quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Quando já não existirmos


Nomes serão evocados, como este de Henrique Salles da Fonseca, na graça ousada de uma sanidade mental e, acima de tudo, coragem, para chamar os bois pelos cornos, sem mistificações linguísticas nem reservas pedantes no historiar dos factos. Que Deus o abençoe por existir, e com muita saúde, por longos anos ainda, embora homens como o senhor, não venham a ser condecorados em vida. Cumpriu, como poucos, sem se amedrontar, defendendo a sua musa, como os antigos heróis, na generosidade das acções, na lucidez do discurso, no amor pátrio real.

EFEMÉRIDE

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO25.11.20

25 DE NOVEMBRO DE 1975

Faz hoje 45 anos que a democracia chegou a Portugal derrubando o comunismo que desde o 25 de Abril de 1974 tentava destruir a Nação pondo o país ao serviço da União Soviética.

Foi um punhado de valentes sob a liderança do então Coronel Jaime Neves que tomou a iniciativa de pôr fim ao desmando total a que estávamos a ser submetidos e de proclamar que estava na hora de se estabelecer efectivamente uma democracia de base pluripartidária, parlamentar.

Passadas as colónias portuguesas para a esfera do Império Soviético, estava cumprido o maior desígnio da “revolução dos cravos” perpetrada por uns quantos “anjinhos” e minada por alguns traidores. Eis por que o Dr. Álvaro Cunhal foi condecorado herói soviético já depois de 25 de Novembro de 1975.

No que então restava de Portugal, resolveu-se o problema com meia dúzia de sopapos bem dados em alguns adeptos do totalitarismo mas nas antigas colónias portuguesas começavam os sovietizados as chacinas contra as populações que queriam submeter pelo terror. Assim começaram as guerras civis em Angola e em Moçambique. Mas o sangue também jorrou – e muito - na Guiné e em Timor. Passados estes 45 anos, eis-nos em Portugal numa democracia parlamentar consolidada e cheia de problemas conhecidos de toda a gente, discutidos por todos em público e sem constrangimentos. Esta, sim, a liberdade real, não a da propaganda com que os abrilistas nos enchem as parangonas dos jornais. Mas a tranquilidade destes 45 anos levou-nos ao doce remanso das águas planas. E tudo é vida corrente, sem mais objectivos do que ultrapassar a pandemia e regressar ao bem-estar, ao enriquecimento tão rápido quanto cada um consiga mesmo que sem olhar a meios; liberdade económica tão desregulamentada quanto os princípios do liberalismo sugerem, o crédito como um direito a dar suporte ao hedonismo, o género humano a apregoar que é híbrido, o vazio quanto a valores colectivos, nacionais, desígnios superiores.

Chegados ao deserto ideológico, à “vidinha” corriqueira, onde está quem nos sugira um sonho?

Eis o desígnio a que os políticos se deveriam dedicar durante os próximos 45 anos, sob pena de descrédito pessoal se o não fizerem e de diluição da Nação na voragem chinesa de mando no mundo.

25 de Novembro de 2020

Henrique Salles da Fonseca

Tags: história

COMENTÁRIOS:

Anónimo 25.11.2020: Tal como tu, Henrique, eu e os demais Portugueses temos um sonho e ele poderá resumir-se em tornar Portugal melhor, mais desenvolvido, mais rico e mais equitativo. Tal como Olof Palme que, ao que parece, terá dito a um militar revolucionário português, que a Suécia e a social democracia estavam empenhadas não em acabar com os ricos, mas sim com os pobres, também nós queremos que isso aconteça em Portugal, e já tarda! E como se diz na “Pedra Filosofal”, de António Gedeão e de Manuel Freire, “eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida”. Não é preciso divagar muito para se constatar o impacto que o sonho de Martin Luther King, verbalizado no seu electrizante discurso proferido em 28 de agosto de 1963, quando da célebre marcha sobre Washington, teve na vida americana - com esforço, perseverança e risco de muitos, o sonho foi-se tornando realidade, com o tempo. Querer é poder, lá diz o Povo. Agora, ter liderança adequada é condição necessária para galvanizar um Povo e alcançar os desideratos desejáveis. O exemplo de Winston Churchill no tempo de 2ª guerra mundial é por demais conhecido. Um notável ancião, homem público português, costuma dizer –“em cada momento, sabemos o que há que faze; é preciso é fazer”. E eu acrescento “fazedores, precisam-se”. Há dias deixei aqui no teu blog a menção da execução atempada da Expo 98 e do aproveitamento do respectivo espaço como expressão de um planeamento de excelência. Certamente que te recordas, o orgulho que os portugueses sentiram pelo êxito desse acontecimento, e cada um considerou como se ele fosse um bocadinho seu. Aliás, esse ano de 1998 foi um ano muito especial, pois foi atribuído, pela primeira vez, o prémio Nobel de Literatura a um português (no Brasil dizia-se a um escritor de Língua Portuguesa) e em que houve um esforço muito grande de internacionalização de empresas portuguesas. Os autores do livro “Porque falham as Nações” apontam diversas causas para o insucesso. No meu entender, Portugal não se revê nesses motivos. Então, não temos razão para falhar nem tão pouco para nos irmos situando, de novo, na cauda da Europa, como acontecia no consulado salazarista. Há que acordar! Os Portugueses estão certamente disponíveis para ser galvanizados pelo Poder Democrático para a prossecução de objectivos, que eles entendam e que se revejam. Não podemos perder o comboio da Europa. Não podemos ficar a assistir a ser ultrapassados pelos demais países europeus. Basta! Um meio possível seria a adopção pelos Portugueses do noticiado plano de retoma económica e de resiliência para o período pós-pandemia. Temo que, pelo menos pela sua amplitude, complexidade, e ausência de prioridades, tenha sido uma oportunidade perdida, como instrumento de mobilização dos Portugueses. Entretanto, e infelizmente, continuamos a sonhar, mas o tempo do Encoberto já passou. Grande abraço. Carlos Traguelho

Henrique Salles da Fonseca 25.11.2020: Estimado Dr. Henrique Salles da Fonseca, O seu texto foca temas muito importantes, em que todos nos revemos, ou seja a democracia, a liberdade e o sonho. Referiu Freud: “A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, pois a liberdade envolve responsabilidade e as pessoas têm medo da responsabilidade”. Disse igualmente Milton Friedman, economista e escritor norte-americano: “Não há excesso de liberdade se aqueles que são livres, são responsáveis. O problema é liberdade sem responsabilidade”. Verbalizou o poeta e escritor Zack Magieri: “Ela aprendeu o que é a liberdade quando descobriu quais eram as suas prisões”. Quanto ao seu penúltimo parágrafo que subscrevo inteiramente: “Onde está quem nos sugira um sonho”, cito Fernando Pessoa: “O homem é do tamanho do seu sonho”. “Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma” (Miguel Torga) Termino com a frase que todos gostamos de saborear de Sebastião da Gama: “É pelo sonho que vamos!

Os meus respeitosos cumprimentos. Mª Emília Gonçalves

 

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