segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Saber dosear


Lição sabida, por alguns seguida, por outros contestada. Mas sempre em riste, como espada.

O comunismo existiu. E foi integralmente desumano

A sociedade sem classes sociais, baseada na propriedade comum dos meios de produção e desprovida da separação de poderes, vigorou durante 74 anos. Não foi isto que Marx defendeu?

VICENTE JORGE SILVA, Professor convidado EEG/UMinho                  OBSERVADOR, 23 nov 2020

Para Gabriel Leite Mota, não só o comunismo nunca existiu como também se trata de um dos humanismos mais puros alguma vez equacionados. O que se verificou foi uma série de ismos individualizados que, apesar de terem sido baseados nos pressupostos marxistas, não podem ser considerados comunistas por terem sido autoritários. Só alguém que desconhece as ideias de Marx é que faz semelhante afirmação. Ora vejamos.

Na Kritik des Gothaer Programms [Crítica ao Programa de Gotha – (1875)], escrita por ocasião do Congresso do Partido dos Trabalhadores Social-democratas da Alemanha (SDAP), Marx censura a aproximação destes à Associação Geral dos Trabalhadores Alemães (ADAV), de Ferdinand Lassalle, visando a criação dum partido unificado. Para Marx, o Programa defendia uma via evolucionária para o socialismo, consistente com o reformismo patrocinado pelos lassalleanos, em oposição à abordagem revolucionária dos marxistas ortodoxos. Note-se que o Programa de Gotha era explicitamente socialista, defendendo entre outras coisas, o abolir da exploração e a extinção das desigualdades sociais e política. Contudo, também previa o sufrágio universal, a liberdade de associação, os limites à jornada de trabalho, protecção aos direitos dos trabalhadores, etc. Obviamente, Marx classificou o Programa como revisionista e ineficaz porque “o direito não se pode sobrepor à estrutura económica da sociedade, nem ao desenvolvimento cultural por ela determinado”.

Esta Crítica é significativa porque 27 anos após a apresentação do Manifest der Kommunistischen Partei (1848), Marx aprofunda o que tinha exposto anteriormente desenvolvendo o que pensava sobre a dimensão programática da postura revolucionária, da “ditadura do proletariado”, do período de transição do capitalismo para o comunismo (cuja duração nunca foi delimitada), do internacionalismo proletário e do partido da classe trabalhadora. Ao fazê-lo, Marx (re)afirmou-se contra a “velha ladainha democrática” em favor do totalitarismo.

O destino da Comuna de Paris (1871) também foi determinante. Marx, que já tinha alguma certeza relativamente ao sangue da revolução francesa, depois da queda da Comuna, tornou-se irredutível quanto à sua prática e proclamou abertamente a violência como meio preferencial para a transformação da sociedade.Não basta transferir a máquina do Estado” – disse Marx – “é preciso destruí-la”. Os seus fiéis discípulos aplicaram essas ideias e, sem surpresa, o terror vermelho bolchevique eclipsou o terror vermelho francês. E outros horrores vermelhos, independentemente da escala, aconteceram em várias partes do mundo. Dito isto, qual é o espanto pelo autoritarismo das experiências comunistas? O Marx nunca defendeu a democracia do proletariado.

É evidente que o leninismo, o estalinismo, o maoísmo, o pol potismo, o castrismo, o ceausesquismo, o trotskismo etc., (e outros ismos de esquerda que não chegaram ao poder) são variantes. Mas são todos variantes do marxismo e implementaram o comunismo nos moldes idealizados por Marx. Aceito que digam que decorrem de características da personalidade de cada um, que foram considerados elementos culturais e que a operacionalização foi distinta. Mas isso não significa que não tenha sido estabelecida uma sociedade igualitária (já sabemos que alguns serão sempre mais iguais do que os outros), sem classes sociais, baseada na propriedade comum dos meios de produção e sem separação de poderes. Entre outras coisas, não foi isto que o Marx defendeu? Portanto, dizer que o comunismo não existiu está errado.

Abordada a vertente ideológica e política, vamos ilustrar o humanismo. Referir a política de estado soviética de erradicação de nacionalidades resistentes à doutrinação e aos interesses comunistas poderia ser suficiente. Mas é importante recordar os horrores, por exemplo, dos gulags, de Holodomor e de Katyn. E nunca, nunca se pode esquecer que o humanismo comunista levou ao canibalismo (Nazino). Há maior desumanidade?

E que pode ser dito do humanismo do PCP e do BE? O 25 de abril acabou com o Estado Novo, mas também originou o Processo Revolucionário em Curso. O PREC só terminou com o 25 de novembro, que restaurou a via constitucional e democrática. Que fazem os comunistas e bloquistas? Celebram o primeiro e sistematicamente repudiam o segundo. Porquê? Porque os partidos comunistas não são democráticos. São revolucionários e ditatoriais. Confrontado sobre a essência do regime norte-coreano, Jerónimo de Sousa pergunta o que é uma democracia? Os líderes do BE idolatraram Chávez e louvaram o regime venezuelano como se o mesmo fosse democrático. Só recuaram perante a ainda mais óbvia insanidade de Maduro, receando custos eleitorais. É o que vai diferindo Bloco de PCP, os comunistas mantém-se firmes, os bloquistas guinam. Uns (comunistas) são idealistas, outros (bloquistas) oportunistas, mas nenhum dos dois é humanista. Porém, aquilo que demonstra o profundo desprezo destes partidos pelo humanismo é o registo da votação nos votos de pesar. Nem na morte demostram respeito pelos adversários.

A verdade é esta. Nazistas, fascistas, marxistas, estalinistas, trotskistas, etc., são todos inimigos da liberdade e a da democracia. E os inimigos da liberdade e da democracia não são humanistas.

Só o liberalismo pode fazer frente a extremismos. Só quem representa verdadeiramente o liberalismo, no caso português, a Iniciativa Liberal, pode combater os extremistas e estatistas. Tenha a Iniciativa Liberal força eleitoral e parlamentar para isso.

Professor Convidado EEG/UMinho

POLÍTICA  COMUNISMO  EXTREMISMO  SOCIEDADE  EXTREMA ESQUERDA

COMENTÁRIOS:

Português Indignado: A Iniciativa Liberal é o melhor Partido a fazer oposição séria e construtiva aos socialistas/comunistas em Portugal. Fartos de socialismo!       Dani Silva: Artigo perspicaz e que acerta no ponto certo! Parabéns!       josé maria: O liberalismo radical de Margaret Thatcher deu nisto: mais de três milhões de desempregados, o equivalente à marca negativa de Grande Depressão de 1929, outro dos eventos economicamente calamitosos das políticas liberais.      josé maria: Nem mais! Ao ponto de, hoje em dia, existirem indicadores sociais em Inglaterra que apresentam valores inferiores (entenda-se, piores!) aos observados antes da Sra. Thatcher chegar ao poder. Ou seja, décadas e décadas depois do "grande" liberalismo, ainda os estragos se fazem notar, são evidentes e carecem de recuperação.       Nuno Carmona > josé maria: Compare isso com o socialismo radical de Chavez e Maduro. Qual prefere?        josé maria > Nuno Carmona: Nunca fui fã de Chavez e Maduro, nunca pedi, como o Passos, que o Maduro voltasse mais vezes a Portugal. Nunca disse, como um representante do CDS, Helder Amaral, que havia uma grande aproximação com o MPLA. Nunca formulei nenhum voto de pesar pela morte de Fidel Castro, como fez o PSD aquando do seu falecimento e instaurando processos disciplinares aos seus deputados, que se negarem a aprovar esse voto na AR.        advoga diabo: Só por ignorância ou má fé se pode afirmar que o regime Estalinista correspondeu ao ideal marxista. Foi desvirtuado na sua essência!          Paulo Alexandre : Ateu  1 - Ao contrário de outras ideologias, cujos textos fundacionais justificam e legitimam a prática de actos violentos sobre terceiros, não se pode dizer o mesmo de Marx e dos seus escritos. Não há nenhuma passagem, nos textos de Marx que legitimem ou justifiquem o exercício da violência sobre outros seres humanos, nomeadamente a prática de genocídios. 2 - No entanto, é indiscutível o facto de os seguidores de Marx terem promovido das maiores atrocidades contra a humanidade, conduzindo à morte cerca de uma centena de milhões de pessoas. 3 - Ao contrário do que o autor sugere, o liberalismo também é igualmente violento, escondendo essa violência por detrás da carapaça da "natureza"; quando os donos das explorações enriquecem e, tal como os vampiros sugam o sangue das suas vítimas para rejuvenescer, melhoram os seus padrões de vida e de bem-estar à custa dos parcos salários que pagam aos seus trabalhadores (enquanto as suas vidas são sugadas em doenças, péssimas condições de habitabilidade, fome, miséria, pobreza e morte prematura); milhões e milhões de seres humanos têm perdido as suas vidas ao longo da história do capitalismo, mortes essas que qualquer ingénuo liberal dirá que se devem à "natureza" ou "à vida", porque, enfim, adoecer e morrer é uma condição natural. Mas, de facto, é algo distinto que ocorre: dezenas ou mesmo centenas de milhões de trabalhadores e de trabalhadoras (incluindo crianças) perderam as suas vidas na máquina infernal do mais puro liberalismo. Aquele liberalismo que não quer regulamentações, inspecções, regras ou leis que protejam a dignidade, a saúde e a vida dos trabalhadores. 4 - Por isso, falta abrir os olhos para a realidade que muitos liberais querem esconder ou que nem sequer conseguem ver, tal é a cegueira: a realidade factual que decorre da tragédia de milhões de seres humanos que perderam as suas vidas em nome da "liberdade" económica absoluta para uns quantos enriquecerem à custa da miséria alheia. 5 - O IL, em relação ao qual o autor faz a sua acrítica, ingénua, despudorada e superficial apologia, parece ser o exemplo típico do Partido que defende a liberdade em questões económicas escondendo o seu conservadorismo em matérias sociais.  6 - O IL, em relação ao qual o autor faz a sua acrítica, ingénua, despudorada e superficial apologia, é um, Partido que advoga a liberalização absoluta nas áreas da Educação e da Saúde, pelo que defende o direito de cada indivíduo / família escolher as escolas e os serviços de educação que quiser. Ou seja, este é um Partido que faz a apologia descarada da promoção da desigualdade já que, onde a Educação e a Saúde forem um negócio, deixarão de ser direitos universais, permitindo que os filhos dos ricos tenham acesso aos melhores recursos nas áreas da Educação e da Saúde, enquanto os filhos dos pobres ficarão sem Educação e /ou Saúde ou ficarão significativamente limitados no acesso a esses direitos. 7 - Só uma pessoa moralmente pouco recomendável se lembraria de realizar uma competição de atletismo entre atletas bem equipados, bem alimentados e saudáveis e outros descalços, subnutridos e doentes. Só gente imoral pode defender que é possível competir em igualdade de condições quando os filhos dos ricos e os filhos dos pobres são colocados no ponto de partida em condições de profunda desigualdade. Só um indigente moral se lembraria de defender a tese de que o mundo seria mais justo se ricos e pobres tivessem de pagar o negócio da saúde, para, no fim, colocar o filho do rico, bem tratado, acompanhado pelos melhores médicos, bem alimentado, bem educado, bem equipado, a concorrer numa prova de atletismo contra o filho do pobre que, por não ter acesso à saúde, a uma boa educação, a uma boa alimentação ou a um bom equipamento, se encontra numa cadeira de rodas graças à doença crónica que os pais não puderam pagar. A "liberdade" que estes senhores defendem é a de garantir que uns poucos terão, à partida, melhores condições e condições privilegiadas face aos muitos desfavorecidos. A "liberdade" que esta gente defende é a de garantir que uns quantos já partem em claras condições de favorecimento e de privilégio quando a corrida começa. E, quando cortam a meta em primeiro lugar, ainda têm a imoral e abjecta desfaçatez de acharem que venceram a corrida com todo o mérito, sem sequer olharem para trás e constatarem que os seus concorrentes estavam coxos, doentes ou em cadeiras de rodas. E vergonha na cara?   António Castro > Paulo Alexandre: Ateu Ahahahahah O Marx foi o iniciador dos festivais Woodstock. Tudo o que queria era fazer umas festas e celebrar universalmente. É por estas e por outras que tenho apreço pelo Marx. Não gosto das ideias deles, mas o Marx era coerente com o que dizia e não tinha vergonha do que defendia. Hoje, os seus partidários, necessitam dum Marx que tivesse nascido no século vinte. Karl Marx teria vergonha de vocês. Paulo Alexandre : Ateu António Castro ahahaha digo eu! Onde estão as palavras de Marx a apelar, a justificar ou a legitimar práticas genocidas? Essas palavras encontram-se no Mein Kampf ou na bíblia mas não nos escritos de Marx. Depois, vejo que evitou o assunto indelicado: as dezenas de milhões de vítimas do sistema liberal absoluto que o autor da crónica defende. Os milhões de trabalhadores que morreram por doenças profissionais, por exaustão, por exploração, por doenças crónicas resultantes da exploração empresarial, por morte prematura devido aos acidentes de trabalho e à ausência de políticas e de regulamentos de protecção, de higiene e de saúde no trabalho, para que os patrões ficassem mais ricos, melhorassem o seu bem-estar e a sua saúde, não tem nada a dizer, pois não? O sr. tem a sorte de um dos seus antepassados ter escapado enquanto os seus irmãos, primos e companheiros perderam a vida para que alguém metesse mais uns cobres ao bolso, em nome do liberalismo económico absoluto. Se um dos seus antepassados tivesse quinado, como sucedeu a milhões e milhões deles, certamente que o sr. estaria mais feliz.      josé maria: A experiência trágica e despótica do Chile de Pinochet também mostra muito bem como o liberalismo de Adam Smith e dos Chicago Boys casou muito bem com a ditadura mais abjecta e a violação dos direitos humanos. Foi um conúbio historicamente relevante entre liberais e os algozes do povo chileno.   António Castro > josé maria: josé maria, já tinha saudades suas. quando o autor escreve "A verdade é esta. Nazistas, fascistas, marxistas, estalinistas, trotskistas, etc., são todos inimigos da liberdade e a da democracia. E os inimigos da liberdade e da democracia não são humanistas" está a criticara apenas a esquerda?           Dani Silva > josé maria: Juntar a palavra "despótica" e "liberalismo" na mesma frase dá curto-circuito. Então alguma vez uma ditadura pode ser liberal??? Não é por ter tido alguma liberalidade económica que se pode considerar um regime liberal, quando qualquer tipo de ditadura é exactamente o oposto do que um liberal defende!!!!           Old Dog: Rectificação: O comunismo existe.          António Castro > Old Dog: Claro que existe. Em Portugal e não só. E o VFS afirma-o quando se refere ao PCP e BE. É evidente que este texto é uma resposta a este artigo: "O comunismo ainda não existiu, o fascismo e o nazismo, sim".       lL Duce: Comunismo existiu e convém não esquecer que nasceu do liberalismo no século 19. Comunismo existiu, está de volta com outra mascara, e só poderá ser parado com um renascimento do fascismo. Está na hora de deixarmos de engolir a vilificação que os comunas fazem do fascismo. É como se melgas, mosquitos e parasitas afins nos quisessem convencer que não se pode usar Raid... "Raidistas!!"        Anarquista Inconformado > lL Duce: Um nazi/racista derrotado pelo comunismo, empolgado pelo odio da vingança.        lL Duce > Anarquista Inconformado: Nascido no comunismo e empolgado por acabar com o pesadelo, por amor ao meu povo e para que os meus filhos nao acabem num gulag.     Anarquista Inconformado > lL Duce: Queres dizer em Caxias, ou Peniche? Com os teus filhos como torturadores e carrascos e tu como inspector chefe da Pide. Derrotado vomitando ódio.        lL Duce > Anarquista Inconformado: Espero pelo regresso da Santa Pide. Salvou Portugal de muitos germes durante muitos anos.        Kavkaz Kavkazovitch > lL Duce: Espera deitado, ao lado do túmulo do Salazar. Burro sem limites.       António Castro > lL Duce: Só o Liberalismo pode acabar com o comunismo. E com o fascismo também. Era só que que faltava. Mais ditadura.     Anarquista Inconformado > António Castro: Não quererá dizer o neoliberalismo?           lL Duce > António Castro: Aquilo que deu origem ao comunismo é que vai acabar com ele? Tem cá uma fé. Fascismo é menos ditadura do que a nossa suposta democracia.

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