sábado, 28 de novembro de 2020

Mas é assim que vivemos em sossego


As histórias que Alberto Gonçalves vai buscar! Mas que se há-de fazer? Cada um que faça como lhe aprouver, livres que somos para o fazer, há muito que isso foi decidido. De resto, temos a canção que o comprova “Pois quanto mais tu me bates mais gosto de ti”, paráfrase, é certo do “Besame mucho”, ambas manifestações da vida corrente, beijos e taponas. Alberto Gonçalves não devia sofrer tanto por nós, coitado. Embora assim zurza melhor…

 

Um jornalista ao serviço do PS – e novidades? /premium

Numa análise rápida, conclui-se que cerca de 92,45% da nossa classe jornalística se baixa perante o PS e os aliados do PS com zelo idêntico ao do sr. Filipe. E numa análise demorada conclui-se o mesmo

ALBERTO GONÇALVES

OBSERVADOR,28 nov 2020

É terrível sermos acusados de uma coisa que não cometemos. É quase tão terrível sermos os únicos acusados de uma coisa que muitos cometem. Sabem a sensação de injustiça quando, numa rua repleta de carros acotovelados em cima do passeio, só o nosso tem o papel da multa no pára-brisas? Deve ser o que sentiu o sr. Filipe Santos Costa ao ver-lhe retirada a carteira de jornalista, pela Comissão responsável, devido a ligações profissionais ao Partido Socialista.

Pelos vistos, o infeliz sr. Filipe, que não conheço, comete há meses um “podcast” para o “site” do PS, onde entrevista figuras do PS e é pago pelo PS. Ouvi dez minutos do programa de estreia, em que surpreendentemente o convidado foi António Costa, e achei piada: chamar àquilo prestação de serviços é um eufemismo. Trata-se, prática e involuntariamente, de uma rábula cómica, na qual o entrevistador finge uma isenção que não tem e o entrevistado finge uma seriedade que não se justifica. É o humor velhinho do “ainda bem que me faz essa pergunta”, envelhecido para o “ainda bem que me fez essas perguntas todas”. Propaganda pura, mofo puro.

Por mais difícil que esteja a vida, é triste ver um jornalista descer a semelhantes figuras. O que me parece inadmissível é ser apenas o sr. Filipe a pagar por elas. Numa análise rápida, conclui-se que cerca de 92,45% da nossa classe jornalística se baixa perante o PS e os aliados do PS com zelo idêntico ao do sr. Filipe. E numa análise demorada conclui-se o mesmo. É, salvo seja, assistir aos “telejornais”, ou espreitar quatro quintos da imprensa em papel, ou ouvir a TSF. Não sei se a vassalagem dos jornalistas em causa é recompensada directamente e mediante contrato, como no caso do sr. Filipe, ou se escorre indirectamente através da “publicidade institucional” que o governo plantou nas redacções, ou se é gratuita e dependente da boa vontade dos próprios.

Sei que a vassalagem é inegável e generalizada. Em que cantinho da civilização escapariam sem escrutínio os brutais atropelos do PS e das suas metástases à lei, à honestidade, à liberdade, ao bom senso e à coerência? Para referir um exemplo recentíssimo, veja-se o pacto açoriano com o Chega, que valeu ao dr. Rio acusações de “fascismo”, levou meio mundo a anunciar o regresso do Terceiro Reich e, pela primeira vez em milénios (leia-se desde que o PSD deixou de mandar lá) , convenceu o “Público” a denunciar a pobreza do arquipélago. A abordagem ao dr. Ventura, que o dr. Costa precisava seduzir por causa do Novo Banco, mereceu, se mereceu, um ou dois rodapés noticiosos – e nenhuma coluna indignada.

Não é um acaso: é uma linha de acção. A mesma linha que acata, reproduz e legitima o desnorte face à Covid, as negociatas, as mentiras, a promiscuidade, a incompetência, a dívida crescente, a miséria iminente. E os privilégios. E a prepotência. Que espécie de “comunicação social” (sic) guardaria um pingo de respeito pela senhora da DGS? E pela vasta maioria dos ministros e secretários de Estado? E pelo dr. Costa? A nossa “comunicação social”, que de tanto se curvar a esta pavorosa mediocridade já terá arranjado umas hérnias valentes. O que não há maneira de arranjar é vergonha na cara.

Há meia dúzia de anos, não tropeçava uma criança na escola sem que os noticiários, com honras de abertura, culpassem Pedro Passos Coelho. Hoje, aconteça o que acontecer, ecoa uma reverência profunda aos senhores que mandam. Literalmente, a que se deve a reverência? Apesar de tudo, compreendo melhor um “jornalista” que ronrona ao PS a troco de uns trocos do que aqueles que o fazem de borla. Eis um mistério, que me intriga há muito e sinceramente gostava de ver esclarecido: existirão jornalistas que se curvam de borla? Não estou a falar dos que defendem o emprego, ou dos que obedecem à voz do dono por reflexo. Estou a falar dos que convictamente acreditam que o dono tem razão e que a função deles é espalhar essa razão pelas massas. Estou a falar dos que acham de facto que o bando do dr. Costa constitui uma bênção para o país. Estou a falar dos que julgam, no fundo do fundo do coração, que o país está no bom caminho.

Existem “jornalistas” assim? Caso existam, convém ter pena deles, e talvez um programa de apoio psiquiátrico. É que a prostituição é um ofício, a idiotia é uma doença. Se qualquer subordinação ao poder é incompatível com o jornalismo, a subordinação voluntária e desinteressada ao peculiar poder vigente é incompatível com a saúde pública. Pelo menos o sr. Filipe é saudável. Mas não é um jornalista. De resto, até lhe tiraram a carteira, proeza estranha num contexto pouco democrático. Num contexto democrático, boa parte da classe ficaria sem ela. E “classe”, aqui, é força de expressão.

JORNALISMO  MEDIA  SOCIEDADE  PS  POLÍTICA

COMENTÁRIOS

JB Dias: E se fosse só por aqui nesta santa terrinha onde cada vez mais vegetamos ainda a coisa poderia vir a ter conserto ... mas o facto é que o descrito se tornou, e torna, a norma um pouco por todo o Ocidente e os seus PS's próprios.

Adelino Lopes: Como compreendo o AG. Mas não são visados apenas os jornalistas. Agora também existe controlo nas redes sociais, o qual deveria ser confrontado com o estado de direito. Ou seja, existem “leis” feitas por progressistas, a serem aplicadas (sentenças) por progressistas. Aliás, o AG já vê esta realidade nos comentários aos seus artigos, desde o DN.

Gustavo Lopes: Já tinha saudades dum artigo deste calibre!!! Obrigado AG.

Paulo Silva: Bom artigo. Assim se defende (e como precisa!) a nossa democracia.

Carlos Marques: Olha, não sabia. Grande novidade me conta, Alberto. Mas que grande maldade. Não é hábito e certamente não é coisa que se faça ao camarada flipe! De qualquer forma, em termos práticos, nada muda para o camarada flipe. Somente passará agora a trabalhar, a tempo inteiro, de forma declarada, para o regime xuxa-esquerdalha. Ou melhor, será nomeado para um qualquer gabinete ou instituto público, à conta do erário público. Agora que me dá esta novidade, já percebo o "trabalho" que o camarada flipe assinava como "jornalista". Nomeadamente, a newsletter do jornal eco, que o camarada flipe assinou, no passado dia 21, sob o título : "Novo Normal", que depois vi também citada, na rtp, por um direitinha "liberal", para gáudio do seu amantíssimo colega de painel, por sua vez colega partidário do informador da Stasi, mentiroso-tavares, como uma "grande peça". Na dita, e no seguimento do grande regime xuxa ter sido apeado do poder, nos Açores, pelo Psd e o Chega, o camarada flipe, inseriu um "trabalho de comparação" em que basicamente se diz que o Ventura é o Hitler, que Rio é igual a Ventura e que Rio+Ventura = Victor Órban !!! Veja lá caro Alberto como é que isto anda afinal tudo ligado e vai sempre dar ao largo da rataria e aos grandes salões maçónicos ou então ao pq Edu VII e aos cabarés lisboetas. No mais e em geral : não. O que passa por ser "comunicação social" em Portugal, não vive, em caso algum, de cervis impinada ao regime xuxa-esquerdalha por convicção. É sempre e só movida para baixo pelo mais vil interesse patrimonial. É verdade que remunerada e/ou nomeada directamente é só a super-estrutura, mas a primeira coisa que os cães-fila apreendem quando assomam às redacções "progressistas" é que só podem sobreviver e progredir lambendo o rabo ao mini-chefe índio local, o que por sua vez se processa por meio do fazer avançar por todas as vias e a todo o tempo os interesses do grande-chefe índio.

 

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