A crónica de Helena Matos, que bem destaca, com bastos exemplos de gradual cedência dos povos europeus – em especial o francês - ao jugo islâmico, a contínua provocação deste, perante os arrebatamentos momentâneos de uma indignação passageira, do seu povo e do seu presidente e as excitações de passageira apreensão da nossa imprensa, de abertura ao “multiculturalismo” cultural, sem medos, pois…
Quem
vai ajoelhar diante das vítimas do terrorismo islâmico? /premium
Será que o Papa telefonará a agradecer
ao bispo que em França ajoelhe empunhando um cartaz onde se lê A vida dos
Cristãos Conta, durante os minutos em que Simone, Nadine e Vincent agonizaram?
HELENA MATOS Colunista do Observador
No
início, a cada atentado proliferavam os Je suis. Depois os atentados passaram a
incidentes e os Je suis tornaram-se ninguém. A emoção deu lugar ao medo. Agora
chegou a barbárie. No desacerto crónico que mantêm com a cronologia alheia,
os terroristas islâmicos atacam agora nas catedrais. Ignoram que a Igreja
passou a ONG e as catedrais a destino turístico. O Ocidente simbolizado pelas
catedrais já não acredita sequer em si mesmo e é até com estupefacção que
constata que, neste ano de 2020, algumas pessoas, numa manhã de Outubro rezavam
dentro da catedral de Nice. Ainda se estivessem numa acção de
promoção do diálogo inter-religioso, dessas em cuja escassez o bispo do Porto
encontra a explicação para as acções do terrorista de Nice, compreendia-se essa
necessidade de recolhimento. Mas simplesmente a rezar, às 9 horas da manhã, numa
catedral católica… que embaraço!
Em Junho, o
Papa Francisco telefonou ao bispo de El Paso, Mark Seitz, para lhe agradecer
por este ter feito uma homenagem a George Floyd juntamente
com alguns padres da sua diocese. Será que o Papa Francisco
telefonará a agradecer a algum bispo que em França ajoelhe, empunhando um
cartaz onde se leia “A vida dos cristão conta”, durante os minutos que Simone,
Nadine e Vincent demoraram a morrer? Ou isso seria de imediato apontado como
populismo e exploração própria de extremistas? Aliás, começamos logo por
não saber quantos minutos estiveram a tentar respirar Nadine Devillers, Vincent Loquès e Simone Barreto Silva. Os seus próprios nomes e rostos mal são
conhecidos à excepção dos de Simone Barreto Silva: o facto de, já ferida, ter
procurado refúgio num restaurante onde pediu “Digam aos meus filhos que gosto
deles” levou a que não ficasse anónima, como aconteceu a Nadine que acabou
sumariamente descrita como “uma fiel de 60 anos”. Contudo Simone era negra
mas para que a sua morte gerasse indignação e cartazes onde se dissesse que a
sua vida importava, Simone deveria ter sido degolada por um europeu cristão e
branco e não por um tunisino muçulmano. Para mais Simone estava numa igreja
católica. Não era migrante nem refugiada. Era essa coisa fora de moda chamada
emigrante. Em França procurou trabalho. Tomava conta de idosos.
A despersonificação é uma das regras que paulatinamente nos foi
imposta quando os autores dos atentados contam com a compreensão da esquerda:
os atentados praticados em nome do Islão passaram a incidentes em que as
vítimas morrem em consequência de esfaqueamentos. Realizados
por quem? Pelas facas, claro. Pois se das vítimas destes atentados
pouco se sabe, dos terroristas ainda menos, tanto mais que em muitos casos
foram imediatamente apresentados como desequilibrados ou lobos solitários.
A
cada ataque as atenções mediáticas centram-se nos discursos enfáticos dos
políticos a condenar o que definem invariavelmente como o mais hediondo
atentado, obviamente se excluirmos o anterior e os anteriores do anterior que
também já tinham classificado como os mais hediondos. Em França esta
espiral de adjectivos nas cerimónias fúnebres das vítimas de terrorismo cresce na
exacta proporção do abandono a que são votadas as populações e a memória dessas
vítimas, mal é dobrada a bandeira, recolhida a passadeira e o Presidente
regressa ao Eliseu, cada vez mais um palácio-cidadela.
Não
por acaso, quando, a 16 de Outubro, a França acordava para o pesadelo da descoberta
do corpo decapitado de Samuel Paty, uma voz denunciava o desrespeito pelas vítimas e a
submissão do estado francês perante os terroristas. Essa voz é a de Didier
Cornara, irmão de Hervé Cornara, o primeiro francês a ser decapitado em França
pelos terroristas islâmicos (sim, as decapitações em França
começaram em 2015, quando Yassin Salhi decapitou Hervé Cornara). Pois como agora veio recordar Didier Cornara, nenhuma
das promessas que foram feitas aquando da morte do seu irmão foi concretizada. Entre essas promessas contava-se a de um maior
controlo dos indivíduos classificados pelas autoridades como representando um
perigo para a segurança, os chamados “fichés S”: em 2015, ano em que o seu irmão
foi assassinado recorda Didier Cornara, existiam em França 5 mil pessoas referenciadas
como S. Yassin Salhi era
uma dessas pessoas. Em 2020 serão mais de 30 mil as pessoas que cabem nessa
classificação das quais mais 8 mil (mais precisamente 8312) estão classificadas
como extremamente perigosas. Muitas destas pessoas não têm nacionalidade
francesa, o que não as impede de fazerem a sua vida em solo francês, usufruírem
dos mais diversos apoios sociais que aquele país concede e sobretudo de
beneficiarem de todos os proteccionismos legais de modo a nunca serem expulsos. E como explicar que o monumento dedicado a Hervé já
tenha sido vandalizado três vezes?
Ou que este sábado, 31, escassos dois dias após o atentado da catedral de Nice,
tenha recomeçado a roleta do “é atentado ou não é atentado” quando se soube
que um padre ortodoxo foi baleado em Lyon? Ou que em Nice, um cidadão argelino tenha
representado uma degolação diante dos passageiros da composição ferroviária
em que viajava? Ou que na
placa de homenagem a Arnaud Beltrame, o militar que no atentado islâmico que
teve lugar em 2018 em Carcassonne se entregou ao terrorista Radouane Lakdim
para que este libertasse uma refém e acabou morto a tiro por ele, não tenha ocorrido às autoridades francesas nada de mais apropriado que
culpar Arnaud Beltrame pela sua própra morte declarando-o “vítima do seu
heroísmo”? Sim,
como explicar isto?
Em França instalou-se a barbárie.
Para lá do bling bling Louis Vuitton do casal presidencial, mais os “maires écolos”
que agora em nome da natureza partiram em cruzada contra a
árvore de Natal, a discussão política centra-se neste momento numa
palavra. E essa
palavra não é islamismo, nem radicalização, nem sequer separatismo, termo agora
usado pelas autoridades francesas para dar conta da forma como determinados
grupos residentes em França não só vivem à margem das leis daquele país como
impõem o direito a fazê-lo. Não, a palavra que está no centro do dia a dia
francês é asselvajamento e dá conta de um fenómeno de que as decapitações de
Simone, Nadine, Samuel, Hervé, Hamel são apenas uma parte, visível e
hedionda mas parte.
A
França é o país em que a minoria segregacionistas da
jihad com apoio e o silêncio do progressismo ansioso de colher votos nesse
mundo de ressentimentos, se impôs à maioria dos muçulmanos tolerantes,
de que fazem parte os donos do restaurante para que Simone fugiu. Primeiro fizeram desaparecer os talhos que vendiam
carne de porco, depois as mulheres sem véu das ruas de certos bairros. Depois
conseguiram afastar das escolas públicas os alunos judeus e aterrorizar todos
aqueles que os enfrentam, como fez Mila, a jovem estudante lésbica que por ter
escrito frases como “L’islam est une religion de haine. Le Coran c’est de la
merde” acabou a ter de viver em anonimato e sob segurança. (Recordo que para esse ícone do
feminismo que é Ségolène
Royal, Mila não deve ser usada como ícone
da luta pela liberdade de expressão porque, na sua opinião, Mila padece de
falta de respeito.)
A França é o país em que nas
periferias, nos chamados territórios perdidos da República, aqueles em que a
polícia não entra a não ser em momentos excepcionais e com aparato militar, se
banalizaram os ajustes de contas à catanada entre “comunidades” e os rodeos aos
carros da polícia. Em que se queimam anualmente
milhares de carros, ora porque o ano acaba, ora porque os clubes de
futebol ganham, ora porque perdem, ora por outra razão qualquer. Em que se
cercam e atacam esquadras. Em que os guardas prisionais ameaçam fazer greve se os presos não forem proibidos de
ter fritadeiras nas celas e consequentemente de usar óleo a
ferver como arma contra os guardas e outros presos.
A França é o país em que em
nome da tolerância e do combate ao discurso de ódio se instituiu a lei do mais
forte e se passou a viver sob o ódio. Para mais sem poder nomear esse ódio
porque de imediato se é acusado de islamofobia, xenofobia ou qualquer outra
fobia.
A França é o país em que em
nome da integração se pactuou com a tribalização.
A França é o país em que em nome da
liberdade de alguns se impôs uma ditadura sobre o pensamento, as notícias e a
própria realidade: o tribunal e o silenciamento foi o destino de quem denunciou
o que estava a acontecer nas escolas, nas ruas, nos transportes. O livro “Territoires perdus de la République” que em 2002 dava conta do crescente anti-semitismo, da
islamização e do sexismo crescentes nas escolas da região de Paris foi objecto
durante anos e anos de um boicote por parte de jornalistas e comentadores. Escritores como Eric Zemmour têm pago com agressões nas ruas e multas ditadas
pelos tribunais o não aceitarem a omertà que em França envolve esta regressão
civilizacional.
Os radicais islâmicos aproveitaram melhor que ninguém esta
duplicidade do estado francês. Mas não
foram os únicos: agora a França tem de enfrentar o aproveitamento que outros
países, como é o caso da Turquia,
fazem desses radicais.
Macron, com a “grandeur” que ainda resta, faz discursos e preside a
funerais. O tempo dos arrebatamentos do Je suis deu lugar a um terrível Je ne sais pas… Depois do combate às trevas do Deus cristão
e do fulgor das luzes nas cerimónias à deusa Razão, a França descobriu-se só.
PS. Ao ver a histeria que se apossou do jornalismo
nacional em torno das eleições norte-americanas tenho a propor duas coisas. A
primeira é que se aproveite no solo pátrio o dinamismo mostrado estes dias
pelos jornalistas portugueses a vasculhar os EUA. Assim talvez consigamos, por exemplo, ter umas
reportagens sobre a forma como se viaja nos transportes públicos de Lisboa e
Porto e, se não for pedir muito, averiguar a relação entre a sobrelotação que
aí se verifica e a propagação do Covid.
A
outra minha proposta prende-se com o parâmetro Goya Beans. Para quem não saiba – e dificilmente sabe quem só
acompanhar a informação portuguesa – em Julho deste ano, Robert
Unanue, o proprietário da Goya, uma
empresa norte-americana de vegetais enlatados,
participou na Casa Branca num acto destinado à comunidade hispânica. Durante a
cerimónia Robert Unanue declarou o seu apoio a Trump. De imediato várias pessoas manifestaram a sua viva
indignação e surgiu o apelo ao boicote aos
produtos da marca Goya. Nomes do Partido Democrata, como
Alexandria Ocasio-Cortez, e estrelas ascendentes e descendentes do mainstream
declararam que nos seus pratinhos jamais voltaria a estar um feijãozinho da
Goya. Pior que tudo, para os lançadores de fatwas das redes sociais, o CEO da
Goya recusou pedir desculpa. Foi nesse momento que resolvi
adoptar o parâmetro Goya Beans: se as vendas da Goya, e particularmente dos
Goya Beans, baixassem isso seria um claro sinal da perda de apoio por parte de
Trump.
Assim,
graças ao meu parâmetro Goya Beans, chegados a esta quase véspera das
eleições norte-americanas, posso afiançar:
1) O
eleitorado de Trump está mobilizado pois o boycott à Goya transformou-se
num “buycott”, com as vendas a subirem espectacularmente. É
óbvio que a pandemia deu uma ajuda pois muitos restaurantes fecharam e as
pessoas optaram por comprar enlatados. Mas também é óbvio que ninguém
obrigava os compradores a optar pelos da marca Goya;
2) Os nomes sonantes de Hollywood e os políticos que
eles apoiam continuam a acreditar que o mundo gira em torno dos seus umbigos;
3)
Trump não terá menos votos que na anterior eleição o que não quer dizer que
seja reeleito porque para ser reeleito é necessário que consiga vencer nos estados
que garantem mais votos no colégio eleitoral. Ora as minhas informações sobre
as vendas dos Goya Beans não são tão detalhadas que me permitam dizer como
correram as vendas dos feijões enlatados da Goya na Florida ou na Pensilvânia.
4)
Será este meu critério de avaliação falível, impreciso, sem fundamento e quiçá
um pouco abstruso? Obviamente que sim. Mas não é mais que qualquer outro dos
que tenho lido, ouvido e visto por aí.
ISLAMISMO RELIGIÃO SOCIEDADE TERRORISMO MUNDO FRANÇA EUROPA
COMENTÁRIOS:
Maria L Gingeira: Estas análises
de HM aprofundam questões que vemos todos os dias serem tratadas com ligeireza
e muito desconhecimento. O que vemos e lemos por aí todos os dias está
contaminado pela mediocridade ideológica que nos pretende dominar com slogans e
causas mentirosas. Felizmente ainda há quem com a sua liberdade de pensamento
nos ajude a distinguir a verdade dos múltiplo engodos que nos impingem como o
faz brilhantemente HM. Maria
Narciso: Macron foi claro ao dizer que a França
não compactua com os que pretendem instigar o ódio entre religiões e na
perseguição da população muçulmana. em França como é o caso dos salafistas que evocam o
Islão mas não o representam de forma alguma , havendo já a possibilidade de vir
a existir um islão europeu..
Antonio
Rodrigues: Este texto devia ser de leitura obrigatória nas aulas
de Cidadania Lúcio
Cornélio: Um retrato impiedoso e, infelizmente,
fiel daquilo a que chamamos Ocidente. Estamos a suicidar-nos de forma
masoquista e vil, carregados de complexos inculcados por gente que não sabe
história. SPARTA Andrade
QB: A cobardia tem
muitos disfarces. O disfarce da cobardia dos que trabalham e vivem em circuitos
protegidos e se querem proteger, atirando os que para tal não têm dinheiro à
violência islâmica, é dizer que o fazem em nome da tolerância. Há mais de 30
anos que em Cannes, Nice e Marselha quem tinha que se refugiar em casa,
para fugir ao assédio islâmico, eram os idosos, os que usavam transportes públicos
e viviam em locais menos centrais. A história repetir-se-á. Quando os islâmicos
começarem a entrar nos prédios dos progressistas tolerantes, lembrar-se-ão das
franceses mais pobres para recrutar polícias e soldados para os protegerem. Até
lá, os pobres servem melhor os seus interesses deixando-se degolar. Liberal
Triplicado > Andrade QB: Que
belo apanhado de tolices! As poucas vítimas de terrorismo islâmico em França
nunca foram pobres. O terrorista islâmico só não mata o presidente da república
porque não consegue. De resto, ele vai matar aquelas pessoas que causem mais
"estrondo", e esses nunca são os pobres. Beatriz: N.º aproximado de muçulmanos em
França - 5,7 milhões. Ainda que apenas 1% seja radical e capaz de cometer actos
terroristas, vejam lá o que isto significa. E "nos entretantos" o
nosso ministério da educação tem feito tudo por tudo para que nas escolas, e de
forma transversal a todos os níveis de ensino, se promova o multiculturalismo
como algo totalmente benéfico para a sociedade e até mesmo absolutamente
necessário para a prosperidade da Europa (vêm sempre com a velha história de
que se os europeus têm poucos filhos...). Está em curso a doutrinação das
nossas crianças com a CS a ajudar. Mariano Cruz: Alguns lamuriam-se e sem razão, deviam andar de bicicleta
e a pé para saber o que é bom para a tosse: «A Arábia Saudita é o único país árabe onde nunca houve
eleições nacionais, desde a sua criação. Partidos políticos ou eleições
nacionais são proibidas e, de acordo com Índice de Democracia de 2010 feito The
Economist, o governo saudita era o sétimo regime mais autoritário do mundo,
entre os 167 países avaliados na pesquisa. Na ausência de eleições
nacionais e de partidos políticos, a política na saudita ocorre em duas arenas
distintas: entre a família real, a Casa de Saud, e entre os monarcas e o resto
da sociedade. Fora da família Saud, a participação no processo político é
limitada a um pequeno segmento da população e assume um tipo de consultoria
da família real sobre decisões importantes. Este processo não é
divulgado pela mídia local.» É interessante observar como em pleno século XXI a
ciência e o obscurantismo conseguem partilhar o mesmo espaço. Beatriz: Macron dirigindo-se aos islamistas: "Não
passarão" Le Pen, em resposta: Não passarão??? Já cá estão!
………………….
Nenhum comentário:
Postar um comentário