sá Carneiro foi
assassinado por ser contra o “Estatismo” e o “Centralismo”, a fonte de todos os
atavismos, compadrios e corrupção que estão a condenar Portugal ao eterno
atraso e a ser, a curto prazo, o País mais pobre da União Europeia. O resto são
"tretas" para manter o "sistema". Manuel F .: Excelente
artigo Manuel
F .: Excelente artigo. advoga diabo: Esta mesma crónica consubstancia de onde vem o real
perigo, daqueles que, sem nunca darem o "corpo às balas", pondo na prática
o que defendem na teoria, são os seus verdadeiros ideólogos. josé maria: agora
Jaime Nogueira Pinto, 74 anos, politólogo, escritor, empresário, conhecido
intelectual da direita radical portuguesa, defensor da administração Trump,
considera que as eleições americanas ainda não estão decididas: “Há recontagem
de votos, há processos a decorrer, há suspeitas de fraudes. O Joe Biden não
devia comportar-se como vencedor”, adverte Visão, 11/11/2020
josé maria > josé maria: Sempre pensei que JNP era um homem de cultura e
inteligência superior, incapaz de proferir esse tipo de dislate e de se nivelar
pelo pior que o trumpismo boçal e mentiroso tem. Afinal, equivoquei-me...
José Barbosa > josé maria: Da mesma forma que Al GORE contestou os resultados
eleitorais quando perdeu e exigiu a recontagem, só cedendo a vitória a Bush quando
o Estado da Flórida colocou um prazo para terminar a recontagem e os resultados
da mesma indicavam que nada se iria alterar. Nessa fase, ninguém criticou a
esquerda que representava AL GORE, principalmente, em Portugal. Digo isto,
considero Trump um mau presidente americano, os republicanos teriam muitas
melhores escolhas. advoga diabo: Esta
mesma crónica consubstancia de onde vem o real perigo, daqueles que, sem nunca
darem o "corpo às balas", pondo na prática o que defendem na teoria,
são os seus verdadeiros ideólogos. Nuno Morgado: Que falta faz este senhor na verdadeira direita
Portuguesa. ANTONIO
MADUREIRA: Obrigado por este artigo! Maria Nunes: Muito bom. Obrigada JNP. H Almeida > Maria Nunes: Subscrevo! José Dias: Subscrevo na íntegra e com aclamação! Jose Lima: Os meus parabéns! O Jaime Nogueira Pinto é uma voz
solitária na comunicação social, mas tem a atenção e admiração dos que querem
romper a “espiral do silêncio “. JORGE PINTO: Excelente! Obrigado! Gostava que JNP me ajudasse a
esclarecer as possíveis respostas à seguinte questão: Por que motivos a
juventude escolarizada urbana está “cultural-marxistizada” ou
“politicamente-correctizada”?
José Ribeiro > JORGE PINTO: “Mas
levantou-se e está de pé um marxismo cultural ou uma correcção política que,
sem usar assaltos ao Palácio de Inverno, campos de concentração, massacres,
terror, vai ganhando terreno. E que tem por aliados, por toda a parte, os
politicamente correctos de todas as categorias, conscientes ou inconscientes,
activos ou passivos” antónio
lencastre cruz > José Ribeiro: Estão
a esquecer o Gramsci...! Tiago
Ribeiro Coelho > JORGE PINTO: Porque
tem uma vida fácil e privilegiada e engolem tudo o que lhe enfiam na cabeça.
Se os jornalistas que deveriam ser os primeiros a
verificar factos e desmontar discursos não o fazem, está à espera que sejam
putos de 18 anos.
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