Nomes serão evocados, como este de Henrique Salles da Fonseca, na graça ousada de uma sanidade mental e, acima de tudo, coragem, para chamar os bois pelos cornos, sem mistificações linguísticas nem reservas pedantes no historiar dos factos. Que Deus o abençoe por existir, e com muita saúde, por longos anos ainda, embora homens como o senhor, não venham a ser condecorados em vida. Cumpriu, como poucos, sem se amedrontar, defendendo a sua musa, como os antigos heróis, na generosidade das acções, na lucidez do discurso, no amor pátrio real.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A
BEM DA NAÇÃO25.11.20
25 DE NOVEMBRO DE 1975
Faz hoje 45 anos que a democracia chegou a Portugal derrubando o
comunismo que desde o 25 de Abril de 1974 tentava destruir a Nação pondo o país
ao serviço da União Soviética.
Foi
um punhado de valentes sob a liderança do então Coronel Jaime Neves
que tomou a iniciativa de pôr fim ao desmando total a que estávamos a ser
submetidos e de proclamar que estava na hora de se estabelecer efectivamente uma
democracia de base pluripartidária, parlamentar.
Passadas as colónias portuguesas para a esfera do Império Soviético,
estava cumprido o maior desígnio da “revolução dos cravos” perpetrada por uns
quantos “anjinhos” e minada por alguns traidores. Eis por que o Dr. Álvaro Cunhal foi
condecorado herói soviético já depois de 25 de Novembro de 1975.
No
que então restava de Portugal, resolveu-se o problema com meia dúzia de sopapos
bem dados em alguns adeptos do totalitarismo mas nas antigas colónias
portuguesas começavam os sovietizados as chacinas contra as populações que
queriam submeter pelo terror. Assim começaram as guerras civis em Angola e em
Moçambique. Mas o sangue também jorrou – e muito - na Guiné e em Timor. Passados
estes 45 anos, eis-nos em Portugal numa democracia parlamentar consolidada e
cheia de problemas conhecidos de toda a gente, discutidos por todos em público
e sem constrangimentos. Esta, sim,
a liberdade real, não a da propaganda com que os abrilistas nos enchem as
parangonas dos jornais. Mas
a tranquilidade destes 45 anos levou-nos ao doce remanso das águas planas. E
tudo é vida corrente, sem mais objectivos do que ultrapassar a pandemia e
regressar ao bem-estar, ao enriquecimento tão rápido quanto cada um consiga
mesmo que sem olhar a meios; liberdade económica tão desregulamentada quanto os
princípios do liberalismo sugerem, o crédito como um direito a dar suporte ao
hedonismo, o género humano a apregoar que é híbrido, o vazio quanto a valores
colectivos, nacionais, desígnios superiores.
Chegados ao deserto ideológico, à
“vidinha” corriqueira, onde está quem nos sugira um sonho?
Eis o desígnio a que os políticos se deveriam dedicar durante os
próximos 45 anos, sob pena de descrédito pessoal se o não fizerem e de diluição
da Nação na voragem chinesa de mando no mundo.
25 de Novembro de 2020
Henrique Salles da Fonseca
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história
COMENTÁRIOS:
Anónimo 25.11.2020: Tal como tu,
Henrique, eu e os demais Portugueses temos um sonho e ele poderá resumir-se em
tornar Portugal melhor, mais desenvolvido, mais rico e mais equitativo. Tal
como Olof Palme que, ao que parece, terá dito a um militar revolucionário
português, que a Suécia e a social democracia estavam empenhadas não em acabar
com os ricos, mas sim com os pobres, também nós queremos que isso aconteça em
Portugal, e já tarda! E como se diz na “Pedra Filosofal”, de António Gedeão
e de Manuel Freire, “eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida”. Não
é preciso divagar muito para se constatar o impacto que o sonho de Martin
Luther King, verbalizado no seu electrizante discurso proferido em 28 de agosto
de 1963, quando da célebre marcha sobre Washington, teve na vida americana -
com esforço, perseverança e risco de muitos, o sonho foi-se tornando realidade,
com o tempo. Querer é poder, lá diz o Povo. Agora, ter liderança adequada é
condição necessária para galvanizar um Povo e alcançar os desideratos
desejáveis. O exemplo de Winston Churchill no tempo de 2ª guerra mundial é por
demais conhecido. Um notável ancião, homem público português, costuma dizer
–“em cada momento, sabemos o que há que faze; é preciso é fazer”. E eu
acrescento “fazedores, precisam-se”. Há dias deixei aqui no teu blog a
menção da execução atempada da Expo 98 e do aproveitamento do respectivo
espaço como expressão de um planeamento de excelência. Certamente que te
recordas, o orgulho que os portugueses sentiram pelo êxito desse acontecimento,
e cada um considerou como se ele fosse um bocadinho seu. Aliás, esse ano de
1998 foi um ano muito especial, pois foi atribuído, pela primeira vez, o prémio
Nobel de Literatura a um português (no Brasil dizia-se a um escritor de
Língua Portuguesa) e em que houve um esforço muito grande de internacionalização
de empresas portuguesas. Os autores do livro “Porque falham as Nações” apontam
diversas causas para o insucesso. No meu entender, Portugal não se revê
nesses motivos. Então, não temos razão para falhar nem tão pouco para nos
irmos situando, de novo, na cauda da Europa, como acontecia no consulado
salazarista. Há que acordar! Os Portugueses estão certamente disponíveis para
ser galvanizados pelo Poder Democrático para a prossecução de objectivos,
que eles entendam e que se revejam. Não podemos perder o comboio da Europa. Não
podemos ficar a assistir a ser ultrapassados pelos demais países europeus.
Basta! Um meio possível seria a adopção pelos Portugueses do noticiado plano de
retoma económica e de resiliência para o período pós-pandemia. Temo que, pelo
menos pela sua amplitude, complexidade, e ausência de prioridades, tenha
sido uma oportunidade perdida, como instrumento de mobilização dos Portugueses.
Entretanto, e infelizmente, continuamos a sonhar, mas o tempo do Encoberto já
passou. Grande abraço. Carlos Traguelho
Henrique Salles da
Fonseca 25.11.2020: Estimado Dr.
Henrique Salles da Fonseca, O seu texto foca temas muito importantes, em que
todos nos revemos, ou seja a democracia, a liberdade e o sonho. Referiu Freud: “A
maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois a liberdade envolve
responsabilidade e as pessoas têm medo da responsabilidade”. Disse
igualmente Milton Friedman, economista e escritor norte-americano: “Não há
excesso de liberdade se aqueles que são livres, são responsáveis. O problema é
liberdade sem responsabilidade”. Verbalizou o poeta e escritor Zack
Magieri: “Ela aprendeu o que é a liberdade quando descobriu quais eram as
suas prisões”. Quanto ao seu penúltimo parágrafo que subscrevo
inteiramente: “Onde está quem nos sugira um sonho”, cito Fernando
Pessoa: “O homem é do tamanho do seu sonho”. “Ter um destino é não
caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor fronteiras uma a uma e morrer
sem nenhuma” (Miguel Torga) Termino com a frase que todos gostamos de
saborear de Sebastião da Gama: “É pelo sonho que vamos!
Os
meus respeitosos cumprimentos. Mª Emília Gonçalves
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