Conclui-se deste texto de António Barreto, como
sempre, pondo os pontos nos ii, com a racionalidade analítica de sempre.
OPINIÃO: Basta de Chega!
Não fosse o acolhimento que os partidos estabelecidos
lhe reservam e o Chega estaria hoje reduzido a um grupelho passageiro.
ANTÓNIO
BARRETO PÚBLICO, 14 de Novembro de
2020
Nunca tal se viu! Um partido, com um só deputado, provoca verdadeiros
terramotos na vida política nacional! Ocupa debates parlamentares e canais de
televisão, artigos de jornal e comentários de rádio. A vida política e a
imprensa ofereceram assim, gratuitamente, o maior investimento em comunicação a
que jamais um partido poderia aspirar.
É
verdade que se trata de um partido, ou antes, de um deputado com raras
qualidades de demagogo e de oportunismo e que usa com mestria uma espécie de
vacuidade de pensamento com garantidas consequências epidérmicas e
temperamentais. Mas nada justifica tanto barulho. Nada, a não ser os
defeitos dos democratas registados e dos políticos consagrados.
Muitos
democratas, como alguns do PSD, receiam o Chega e pensam que aceitá-lo é a
melhor maneira de o condicionar. Muitos democratas, como alguns do
PS, temem-no e pensam que denunciá-lo com veemência, como se ele tivesse votos
e exércitos, é suficiente para o limitar. As esquerdas, como algumas do PCP, do
Bloco e até do PS, estão convencidas de que denunciar, segregar, banir e
eventualmente proibir são as soluções para este problema. Todos, por junto e
atacado, consideram o Chega “uma ameaça”. Fracas entidades que assim se sentem em perigo!
É
curioso que a maior parte dos que precedem não perceberam que são exactamente
esses tratos que permitem que o Chega cresça! Não fosse
o acolhimento que os partidos estabelecidos lhe reservam e o Chega estaria hoje
reduzido a um grupelho passageiro. Todos, mais ou menos democratas, de esquerda
ou de direita, incapazes de ver os seus erros e os seus defeitos, não percebem
que são eles próprios, em grande parte, a causa dos Chegas deste mundo. Se
quiserem encontrar algumas das verdadeiras causas do Chega, procurem em São
Bento. Realmente, o Chega não é grande
coisa. Nem política nem esteticamente. Nem doutrinária nem culturalmente.
Procurem-se argumentos e reflexão, tente encontrar-se uma doutrina,
experimente-se detectar elementos de identidade e de reconhecimento e
rapidamente se perceberá o imenso vazio, a inconsequência confrangedora e o
comportamento reduzido a tiques previsíveis e a reflexos próprios do grau zero do pensamento. Então, o que
faz com que o Chega exista? Nasce por defeito. Quem faz o Chega? Os defeitos dos outros e os seus próprios.
Os defeitos dos outros são os erros da
democracia e dos democratas. O cosmopolitismo exacerbado pela globalização
fragmenta os sistemas políticos nacionais. A perda de sentido de identidade
desenraíza cidadãos. Para as democracias estabelecidas, especialmente
europeias, é quase crime procurar o “seu país” ou a “sua comunidade”. O
desprezo pela história transforma os cidadãos em apátridas. Os sistemas
políticos desumanizados vivem de artifícios, de encenação e de propaganda que
põem em causa qualquer forma de sinceridade. O amor pelo dinheiro e pelo êxito
a qualquer preço, próprio da economia, contaminou a política. A desigualdade
social e económica crescente é particularmente severa em tempos de crise. A
corrupção e o nepotismo desnaturam a democracia. A insuportável arrogância de
muitos democratas aliena cidadãos e eleitores. A intolerável superioridade
intelectual de tantos políticos mete medo ao cidadão comum. O descontrolo dos
movimentos de populações e a impotência política perante as migrações criaram
sentimentos de insegurança difíceis de contrariar. O crescente desprezo pelo
trabalho e pela dignidade do cidadão na sua comunidade e no seu país reforça o
sentimento de alienação. Eis algumas das causas do Chega.
Os defeitos próprios são mais
conhecidos. Os ambientes de crise da democracia, da economia ou da sociedade
são particularmente propícios ao surgimento de reacções salvadoras e
justicialistas. Do clima de incerteza nascem pulsões regeneradoras ou
vingativas. A que não faltam preconceitos e erupções irracionais. O Chega
comunga desses defeitos todos, sem ter a doutrina, a solidez e a consistência
de outros movimentos e grupos afins, uns de esquerda, outros de direita. O Chega quer
o óbvio automático: arrasar os partidos, limpar o Estado e a Administração
Pública, castigar os corruptos, sanear a justiça, dar novo orgulho à nação,
demitir os políticos e dar voz ao verdadeiro povo. O Chega bate na tecla do
nacionalismo, o mais velho reflexo condicionado para tempos de crise. O Chega
procura, em certas formas de racismo e de machismo, os necessários sucedâneos
do espírito e da doutrina. Do ponto de vista do pensamento e do programa, o
Chega é filho de pais incógnitos.
Erra quem quiser banir o Chega. Como
também erra quem quiser aliar-se ao Chega. Mas essa decisão é política e quem a
tomar paga as consequências
Dito isto, o Chega tem todo o direito
à existência e à sua actividade. Mais uma vez se repete: a democracia é o
regime de todos, incluindo os não democratas e os anti-democratas. Erra quem
quiser banir o Chega. A livre existência de partidos políticos e movimentos não
pode ter barreiras, a não ser as da lei. Esta última só pode punir, castigar ou
proibir comportamentos, actos e factos ilegais, ilícitos ou criminosos. Não
pode sancionar ideias, palavras, expressões ou pensamentos. Como também erra quem quiser aliar-se ao Chega. Mas essa
decisão é política e quem a tomar paga as consequências.
Como já se percebeu, socialistas e
social-democratas renunciam às maiorias absolutas parlamentares de um só
partido. Como fogem dos governos de “grande coligação”, procuram, cada um de
seu lado, soluções para formar governo. Começam a
ganhar consistência as soluções que sugerem a formação de um grande bloco da
direita, incluindo o Chega e a IL, enquanto se forma um grande bloco das
esquerdas, com o PS, o BE, o PCP, os Verdes, o PAN e não se sabe mais quem.
É o pior que se pode fazer! Não resolve o problema da eficácia do
governo. Não dá soluções pragmáticas para a economia. Não encontra recursos para a protecção social. Reconhece a
extrema-direita e a extrema-esquerda como forças integradoras da democracia,
isto é, do governo. Em vez de evitar o crescimento de extremos não
democráticas à direita e à esquerda, é-lhes dado alento para fazer parte dos
governos. E o direito de trazer para a política nacional limites aos direitos
dos cidadãos, assim como oposição à integração europeia e à política de
alianças externas de Portugal.
Sociólogo
TÓPICOS: PARTIDOS POLÍTICOS DEMOCRACIA EXTREMA-DIREITA ANDRÉ VENTURA CHEGA PORTUGAL ESTADO
COMENTÁRIOS:
pjbrito.951271 INICIANTE: O Chega é o electrão-livre que faltava para dinamitar
todo o espectro político da esquerda moderada (incluindo PS de Assis et al.) ao
CDS-PP. Alimenta-se do sangue que vai sugando aos descontentes. Mas só cresce
em função da importância que lhe vão dando, da esquerda à direita. 15.11.2020 filipeluis.marques EXPERIENTE: O Chega só chega, pela geringonça, pelo que Costa é o
corresponsável. Não tenho dúvida que o Costa para se manter, se fosse
necessário negociaria com esse partido. No caso dos Açores é dito que é um
arranjo da dita direita pelo que o chega está no lote, falta dizer que é golpe.
O estranho, dada a posição do PAN na geringonça e contínua bajulice ao PS,
digna-se ao papel de infiltrado de esquerda no dito governo de direita
açoreana. António Pais Vieira INICIANTE: Totalmente
de acordo. Mas todos sabemos quem abriu a caixa de Pandora em 2015, quando colocou
a sua carreira política à frente dos interesses de Portugal e até do seu partido
no longo prazo. Mas como já nos habituou, tal como aconteceu nos incêndios, em
Tancos ou no COVID, o responsável sorrirá e vai declarar o assunto por
encerrado. Ventura Melo Sampaio INICIANTE: Basta de enganar o povo pois marxismo= comunismo= leninismo=
stalinismo= hitlerismo= nazismo= maoismo= polpotismo= castrismo sempre desejos
de partidos de parasitas a favor duns poucos. Na China são 96 milhões para um
povo de 1400milhões. Povo sem qq liberdade. A alguns até o direito de respirar
é-lhes negado e interdito ... Deixem de enganar o povo que quer liberdade e
Bem-estar individual e colectivo. O povo não deseja ser governado por
ideologias castradoras que confunde interesses duns pouco contra todos os
outros .... 14.11.2020 francisco cruz EXPERIENTE: Lamentável tanta ignorância!
Você, ou nada entende de História Política, ou é alguém de má fé. Inclino-me
para a hipótese 2. O marxismo só existiu em teoria política no papel. O
comunismo jamais teve lugar na ex URSS ou na actual China. Nestas nações a
prática política foi e é uma nomenclatura oligárquica (ditadura) corrupta que
viola os direitos dos cidadãos. No ocidente, Portugal inclusive, a extrema
direita neofascista, utiliza à exaustão os conceitos comunismo e socialismo
como o papão que tudo consume e destrói. Entretanto, você alegremente canta
loas à ideologia dominante neoliberal. LOL! amora.bruegas EXPERIENTE: ABarreto confirma o seu fraco espírito democrata, de
intolerante ao diferente, quando este começa a ter força. na realidade, dá-se
bem com o ambiente pantanoso, a podridão moral que estão amordaçando os
portugueses. Até quando?
Fowler Fowler INICIANTE: Se não nos unirmos contra aquilo que o Chega!
representa na sociedade portuguesa, um dia o sr. Coimbra poderá vir a ter
saudades da liberdade de expressão que ainda me assiste e dos “defeitos dos
democratas registados e dos políticos consagrados” que o sr. Barreto tanto
despreza. A omissão e o silêncio poderá ter um valor estético, mas, neste caso,
não será estético nem ético consentir nas provocações sucessivas do Chega!,
minando a democracia por dentro com a corrupção de homens voláteis e sequiosos
de poder. Mario Coimbra EXPERIENTE: Sabe não é a liberdade de expressão que me incomoda, é
a falta de educação, de espírito crítico, de critica construtiva, de conversa
séria. E os seus comentários só revelam, falta de educação. A sua critica ad
hominen a AB é constante, independentemente do que ele escreva. E isto não é
normal, nem educado nem construtivo nem sério. Eu discordo 99% do José aqui em
baixo, mas reconheço que tem espírito crítico, argumenta as suas posições, etc.
Mesmo que com JMT também caia um bocadinho na critica ad hominen. Portanto
liberdade de expressão sempre de preferência sem faltas de educação. Jose INFLUENTE: A Democracia portuguesa não caiu do céu como maná. Há
um longo trabalho feito desde a interrupção da Democracia Republicana no início
do século XX para se chegar ao 1.° sufrágio universal livre em 25 de abril de
1975. Esse trabalho da sociedade densifica-se na Oposição Democrática. A
Democracia actual, constitucional desenhada por 250 deputados constituintes
consagra nessa constituição a natureza do regime e os limites materiais à sua revisão.
A Assembleia Constituinte integrou a UDP, MDP-CDE, PCP, PS, PPD e CDS. A
Democracia atraiu outros partidos conformes aos limites materiais da
Constituição e da sua revisão e também permite, a acção política de pessoas,
instituições e partidos que se afirmam e agem contra "O Sistema". Não
há confusão possível entre os do "Sistema" e os seus inimigos! rosab EXPERIENTE: Há pouco, o Chega estava (aparentemente) a dormir.
Tiraram-no da cama, agitaram-no de cima para baixo, de um lado para o outro,
enquanto todos "ladainhavam" muitas palavras rebuscadas
e...sabedoras. Acordaram o menino que voltou a sentir-se vivo e no palco onde
insistem em mantê-lo, e cumpriu o papel a que dedicou os seus
"dotes", com o público que precisa dele para estar entretido. Quem dá
palco, não se queixe. SC RIBEIRO EXPERIENTE: É evidente que uma boa quota parte de responsabilidade
dessa publicidade cabe precisamente à comunicação social escrita, falada e
televisionada!!! Eles, sempre sedentos de sangue, é que andam com o Chega nas
parangonas informativas... convinha também o articulista não branquear... kaneco tinto INICIANTE: A análise a fazer é porque votaram tantos cidadãos e
as previsões/sondagens são de aumento na mensagem do Chega? Todos os
comentadores se ficam pelos adjectivos de colagem ao fascismo e extrema direita
a que se juntam atributos pouco condignos mas ninguém faz nada para tentar
explicar o fenómeno. Não seria melhor olhar para o que tem sido a prática
politica dos partidos instalados no sistema dito democrático, mas que se fica
pelo nome. Lembro aqui os bem fundamentados comentários Dr. e Engº/Téc. Medina
Carreira que poucos políticos queriam ouvir até procuravam silenciar. Daniel Novo INICIANTE: Caro Dr AB, o diagnóstico é extremamente preciso e
verdadeiro; no entanto, em seu papel de líder de opinião e conhecedor de
política nacional, qual a solução que propõe a esta orientação nefasta da
política portuguesa ? Filipe Paes de Vasconcellos INICIANTE: Como sempre, disse tudo. Parabéns! H2SO4 EXPERIENTE: É tudo verdade, mas a raiz do diagnóstico não é o
aparecimento do Chega, mas sim de todas as fraquezas do "sistema",
tão lucidamente enunciadas nesta peça, e que têm vindo a consolidar-se em
Portugal ao longe de décadas. Agora está muito pior, pois não se vislumbram
líderes de referência, que aliem inteligência a pragmatismo e vontade de
servir. Na lógica usufrutuária dos medianos, Ventura vale 1000 Joacines. fernando ferreira franco EXPERIENTE: Que lufada de ar inquinado! A.B. continua igual a si
próprio e dificilmente assimilará que as extremas são elas próprias o limite do
que as sustenta. O Chega representa esse limite na idiossincrasia liberal,
porquanto faz parte das alternativas à incapacidade de os moderados governarem
bem, são concomitantes. O problema, AB, parece residir na qualidade do regime,
um sistema propenso aos paradoxos e aos desvios. A democracia é um sistema
adverso a si próprio, contém nela os males que a tornam ineficaz e confunde os
seus mais fiéis actores, tornando-os irascíveis e não tolerantes dos desvios
que ela própria promove. Com alguma ironia, quase podemos afirmar que o PSD,
PS, BE e PCP são malhas do Chega, de tal forma uns se diluem nos outros quando
apertam ou abrandam as malhas da ideologia. cidadania 123 EXPERIENTE: Concordo com quase tudo neste alerta lúcido, que põe a
nu as fragilidades dos partidos "tradicionais " e governantes em
lidar com vozes desalinhadas. Não percebem que o chega é uma criação das
"causas fracturantes " e do politicamente correcto da geringonça, da
repressão e menorização do orgulho de ser português. O chega é consequência, e
não se extingue se atacar as causas. A frase de António Costa acusando o chega
de ser um partido racista e xenófobo, o pior da Europa, faz-me lembrar a frase
de Hilary Clinton dos " deploráveis que votam em Trump " e que lhe
custou a eleição. A melhor forma de lidar com o chega é ouvi-lo com respeito
que se ouve os outros partidos não menorizar , numa perspectiva arrogante de
superioridade moral. As ideias vencem-se com argumentos não abafando-as.. JPR_Kapa EXPERIENTE: Pois é, A Barreto agora, mais à direita, esquece-se da
história e do papel que a cedência, a este tipo de extremismo, conduziu as
democracias - será que a ascensão do nazismo e do fascismo já não lhe diz nada?
Além disso escusa de inventar argumentos dos outros - não vi ninguém nesta
discussão a querer ilegalizar o dito (também o PNR ainda anda por aí). Apenas
se defende precaução e higiene democrática, para não pactuar com o espectro de
medidas anticivilizacionais que são assim trazidos ao campo da decência. Se AB
não vê isto é porque há muito que é apenas um ressentido com a democracia. Guilherme Morgado.806716 INICIANTE: Convém assumir que o Chega não aparece no Parlamento
hoje nem num muito próximo futuro por "obra e graça" de um qualquer
espírito santo da treta, mas sim do voto de cidadãos portugueses. E se votam
neste partido é porque algo de mal tem sido feito pelos partidos do Governo
presente até aos de hoje. E sabemos muito bem que essa é a realidade, desde a
corrupção, aos roubos, às migrações selvagens, aos subsídios a quem nada faz
(nem nunca fez), às agressões às autoridades, etc, etc, etc. É bom que se
comece a admitir essa realidade. O Chega chegou mesmo, doa a quem doer.
Moksha INICIANTE: Chegou e para quê?! alguma vez será um partido
anti-sistema?! apenas pegam nas conversas de café para transformá las em
programa político. é mesmo só isso. Jorge Macedo Rocha INICIANTE: O autor parece concluir que só há duas atitudes
possíveis: indiferença e autoflagelação. Custa-me ver alguém como o António
Barreto criticar o cosmopolitismo. “Cosmopolita” era o pior insulto que na
Rússia soviética se usava para destruir adversários. Acontece que o
cosmopolitismo é uma qualidade. É ser cidadão do mundo como o António Barreto
foi e é. É sentir-se no mundo como em casa. É saber que por muito longe que
estivermos, estaremos sempre entre os nossos semelhantes. Também é ter orgulho
das nossas raízes porque sabemos que não somos nem piores nem melhores que os
outros por termos nascido onde nascemos. Caramba, não pode ser assim tão mau.
Basta perguntar aos portugueses mais cosmopolitas: os emigrantes. O problema
não é haver cosmopolitismo a mais; é haver cosmopolitismo a menos. É haver
pessoas que não podem nem puderam usufruir das suas vantagens. Ficámos a meio
da ponte. Seria um erro voltar para trás.
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