É por o nosso Primeiro estar entalado, a
necessitar do PCP como
apoiante das suas manigâncias governativas, que tem que ceder às pressões de J.S., segundo o P. Gonçalo Portocarrero de Almada, que o condena, naturalmente, e usa o
paralelo com os tais bretões, o que fez irar alguns comentadores, que só vêem
real camaradagem nesses, não sendo o caso de Jerónimo de Sousa que é essencialmente glutão - embora por amor do seu
povo, acho - menos que o Obélix, todavia,
ávido de javalis, por amor-próprio. O certo é que a Covid veio causar danos na
nossa aldeia lusitana ainda piores que os romanos de Júlio César na tal aldeia bretã, e os nossos
guerreiros usam as suas próprias artimanhas lutadoras, por falta de um
caldeirão de força bruta, como aquele em que mergulhou Obélix em pequenino. Chacun son goût, é o que
é. O certo é que há sempre um caldeirão propício, para glutões.
A irredutível tribo de Jerónimo e o
Natal /premium
Quando Trump e Bolsonaro desconsideram
a pandemia, todos condenam a sua inconsciência homicida, mas quando o PCP se
nega a adiar o congresso, ninguém lamenta a sua insensibilidade sanitária.
P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA
OBSERVADOR, 28 nov 2020, 00:0714
Segundo uma famosa banda desenhada,
Júlio César, apesar de ter conquistado a Gália, não conseguiu dominar uma
pequena aldeia de irredutíveis gauleses.
O
mesmo se diga de uma tribo de peles-vermelhas que, na Lusitânia, resiste ao
regime imposto pelo Governo, à conta da actual pandemia. Também são
irredutíveis mas, ao contrário dos gauleses, são nómadas: tanto estão na margem
sul do Tejo, onde fizeram, em Setembro, o seu arraial anual, como do outro lado
do rio, em Loures, onde decorre agora o seu congresso. Enquanto os demais
cidadãos estão proibidos de sair das suas casas a partir das 23h, bem como nas
tardes do fim-de-semana, esta tribo faz o que muito bem quer e lhe apetece,
porque Costa, o grande chefe índio que faz gato sapato dos católicos, não se
atreve a pô-los na ordem.
A razão, que levou as autoridades
sanitárias e políticas a uma tão severa limitação da liberdade de circulação
dos lusitanos, é a epidemia, que grassa por todo o império e para a qual ainda
não há poção mágica. Apesar dos
números inquietantes de infectados, internados e falecidos, nada faz demover
Jerónimo, o grande chefe desta irredutível tribo. Há quem diga que, tal
como Obelix, o lendário fabricante de menires, também Jerónimo caiu no
caldeirão em que Cunhal, o velho druida, cozinhava a poção que, por sistema,
convertia as derrotas eleitorais em grandes vitórias.
Quando
Trump e Bolsonaro
desconsideram a epidemia, não faltam vozes que condenem o que dizem ser uma
criminosa inconsciência, uma enorme falta de respeito pela saúde pública, um
insuportável desprezo pela ciência e uma insultuosa arrogância política. Mas,
quando o irredutível Jerónimo
é inflexível em relação ao festival de verão da sua tribo, ou se nega a adiar o
congresso tribal, ninguém lamenta a sua irresponsabilidade sanitária, nem a sua
ignorância científica, nem a sua prepotência política.
A indiferença de Jerónimo e dos seus
irredutíveis peles-vermelhas pela saúde pública obedece a uma razão ideológica.
Com efeito, o comunismo não é um humanismo, mas uma ideologia totalitária. O
alegado ‘preconceito anticomunista’, de que Jerónimo se queixa, mais não é do
que a liberdade e dignidade humanas. A
ditadura do proletariado, responsável por cem milhões de mortos, tanto despreza
as liberdades burguesas – que outra coisa não são do que as liberdades
democráticas – como desrespeita a vida humana. Para o comunismo, como para o
nazismo, só o todo interessa – por isso são, com propriedade, regimes
totalitários – e, portanto, os indivíduos são descartáveis.
É
lógico, por isso, que uma infecção global, por letal que seja, não aflija estes
peles-vermelhas. A sua desconsideração pela saúde pública é, afinal, uma
atitude coerente com a sua ideologia totalitária: quem imagina Hitler, ou
Stalin, preocupados com uma epidemia, se tanto um como o outro mataram milhões
de inocentes?!
É
verdade que Jerónimo e os seus camaradas não incorrem em desobediência civil,
porque a lei lhes concede este privilégio, que foi negado às confissões
religiosas e outras entidades, decerto mais representativas e necessárias à
sociedade do que aquela pequena tribo irredutível, já extinta em quase todo o
mundo livre. Mas, mesmo tendo esse direito, a realização do seu congresso é um
péssimo exemplo e um perigoso precedente.
Pede-se, aos partidos políticos, exemplaridade cívica e moral. A realização deste congresso partidário significa,
na prática, que os seus dirigentes e militantes não respeitam os portugueses
que já morreram deste vírus, nem os que estão de luto, nem os que estão
doentes, ou têm familiares que o estão, nem os que estão confinados, nem os que
sofrem na pele as consequências económicas da crise.
Quem
não pode visitar um seu familiar internado, ou num lar, como encara este
congresso?! E quem
se viu proibido de participar no funeral de um seu ente querido?! Quem não pode
sair de casa, nem sequer para visitar os seus pais, ou filhos, pode aceitar que
uns quantos privilegiados, em pleno estado de emergência, circulem livremente
pelo país, para participar num congresso partidário?!
É também um péssimo precedente. Tendo-se
cedido, mais uma vez, a este capricho partidário, já não se pode negar, a
nenhum outro partido, a realização de um congresso, arraial ou manifestação,
não obstante o estado de emergência.
Quando
os órgãos de soberania cedem ante uma tribo política minoritária, que
legitimidade têm para proibir as celebrações religiosas da crença maioritária
no nosso país?! E com
que direito proíbem actividades, como a restauração, pondo em risco postos de
trabalho e ameaçando gravemente a subsistência de não poucas famílias?!
Mas
também é – valha-nos isso! – um sinal de esperança para os cristãos, já tantas
vezes ludibriados pela habilidosa manha dos actuais governantes. Primeiro, disse-se que não se podia celebrar a
Páscoa cristã, mas depois houve a cerimónia comemorativa do 25 de Abril, na
Assembleia da República. Disse-se que não podia haver 13 de Maio, em Fátima,
mas houve o primeiro de Maio, na Alameda D. Afonso Henriques, com a
participação de manifestantes vindos ‘ao molho’, em autocarros fretados para o
efeito. Não houve santos populares, mas sim a festa do ‘Avante!’, nos
princípios de Setembro. Disse-se que, este ano, não podia haver romagens aos
cemitérios, no dia dos fiéis defuntos, mas autorizou-se a realização do
congresso do PCP, em Loures.
Houve
quem falasse em ‘repensar’ o Natal, sem família nem Missa do galo, mas, graças
a Jerónimo e aos seus irredutíveis peles-vermelhas – não em vão Jesus Cristo
disse que “os filhos deste mundo são mais sagazes que os filhos da luz” (Lc 16,
8) – o Natal em família e a correspondente celebração
eucarística estão garantidos. Com
efeito, se o grande chefe índio, mais uma vez, proibir a sua realização,
bastará recorrer à mítica poção mágica e converter a consoada numa sui generis manifestação
da CGTP, e a Missa do galo num atípico congresso do PCP. Portanto, avante
camaradas!
PANDEMIA SAÚDE PCP POLÍTICA CONGRESSO PCP
COMENTÁRIOS
Zé Tulipa: Na muche Sr.
Padre. Obrigado pela excelente crónica.
Rui Fernandes: Adorei este texto Jose Miguel Pereira: Ninguém lamenta a insensibilidade
sanitária do PCP, Senhor Padre?... Nos tempos que correm, não me atrevo a
recomendar-lhe sair um pouco mais de casa, mas talvez possa ligar a televisão,
ou dar uma olhada às páginas online dos jornais, incluindo aqui a do Observador. Leonardo d'Avintes: Lamentável, para lá da realização do congresso
comunista nesta data, é a comparação de Jerónimo a Obelix. Por Santorix, isso é
um sacrilégio! Jerónimo lidera um bando de traidores, mentirosos, hipócritas
sem qualquer pingo de decência. Os gauleses são o oposto. josé maria: Eu contesto a realização do congresso do PCP, mas há
uma enorme diferença entre os eventos realizados por esse partido, de forma extremamente organizada,
onde todos usam máscara e cumprem rigorosas medidas de distanciamento e os
eventos, já realizados, do Chega, onde essas regras não eram exclusivamente
observadas. Além do mais, como é que o colunista tem a desfaçatez de criticar o
PCP quando o Igreja Católica também organizou recentemente o 13 de Ourubro, com
peregrinos e regras de segurança e já não suscitou nenhuma objecção a esse
evento religioso ? Que raio de comportamento é esse? Muito católico
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