sábado, 21 de novembro de 2020

Ça dépend

 

Do pensamento. Da acção.

Quem nos dera que Hitler – ou outro qualquer do mesmo calibre, pensante e actuante, tivesse topado pela frente quem lhe fizesse frente com um pensamento diferente…

Et aujourd’hui, de même…

Mas entendo o “primum vivere” do Dr. Salles, deixando em suspenso o “deinde philosophari”. Os nossos políticos por cá, por exemplo, doseiam as coisas em paralelo e uniformidade, homens de pensamento e acção concomitantes, mesmo quando dizem que vão pensar primeiro, reservando para depois a acção. Foi o que se viu, por exemplo, nas hesitações de António Costa, depois de ter perdido as eleições em tempos e não se conformando com o desaire, ávido de agir segundo o seu pensar de sempre. Dois ou três dias depois estava a pôr em prática a sua determinação de acção que nunca deixara de existir no seu pensamento, só que na reserva dos conluios secretos com uma esquerda oportuna e igualmente oportunista. Nós, os governados, é que temos desses luxos de contemplação. Para mais, confinados, o que é sempre uma boa desculpa para a nossa inércia acomodada e céptica em relação ao “homo sum”, na sua similitude universal, ao que se diz...

PRIMUM VIVERE

DIXIT

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 20.11.20

«Pense como um homem de acção; actue como um homem de pensamento.

A contemplação é um luxo; a acção é uma necessidade.»

Henri Bergson

In «Pensador» - https://www.pensador.com/autor/henri_bergson/

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"da minha biblioteca"

 

COMENTÁRIOS

Henrique Salles da Fonseca  20.11.2020  18:28: Cito uma frase de Bergson que me pareceu interessante: "hoje, só raramente e com grande esforço, podemos chegar à intuição; no entanto a humanidade chegará um dia a desenvolver a intuição de tal modo que será a faculdade ordinária para conhecer as coisas. Então, desaparecerão todas as escolas filosóficas e haverá uma só filosofia verdadeira conhecedora da verdade e do ser absoluto. Cito e transcrevo excertos do pensamento de José Ortega y Gasset:…” Eu não penso senão em coisas, portanto, ao achar-me a mim acho sempre diante de mim um mundo. Eu, enquanto subjectividade e pensamento, encontro-me como parte de um facto dual cuja parte é o mundo – não é a minha existência, não é eu existo – porquanto é a minha coexistência com o Mundo. A verdade é que existo eu com o meu mundo e no meu mundo – e eu consisto em ocupar-me com esse meu mundo, em vê-lo, imaginá-lo, pensá-lo, amá-lo….mover-me nele, transformá-lo e sofrê-lo. Nada disto poderia sê-lo se o Mundo não coexistisse comigo, diante de mim, manifestando-se, entusiasmando-me, afligindo-me… José Ortega Y Gasset in “Que é a Filosofia” Sobre a frase “a contemplação é um luxo” – que, quanto a mim, nos permitirá a extrapolação sobre o contemplar, absorver, interiorizar e soltar o pensamento, permito-me deixar um excerto de um poema de Nuno Júdice sobre “As palavras”: Ponho palavras em cima da mesa; e deixo que se sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a sílaba, para as levarem à boca – onde as palavras se voltam a colar, para caírem sobre a mesa. Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos palavras; e roubamos outras palavras, quando não as temos; e damos palavras, quando sabemos que estão a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.(…) Mas há as palavras que ficam sobre a mesa, quando nos vamos embora. Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém dar por isso. Depois, guardo-as na gaveta do poema. Algum dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa. Nuno Júdice  ==================================
Espero não ter feito uma grande derivação! Os meus melhores cumprimentos Mª Emília Gonçalves
Adriano Lima20.11.2020:
Se derivou, em boa hora o fez, porque gostei de ler o que escreveu. Então esse poema do Nuno Jídice...

Adriano Lima 20.11.2020: De momento só me ocorre pensar naqueles que, na nossa sociedade, não fazem e têm raiva de quem quer fazer. Os Velhos do Restelo não nos largam. Triste sina!

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