Está tudo dito. Bem dito.
A nossa “direita” é o peluche da esquerda /premium
A nossa “direita”, que não acha Trump
civilizado, convive jovial e literalmente com socialistas, comunistas,
bloquistas e vigaristas em geral, todos modelos de civilidade e sofisticação e
verdade.
ALBERTO
GONÇALVES, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 07 nov
2020
Visitei a América por três vezes
durante o mandato de Trump. Como de
costume, andei pelas costas Leste e Oeste e pela maioria dos estados do Sul. Só
em uma ou duas ocasiões me lembrei, ou me lembraram, da existência do
presidente. Lá, esse não era grande assunto. Cá, era o
assunto, com frequência único em matéria internacional. Ao longo de quatro
anos, as aventuras de Trump encheram resmas de noticiários caseiros,
implacáveis com o governo americano, alheios aos governos venezuelano, russo ou
chinês, e submissos ao português.
Trump, aliás, serviu para isso mesmo, para evitar o escrutínio de um poder que,
nas mãos do PS e com a conivência do prof. Marcelo, se tornou absoluto e
absolutamente corrupto. Os
“telejornais” daqui abominavam Trump. Os políticos daqui abominavam Trump. Os
comentadores daqui abominavam Trump. Uma professora do secundário contou-me que
até as criancinhas, dotadas da sabedoria de uma Greta, esperneavam nas aulas à
menção do bicho-papão. Para o português médio, Trump representava o Mal, e o contraponto grotesco a um
primeiro-ministro com um projecto totalitário e a um chefe de Estado que vive
numa dimensão paralela e aprecia despir-se perante as câmaras.
É naturalíssimo que a nossa esquerda
– anti-americana, passe a redundância – odeie Trump, como de resto odiava Bush
filho, Bush pai, Reagan e etc. (o PCP, honra lhe seja feita, odeia todos os
inquilinos da Casa Branca, e o BE abriu uma ligeira excepção para Obama, porque
é meio negro). E
é uma demonstração cabal de que, sob a bazófia, Trump teria algumas virtudes. Trata-se de um pressuposto simples: se os que odeiam a América odeiam Trump, a derrota
de Trump é má para a América, no sentido de que poderá transformar-se naquilo
que os respectivos inimigos desejam. Não é uma hipótese delirante. O pobre
sr. Biden levará para Washington a vanguarda da intolerância cultural que
aguarda, e começa a ter, uma oportunidade por estes lados. A reboque do coitado, ascenderá uma cáfila
curiosa de inquisidores “sensíveis”, Torquemadas das “causas”, fanáticos que
queimam os livros que os ofendem, adversários da arte, da ciência e da
história, fascistas nas vestes e nas cabeças que chamam fascistas aos
democratas, a gente bruta, ignorante e crente em dogmas absurdos que
ironicamente Hollywood associa aos “rednecks” das berças. Hoje,
apesar dos pesos e contrapesos que distinguem o regime dos EUA da cloaca
lusitana, os camisas pretas das cidades, e das universidades, são um perigo
muito maior. Pelo menos para quem preza a liberdade.
Liberdade. É também natural que a nossa esquerda se arrepie ao
ouvir a palavra na acepção devida (por oposição a slogans de louvor marxista). Não é, ou não deveria ser, natural que
a nossa “direita” alinhe na cartilha. Não se pedia à nossa “direita” que se
entusiasmasse com Trump, um egocêntrico antipático que não matou, prendeu ou
calou ninguém. Bastava que não se entusiasmasse tanto com o ódio a Trump, e o
amor aos furiosos que rodeiam o sr. Biden, empenhados em calar, prender e, se
lhes derem trela, matar hereges. Infelizmente, a nossa “direita” decidiu provar
à nossa esquerda que não lhe fica atrás no concurso para apurar quem detesta
Trump com maior ardor.
Num caso flagrante da síndrome Rui
Rio, a nossa “direita” sofre de uma patológica necessidade de que a nossa
esquerda a aceite, sacrifício que a esquerda cumpre com nojo e admissão
restrita aos espécimes mais reverentes. A
aversão a Trump é uma regra indispensável num clube cujas regras a esquerda
define. Sob pena de exílio, é proibido elogiar Trump, é proibido possuir uma
opinião acerca de Trump que se afaste do insulto ou da chacota, é proibido
fugir à definição de Trump imposta pelos donos do pensamento “aceitável”. O exercício descamba em figuras tristes – ou
engraçadas, de acordo com a disposição. Vejo nas “redes
sociais” criaturas normalmente sensatas que ameaçam abrir champanhe (não abrem:
é apenas para criar boa impressão) para celebrar a derrota desse monstro da
mentira e do populismo, um monstro que, curiosamente, não manda neles e não
lhes fez mal nenhum. E isto para agradar a um gangue que manda neles e os
prejudica sem parança e com gozo. A nossa “direita”, comportadinha e deferente,
é gozada pela esquerda. E merece.
No limite, eu nem estranharia
que a nossa “direita” rejeitasse Trump, na convicção, evidentemente desmiolada,
de que o actual partido democrata americano é ajuizado o suficiente para conter
o socialismo que por lá saltita, sempre que não está nas ruas a demolir coisas.
O principal problema é a nossa “direita” rejeitar o malvado Trump
com um zelo que não usa para rejeitar os fabulosos estadistas que se dão ao
incómodo de governar Portugal. A nossa
“direita”, que não acha Trump civilizado, convive jovial e literalmente com
socialistas, comunistas, bloquistas e vigaristas em geral, todos modelos de
civilidade e sofisticação e verdade. Se comparada com a meticulosa exigência
que dedica à América, é notável a frouxidão da nossa “direita” face à
corrupção, ao despotismo, às fraudes e à desgraceira que definem o seu próprio
país.
Um dia, se um historiador com
tempo livre quiser perceber a facilidade com que a esquerda tomou conta deste
lugarejo, e o afundou de vez na miséria mental e económica, não vale a pena
recordar-lhe os Costas, os Sócrates, os Marcelos, os Césares, os Ferros, os
Louçãs, as Catarinas, os Jerónimos, os Salgados e restante casta. Basta
mostrar-lhe a nossa “direita”.
ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO DONALD TRUMP
COMENTÁRIOS:
Ricardo Nuno: Mais um apelo à divisão e ao radicalismo, quando na realidade a direita
sempre significou prudência, moderação, diálogo, cooperação e respeito pelas
instituições. Não, ninguém precisa de achar Trump civilizado para poder dizer
que é de direita, nem de chamar "socialismo" ou "marxismo"
a tudo o que vem da esquerda, nem tão-pouco de acreditar em teorias da conspiração
globalistas e outras coisas do género. É possível ser de direita e ao mesmo tempo um ser humano normal e
decente. Há-de experimentar, Alberto Gonçalves.
Cipião
Numantino: Nunca me presumi um indefectível de Trump, como por aqui muitos sabem. Mas,
de uma forma absolutamente convicta, aprecio imensamente o que se convencionou
designar por trumpismo. Em síntese, gosto do que Trump significa apesar dele
mesmo. Contradição? Nem por isso! Passando
para a tese explicativa diria que adoro a mensagem e ignoro de uma forma não
obsessiva o respectivo mensageiro. Convenhamos, Trump constituiu uma
autêntica pedrada no charco. Uma espécie de maluquinho da aldeia que
colocou a dita em desassossego. Apontou os hipócritas, reconheceu os falsários
ideológicos, designou os vendilhões do templo, provocou os alucinados esquerdosos,
invectivou os arrogantes encartados e acossou tudo e todos os que são
calaceiros, para sitas e malandros à face do planeta Terra. Em suma, provocou o
pânico a tudo o que é demente ideológico e anda armado ao pingarelho propalando
uma espécie de superioridade moral que, só aquelas cabecinhas ocas e
esdrúxulas, se arrogam possuir.
Trump vai passar. Tipo borrasca intensa e cavernosa
que deixou fortes sulcos na terra que encharcou. Uma espécie de Adamastor
antigo que ao contrário deste não remanesce nos domínios do temor e da lenda.
Feio, trapalhão e desengonçado, quase uma múmia andante sem graça do tipo de
pato nadando com uma asa quebrada e inerte.
Mas como acima referenciei, pouco me interessa o
mensageiro quando o que concorre a meus olhos é única e exclusivamente a
mensagem. E é justamente nesta, que nada será jamais como dantes. Provavelmente
o detectaremos já na próxima eleição nos States daqui a quatro anos.
Eventualmente já consubstanciado no efeito e na forma do bem mais aprumado física
e intelectualmente o agora vice-presidente Mike Pence.
Os EUA estão em maus lençóis. E desconfio que não sobreviverá,
tal como o conhecemos, aos tiques do bailarino Obama, aos estrebuchos
atabalhoados e pacóvios de Trump e, agora, sem hiatos ou descansos, aos
insuportáveis impulsos meio taralhoucos do Joe “Sonecas” Biden. Tem tudo para
terminar mal e mal certamente terminará.
Alguém estará a esfregar agora as mãos de contente e,
outros, tristes e acabrunhados por não terem alguém que lhes dissesse na cara
que havia regras a respeitar.
Entre os primeiros apontaria Xi Jin Ping. Pode começar a afiar as facas e aquecer os motores das
lanchas de desembarque e dos aviões de assalto, já que saberá que na espécie
de albergue espanhol em que se tornará a administração americana, nada
nem ninguém se importará por aí além que abarbate a estável e rica Taiwan. O Japão, a Índia, o Vietnam e as Filipinas que tratem pois, assim, de se
armarem até aos dentes porque desconfio que poderão ser em seguida carne para
canhão. Por sua vez o Maduro, pode continuar a brincar aos
ditadores bananeiros lá para os lados da Venezuela, um dos vários quintais
americanos instalados ao virar da esquina.
Já quanto aos segundos, acrescentaria o Kim da Coreia. O respeito que parecia ter
para com as atitudes e políticas de Trump, darão certamente lugar ao clássico
jogo de berlinde de arrebentar mais uns mísseis enquanto não lhe proporcionam
um pouco mais de comida para calar por lá o seu povão. Teremos depois a Rússia a suspirar de alívio dando
mais umas bicadas, sem temor ou constrangimentos, nas vizinhas Ucrânia e Geórgia correndo, na área, a toque de
caixa todos os que se lhe opuserem (já agora o Sultão Erdogan, que ponha igualmente as
barbas de molho). Finalmente, o Estado
Islâmico. A quem prevejo de novo dias felizes e sorridentes, salivando de
antecipação por mais umas quantas cabeças cortadas aos ocidentais, mesmo que
sejam de esquerdalhos aparvoados que, os manjericos barbudos, lá nisso são bem
democráticos e pouco ligam para as elucubrações estultas que tais cabeças
congeminam.
E pronto, o
estenderete está armado. Ao actual (cada vez menos) polícia do mundo está
prestes a suceder o que sempre acontece aos grandes impérios que, como a
História desde sempre o comprova, nascem, progridem e, finalmente, definham e
morrem. As consequências poderão ser superiormente dramáticas. E a juntar à
pandemia sanitária, avizinhar-se-ão certamente tempos conturbados. A
politicagem correcta está a levar o ocidente à beira do abismo. No que se
refere aos States, estará a tornar-se um autêntico ninho de vespas assanhadas e
furiosas.
Nada poderá
deter as novas hordas bárbaras nas acções e propósitos, sem o esforço de todos
aqueles que não convergem ou aceitam este estado de coisas. Eles “andem” por
aí.
La Pasionária era ideologicamente alucinada. Mas
convirá cooptar o seu famoso grito … “no pasarán”!..
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