Ou mesmo só na minha terra… E ninguém
nos tira deste ancoradoiro – exploração, miséria, acusações, o costume…
Aprender com a América /premium
Não nos podemos esquecer da classe
média trabalhadora de baixos salários se queremos evitar que Portugal vote
também no seu Trump. Os sinais de radicalismo já os vemos, nomeadamente nas
redes sociais.
HELENA
GARRIDO OBSERVADOR, 09 nov
2020
O radicalismo
que se vive nos Estados Unidos tem de ser para nós uma aprendizagem. Para
evitarmos cometer os mesmos erros, imitando o que de pior tem a América. Joe
Biden vai tentar unir. Esperemos que consiga.
A
Europa está longe de ser os Estados Unidos, Portugal ainda menos, e ainda bem.
Mas nos últimos tempos assistimos a uma tendência para replicar aqui o que de
pior veio ao de cima na sociedade norte-americana com Donald Trump. É
preciso aproveitar este tempo para perceber o que levou Donald Trump a merecer
tantos votos, quem são e o que leva as pessoas a votarem numa pessoa com
aquelas características, que divide em vez de unir, que agrava problemas como o
racismo em vez de os tentar resolver. Têm existido diversos trabalhos que
tentam perceber porque votam cada vez mais pessoas em partidos xenófobos e
racistas, partidos que negam a liberdade individual de se ser quem se quer ser.
Um deles é o livro “The Lonely Century: Coming Together in a World that’s
Pulling Apart” de Noreena Hertz que escreve um artigo muito interessante no Financial
Times (aqui só
para assinantes – não li ainda o livro, li o artigo). A
solidão, o isolamento é identificado como uma das principais causas do
crescimento do populismo em linha com o que já tinha sido referido por Hannah
Arendt. A experiência
com ratos que, mantidos em solidão, atacam o visitante, tem sido igualmente
referido como fundamentando a tese do peso da solidão no crescimento da
intolerância. Se esta
tese estiver correcta, o distanciamento físico que temos de ter para
combater a pandemia alimenta ainda mais a intolerância que já se vinha
instalando na sociedade.
Ligado
ou não à solidão há um segundo aspecto que pode igualmente estar a
contribuir para a intolerância: o esquecimento a que foi votada a classe
média trabalhadora onde se integra também o grupo dos deserdados pela
globalização. Foi para estas pessoas que Donald Trump falou, como foram estes
eleitores que deram a vitória ao Brexit. Regra geral pessoas que vivem em
ambientes menos urbanos e em zonas onde indústria decaiu ao ritmo da crescente
globalização. Classe trabalhadora de baixos salários que foi
esquecida pelos políticos, mais preocupados com os pobres e desempregados ou
com os ricos.
Nos Estados Unidos temos ainda o
problema grave e sistémico do racismo, como podemos por exemplo perceber neste
trabalho da revista The Economist, em que as famílias negras que se mudam para bairros
de brancos vão preventivamente à esquadra da polícia mostrar as fotografias dos
filhos. Com estes exemplos cai a hipótese de estarmos perante discriminação
social, estamos perante racismo, com os outros a pressuporem comportamentos por
causa da cor da pele.
No
caso do racismo estamos longe de ser assim em Portugal e é um erro importar
linearmente os movimentos norte-americanos para aqui. Temos problemas para resolver? Sem dúvida. Temos de
pensar porque é que a ascensão social é, em Portugal, tão difícil. Quem
nasce pobre, seja branco seja de outras cores, dificilmente sai da pobreza. E
os que conseguem ascender, muito poucos, são em regra ostracizados pelas elites
urbanas. A forma como foram tratados Aníbal Cavaco Silva – apesar das suas duas maiorias absolutas e duas
vitórias em presidenciais –, assim como Pedro Passos Coelho, com exemplos de assimetria de avaliações para
comportamentos ou decisões semelhantes, mostra-nos bem como temos em
Portugal uma elite que funciona como um cartel. Também José
Sócrates, com todos os seus erros, foi apanhado
por esta discriminação. Mas o problema mais grave é aquele que ainda vamos
a tempo de corrigir, evitando também nós ter, a prazo, um Donald Trump. Temos,
urgentemente de pensar em políticas que sejam amigas da classe média.
Quando os partidos mais populistas criticam os apoios sociais, podem ter a
certeza que são ouvidos com atenção pela classe média trabalhadora de baixos
salários e pelos pensionistas que “descontaram uma vida” e sentem que as suas
reformas não reflectem isso. Quando nesta pandemia assistimos a criticas
sobre a forma como o Governo não contou com o sector privado na saúde, podemos
ter a certeza que a classe média trabalhadora os está a ouvir, já que muitos
deles ou têm seguros ou são funcionários públicos com acesso ao privado por via
da ADSE. Não se pense que são só os ricos que consomem os serviços de saúde
privado, também são, mas não são eles que fazem mexer o ponteiro.
As
preocupações que o Governo tem vindo a mostrar, por exemplo, com a construção
de habitação para a classe média vão no bom sentido, na linha do que temos de
fazer para que a classe média não se sinta cada vez mais esmagada por impostos
que não percebe para que servem, se tem de ter um seguro de saúde, não consegue
uma casa como gostaria e, frequentemente, tem de optar pela escola privada para
os filhos. Claro que
os mais pobres dos pobres têm de ter políticas de apoio. Mas não nos podemos
esquecer da classe média trabalhadora de baixos salários se queremos evitar que
Portugal vote também no seu Donald Trump. Os sinais
de radicalismo já os vemos, nomeadamente nas redes sociais. Pode ser apenas
isso, mas podemos também já não ir a tempo de transformar a raiva em
tolerância, o desafio enorme que Joe Biden tem agora pela frente. Vale mais
prevenir do que remediar e, para isso, é preciso voltar mais as políticas
públicas para quem trabalha.
POLÍTICA ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO
COMENTÁRIOS:
Maria Cordes: Helena, qual
radicalização? A que vai desfiando o rol de misérias desta demokrácia, como as
burlas dos senhores deputados, em relação à residência, as reformas e subsídios
dos mesmos, o enriquecimento ilícito, os sireps e Gamovs, as Raríssimas, o
family gate, o caso Robles, os submarinos e os sobreiros, a substituição da
PGR, a bancarrota da CGD pelos gestores e presidentes do CENTRÃO, o BES, as
PPP, o BPN, o esbulho dos obscenos impostos, a implosão do SNS, as burlas que
semanalmente aparecem à luz do dia, Tancos. Propositadamente, fui misturando
esta salada, a que estamos sujeitos há dezenas de anos, incompetência e
corrupção. E as redes sociais são radicais, o Ventura racista, o Sócrates uma
vítima. Tenha juízo, minha senhora.
Tuga Tesla: Radical és tu
e o comunismo. Que devia de ser erradicado do planeta, pelos milhões de
inocentes que matou e continua a matar. José Dias: A censura e o visto prévio atacaram em força e,
curiosamente, parece que de forma algo vesga ... Alberto Smith:Se calhar tem andado um bocado distraida com o que a
extrema-esquerda, a cavalo no golpe dos corruptos socialistas, tem andado a
fazer. Tal como na América, a extrema-esquerda dividiu já a sociedade
portuguesa de forma irreversível. E o cerne da questão está muito longe de ser
só o descalabre económico de ter uma ínfima parte da população produtiva a
sustentar parasítas e criminosos públicos e privados. A destruição premeditada
da sociedade portuguesa, enquanto comunidade cultural de valores, com a
imposição totalitária de uma nojenta agenda de subversão, jamais poderá ser
aceite por qualquer verdadeiro português de mente sã e recta. Todo esse lixo
asqueroso tem que ser varrido do mapa. Nada mais. Maria L Gingeira: Os “esquecidos” da América preferiram Trump ao
candidato dos ricos. Joe Biden vai unir o quê? Os mal tratados e revoltados com
o cinismo do politicamente correcto, trumpistas convictos, à nova esquerda
americana agora liderada por gente que esconde os mais perversos jogos de
poder? Ao menos Trump sempre se mostrou como é. Já cá temos os nossos Trump. Só que estes vestem pele
de cordeiros. As pessoas andam muito enganadas com os poderes que se movem no
submundo da política. Mas quem está em condições de perceber os mecanismos
usados para enganar tolos, não pode fingir que está tudo bem. Tem a obrigação
moral de lutar pela verdade.
h J: Uma pessoa da classe média em Portugal será um pobre nos EUA....é
triste....e paga impostos que nunca mais acaba. Quanto a habitação para a
classe média, mais vale cobrarem menos impostos para que as pessoas possam
comprar a sua habitação. Quanto dinheiro se perde em actividades de pouco valor
acrescentado? A classe média paga impostos e não consegue comprar uma casa?! E
o Estado vai atribuir casas para a classe média? Com que critério? Para os
filhos e enteados do PS que não conseguem comprar casa no centro da cidade a que
sentem que tem direito? Gasta-se imenso na máquina para cobrar impostos, na
máquina para redistribuir, no processo todo...Menos Estado, menos actitivdades
administrativas para pagar, e menos impostos e mais dinheiro no bolso de quem
trabalha provavelmente e uma melhoria para todos. Luis Ferreira: Tenho a Sra Helena Garrido em
boa conta, em muito boa conta até. Mas está confundida nos pressupostos;
pessoas como eu, com 25 anos de descontos, com rotina de chegar às 7:30 ao
trabalho e sair às 18:30 ou 19:00 todos os dias, pagar à cabeça 40% do ordenado
em impostos directos, mais os indirectos e as taxas e os sobre o património e,
e, e... eu não estou pelo racismo nem xenofobia, estou contra a corrupção e
contra a estratégia do socialismo de pôr metade de nós a trabalhar para a outra
metade, com a utilização dos rendimentos do meu trabalho para subsidiar
dependentes do estado e “avençados”, com e sem vínculo! Leonardo d'Avintes > Luis
Ferreira: Metade de nós a trabalhar para
a outra metade!? Amigo, somos 4,5 milhões a trabalhar para 750 mil. Se fossem
mais, o último já tinha desligado a luz! Francisco Correia: Populista é o Costa que com as
sua políticas vai levar Portugal à quarta bancarrota. Alcides
Santos: Portugal? eu
diria que tem de aprender com América e alguns países mais pois na realidade os
salários foram e são sempre muitos baixos e a culpa? não é só do Ps Psd ou
outro partido qualquer. O problema é muito diferente de alguns países europeus,
há vários problemas de Portugal ao mercado de trabalho, tais como grupos de
trabalho temporários como? Agências que exploram centenas de milhares
trabalhadores pagando não só salários baixos como também ainda recebem do
estado quantias, sei do que falo muitas dessas empresas são de filiados dos
partidos seja Ps ou Psd a competitividade no sector laboral nunca pode ser como
tem sido por longas décadas, os baixos salários provocam a saída do país de
muitos jovens. Jovens que são uma mais valia ,ao sair de Portugal? nunca tem
vontade de regressar é a realidade, vou dar um exemplo: 2019 - havia
enfermeiros a ganhar pouco mais de 4 euros à hora muitos procuraram trabalho no
Reino Unido, como também noutros países, e esta pandemia veio mostrar a inércia
de todos os políticos, a justiça para resolver casos de abusos das entidades
patronais demora 3 anos ou mais, coisa que prejudica os cidadãos como também
não deixa desenvolver o país acordem para a vida ou então vivam o marasmo que
criaram . Paulo
Guerra: Claro que seja
que regime for que não corresponde aos anseios das populações corre sempre
riscos. O problema é que Portugal não pode fazer nada contra a principal fonte
da maioria dos problemas. O neo-liberalismo desregulado que beneficia
meia-dúzia em desprimor da esmagadora maioria das pessoas. Nem a UE como um
todo quanto mais Portugal. Quanto muito a UE podia e devia ser mais protectora
e sobretudo solidária com as economias mais expostas à desregulação dos
mercados financeiros. Como logo a seguir à crise do subprime. A crise das
dívidas soberanas é uma criação pura e dura da UE. Que nunca devia ter
permitido que os EUA exportassem a sua crise financeira para a Europa com
consequências económicas terríveis e inevitáveis. A gula dos mercados mais uma
vez criou o problema e ainda pôs os mais frágeis a pagar a factura à medida que
ainda iam perdendo direitos. Para variar. De resto as agendas populistas têm
sempre só 3 ou 4 pontos fundamentais. Também daí ser uma agenda muito
facilmente apreendida pelos mais deserdados. Nacionalismos bacocos, nostálgicos
do passado é que era bom, securitária por mais seguro que seja o país como
Portugal. Mas sobretudo a corrupção e os mais fracos contra os mais poderosos. E
por incrível que pareça o estado Social é que ainda é sempre o mais corrupto.
O Estado Social que é a única instituição que promove o elevador social e
com ele a possibilidade de todos ascenderem e o único que vale realmente aos
mais desprotegidos durante as maiores crises económicas. Como aliás
Portugal ainda não parou de ver desde a crise do subprime. Contra os demagogos
que acordam preocupados com o défice e deitam-se a pensar que o SNS tem que ser
mais reforçado. Como actualmente Rio, que pugna por mais investimento público e
menos défice. Um milagre à altura da multiplicação dos pães. Uma coisa é certa,
nunca vi nenhum populista demagogo vencer eleições com as populações a viver bem.
É sempre quando tudo descamba que os populistas encontram o terreno mais
fértil para espalhar a banha da cobra. Não estamos a viver nada, neste
princípio do séc. XXI, que não tenhamos vivido no princípio do sec. XX. Onde
depois do Crash de 1929 se compreendeu rapidamente que qualquer economia de
mercado só funciona bem para todos com regras públicas muito claras. O que viria a ser denominado
como economia social de mercado. Porque os mercados não se regulam simplesmente
per si como já dizia o maior mito do liberalismo económico clássico que
funcionava à base de mãos que nunca ninguém viu. E o Mundo só voltou a passar
pelas mesmas dificuldades por causa de toda a desregulação promovida pela filha
de um pastor em Inglaterra e um actor de cinema nos EUA. Que conseguiram
destruir de um dia para o outro aquilo que a esta distância já pode ser
considerado como o pináculo da nossa civilização. Uma civilização
verdadeiramente livre e muito mais justa. E muito mais integradora no sentido
em que não deixava mesmo ninguém para trás na verdadeira acepção do termo. Sem
agências de rating e paraísos fiscais e com toda a riqueza mundial muito mais
distribuída. Francisco Gonçalves > Paulo Guerra: As voltas que você deu para dizer que a culpa dos
nossos problemas é sempre dos outros. Irra! Se trabalhar com o zelo que revela
a arranjar desculpas, não se preocupe, vai prosperar. Paulo Guerra > Francisco
Gonçalves: Vamos falar de assuntos
concretos em vez de mitos ideológicos que te toldam a cabeça. Achas por exemplo
que é Portugal sozinho que se vai opor à tremenda desvalorização do valor
trabalho a nível global a que assistimos nas últimas décadas e a que qualquer
social-democrata se deve opor e que também se prende directamente com a
preocupação fundamental do artigo da Helena Garrido - o desaparecimento da
classe média – com todas as implicações que daí resultam para qualquer
economia? Não passas de uma criançola ingénua fascinada com o empreendedorismo
individual e o capitalismo e o liberalismo laissez-faire que da vida, de
economia e de como tudo se processa no mercado de trabalho sabes zero!
ANTONIO
MADUREIRA: Espanta-me o
primarismo da sua análise, achando que o aumento dos rendimentos da classe
média trabalhadora evita que este pobre país de mão estendida vote no seu Trump
- será o André Ventura? Aqui está mais um inimigo a abater pelo politicamente
correcto, de que o seu artigo é um óptimo exemplo! Alfaiate Tuga: Nos Estados Unidos a maioria
dos eleitores estão preocupados com a saúde da economia, que quando de boa
saúde lhes proporciona emprego e rendimento ao final do mês e quando atravessa
períodos de pior saúde lhes traz desemprego e falta de guito para pagar as
contas. Em Portugal a maioria dos eleitores (pensionistas e funcionários
públicos e seus familiares directos) está preocupado em saber se o estado
arranja dinheiro para lhes manter o salário ou pensão, de preferência sem
cortes e se possível com aumentos. Não podemos comparar os dois países, Trump
foi eleito prometendo melhor economia e emprego, por cá os partidos que deram
origem à geringonça obtiveram votos prometendo reversões de cortes em pensões e
35 horas para a função pública e mais um leque de nacionalizações que agora
estamos a pagar caro, como a TAP por exemplo, como para pagar estas promessas
foi preciso dinheiro, a carga fiscal nunca baixou e a dívida pública ainda
subiu, incentivo à economia zero, andam agora aos bonés com a crise do COVID, e
se não fosse com o Covid seria com outro percalço qualquer ao qual pudessem
atribuir responsabilidade externa , pois a culpa dos problemas é sempre
externa. Portanto caríssima articulista, fique descansada que por cá o
eleitorado está de tal forma carregado de dependentes do estado que os
candidatos que defendam a economia não conseguem mais de 20% ou 30% dos votos,
pois para incentivar a economia teriam de baixar impostos e para tal seriam
obrigados a ir ao bolso e horário de trabalho dos dependentes do estado, e isso
só vai acontecer quando formos forçados a fazê-lo na próxima pré bancarrota,
mas mesmo assim a contra gosto e só pelo período estritamente necessário para
voltarmos ao regime das reversões... Estamos muito mais perto da Venezuela do
que dos Estados Unidos, portanto temos é que a prender com os venezuelanos e
não com os americanos.... ………………………….
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